Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Poder contaminado, mas resistente
>>A mídia e as armas

Poder contaminado, mas resistente


Parece inesgotável o arsenal de fatos que mostram abuso de poder em torno do presidente Lula e do mais importante ministro de seus primeiros 30 meses de governo – o da Casa Civil, José Dirceu, derrubado pelas revelações de Roberto Jefferson. No fim de semana apareceram, em reportagem da Folha, o filho de Dirceu beneficiado por suposto tráfico de influência nas mais altas esferas da República, e, em reportagem da Veja, um irmão de Lula que estaria vendendo intermediação política.


É difícil interromper a dinâmica dessas apurações, o que não significa que elas tenham, como sonham a oposição política e jornalística, o dom de por si mesmas derrubar o governo ou as pretensões de reeleição do presidente Lula.


Votação petista


Entre outras atrações da semana jornalística haverá a apuração da eleição interna do PT. O número de votantes caiu mais ou menos pela metade, e não há nos jornais desta segunda-feira, 10 de outubro, registro de irregularidades, como no primeiro turno da escolha.


Começa o debate sobre as águas


O debate sobre a transposição do Rio São Francisco começou na base do berro. O bispo fez greve de fome. O presidente mandou um emissário. Os dois confraternizaram e pouco depois já estavam em conflito. O Brasil é o país em que o cego denuncia a falta de luz no trem e provoca um motim, já explicava Alcântara Machado num conto célebre da década de 1920.


De todo modo, o debate começou na mídia, que estava dormindo. A Folha deu um bom caderno sobre o assunto, a Veja, quem diria!, fez uma reportagem editorializada e conseguiu a proeza de não mencionar o tema do São Francisco em sua reportagem de capa sobre as agressões à natureza. A extensa reportagem tem um capítulo só sobre o grave problema da água.



A mídia e as armas


O Alberto Dines analisa como o debate sobre a proibição da venda de armas se transformou em parte num debate sobre a cobertura dada pela mídia ao tema, que será abordado amanhã à noite no programa de televisão do Observatório da Imprensa. Fala, Dines.


Dines:


– Mauro, parece que a discussão sobre cobertura jornalística do referendo está mais quente do que o próprio debate entre o “sim” e o “não”. Depois da infelicíssima matéria da edição passada, Veja recolheu o estilo panfletário. Mas neste fim de semana os concorrentes de Veja resolveram tirar uma casquinha e mostrar como é que se pode cobrir um debate com mais equilíbrio. Época exibiu os 10 mitos sobre as armas com argumentos pró e contra a venda e IstoÉ foi ainda mais provocadora: mostrou 7 razões para votar “sim” e 7 razões para votar “Não”. Mas quem se saiu melhor foi a Folha: assumiu-se a favor do “sim” mas discretamente, em editorial. Como fazem todos os grandes veículos do mundo antes de algum pleito, não quer confundir opinião com informação.


Mauro, adivinha quem saiu-se pior – Luiz Inácio Lula da Silva. Em artigo publicado ontem na mesma Folha, o presidente anunciou sua opção pessoal pelo “sim”. Pergunta-se: é correto? Lula não é pessoa física, é presidente da República. Nestas condições, ao manifestar-se num debate nacional, não pode privilegiar um veículo, deve dirigir-se a todos, democraticamente. Como se vê, o referendo pode ser mais útil do que se supunha. Desde que ensine a governantes e à mídia como se comportar com equilíbrio e eqüidistância.



Metajornalismo


Dines, eu discordo é do referendo, acho-o fora de propósito e fonte provável de ilusões e frustrações. Eu teria preferido que a mídia tomasse posição a esse respeito, não tivesse encarado a consulta como fato consumado. A Veja poderia ter feito duas reportagens diferentes na semana passada. Uma sobre o uso de referendos, como a que saiu nesta semana, e outra, menos panfletária, sobre os argumentos a favor do sim que é não e do não que é sim, porque até nisso o referendo é desajeitado. Intencionalmente ou por incompetência de quem a formulou, a pergunta confunde.


Como assunto alternativo à crise do “mensalão”, não há dúvida de que a campanha do referendo funcionou. A Época chegou a dar duas capas seguidas sobre exatamente o mesmo tema, para cutucar a Veja, como você disse. Mas aí começa uma espécie de metajornalismo. Será que há precedente de uma revista que tenha dado duas vezes seguidas, sem nenhuma novidade, o mesmíssimo assunto na capa?



O Ibope e as armas


No fim desta semana estará disponível uma medida da disposição do eleitorado. O Ibope faz hoje e amanhã o trabalho de campo de uma pesquisa sobre o referendo encomendada pela Rede Globo. Há indicações de que a porcentagem a favor do sim, que chegou a 80% dos entrevistados na última pesquisa, feita no ano passado, tenha caído devido aos erros de comunicação da turma que defende o fim da venda legal de armas para qualquer cidadão.



Maluf esquecido


Nesta segunda-feira, pela primeira vez desde a prisão de Paulo Maluf e de seu filho Flávio, eles estão ausentes do noticiário. Não entraram nem nas páginas de polícia.