Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Polícia para quem precisa
>>A bancada do crime

Polícia para quem precisa

As primeiras notícias sobre o avanço das investigações no caso que a Polícia Federal batizou de Operação Satiagraha dão uma pequena idéia da complexidade que cerca as ações do banqueiro Daniel Dantas e sua irmã Verônica em torno do Banco Opportunity.

Se forem confirmados os indícios citados pela imprensa, é de se perguntar se Dantas possui mesmo a capacidade de controlar simultaneamente interesses tão diversos ou se é dado a delírios de onipotência.

Entre as informações publicadas hoje, consta, por exemplo, que o controlador do Opportunity tentava monitorar supostos concorrentes, como o empresário Eike Batista, também envolvido em inquérito policial.

Esse detalhe é uma das notas da coluna Painel, da Folha, mas não há maiores explicações.

É de conhecimento público, porém, que Dantas e Batista são concorrentes em projetos de logística.

Com a crescente importância do Brasil no comércio internacional e os projetos de recuperação e ampliação do sistema portuário, os negócios no setor de infraestrutura logística se transformam em grande oportunidade para a atracão de investidores.

O noticiário econômico destaca os sucessos e a pujança dos empreendedores.

O noticiário policial indica que a concorrência entre eles acontece mais no estilo de mafiosos do que no de homens de negócio.

Os inquéritos policiais envolvendo dois dos mais notórios empresários da nova safra, que simultaneamente brilham no noticiário econômico e recheiam o noticiário policial, merecem uma análise mais elaborada da imprensa.

Uma questão que atiça a curiosidade dos observadores, mas não é abordada pela mídia, é a fragilidade do nosso sistema econômico e político, que permite e até estimula a ação de aventureiros, ou de empresários pouco afeitos às regras do jogo.

São tantos os casos de fraudes noticiados, que o cidadão comum pode começar a se perguntar se no Brasil é possível o sucesso nos negócios dentro dos padrões legais.

A bancada do crime

No melhor estilo dos filmes de mafiosos, a polícia carioca prendeu ontem em flagrante o deputado estadual Natalino Guimarães, do Partido Democratas.

Houve até tiroteio entre policiais e seguranças do deputado.

O parlamentar, que se tornou conhecido por chefiar milícias que tiranizam os habitantes de favelas cariocas, é acusado de tentativa de homicídio e formação de quadrilha.

A notícia de sua prisão é destaque hoje no Globo.

O jornal carioca traz na manchete outra notícia relacionada à evidência de que o crime organizado investe na formação de sua força política.

Segundo o Globo, a Polícia Federal foi acionada para investigar a denúncia de que traficantes e milicianos, seus concorrentes no domínio das comunidades pobres do Rio, formaram currais eleitorais por toda a cidade.

Candidatos que não agradam aos criminosos são impedidos de entrar nas favelas.

É de se supor também que, como se revelou em relação ao ex-governador Anthony Garotinho, alguns candidatos tenham feito alianças com quadrilhas para se valer dos votos controlados pelas organizações criminosas.

Esse é um dos temas que não costumam freqüentar a cobertura eleitoral, quase sempre limitada aos factóides criados pelos candidatos mais notórios.

A informação do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, citada pelo Globo, de que pelo menos 500 mil eleitores vivem em comunidades dominadas por quadrilhas armadas, dá uma idéia do risco que esse fenômeno representa para  a democracia no Brasil.

Apesar da gravidade do fato, a imprensa não consegue sair do lugar comum, que é o candidato do grande partido comendo coxinha no bar ou dando tapinhas nas costas das pessoas.

Sempre às voltas com grandes escândalos, os jornais parecem não ter estrutura para acompanhar com igual atenção todos os assuntos que interessam ao público.

Nesta noite, o Observatório da Imprensa na TV vai tratar da omissão da mídia nestes dois anos da crise no setor aéreo e do primeiro aniversário do desastre com o Airbus da TAM em Congonhas.

Não há sinais de que os problemas relacionados ao acidente tenham sido solucionados, mas o tema sumiu dos jornais.

O Observatório da Imprensa vai ao ar à meia-noite e dez na TV Cultura e mais cedo e ao vivo na TV Brasil, às 22h40.