Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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Profusão de diretores

Bastou os jornalistas fazerem as perguntas certas, e o óbvio apareceu: ninguém sabe quantos diretores tem o Senado Federal.

Um levantamento divulgado pelo diretor geral indica que não são 181 diretorias, mas “apenas” 38.

Os outros cargos são de subsecretários, coordenadores, secretários adjuntos e outros abnegados servidores que têm status de diretor, ganham como diretor, mas não exercem funções de diretor.

Ou seja, a situação é ainda pior, mais confusa e menos respeitosa com o dinheiro público do que se pensava.

A insistência dos jornalistas em conhecer melhor a estrutura do Congresso acaba por revelar também que há servidores ganhando mais de R$ 35 mil por mês, o que supera o teto legal de salários do serviço público, que é de R$ 24,5 mil.

Esses desvios acontecem por meio de ações judiciais: os funcionários entram na Justiça pedindo a incorporação de benefícios e comissões recebidos antes da criação do limite, e a generosidade do Supremo Tribunal Federal assegura a permanência das distorções.

A diligência dos repórteres também confirmou que a proliferação de vagas para diretores verdadeiros e falsos começou no Senado Federal durante a primeira gestão de José Sarney como presidente da Casa, prosseguiu sob o comando do falecido senador Antônio Carlos Magalhães e floresceu sob a batuta de Renan Calheiros, aquele que se celebrizou por desconhecer os métodos anticoncepcionais.

Mas não é apenas no Senado que o apadrinhamento cria os nababos do serviço público.

O Estadão colocou as lentes sobre a Assembléia Legislativa de São Paulo e descobriu que a Casa tem nada menos do que 67 diretores.

Existe até mesmo uma diretoria de fotocópias, localizada, é claro, no porão.

Procurando mais um pouco, acaba-se encontrando a diretoria de motoboys.

O futuro é digital

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

– Uma boa discussão sobre a qualidade do jornalismo surgiu a propósito dos 20 anos da world wide web, ou simplesmente web, a genial criação de Tim Berners-Lee. Em março de 1989, ele redigiu um documento para o laboratório de física em que trabalhava sugerindo um método de gerência das informações produzidas pelos seus pares. Ali estavam os fundamentos da linguagem HTML, do protocolo de transferências na internet e do sistema de localização de endereços na web.

De lá para cá, a história é conhecida. A web só fez aprimorar sua interface gráfica, a tecnologia sofisticou-se e ficou cada vez mais barata, a internet popularizou-se a uma velocidade exponencial e o jornalismo, tal qual historicamente conhecido, sofreu um tremendo impacto que balançou suas raízes fincadas há pouco mais de 400 anos. De um lado, premido diante da superoferta de informações que uma boa conexão torna possível; de outro, pelo fato de que o destinatário original de suas mensagens passou a ser, ele (ou ela), também, um produtor de informações.

A internet vai matar a imprensa? Duvide. A internet mudou a imprensa? Certamente. O que está em questão – no meio impresso, eletrônico ou virtual – é a qualidade da informação que se produz e distribui, até porque, sejam quais forem as plataformas, o lixo abunda. E aí entra o que se entende por Jornalismo, com maiúsculas, e seus fundamentos mais caros, como a capacidade de ser fiel à verdade factual, fidedigno com as fontes, exato, preciso, contextualizado, com espaço garantido ao contraditório. E, sobretudo, com o espírito de serviço público. Este Jornalismo, em quaisquer mídias, é imortal.

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