Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Programa 14
>> Intimidade com o poder
>> Repórter investigativo
>> Quem flagra os corruptos?
>> Fontes anônimas

 

Intimidade com o poder

 

Aqui e ali se lêem palavras ponderadas sobre o papel das empresas estatais em esquemas corruptos ligados ao financiamento de campanhas eleitorais e a enriquecimento ilícito. Mas não se espere encontrar esse nexo no noticiário cotidiano sobre as denúncias de corrupção.

 

Uma das dificuldades que a mídia encontra para fazer essa ligação das denúncias atuais com um Brasil antigo, patrimonialista e corporativo, é que ela mesma, mídia, vive enredada em relações com o Estado, seja como fonte de noticiário, seja como fonte de isenções e privilégios, seja como fonte de publicidade. Mas há boas exceções.

 

 

 

Repórter investigativo

 

O jornalista Márcio Chaer, editor do site especializado Consultor Jurídico, saúda o lançamento de um livro de Frederico Vasconcelos, repórter veterano da Folha de São Paulo. O livro se chama Os Juízes no banco dos réus. Márcio, qual é a importância do livro de Frederico Vasconcelos?

 

Márcio Chaer:

 

– Ele narra esse fenômeno absolutamente novo no Brasil, que é juiz responder por seus crimes. Ele está bem credenciado para isso porque conseguiu afastar dois juízes aqui da segunda instância, os chamados desembargadores federais, Teotônio Costa e Roberto Haddad. O Frederico fez uma investigação própria. Ou seja, ele foi verificar o patrimônio dos dois juízes e demonstrou que, pelo que eles ganhavam – e pelo que eles possuíam -, eles jamais poderiam acumular o patrimônio que acumularam. Em cima disso, gerou-se então a investigação, e os dois desembargadores federais acabaram sendo afastados. Pouco depois é que começam a surgir os casos do Vicente Leal, do Rocha Mattos.

 

Mauro:

 

– Para quem não se lembra, Rocha Mattos é o principal personagem da chamada Operação Anaconda da Polícia Federal.

 

Quem flagra os corruptos?

 

O Alberto Dines trata das outras reportagens ditas investigativas, as que não são propriamente fruto do trabalho de repórteres.

 

Dines:

 

– Na capa da última Veja há um destaque sobre mini-câmeras com os dizeres: ‘Aprenda a flagrar um corrupto’. No miolo, uma minúscula matéria mostra alguns equipamentos para gravar conversas com corruptos. Tudo bem, a corrupção está na moda. Mas quem está flagrando corruptos não são os jornalistas – são outros corruptos. Como aconteceu com a denúncia de Veja da semana anterior. A repercussão foi enorme, abalou o governo com a instalação de uma CPI, mas nestes oito dias nenhum veículo jornalístico conseguiu avançar um palmo nas investigações.

 

Não cola a desculpa de que o caso agora está protegido pelo segredo de justiça – antes ninguém sabia que nos Correios havia um diretor que aceitava propinas até que um corrupto, por vingança, ligou a sua minicâmera.

 

Fontes anônimas

 

O The New York Times de hoje relata uma crítica do secretário de Imprensa da Casa Branca, Scott McClellan, ao uso pelos jornalistas de declarações sem identificação da fonte, chamadas no jargão profissional off the records.

 

Diz a reportagem que diferentes veículos resolveram ser mais prudentes, embora haja jornalistas que sintam ameaçada sua capacidade de investigação.

 

Uma solução parece ser exigir que pelo menos um editor do veículo conheça a fonte encoberta do repórter. Para evitar novos casos de declarações fabricadas.