Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Programa 16
>> Chuva e rotina
>> Só perto de casa
>> O Tietê encalhado
>> Incendiários
>> Abuso da palavra caos

Chuva e rotina

A chuva de terça-feira para quarta mostrou o despreparo da imprensa para cobrir a região metropolitana de São Paulo.

Um alerta oficial foi dado às 16h35 de terça-feira. Mas a cobertura da chuva publicada na quarta-feira foi pífia, burocrática, em um quarto de página.

Rádio e televisão podem dar notícia a qualquer momento, mas até a manhã de quarta-feira limitaram-se a relatar problemas de trânsito em São Paulo.

Só perto de casa

Nesta quinta-feira, 26 de maio, os dois grandes jornais paulistanos dão cadernos inteiros sobre a chuva, com muito material fotográfico. Na Folha de S. Paulo se lê que as autoridades apontaram, como regiões mais afetadas pelas chuvas, São Mateus, na zona leste, Santo Amaro, na zona sul, e o Bom Retiro, no centro. Mas, ouvinte, não pense que vai encontrar no noticiário da Folha informações de primeira mão sobre regiões mais distantes, salvo a foto de uma escola danificada em São Miguel Paulista. O trabalho dos repórteres ficou concentrado num círculo com centro na Praça da Sé e raio de oito quilômetros. Para ser mais claro, o aeroporto de Congonhas está no limite dessa área.

A Folha e O Estado de S. Paulo deram uma conferida na central de abastecimento do Ceagesp, a dez quilômetros do Centro. O Estadão foi muito timidamente até Vila Matilde, Vila Baruel e Vila Guilherme.

O Tietê encalhado

A mídia não deixou passar a oportunidade de cobrar do governador Geraldo Alckmin o imposto devido pela aventura de colocar uma placa celebrando três anos sem enchentes no Rio Tietê. Os jornais deram destaque à foto imperdível.

O que falta apurar, e dizer, é a história de décadas de obras na calha do Tietê. Essa obra de Sísifo estadual é talvez o maior emblema dos governos paulista e paulistano.

Incendiários

A chuva em São Paulo também atrapalhou o programa de terça-feira do Observatório da Imprensa na TV. Mas, segundo o Alberto Dines, tem gente querendo disparar com pólvora molhada.

Dines:

− Ainda não sabemos se o Congresso, tão ocupado com a CPI, vai conseguir aprovar o referendo sobre as armas para outubro deste ano. Uma coisa, porém, já está certa e muito clara. Alguns grupos estão se aproveitando desse referendo para transformar o debate sobre armamento num debate ideológico.

Na terça-feira à noite, o Observatório na TV sofreu os efeitos da chuva que desabou sobre São Paulo. E por isso o programa sobre o referendo foi muito prejudicado. A participação do convidado que se encontrava nos estúdios da TV Cultura, em São Paulo, foi interrompida antes do fim do programa. E ontem os grupos a favor do armamento orquestraram uma onda de e-mails para dizer que o seu representante foi ‘censurado’ pelo Observatório.

Esqueceram de verificar que os estragos da chuva de terça-feira estenderam-se à programação da Rádio Cultura ontem, quarta-feira. Tanto que o nosso programa nem foi ao ar.

Com esse estado de espírito, os grupos a favor do armamento de repente vão querer fuzilar São Pedro.

Abuso da palavra caos

Não é de hoje. Entrou na moda há vinte anos o abuso das palavras ‘caos’ e ‘caótico’. A Folha deu em manchete: ‘São Paulo vive caos com chuva recorde’. O dicionário diz que caos é, em sentido derivado, uma mistura de coisas em total desequilíbrio. São Paulo, felizmente, está muito longe do caos.

O caos verbal é muito mais generalizado. É comum falar-se em ‘caos na saúde pública’. Nova pesquisa do IBGE revela que 98% dos brasileiros que procuraram atendimento médico foram atendidos, e 86% classificaram o atendimento como muito bom ou bom.

Onde está o ‘caos’?