Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Programa 24
>> Crise testa governo e mídia
>> Um homem de palavra
>> Na sombra de Jefferson
>> Florianópolis ignorada
>> Canais embaralhados

 

Crise testa governo e mídia

 

Não foi por surto de consciência cívica que o deputado Roberto Jefferson deu entrevista à Folha de São Paulo. Deu porque avaliou que era a melhor tática para não ser esmagado sozinho pelo peso das suspeitas de corrupção nos Correios, no Instituto de Resseguros do Brasil, na Eletronorte, na Caixa Econômica Federal, como informa hoje Ancelmo Gois no Globo, e quem sabe mais aonde.

 

Nos jornais desta terça-feira, 7 de junho [no áudio se ouve ‘8 de junho’, por equívoco], muita gente admite ter ouvido falar do ‘mensalão’. Fazem companhia a Jefferson o presidente Lula, segundo o ministro Aldo Rebelo e o senador Mercadante, os ministros Palocci, Ciro Gomes e Mares Guia, o governador Marconi Perillo, o prefeito César Maia e os deputados Miro Teixeira, Denise Frossard, Raquel Teixeira, José Múcio, Arlindo Chinaglia.

 

Toda essa gente, e nada saiu na imprensa até Jefferson dar com a língua nos dentes.

 

Só o Estado de S. Paulo aborda hoje outro caso terrível, o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, que envolve o PT em suspeita de receber dinheiro escuso. O mesmo Estadão tem reportagem sobre problemas na Petrobrás.

 

O presidente Lula programou falar hoje num Fórum Global de Combate à Corrupção.

 

Uma crise que testa o governo, o Congresso e a mídia.

 

Um homem de palavra

 

O Alberto Dines chama a atenção para a persistência do denuncismo, em que a iniciativa parte de uma pessoa envolvida em denúncias de irregularidades, e não da imprensa. Fala, Dines.

 

Dines:

 

− A entrevista-bomba publicada pela Folha não se distingue muito do vídeo-bomba divulgado por Veja há coisa de um mês. Ambos foram produzidos por interesses contrariados e vingança pessoal. A diferença é que Roberto Jefferson, ao conceder a entrevista à Folha, fez tudo às claras, sem microcâmeras, e ainda avisou na semana passada em matéria de capa da Veja que se fosse para o banco dos réus levaria consigo três figurões do PT.

 

Cumpriu o prometido. Eis aí um homem de palavra.

 

A mídia é que continua desempenhando um papel subalterno.

 

É exatamente isto que vamos debater hoje às 22h30 no Observatório da Imprensa pela TV.

 

Na sombra de Jefferson

 

O Jornal do Brasil precisou da palavra de Roberto Jefferson para voltar com estardalhaço à matéria sobre o ‘mensalão’, que havia abandonado nove meses antes.

 

Isso é que é coragem cívica. E jornalística…

 

Florianópolis ignorada

 

A greve de motoristas e cobradores de ônibus em Florianópolis ocupou no noticiário o pequeno espaço antes destinado ao movimento estudantil. Desde a semana passada, pouco foi oferecido ao público para que entendesse o que está acontecendo na capital catarinense.

 

O Carlos Castilho, colaborador do Observatório da Imprensa online, onde escreve o blog Código Aberto, mora na capital de Santa Catarina e dá seu testemunho.

 

Castilho:

 

− A imprensa cobriu de forma burocrática os cinco dias de manifestações estudantis contra o aumento das passagens de ônibus aqui em Florianópolis. Faltou uma melhor contextualização dos protestos, que acontecem pela segunda vez em um ano.

 

Na quinta feira à noite, tanto os estudantes como a policia perderam o controle da situação, durante várias horas.

 

Os jornais e a televisão cobriram os incidentes de longe, a uma distância prudente. As imagens transmitidas para o Jornal Nacional foram feitas do alto de edifícios próximos.

 

A imprensa privilegiou a versão das autoridades, enquanto os estudantes transformaram o site do Centro de Mídia Independente no seu principal foro de debates.

 

Canais embaralhados

 

A Folha publica hoje reportagem sobre denúncia da Rede Bandeirantes contra a Rede Globo. A Globo estaria barrando canais da Band em seus serviços de televisão paga.

 

O conflito ilustra boa parte da complexidade da comunicação social no Brasil. Tem TV aberta, TV via cabo, satélites e telefonia.

 

Do lado estrangeiro, liquidez. Do lado brasileiro, dívidas contraídas por erros de cálculo e de gestão.