Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Programa 38
>> PMDB merece leniência?
>> Na crise, menos frivolidade
>> Com alma
>> Gastança nos Correios
>> Tribunais de Faz-de-Conta
>> Numerologia irrelevante
>> O capít

 

PMDB merece leniência?

 

A mídia não quer derrubar ninguém. Ao contrário, está tão preocupada em preservar o presidente da República que trata até com certa naturalidade a negociação de ministérios feita por Lula com o PMDB para ganhar a famosa ‘governabilidade’.

 

Esse tipo de barganha envolve a mesma estrutura que resultou nos casos de corrupção e tráfico de influência agora denunciados. E o PMDB, na média, não tem credenciais muito melhores do que o PTB, o PP, o PL, para ficar por aí.

 

 

 

Na crise, menos frivolidade

 

A crise pôs as revistas semanais para trabalhar. Neste domingo, fizeram revelações. Em junho, a Veja dedicou todas as capas às denúncias de corrupção que ela mesma havia inaugurado em maio com a revelação da fita dos Correios. A Época também dedicou as quatro capas de junho ao tema. IstoÉ deu três em cinco capas.

 

Esse comportamento difere muito da média do ano. Em 2005, até maio, essas três revistas tiveram 63 edições. Política brasileira só apareceu na capa de oito (8) das 63 edições. Eis uma das explicações da facilidade para se fazer tenebrosas transações.

 

Não se trata de moralismo hipócrita. A corrupção é problema na medida em que agride a democracia, sabota políticas públicas e abala a esperança do povo em dias melhores.

 

Com alma

 

Duas manifestações publicadas no domingo sobre a crise do ‘mensalão’ merecem destaque. A entrevista do senador Jefferson Peres ao Estadão e, ainda mais preciosa, a entrevista dada a O Globo pelo deputado Paulo Delgado, do PT de Minas Gerais, sob o título ‘A publicidade levou a nossa alma’.

 

Gastança nos Correios

 

O Alberto Dines mostra o paradoxo afrontoso e perdulário da matéria paga com que a direção dos Correios defendeu nos jornais de ontem algo que não havia sido atacado. Fala, Dines.

 

Dines:

 

– Nos principais jornais de ontem saiu uma publicidade de página inteira paga pelos Correios. Com o título ‘Patrimônio do Brasil’, pretende mostrar a seriedade e a competência de um serviço público com 342 anos de existência. A real intenção do anúncio é rebater as acusações que há sete semanas consecutivas envolvem a empresa.

 

Gastou-se uma fábula de dinheiro – e dinheiro do contribuinte – para tentar recompor a imagem visivelmente degradada de uma empresa pública que está sendo investigada por uma CPI convocada especialmente para este fim.

 

Não são os Correios como serviço que estão sob suspeição. Nossos carteiros são honrados e as cartas em geral chegam ao seu destino. Quem está sob suspeição é a direção dos Correios, e ela não pode desperdiçar recursos públicos para influir num julgamento que está sendo conduzido pelo Legislativo.

 

Os anúncios de ontem equivalem a uma tentativa de comprar a opinião da imprensa, do cidadão e dos membros da CPI. O melhor que a direção dos Correios tem a fazer é aguardar o veredicto. A extravagância de ontem é a melhor prova da gastança irresponsável.

 

Tribunais de Faz-de-Conta

 

Com todo o respeito, as reportagens sobre o tratamento dado pelo Tribunal de Contas do Município de São Paulo às contas de Paulo Maluf, Celso Pitta e Marta Suplicy colocam para a imprensa a tarefa de apurar melhor o histórico dos Tribunais de Contas. Com todo o respeito.

 

 

 

Numerologia irrelevante

 

Só o Jornal do Brasil de hoje evita a armadilha de valorizar o número de participantes da décima Parada do Orgulho Gay do Rio de Janeiro. Os demais deram-no até nas manchetes.

 

O número de participantes não quer dizer nada. Virou puro chute, e pura rotina jornalística. O título singelo do JB diz alguma coisa: ‘Passos contra o preconceito’.

 

O capítulo machista

 

Salvo equívoco, as próximas rodadas de denúncias brasilienses envolverão algum tipo de comércio de mulheres. A Veja e a Época já fizeram insinuações sobre o assunto, abordado antes no depoimento da ex-secretária Fernanda Sommagio, da agência de publicidade de Marcos Valério de Souza.