Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

     Programa 463
>>Ministérios e ética
>>Congresso enigmático

Ministérios e ética


A imprensa conforma-se com a discussão das nomeações ministeriais pautadas pelo tamanho dos orçamentos. Pouco se insurge contra essas cenas explícitas de apropriação partidária da máquina estatal. Não se avalia o dano que isso traz à tentativa de buscar novos padrões éticos.


Congresso enigmático


Como era de se prever, a cobertura jornalística no Congresso Nacional se fixou nos postos mais importantes e passou ao largo do funcionamento propriamente dito da Câmara e do Senado. Pouco se sabe a respeito da composição das comissões. Houve destaque apenas para alguns casos mais salientes, como o da entrega da presidência da Comissão de Constituição e Justiça ao deputado Leonardo Picciani, do PMDB do Rio de Janeiro. Faz muita falta explicar a dinâmica, ou a inércia, das instâncias deliberativas do Congersso.



Feliz Ano Novo


Alberto Dines diz que para os comuns mortais o ano começou no primeiro dia de janeiro, mas não no Planalto Central.


Dines:


– Uma pergunta: se o ano só começa no Brasil depois do Carnaval, então, neste início da Quaresma vamos nos cumprimentar com um alegre “Feliz Ano Novo”? Sim ou não? A verdade é que para os comuns mortais o ano começou efetivamente no dia 1º de Janeiro, mas lá no Planalto Central é que as agendas continuam no ano passado. E quando se imaginava que, uma vez iniciado o reinado de Momo, num passe de mágica tudo ficaria esquecido e renovado, veio a inesperada reação da sociedade brasileira: ela não esqueceu a barbárie cometida contra o menino João Hélio. Blocos de rua, escolas de samba, comissões de frente, passistas e sambistas não permitiram que a folia sepultasse o menino pela segunda vez. Este é um dado novo, surpreendente: o cidadão e principalmente a cidadã brasileira, reluta em esquecer o que aconteceu. A mídia tem algo a ver com esta inédita persistência? Talvez através da imprensa os pais de João Hélio responderam ao presidente Lula; através da imprensa o filósofo Renato Janine Ribeiro sacudiu a letargia dos bem-pensantes e politicamente corretos e nas cartas dos leitores dirigidas aos grandes jornais a preocupação dominante não é o ministério que ainda não conseguiu decolar, mas um crime hediondo que bem poderia ser o último.


Tecnologia e publicidade


Os jornais estão repletos de noticiário sobre novas tecnologias. A Web ponto três na Folha de S. Paulo, novos usos para telefones celulares no Valor e no Estadão. Mas a publicidade parece ainda não ter entendido o potencial desse novo mundo. O jornalista José Roberto Toledo, diretor da Prima Página, produtora de conteúdo jornalístico, diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Abraji, fala do descompasso entre novas tecnologias de distribuição da informação e fontes de financiamento.


Toledo:


– É inegável que se tem nos últimos dez anos uma transformação muito profunda, quase uma revolução na mídia, nos meios de comunicação, do ponto de vista da produção e do ponto de vista da veiculação, com maior número de mídias do que se tinha, é inegável, isso, mas não vejo um crescimento na mesma proporção da distribuição da verba publicitária. Acho que ainda há um gargalo no mercado, que não foi superado, sobre como dividir esse dinheiro da publicidade, que é o que sustenta os meios de comunicação tradicionais, mas ainda não é suficiente para sustentar os meios de comunicação novos, ou mais modernos que apareceram. Você não tem hoje, por exemplo, uma fonte clara de financiamento para blogues, fenômeno de audiência, mas não fenômeno de marketing, digamos assim. Talvez os anúncios tipo Google Adds venham a ser uma saída, mas eu acho que era necessário, talvez, as agências e as empresas, os anunciantes, pararem para pensar um pouquinho nisso.



Um vasto canavial


Brasil e Estados Unidos convergem rapidamente em torno do etanol combustível. A agricultura, principalmente no território paulista, passará por uma transformação da qual ainda não se fala. É algo de proporções incomparavelmente maiores do que a transposição das águas do São Francisco, por sinal ainda um assunto obscuro.


O território da violência


A opinião pública continua mobilizada para cobrar medidas eficazes contra a violência. Discutem-se o policiamento, as leis, os sistemas prisionais. Perde-se de vista, com muita facilidade, o território em que essa batalha será efetivamente vencida ou perdida: junto à juventude das cidades, fora dos tribunais e das cadeias.


[O assunto é desenvolvido, com mais propriedade, no texto de Deonísio da Silva ‘A cadeia não substitui a escola‘.]