Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Programa 516
>>Meio & Mensagem pune relato sobre a Folha
>>Gil e a TV pública

Meio & Mensagem pune relato sobre a Folha
 
Foi demitido ontem do jornal Meio & Mensagem, depois de cinco anos de trabalho, o editor adjunto Costábile Nicoletta. Ele foi responsável pela edição do noticiário sobre a morte de Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de S. Paulo. O material continha um box, escrito pelo colaborador Edgar Olímpio de Souza, que fazia referência às relações das Folha com a ditadura militar antes da abertura promovida pelo general Ernesto Geisel a partir de 1975.
 
Nicoletta narrou agora há pouco o que aconteceu:
 
– Ontem, segunda-feira 17, fui chamado a uma pequena reunião com a diretoria de redação do jornal, a Regina Augusto, que me comunicou que estava sendo demitido porque a direção do jornal não tinha gostado do box de uma matéria que a gente fez sobre o falecimento do Octavio Frias, dono da Folha. Quis saber do que a direção não tinha gostado e ela me disse que havia um box dessa matéria, a exemplo do que todos os demais meios de comunicação fizeram: discorreram sobre as qualidades do Octavio Frias e também sobre a participação da Folha durante o regime militar. E esse box destacava da matéria exatamente esse período da Folha. A diretora de redação do jornal me disse que a direção não havia gostado daquilo, que o Meio & Mensagem é um jornal do trade e que não deveria se prestar a isso. O fato de ser um jornal do trade, eu disse a ela, não quer dizer que nós devamos ser subservientes aos anunciantes; a gente tem que mostrar a história como todo mundo mostra. Ainda perguntei a ela se aquilo tinha sido alguma queixa da Folha ou algo desse gênero e ela disse que não sabia, que era uma determinação da direção do jornal. Falei: Bom. O que mais eu posso fazer, não é? Peguei minhas coisas e fui embora. E a redação, depois, os demais companheiros de redação tiveram uma reunião com ela para saber o que tinha acontecido e suponho que ela tenha exposto as mesmas razões que ela expôs para mim.


Mauro:
 
– Costábile Nicoletta é jornalista há 23 anos, com passagens pelo Estado de S. Paulo, pela Gazeta Mercantil, pelo Valor Econômico e pelo Estado de Minas. O Observatório da Imprensa procurará ouvir os dirigentes do Meio & Mensagem sobre a demissão de Nicoletta.


Não é só Marcola
 
Singularizar o problema do PCC na figura do condenado Marcola, agora transferido do Regime Disciplinar Diferenciado em Presidente Bernardes para uma prisão menos severa de Presidente Venceslau, é uma boa maneira de governo e mídia escamotearem o tamanho do crime organizado em São Paulo e suas conexões com setores do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.


Chacina paulistana
 
Os jornais de São Paulo subestimaram uma chacina com sete mortos cometida na noite de domingo no bairro do Jaraguá. Dos dois mais importantes, o Estadão chama o assunto na primeira página com uma fotografia e a Folha dá uma chamada de 18 linhas, embaixo. A explicação para esse comedimento está na própria chamada da Folha. Ela cita um delegado da região segundo o qual o crime foi “briga de vagabundo”. Pronto. Está resolvido. Eles que se matem. Mas na reportagem que ocupa toda a primeira página do caderno Cotidiano, o título é diferente: “7 jovens são mortos em praça na Zona Norte. Maior chacina do Estado no ano deixou, ainda, duas pessoas feridas, uma gravemente; nenhuma delas tinha antecedentes criminais”.
 
Os jornais paulistas estão muito distantes de qualquer coisa que não se situe dentro de um raio de oito quilômetros com centro na Praça da Sé. A Folha localiza a chacina na Zona Norte, no bairro Cidade d´Abril, Jaraguá. O Estadão, como ontem a Rede Globo, na Zona Oeste de São Paulo. A Folha está certa. O Jaraguá fica na Zona Norte.
 
Gil e a TV pública


Alberto Dines anuncia a presença do ministro da Cultura, Gilberto Gil, no programa de hoje à noite do Observatório da Imprensa, dedicado à discussão da nova TV pública. O Observatório da Imprensa na televisão faz nove anos de existência. Parabéns!


Dines:


– A Rede Nacional de TV Pública, quando for inaugurada no segundo semestre, poderá produzir duas revoluções. Uma de caráter cultural e outra na vida do próprio cidadão telespectador. Mas há uma terceira inovação, não menos importante, porque pela primeira vez uma decisão do governo federal foi precedida por um debate amplo e transparente, ao contrário do que geralmente acontece. O autor da façanha é o ministro da Cultura, Gilberto Gil, que desde setembro passado supervisiona um processo de discussões que hoje, em Brasília, chega à sua fase final com a abertura de um primeiro Fórum Nacional de TV´s Públicas. O Observatório da Imprensa vem acompanhando com muita atenção a criação desta Rede Nacional de TV Pública. Já sabatinamos os ministros Luiz Dulci e Franklin Martins. E, para comemorar o nosso nono aniversário, vamos ter hoje à noite o ministro Gilberto Gil antecipando as linhas mestras da rede pública de TV. Às 23h30, na rede da TV Cultura; mais cedo, ao vivo, pela TVE, às 22h40.