Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Quem demite, ou não, é Lula
>>Violência nas cidades

Quem demite, ou não, é Lula


Periodicamente, desde novembro, a mídia anuncia que o ministro Antonio Palocci vai cair, ou está pendurado por um fio. Isso não se deve a má vontade da imprensa contra Palocci. Antes do início da campanha eleitoral, existia muito mais oposição ao ministro da Fazenda no PT do que dentro das redações. A imprensa transborda de indignação, o que é compreensível, mas não adianta brigar com fatos em nome de conceitos ou juízos de valor. Palocci pode cair, é claro, mas isso é decisão do presidente Lula, único nessa história toda que foi eleito para governar o país. Se o prejuízo será maior com a saída ou com a permanência, ele é que vai arbitrar. E pagar a conta.


A candidata ignorada


O candidato a governador do Rio de Janeiro pelo PSOL, jornalista Milton Temer, constata que há uma espécie de fraude na cobertura da campanha eleitoral. Enquanto os dois principais candidatos, ainda não oficializados, o presidente Lula e o governador Alckmin, aparecem todo dia na mídia, na qualidade de ocupantes de seus cargos, a senadora Heloísa Helena, também candidata, é ignorada, salvo na TV Senado.


Milton Temer se insurge também contra o hábito de designar como “oposição” apenas o PSDB e o PFL. Na concepção do candidato a governador, o PSOL seria doutrinariamente a verdadeira oposição. Temer diz que sente na pele as deficiências da cobertura de uma campanha que já está no ar, embora ainda não siga trâmites balizados pela Justiça Eleitoral.



O candidato preservado


O processo eleitoral é um teatro. Em muitos aspectos, uma obra coletiva de ficção. Que o diga o hoje decaído Duda Mendonça. E, quando se tem um documentário que capta muito bem certas realidades desse jogo, como o filme Entreatos, de João Moreira Salles, o diretor resolve tirá-lo de circulação, sob o argumento de que sofreria exploração política. Isso foi feito no início do governo. Entreatos mostra o hoje presidente Lula na campanha de 2002. Se era para ter medo do jogo político, por que Moreira Salles elegeu como objeto do filme uma campanha eleitoral?


Violência nas cidades


No programa de ontem do Observatório da Imprensa na televisão, sobre a operação do Exército para recuperar armas roubadas de um quartel no Rio de Janeiro, o jornalista Hélio Doyle chamou a atenção para a descontinuidade da cobertura da imprensa. Disse que muitos assuntos são abandonados dias depois de chegarem ao noticiário e deixados inteiramente ao léu. Segundo Doyle, professor da Universidade de Brasília, isso precisa mudar. A mídia deve dar continuidade aos grandes assuntos jornalísticos.


O ombudsman da Folha de S. Paulo, Marcelo Beraba, disse que os jornais deveriam estar mais preocupados, investir mais não apenas em repórteres no front, mas também dentro das redações, promovendo a reflexão sobre política de segurança e a explosão das cidades, da qual é conseqüência a situação das favelas.


O programa será reprisado no sábado às oito da noite.


Farsas moralistas


A mídia aceita encenações como se fossem a mais perfeita representação da verdade. Em sua coluna desta quarta-feira, 22 de março, Elio Gaspari adverte que na onda de denúncias onde navega o PSDB há uma grande dose de farsa. O tópico foi motivado pela decisão do Conselho de Ética do Senado de arquivar denúncia contra o senador Eduardo Azeredo, do PSDB mineiro. São palavras de Elio Gaspari, abre aspas: “Uma coisa é lutar contra a corrupção, bem outra é manipular essa luta. Essa foi a principal bandalheira petista. O surto moralista dos tucanos é falso como os depoimentos dos comissários petistas nas CPIs”, fecha aspas.


Faltou dizer que o mesmo se aplica ao PFL, autor de filmetes de propaganda contra a corrupção supostamente praticada no governo do PT.



Novela digital


A Folha informa que amanhã será publicado anúncio conjunto das redes de televisão aberta em defesa de uma decisão favorável ao padrão japonês de TV digital. O manifesto pedirá, segundo a Folha, uma decisão urgente, porque o assunto está em debate desde 1998. Há nos altos escalões do governo quem diga que essa demora foi benéfica, pois evitou uma decisão precipitada. O governo quer valorizar a produção tecnológica e industrial do país e não pretende permitir que as operadoras de telefonia façam distribuição paga dos conteúdos para aparelhos celulares e televisores portáteis, como na Europa.


Gás boliviano


Só o Estadão dá hoje destaque ao anúncio, pelo presidente Evo Morales, da intenção de nacionalizar o gás natural do país, responsável por 50 por cento do abastecimento desse combustível no Brasil. A Petrobrás é o maior investidor estrangeiro na Bolívia. A Polícia Federal começou com alarido, na sexta-feira, uma operação de combate ao tráfico de drogas na fronteira com a Bolívia. Na imprensa, ninguém aponta conexão entre os dois fatos.


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