Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Questão de imagem
>>Ministros na mira

Luciano:

Amanhã é dia de Renan.

E o noticiário dos últimos dias induz a pensar que a atenção da imprensa irá definir o resultado do julgamento.

Mas a pressão da mídia pode distorcer os fatos.

Dines:

– Quando o repórter-fotográfico do Globo registrou na tela de um computador do STF o diálogo entre dois ministros, ele invadia a privacidade dos magistrados ou atendia ao dever de informar? E quando, dias depois, uma repórter da Folha anotou parte da conversa telefônica de um dos ministros do STF num restaurante, ela bisbilhotava a  vida  pessoal de um funcionário público, ou cumpria o contrato com os seus leitores e com a sociedade? Já está esquecida a primeira etapa do julgamento dos responsáveis pelo ‘Mensalão’ na suprema corte, mas não foram suficientemente discutidos alguns aspectos da sua cobertura. Foi abandonada uma questão que se torna crucial diante do julgamento do senador Renan Calheiros amanhã pelo Senado: deve a imprensa pressionar os demais poderes? Se ela não o fizer, quem o fará? Estas e outras perguntas deverão ser levantadas na edição do Observatório da Imprensa de hoje à noite com a participação dos dois repórteres e outros profissionais. Ao vivo para todo o país,  pelas redes Cultura e TV-E, às 22:40.

Luciano:

Questão de imagem

Os jornais de hoje reduzem o caso Renan Calheiros a uma questão de reputação do Congresso.
Em todos os diários, destaca-se a discussão sobre se o voto será secreto ou aberto ou se o acesso ao plenário do Senado será franqueada aos jornalistas ou se será restrita aos senadores e ao advogado de Renan.

A unanimidade dos jornais defende o voto aberto e as galerias lotadas.

Os aliados de Renan Calheiros dizem que essa pressão pode produzir um julgamento injusto.

Eles argumentam que, afinal, existe a hipótese de Renan ser inocente.

Seu patrimônio pode ser suficiente para pagar a pensão da ex-amante, Mônica Veloso, e é apenas disso que vai tratar o julgamento de amanhã.

Renan e seus aliados observam que o poder da imprensa pode distorcer o poder do legislativo.

Defendem o voto secreto com o regimento interno do Senado. Mas não têm justificativa para fechar literalmente a sala e impedir o acesso de jornalistas, deputados e outros interessados à galeria.

A Folha dá uma página inteira para o presidente do Senado, na qual ele se refere a ‘excessos da democracia’.

Mas o aumento da pressão foi causado pelo próprio acusado, ao retardar o julgamento no Conselho de Ética.

Está em causa não apenas a corrupção no Congresso, mas também o papel da imprensa.

Rei morto, rei posto

O Estado de S.Paulo e o Globo dão como certa a cassação e já discutem a sucessão do presidente do Senado.

Segundo a Folha de S.Paulo, um acordo para que Renan renuncie à presidência do Senado em troca da salvação do seu mandato foi costurado no Palácio do Planalto.

O Globo avança nas negociações para a troca de comando, e aidanta que o PSDB vetou os nomes de José Sarney e da sua filha Roseana e estaria tentando emplacar a candidatura de Jarbas Vasconcelos.

A leitura dos jornais de hoje dá a entender que Renan chegará ao dia do julgamento como carta fora do baralho do poder.

Loteria da cassação

Com voto aberto ou secreto, a Folha já apresenta hoje como serão os votos da maioria dos senadores.

O jornal paulista colocou os repórteres em campo, ouviu declarações de voto e compôs um painel com os nomes e retratos de cada senador.

Pelo placar da Folha, 33 senadores votariam pela cassação de Renan Calheiros e apenas nove votariam a favor dele. Treze não foram localizados e 25 não quiseram revelar o voto.

É nesse último bloco que Renan aposta para se beneficiar do voto secreto.

Pelo celular

Mas, como lembra o senador Christovam Buarque, citado em todos os jornais, não há como proibir que um senador mantenha seu telefone celular ligado durante a sessão.

Com os aparelhos modernos, qualquer um dos presentes poderá, sem problemas, transmitir as imagens do julgamento, voto a voto, acabando com o sigilo e aumentano o constrangimento dos senadores.

Se depender da imprensa, Renan Calheiros só escapa da cassação se renunciar à presidência do Senado. 

Ministros na mira

Está hoje em todos os jornais, está na internet por todo o mundo, e é manchete da Folha e do Globo, o ataque de atiradores contra o trem que transportava autoridades ontem no Rio.

Os jornais afirmam que os autores dos disparos eram traficantes da favela do Jacarezinho, embora ninguém tenha sido preso e identificado no momento do tiroteio.

O descalabro da segurança pública no Rio pode ser observada pela naturalidade com que o noticiário trata a desenvoltura dos atacantes.

A ação policial só aconteceu cinco horas depois, e resultou na morte de um homem que a polícia afirma ser um criminoso, mas não relaciona ao ataque.

Um trem que transportava dois ministros, jornalistas e convidados é alvejado como uma diligência no velho oeste americano e tudo bem.

Incomodados

Mas o prêmio ‘tudo bem’ tem que ir para o carioca Márcio Fortes, ministro das Cidades.

Junto com o ministro da Secretaria Nacional dos Portos, Pedro Brito, Fortes vistoriava as obras de liberação da linha férrea que atende o porto do Rio, de onde estão sendo removidos barracos de favelados.

O trem foi atacado na ida e na volta, ainda pela manhã. A polícia só se mexeu no final da tarde.
Mas o ministro Márcio Fortes, que diz estar acostumado a caminhar pelas favelas, explicou o ataque: disse que talvez os bandidos tenham se incomodado com a passagem de um trem diferente, cheio de fotógrafos. Ah, bom.

Talvez os repórteres devessem perguntar ao ministro se da próxima vez ele vai mandar um ofício aos criminosos pedindo autorização.