Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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Pagadores e recebedores

 

Volta à cena na crise do “mensalão”, nesta quinta-feira, 1 de setembro, a Polícia Federal. Segundo a Folha de S. Paulo, Delúbio, Genoíno, Valério e Duda serão indiciados por crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. Uns, mandaram pagar; o outro, pagou; Duda, como explicou cinicamente, “precisava receber”.

 

Veja que ilusão

 

O Alberto Dines mostra como a Veja iludiu os leitores na edição desta semana, ao festejar de modo equívoco uma decisão do juiz Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, a respeito de ação que fora movida contra a revista.

 

Dines:

 

− Mauro: você já comentou a forma bizarra com que a última Veja comemorou a sua vitória no STF em favor da “liberdade de expressão”. Mas a matéria de ontem do Estadão oferece preciosas informações que não podem ser deixadas de lado. Disse a Veja na Carta ao Leitor que a suprema corte mandou arquivar um pedido de punição a jornalistas da revista pelo conteúdo de reportagens publicadas há três semanas. Não é verdade: a ação para enquadrar a revista em crime de subversão e ofensa às autoridades não se referia a reportagens, como diz a revista, mas a um único artigo opinativo intitulado “Quero derrubar Lula”, de autoria de um colunista.

 

A segunda inverdade da Veja está na afirmação de que o ministro Celso de Mello teria “rechaçado” o pedido da ação penal. Nada disso: o magistrado determinou o arquivamento por razões técnicas − jornalista não tem direito a foro privilegiado e por essa razão não cabe ao Supremo examinar a questão. O resto do parecer, meramente retórico (porque a ação já estava liminarmente desqualificada), louvava a liberdade de expressão e opinião, etc., etc.. Mas por que razão a direção da revista resolveu omitir e manipular informações num texto que leva o título de “Decisão Histórica”? Simplesmente porque pretendia aparecer perante os seus leitores como vestal do jornalismo responsável. Agora, graças ao Estadão, Veja aparece tal como é: uma patética caricatura do que já foi.

 

O PIB não se enquadra

 

Conforme previsão impecável do Data Observatório Chutometria, o PIB brasileiro em 2005 vai crescer mais do que se apregoava. Só para recapitular, no dia 1 de junho foi publicada em todos os jornais uma saraivada de números sobre o PIB esperado para este ano que variavam de 2,5%, previsão de um executivo de banco e de um economista de consultoria, a 4%, previsão do então secretário executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy.

 

Hoje, a ciclotimia brasileira mudou de sinal e chovem previsões mais otimistas, a partir de avaliações feitas pelo IBGE. Vamos continuar colecionando os números.

 

Mas é curioso constatar que a maior ladainha impressa em letra de forma neste país é a que atribui aos juros perversos do Banco Central a propriedade de estrangular o crescimento.

 

Nestlé se defende

 

A Nestlé publica hoje matéria paga em que contesta as notícias publicadas ontem sobre decisão do Ministério da Justiça que a condenou, com outras empresas, a pagar multa por não informar corretamente em embalagens de alguns produtos mudanças de peso do conteúdo. A Nestlé critica a mídia, dizendo que considera desproporcional a amplitude dada à divulgação das decisões, na medida em que elas não são definitivas nem mesmo na esfera administrativa.

 

A crítica feia ontem aqui dizia, ao contrário, que a mídia não dá a devida divulgação ao assunto. Essa crítica era incorreta. Ontem mesmo. o jornalista Carlos Vasconcellos, do Globo, mandou correspondência para o blog do Observatório no Rádio em que chamava a atenção para o fato de que o jornal dedicou à decisão a capa de sua seção de economia. O Estadão fez o mesmo.

 

 

Vitória do medo

 

A tragédia de ontem no Iraque ilustra da maneira mais cruel um preceito exposto há um século pelo juiz Oliver Holmes, da Suprema Corte dos Estados Unidos: a liberdade de expressão não é absoluta. Não permite a ninguém, por exemplo, gritar “fogo!” num teatro lotado. Infelizmente, na machucada Bagdá, o terrorismo teve mais uma vitória, a suprema vitória de impor o medo, e a metáfora virou carnificina.

 

Ao que tudo indica, aconteceu o inverso em Nova Orleans: os habitantes, habituados aos alertas sobre furacões, subestimaram o alerta dado pelo governo. Mas o problema em Nova Orlenas foi causado pela ruptura de diques, o que faz pensar numa falha de engenharia.