Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

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Avaliar todos os atores

 

 

Falta visão crítica na democracia midiática brasileira. As CPI não servem para avaliar apenas os depoentes, mas também os inquisidores. Porque o país vai continuar e o povo precisa melhorá-lo.

 

Renilda Santiago desempenhou na sessão de ontem, terça-feira, um papel estudado. Mas do outro lado houve desempenhos constrangedores. O deputado Moroni Torgan botou para fora sua origem policial. Não foi à toa que o relator Osmar Serraglio falou em tortura. Júlio Redecker, que como Torgan não tinha nada para perguntar, usou como argumento de pressão a lembrança da morte de um filho de Renilda e Marcos Valério de Souza. Pompeo de Mattos, que é formado em Direito, exibiu um português pior do que o do professor Delúbio e o do sociólogo Silvinho. E falta de modos, como se dizia antigamente. Denise Frossard, saudosa dos tribunais, ameaça depoentes com prisões e julgamentos futuros. E por aí afora.

 

A mídia precisa ajudar o povo a discriminar, entre os que vão sobrar do “mensalão”, quem tem condições de liderar e quem não as tem.

 

Em Porto Alegre e Recife

 

Como a crise é vivida fora do eixo Brasília-São Paulo-Rio?

 

No Rio Grande do Sul, conta o editor de política do jornal Zero Hora, Luís Araújo, a palavra é indignação. O PT é forte no estado e Luís Araújo relata que, no primeiro momento, as cartas e mensagens dos leitores traduziam um sentimento de dúvida, perplexidade, desqualificação das denúncias, que se transformou em indignação.

 

Em Pernambuco, diz o editor de política do Jornal do Commercio, Ciro Carlos Rocha, a palavra é decepção. Ciro Rocha nota que a reação pode ter começado a afetar o governo do estado. O governador Jarbas Vasconcellos sofreu uma vaia num show em Recife, onde é muito forte politicamente. O vice, Mendonça Filho, também andou ganhando apupos.

 

O que será da esquerda?

 

A imprensa ainda não se deu consta de que, ao abranger o PSDB, a safra atual de escândalos políticos desmonta num mesmo processo a imagem da esquerda brasileira que emergiu da luta contra a ditadura. Resta saber em que medida esse rótulo ainda é importante.

 

Aprender com os erros

 

O editor do Observatório da Imprensa online, Luiz Egypto, apresenta os destaques da edição que entrou na rede ontem.

 

Egypto:

 

– A crise política tomou conta do noticiário. Domingo, na Folha, o ombudsman Marcelo Beraba anotou: ‘O turbilhão de denúncias não pode servir de desculpa para o afrouxamento da vigilância interna’. Ele tem razão: entra escândalo, sai escândalo e ainda há quem insista em não aprender com os erros passados.

 

Um dado que pode explicar, embora não justifique, as derrapadas da imprensa na cobertura da crise é a situação vivida pelas redações – trabalhando no osso, com equipes enxutíssimas, e tendo que dar conta de pautas que não acabam mais. Este é um dos assuntos em destaque na edição online do Observatório.

 

Isso ficou evidente nos jornais do último domingo, que praticamente ignoraram uma nota ex-ministro José Dirceu, distribuída no sábado, em resposta aos ataques que diz sofrer por parte da imprensa. Ele pode até ter alguma culpa no cartório, mas sob hipótese alguma pode ter cerceado o seu direito de defesa. Sobretudo na mídia, que o critica tanto.

 

Telefônica

 

O cartão da Telefônica com desenho da prisão de Saddam Hussein é um daqueles casos em que a realidade ultrapassa a ficção.

 

Muito além das armas

 

Reportagem de Cláudia Collucci, na Folha de segunda-feira, prestou bom serviço ao explicar que só desarmar a população não basta. Isolado, o veto às armas legais no referendo de outubro poderá provocar grande frustração, embora não se possa antecipar a dinâmica social que ele criará.

 

Nos Estados Unidos, a Lei Seca, que resultou de um movimento de 75 anos pela proibição do álcool, em poucos anos provocou o surgimento de quadrilhas ferozes e o aumento da corrupção policial. Seu único efeito colateral positivo foi ter criado milhares de bares clandestinos onde gênios do jazz encontraram emprego.

 

No caso da violência brasileira, a reportagem da Folha menciona a importância de programas socioeducativos e profissionalizantes, a recuperação de espaços urbanos degradados e o aprimoramento da polícia.