Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

>>Teatro da sucessão
>>Mídia balizada

Teatro da sucessão


Fernando Henrique Cardoso desmentiu ontem reportagem assinada por Kennedy Alencar na Folha de S. Paulo segundo a qual já teria manifestado preferência pelo prefeito José Serra para disputar a sucessão do presidente Lula. Hoje, Fábio Victor, enviado especial da Folha a Oxford, onde está Fernando Henrique, reafirma que, em conversas reservadas, o ex-presidente prefere Serra. No Estadão, o título dado à reportagem de João Caminoto destaca a negativa do ex-presidente.


Como sempre, desde a República Velha, a mídia embarca nesse balé de nomes.


Apenas uma pausa


Em poucos dias, o Congresso Nacional compensou a paralisia do fim de ano. Cortou subsídio extraordinário e dias de férias. Relatores propõem cassações de acusados de receber mensalão. A CPI dos Bingos ouviu o embaraçado motorista do suposto episódio dos dólares de Cuba. É como se o filme tivesse ficado em pausa e agora começasse a rodar novamente.



Mídia balizada


O Alberto Dines mostra que a imprensa pode fazer pressão bem-sucedida que traduza sentimentos da população, mas isso não lhe dá carta branca para publicar qualquer coisa.


Dines:


– Os presidentes do Senado, da Câmara e também diversos líderes partidários reconhecem que a pressão da sociedade levou os parlamentares a diminuir o recesso e acabar com o recesso remunerado. Mas como é que se manifesta esta pressão da sociedade sobre o Congresso? Pelo telefone? Através de cartas dos eleitores? Manifestações de rua? Ou através da imprensa? Evidentemente é a imprensa que capta e transmite o sentimento das ruas, a voz do povo. Mas isso significa que a sociedade aceita tudo o que vem da imprensa? Definitivamente não. Isso já aconteceu no passado. Hoje, os leitores, ouvintes e telespectadores já dispõem de filtros, já não engolem qualquer coisa que vem dos jornais, revistas, rádios e tevês. Quando a pressão da mídia é injusta e visivelmente engajada, o cidadão não a encampa, rejeita, mas quando a mídia consegue identificar insatisfações amplas e insuspeitas, a repercussão é imediata e intensa. Em outras palavras: o povo sabe o que quer, sabe inclusive que tipo de imprensa ele precisa.



Métodos intimidatórios


Por falar em pressão injusta, desde domingo o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil se encarniçam contra o jornalista Lourival Sant´Anna, que assinou no Estado de S. Paulo, em dezembro, um perfil empresarial do controlador dos dois jornais, Nelson Tanure. Tanure pretendia comprar a Varig.


Desde ontem o JB, por incrível que pareça, passou a se concentrar numa irmã do jornalista, a vereadora de Goiânia Marina Sant´Anna. O jornal tenta enganar os leitores. No primeiro parágrafo da reportagem de hoje – apócrifa, como todas as outras – diz que Marina é irmã do jornalista Sant´Anna, investigado por falsificação de dossiê ao lado de seu ex-chefe, o assassino confesso Antônio Marcos Pimenta Neves.


E daí?, perguntarão os leitores que se deram o trabalho de ler o texto. E daí?


Duda não tem mais sossego


A Veja publicou no sábado passado uma reportagem contra Duda Mendonça dessas que deixam a vítima aleijada. Nesta sexta-feira, 20 de janeiro, a empresa de Duda e ele próprio anunciam em material pago na Folha de S. Paulo que vão processar a revista.


Por ironia do destino, a própria Folha publica hoje reportagem sobre movimentação de 4 milhões de reais às vésperas do comparecimento de Duda à CPI dos Correios, em agosto.


Após Gutenberg


O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, nota que a internet muda o trabalho jornalístico.


Egypto:


– Em outubro passado, foi lançado na França o livro Uma imprensa sem Gutenberg, dos jornalistas Jean-François Fogel e Bruno Patiño. A tese central do trabalho é que a internet mudou radicalmente a atividade jornalística. O jornalismo não poderá mais depender apenas dos métodos tradicionais de veiculação de notícias. E o desafio será ainda maior quando se leva em conta a emergência da chamada Web 2.0, cujo conceito ganha musculatura no ambiente digital. Trata-se, em resumo, de substituir, na Web, o padrão leitura pelo padrão leitura-escritura, utilizando para isso ferramentas colaborativas que simplificam a complexidade técnica dos recursos disponíveis. Aí estão os blogs, os agregadores de feeds, a Wikipédia, entre tantas outras.


A notícia é esta: o jornalismo nunca mais será o mesmo.


Debater mais a TV digital


É positivo que o presidente Aldo Rebelo tenha colocado a Câmara na discussão sobre o modelo de TV digital que o Brasil vai adotar. É assunto que requer o mais amplo debate.