Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Tiro no pé
>>Sem-teto, sem terra, sem mídia

Entre amigos

O presidente do Conselho de Ética do Senado nomeou o senador Almeida Lima, do PMDB de Sergipe, para ser o relator nos dois próximos processos contra Renan Calheiros.
Almeida Lima é o mais notório defensor do presidente do Senado.

Além de nomear um correligionário do acusado, o presidente do Conselho de Ética atendeu o pedido de Renan Calheiros e propôs que sejam juntados os dois processos, aquele que acusa Renan de haver favorecido a cervejaria Schincariol e o processo pela compra de duas emissoras de rádio em Alagoas em nome de ‘laranjas’.

Tiro no pé

Citado pelo Estado de S.Paulo, o senador Arthur Virgílio, do PSDB do Amazonas, acha que a manobra vai produzir um efeito contrário.

Nesse caso, segundo Virgílio, a decisão voto a voto não vai poupar Renan Calheiros, porque os senadores já estão bastante informados sobre as acusações e as conclusões do relator não vão alterar seus votos.

Renan, que a princípio era contra a unificação dos dois processos, agora se empenha para que os dois julgamentos sejam feitos ao mesmo tempo.

Ele conta com a pressão que o PMDB tem exercido sobre o poder Executivo nas últimas semanas, ameaçando não aprovar a prorrogação da CPMF, para amarrar a bancada governista.

Efeito inverso

O leitor habituado à crônica política pode estranhar o pouco espaço e a ausência de declarações mais bombásticas nos jornais diante da manobra de Renan Calheiros.

Mas as edições de hoje podem ser vistas como a bonança que antecede a tempestade.

Muitos senadores têm evitado se manifestar nos últimos dias, porque o nível de confusão já passou do limite de interesse tanto do governo como da oposição.

No ano que vem haverá eleições municipais em todo o País.

O grande eleitor ainda é o presidente Lula, dono de popularidade em alto grau.

As composições para as chapas estão se consolidando.

O poder demonstrado por Renan Calheiros incomoda seus parceiros do Planalto.

E também pode estar desagradando outros caciques do PMDB.



Outros poderes

Enquanto Renan Calheiros faz sua demonstração de força no Senado, a jornalista Mônica Veloso demonstra os atributos que a transformaram na musa do escândalo.

Ela participa hoje de intensa atividade de divulgação da revista Playboy em São Paulo.

A ex-namorada de Renan Calheiros é o tema principal da próxima edição da revista masculina.

Um número surpreendente de jornalistas se inscreveu para o esforço de reportagem.

Concentração da mídia

O tema volta ao ambiente de discussões políticas, mas não costuma entusiasmar a imprensa.

Talvez pelo fato de que a imprensa, no Brasil, não se dispõe a discutir publicamente seu próprio negócio, verdade é que raras vezes se oferece a oportunidade para a sociedade se informar como se organizam os negócios de comunicação no País.

O tema da concentração da mídia está intimamente relacionado a outras questões que costumam mobilizar a opinião pública, mas nem sempre essa ligação é feita no noticiário.

Alberto Dines:

– A concentração da mídia é um dado concreto, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Os veículos querem crescer, um compra o outro, resultado: a oferta diminui. Mas por que não aparecem veículos  projetados  para serem pequenos ou manterem-se médios?  Onde está escrito que a grande imprensa é o caminho obrigatório para o bom jornalismo? Escala, volume, tamanho, nunca foram prova de qualidade. Assim como há bons restaurantes para 100 pessoas e bons restaurantes para 20 pessoas, porque não podem existir bons jornais e boas revistas para públicos restritos?  O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA desta noite vai focalizar uma história de sucesso: uma revista mensal chamada Piauí, editada no Rio de Janeiro e que completa o seu primeiro aniversário repleta de promessas. Hoje às vinte e duas e quarenta, na rede Cultura e na TV-E.

Luciano:

Sem-teto, sem terra, sem mídia

Agricultores sem terra ocuparam seis escritórios do Instituto de Terras do Estado de S.Paulo no Pontal do Paranapanema.

Segundo o jornal O Estado de

S.Paulo
, integrantes de cinco centrais que reúnem famílias sem moradia organizaram manifestações em quinze cidades de catorze Estados.

Na versão da Folha de S.Paulo, nove organizações promoveram manifestações em cinco Estados.

Já o Globo restringiu o noticiário aos eventos de Recife e Fortaleza, ignorando até mesmo as manifestações ocorridas no Rio.

Pegos de surpresa

Os grandes jornais parecem ter sido surpreendidos pelo movimento, embora ele tenha sido amplamente divulgado nos últimos dias em blogs e boletins eletrônicos de ONGs, inclusive pela organização Habitat, da ONU.

O evento deveria marcar o Dia Mundial do Habitat, criado pela ONU, e que no Brasil é chamado pelos movimentos sociais de Dia Mundial da Moradia Popular.

Com exceção do Estadão, que relata melhor a amplitude das manifestações, a imprensa não parece ter dado muita importância ao evento.

Mesmo a cobertura do Estado se restringe basicamente aos conflitos entre manifestantes e policiais, durante tentativas de invasão de prédios públicos.

Ignorância e preconceito

O episódio revela claramente como a imprensa brasileira ignora os movimentos sociais, em geral tratados como consórcios de marginais.

Fora do noticiário, os movimentos acabam sendo também isolados da sociedade, que tende a desenvolver com relação a eles o preconceito que se alimenta da desinformação.

Além disso, é muito provável que o isolamento torne essas organizações mais vulneráveis à manipulação política.

Num país marcado por diferenças de renda extremas, as organizações que representam parte da população carente deveriam merecer um olhar mais cuidadoso da imprensa.

A sociedade precisa saber o que desejam com suas manifestações.

Afinal, queira ou não a mídia, eles são protagonistas sem os quais não há como pensar num projeto de desenvolvimento para o Brasil.