Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Linhas embaralhadas em torno de Palocci
Novela cubana foi mal contada

Linhas embaralhadas em torno de Palocci

 

Como era inevitável, as linhas dos interesses políticos, dos esquemas teóricos e das visões ideológicas se embaralharam no debate em torno da política econômica e da frágil posição do ministro Antonio Palocci.

 

Tanto o Estado de S. Paulo como a Folha advertem em editoriais, nesta sexta-feira, 11 de novembro, contra a ameaça de derrubada da política de austeridade fiscal do governo, uma conquista que não é Lula, nem de Fernando Henrique, mas do país. A mensagem do PMDB na televisão, ontem à noite, mostra o apetite pela gastança.

 

PMDB fantasia a realidade

 

No horário obrigatório de ontem, a apresentação dos feitos notáveis de governos do PMDB foi uma mensagem era a favor da gastança pública, em roupagem de conto de fadas. Até a maquiagem de alguns líderes estava exagerada. Em Tocantis, no Amazonas, no Distrito Federal, em Pernambuco e em outras plagas não havia um único problema, só maravilhas, prodígios da arte de governar.

 

Em contraste com toda essa pirotecnia colorida, a realidade dos pobres foi representada por atores. Isso tem pelo menos uma vantagem: fugir do falso jornalismo habitual que mostra depoimentos de pessoas nas ruas como se fossem entrevistas. Mas não nos iludamos, ouvinte (leitor): todas as modalidades de prestidigitação serão usadas nesta campanha eleitoral que já começou, sem candidatos claramente definidos.

 

Memória de outra crise

 

Por falar em 11 de novembro, só o Globo teve hoje a preocupação de evocar a crise gravíssima de 50 anos atrás. Reportagem de Chico Otávio mostra desde o início o tamanho do conflito: tiros disparados do Forte de Copacabana contra navios revoltados da Marinha. Três presidentes da República em menos de um mês. Estado de sítio. Só depois da posse é que Juscelino Kubitschek conseguiu temporariamente desarmar os espíritos e dar novamente esperança aos brasileiros. Mas depois o tempo mudou e veio o golpe de 64.

 

Novela cubana mal contada

 

O Alberto Dines avalia que os depoimentos dados ontem na CPI dos Bingos mostram uma conexão cubana amarrada com barbante.

 

Dines:

 

– Mauro, as contradições de Rogério Buratti e Vladimir Poleto ontem na CPI dos Bingos só servem para mostrar como esta história dos dólares de Cuba foi mal contada e mal apurada pela revista Veja. Uma denúncia destas proporções e com esta gravidade não poderia contar apenas com os depoimentos de dois ex-assessores de Antônio Palocci que na realidade ouviram a história de um terceiro que já morreu. Sabemos que não cabe aos jornalistas provar as infrações e os crimes. Isso cabe ao Ministério Público e aos agentes policiais. Mas a denúncia jornalística deve ter um mínimo de indícios, um mínimo de segurança, um mínimo de sustentação. Declarações e testemunhos, em geral, servem para fazer barulho e às vezes no barulho pode surgir uma pista, mas parece que não foi este o caso. Buratti e Poleto são personagens enrolados, pouco confiáveis, imprevisíveis e, reconheçamos, suspeitos. Fazer deles as principais personagens da novela “Os Dólares de Cuba” foi uma temeridade.

 

 

Mais dúvidas do que certezas

 

Dines, é curioso que na única vez em que a palavra Cuba aparece na gravação da Veja, Vladimir Poleto diz que não sabe nada disso, embora admita ter transportado dinheiro.

 

Ainda não há como confirmar ou desmentir os diferentes elementos que compõem a história contada por Veja. Na análise que se pode fazer até aqui, eles foram misturados e o encadeamento dado pela revista, com grande impacto, deixou mais dúvidas do que certezas.

 

É preciso ter muito cuidado para separar o que são opiniões de parlamentares sobre os fatos e as versões, e o que são interesses políticos de tirar partido das denúncias feitas pela mídia.

 

Crianças e crianças

 

Em todo o material sobre a adolescente americana que andou sumida entre Minas Gerais e a Bahia não há uma só palavra sobre crianças e jovens que desaparecem todo dia no Brasil. Muitas das quais, infelizmente, nunca reaparecem.

 

 

Não é guerra civil

 

É considerável a dose de impressionismo que atravessa os relatos vindos da França. A revolta dos jovens excluídos dos subúrbios é sintoma de um mal profundo e complexo, que vai dar muita dor de cabeça na França e em vários outros países europeus. Aliás, para os que o vivem, já causou muito sofrimento. É um problema de injustiça social, desequilíbrio regional e demografia. Mas está longe de caracterizar uma guerra civil.

 

As intervenções linha-dura do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, se inscrevem no quadro de uma disputa não explicitada contra seu rival fascistóide à direita, Jean-Marie Le Pen.