Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

>>Um longo fim de semana
>>O que está por trás

Um longo fim de semana

Os jornais de hoje dedicam bastante espaço para o bate-boca entre o presidente Lula e representantes do PSDB.

Resumindo a notícia, Lula disse que o partido dos tucanos precisa resolver uma contradição, pois seus governadores e prefeitos querem a prorrogação da CPMF, e os senadores ameaçam votar contra.

O Estado de S.Paulo reproduz longas declarações de lado a lado, mas não explica a contradição.

A Folha contribui para que o leitor entenda melhor a necessidade dos governadores ao noticiar que a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, não conseguiu aprovar um pacote fiscal que aliviaria a situação financeira do Estado.

Sem o ajuste, Yeda Crusius terá dificuldades até mesmo para pagar o 13o. dos funcionários públicos. Sem a CPMF, a situação fica muito pior.

O Globo observa que o senador Renan Calheiros aproveitou uma carona  no debate e para garantir que seu caso seja julgado no plenário do Senado antes da votação da CPMF.

Renan será julgado provavelmente no dia 22, e espera que a polêmica em torno da CPMF diminua o interesse pelo seu caso, tornando mais fácil o voto a seu favor.

O relatório que pede a condenação de Renan Calheiros está baseado em poucas provas documentais e muitos indícios, o que torna mais difícil a justificativa do voto no plenário.

Trata-se da compra de duas emissoras de rádio que teria sido feita por ele, em nome de terceiros, e sem comprovação da origem do dinheiro.

Para se safar, Renan teria que contar com menos atenção da imprensa sobre os senadores.

Além disso, se o governo conseguisse aprovar a prorrogação da CPMF antes do julgamento do seu caso, ele ficaria sem o poder de influenciar na votação.

Ele conta com votos da bancada governista a seu favor, e não esconde que a CPMF é peça importante na barganha.

O Brasil tem pela frente um fim de semana esticado pelo feriado de hoje e, em alguns municípios, por novo feriado da terça-feira.

Renan Calheiros conta com a natural distração da opinião pública com os esperados problemas das rodovias e dos aeroportos.



Mas os jornais, que não o esqueceram no dia da Proclamação da República, também não deverão lhe dar folga no Dia da Consciência Negra.

O que está por trás

O julgamento de Renan Calheiros, previsto para a próxima quinta-feira, dia 22, envolve muito mais do que o primeiro caso, que tratava das fontes do dinheiro que paga a pensão da filha que tem com sua ex-namorada Monica Veloso.

Desta vez, Renan tem seu mandato sob ameaça de cassação por supostamente haver comprado duas emissoras de rádio em nome de ‘laranjas’.

O caso merece atenção redobrada da imprensa:

Dines:

– O novo julgamento de Renan Calheiros no plenário do Senado na próxima quarta vai produzir dois testes de grande importância. Em primeiro lugar vamos saber se sob a presidência de Tião Viana assistiremos à reprise  das arbitrariedades que marcaram o primeiro julgamento, em 12 de Setembro, quando o acesso democrático às informações foi duramente cerceado. O segundo teste tem a ver com o teor da própria denúncia contra Renan desta, vez acusado de usar laranjas para comprar um grupo de comunicação. Comprar um jornal nada tem de irregular – desde que a origem  do dinheiro seja verificada, mas a compra de uma ou mais emissoras de rádio em nome de terceiros configura uma burla, já que as concessões de radiodifusão devem ser obrigatoriamente transparentes. Acontece que grande parte dos congressistas são concessionários de emissoras de rádio e TV e geralmente através de laranjas para não chamar a atenção. Se Renan for condenado por seus pares, acusará seus colegas senadores de praticar o mesmo ilícito pelo qual está sendo punido. Se for absolvido, a mídia será obrigada a desmascarar uma das maiores aberrações do nosso legislativo e mantida em segundo plano para não deixar mal as empresas de mídia eletrônica cujas redes crescem à custa das concessões irregulares. O caso Renan transcende ao político alagoano. É a ponta de um iceberg que mais cedo ou mais tarde teria que ser encarado.