Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Um ministro desconhecido
>>Olhando para o passado

Um ministro desconhecido



A imprensa ainda está devendo um bom perfil do ministro Roberto Mangabeira Unger. Ele é o titular da pasta do planejamento de longo prazo, o que significa que é o principal responsável por indicar ao presidente da República as estratégias dirigidas aos problemas estruturais do País.


Desde as carências de infraestrutura, atacadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento, a questões demográficas, que afetam o equilíbrio do sistema de previdência oficial e o melhor projeto para a Amazônia, em todos os grandes temas se espera que o ministro se apresente como o conselheiro habilitado para o chefe do Executivo.


Até aqui, os jornais têm oscilado entre uma atitude de curiosa complacência com o estilo afoito do ministro e a adesão incondicional a algumas de suas assertivas.


Tudo depende basicamente de como as idéias de Mangabeira Unger se encontram ou se chocam com as premissas da imprensa.


Uma das primeiras idéias anunciadas pelo ministro, aquela de construir um aqueduto para levar água do Amazonas para o Nordeste, foi basicamente ridicularizada pela imprensa, que colocou em dúvida seu conhecimento sobre a  região amazônica.


Mais tarde, quando Mangabeira Unger entrou em choque com a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, provocando sua saída do governo, a imprensa discretamente pendeu para o lado dele.


Já então, o ministro do Planejamento de Longo Prazo se mostrava mais afinado com os grandes produtores de soja, apontados como ameaça à integridade do patrimônio florestal do País.


Agora, Mangabeira comete uma gafe ao afirmar que antes dele não havia no Brasil uma estratégia para a defesa do meio ambiente, quando se sabe que o País tem já há alguns anos uma legislação considerada de vanguarda pelos especialistas e reconhecida pela imprensa.


O que tem faltado é exatamente vontade política para colocar a defesa do patrimônio ambiental entre as prioridades da política de desenvolvimento.


É notório o gosto do ministro por factóides e pela manifestação intempestiva de teses controversas.


Mas a imprensa não pode continuar tratando-o como um elemento exótico num governo exageradamente heterogêneo.


No momento em que o Brasil vive uma situação econômica favorável e pode, finalmente, planejar seu futuro, a pasta ocupada por Mangabeira Unger exige muito mais do que mera curiosidade.


Olhando para o passado

Os jornais não deram muita importância ao ciclo de encontros que está sendo realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro pelo Desenvolvimento Sustentável.

O evento que se realizou nesta semana em Vitória, Espírito Santo, equivale a uma aula sobre os novos paradigmas que estão movimentando empresas, governos e investidores por todo o mundo, mas que parecem ainda distantes da imprensa brasileira.

Questões como as novas formas de medição dos resultados das empresas, novos papéis da iniciativa privada diante do desafio do desenvolvimento, inovação em tecnologia e em processos que estão afetando a forma como a sociedade se comunica, tudo isso vai afetar diretamente as chances de sobrevivência das empresas tradicionais de comunicação.

E elas não parecem nem um pouco interessadas.

Nesta semana, sites que acompanham o mercado publicitário informaram que a multinacional brasileira de bebidas que está ganhando o mundo mudou radicalmente sua estratégia de investimento em comunicação e passará a destinar mais verba, proporcionalmente, à internet do que à televisão e aos meios impressos.

E, quando se fala de internet, está-se falando de pulverização de verbas, o que reduz ainda mais a participação das empresas tradicionais de comunicação no bolo publicitário.

Mas a questão comercial, embora seja crucial para o futuro da imprensa, não é o cerne do problema.

Interessante observar que as novas relações de negócios estão acelerando mudanças anunciadas há quinze anos, quando estreou a internet comercial.

A cada novidade tecnológica, consolidam-se os meios que permitem o protagonismo do cidadão comum, que vai se habilitando a fazer escolhas de conteúdos jornalísticos independentes das matrizes internacionais de notícias.

E esses novos meios estão muito mais afinados com os temas da sustentabilidade, que envolvem questões mais diversas do que o aquecimento global ou a indústria de biocombustíveis.

O mundo está passando por uma enorme ruptura, com a imposição de atitudes novas e o questionamento de velhos sistemas.

E a imprensa deixa a si mesma fora dessa pauta.