Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Um show de CPI
>>Um performático em Brasília

Um show de CPI

Foi um verdadeiro pastelão a sessão da CPI dos cartões corporativos que ouviu os depoimentos dos assessores envolvidos no vazamento de informações sobre gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

André Fernandes, assessor parlamentar do senador Álvaro Dias, do PSDB, e José Aparecido Pires, ex-secretário de controle interno da Presidência da República, falaram separadamente e sustentaram uma história difícil de ser engolida.

Fernandes afirmou que recebeu o documento de Pires, que não se lembra de tê-lo enviado.

Do bate-boca que durou oito horas os jornais escolheram o que quiseram e é isso que sustenta o noticiário político de hoje.

Imaginado como entretenimento, o episódio até poderia ajudar a gastar o tempo do público diante da televisão.

Mas a descrição que aparece hoje nos jornais apenas reforça a idéia generalizada de que o Congresso Nacional anda ocupado demais com questões de importância relativa.

Até mesmo a amizade entre os dois funcionários públicos foi motivo de ironias e anedotas grosseiras entre deputados e senadores.

No fim, ficou no ar a tese de que André Fernandes recebeu um arquivo que Aparecido Pires não enviou.

E que o conteúdo compõe um ‘banco de dados seletivo’.

Para a oposição, trata-se de um dossiê.

Para o governo, apenas um relatório burocrático e rotineiro.

Mas houve um momento em que a sessão da CPI ameaçou trazer à tona informações interessantes.

Foi quando o assessor parlamentar afirmou que teria revelações graves a fazer, mas exigia a realização de uma sessão fechada.

Seu pedido foi negado e ele também evitou sair do seu roteiro.

Mas em determinado momento afirmou que recebeu a lista de despesas como uma tentativa de intimidação.

E se referiu à CPI do Banestado, que foi arquivada em 2004, dizendo que na ocasião havia ocorrido um episódio semelhante.

Afirmou indiretamente que, também naquela época, quando se investigava uma fraude que tinha como suspeitos mais de uma centena de políticos, empresários e outras personalidades, havia recebido um documento que poderia configurar uma chantagem.

Nenhum parlamentar, do governo ou da oposição, manifestou curiosidade por saber mais sobre esse episódio.

No entanto, a CPI do Banestado foi o processo de investigação do Congresso Nacional que chegou mais próximo de  esclarecer como funciona o sistema da corrupção que domina os negócios públicos no Brasil há décadas.

Como se sabe, acabou sem um relatório conclusivo, deixando no ar muitas questões sobre o destino de mais de um bilhão de reais desviados para contas no exterior.

Os jornais de hoje contam em detalhes a pantomima protagonizada ontem em torno de uma lista de despesas.

Nenhum jornalista parece ter ficado curioso com a revelação de que a CPI do Banestado pode ter chegado ao fim por conta de uma chantagem.

Um performático em Brasília

Os jornais seguem acompanhando a integração do novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, ao ambiente político de Brasília.

No noticiário e em editoriais, os jornais relatam e comentam os primeiros passos de Minc pelos corredores do poder federal e alertam para as dificuldades que o esperam na vida real.

Segundo o Estado de S.Paulo, o novo ministro já mostrou que sabe chamar a atenção dos meios de comunicação, ‘a começar da maneira cuidadosamente extravagante como se veste’, mas ainda não demonstrou se está à altura do cargo.

A leitura transversal dos três principais jornais mostra que o novo ministro já criou um inimigo bem relacionado com a imprensa ao criticar, ainda antes de confirmado no cargo, o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, que é chamado de ‘o rei da soja’.

Nos jornais de hoje, Maggi dá o troco, avisando que não vai ceder policiais militares do seu Estado para a Guarda Nacional de Segurança Ambiental anunciada pelo novo ministro.

Também já começa a dar frutos amargos a tentativa de Carlos Minc de tirar a coordenação do Plano Amazônia Sustentável do ministro de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger.

Segundo a Folha de S.Paulo, Mangabeira Unger reuniu-se ontem com Maggi e saiu elogiando o governador e defendendo a intensificação da pecuária nas áreas já desmatadas da região.

A queda-de-braço aponta para um futuro isolamento de Carlos Minc, que não conta com a reputação e o prestígio internacional da ex-ministra Marina Silva, o que a ajudava a contrabalançar a falta de apoio dentro do próprio governo.

Ao tomar claramente o partido do governador Blairo Maggi, identificado publicamente como defensor da expansão das fronteiras agrícolas e favorável à redução da área da Amazônia legal, Mangabeira Unger marca um distanciamento entre ele e o novo ministro do Meio Ambiente.

Pelo que se lê nos jornais de hoje, a transição não começa bem.