Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O que esperar para o futuro da imprensa

A aposta de que o bilionário dono da Microsoft, Bill Gates, estaria deixando os negócios de mídia agita os analistas e produz expectativas de mudanças aceleradas no setor. Depois de enterrar 220 milhões de dólares na MSNBC e outros muitos milhões na TV a cabo, Gates vê seus concorrentes da Apple sendo assediados por fornecedores de conteúdo em vídeo, por conta do novo iPod. Com investimentos relativamente insignificantes, o aparelhinho da Apple se transformou no objeto de desejo da virada do ano e revela uma tendência que deve sacudir o mundo da mídia: notícias e entretenimento na palma da mão.

Analistas experientes como Parmy Olson, da Forbes, observam que Gates está preparando o terreno para se livrar da parceria meio-a-meio com a General Electric na NBC Universal depois de se desfazer do Slate, um jornal online opinativo no qual seus executivos apostavam muitas esperanças. Se Bill Gates salta do barco, comenta Olson, é sinal de tormenta no setor.

Estrategistas da McKinsey já vinham anunciando há meses uma tendência das gigantes de tecnologia, especialmente na Ásia, de dirigir investimentos para a convergência de comunicação e conteúdo em aparelhos móveis. O telefone celular deixa progressivamente de ser um telefone e junta suas funções às da televisão e do jornal para se transformar em uma espécie e entreposto móvel de conteúdos.

Notícias, filmes, música, mensagens, tudo pode ser captado pelos aparelhos portáteis e apreciados na hora ou transferidos para armazenagem em computadores domésticos fixos ou portáteis. Ninguém mais vai precisar de cabos – com seus custos astronômicos de instalação e manutenção – e o computador pode estar em qualquer lugar da casa. Nessa onda, até mesmo o monitor pode estar desaparecendo, substituído por projetores minúsculos de alta definição.

Obsolescência rápida

O que há na ressaca desse tsunami tecnológico é a constatação de que as velhas estruturas montadas para fazer jornal de papel, que foram adaptadas nos anos 1990 para produzir as edições online, vão ficar obsoletas rapidamente. A tendência, segundo os observadores, é o surgimento de constelações de jornalistas e técnicos agregados pela chamada infra-estrutura inteligente. Como nas salas de call-centers, essa infra-estrutura pode ser aplicada ao mesmo tempo na produção de boletins financeiros e na distribuição de filmes, na transmissão de jogos de futebol ou na divulgação de notícias em ‘tempo real’.

O problema é que a solução tecnológica não encontra parcerias na gestão. São raríssimos os jornalistas que entendem como a coisa funciona. Muito mais raros são os dirigentes de jornais, emissoras de rádio e de televisão que têm uma noção aproximada do real significado dessas mudanças que já estão em curso.

Não perde dinheiro quem apostar que, diante da iminência da transformação, a tendência da mídia tradicional será apelar para as regulamentações para tentar frear a história.

O resultado dessa batalha já vimos em outros tempos.

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Jornalista