Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O Big Brother Brasil está em declínio?

O Big Brother Brasil12 chegou ao fim na noite do último dia 29 e marcou a menor audiência da história das finais do reality show: 27 pontos, contra 30 da edição passada. A maior pontuação alcançada por uma final foi a da primeira edição, em 2002: cravou 59 pontos. A queda é flagrante e corresponde a mais da metade em 10 anos. Mas, ainda assim, devido à enorme repercussão que o programa causa, o retorno financeiro garantido para a Globo torna o programa rentável, o que o sustenta na grade de programação. Até quando? Por que será que ainda há pessoas que assistem ao Big Brother? Por que a audiência caiu tanto? Até qual edição o programa irá durar? E se o realitytivesse sido comprado por Silvio Santos há 12 anos? O que é atrativo no Big Brother?

O sociólogo Wlaumir Souza confessa que já deu uma “espiadinha” em cinco ou seis episódios do programa nesta temporada e assistiu à primeira edição do Big Brother, em 2002. Contudo, Wlaumir ressalta que essa espiada se deve ao fato de gostar de game-shows. “Geralmente assisto no dia de provas, para ver se a pessoa vai se sair bem, qual o modelo de desafio, essa é a questão, não para ver a convivência”, disse.

Questionado sobre o por que das pessoas ainda assistirem ao Big Brother, Wlaumir foi direto: “Pelo mesmo fato de assistirem a uma novela, com a expectativa de que haja uma surpresa, uma reviravolta.” O sociólogo reiterou ainda que hoje as pessoas já entram com uma visão mais profissional do jogo, diferentemente da primeira edição. “Hoje está mais mecanizado e as pessoas perceberam o impacto que isso tem nas suas vidas pessoais, que era uma dimensão que as pessoas não tinham nas primeiras edições. Ninguém imaginava o que o público pensava delas aqui fora”, completou.

“Os diálogos são vazios e irrelevantes”

Já o psicólogo Silvio Flório não assiste ao Big Brother, mas ressalva que acompanhou apenas a sétima edição: “Foi a edição que teve mais Ibope e mais concorrência entre os participantes, onde houveram duas alas. Foi uma questão de comportamento, onde fizeram duas facções, onde uma era considerada do bem, e outra do mal. Chamou a atenção.” Flório também falou que não gosta da forma como eles lidam com o programa: “Como experimento, o Big Brother é uma caixinha de comportamento, e para nós, psicólogos, é uma beleza, um experimento fantástico, mas desde que ele não seja manipulado”, disparou. O psicólogo argumentou ainda que os participantes são induzidos a fazerem determinadas coisas.

Para Silvio, o interesse das pessoas que assistem Big Brother é claro: “O interesse é analisar os comportamentos e se identificar com cada personagem. Existe uma identificação, uma projeção. Então, as pessoas acabam assistindo para identificar o que elas gostariam de vivenciar, uma fantasia”, explicou.

Declínio?A respeito da baixa audiência dessa décima segunda edição, Wlaumir Souza disparou o possível motivo: “É pela irrelevância do que é abordado. Quando tivemos questões mais incendiárias socialmente, como aquela edição da questão homossexual, aquilo mobilizou a sociedade, teve uma audiência maior. Era um tema relevante, tanto faz ser contra ou a favor, mas, era relevante.” O sociólogo falou também sobre os diálogos dentro da casa: “Os diálogos são absolutamente vazios e irrelevantes. Nem dar conta de falar sobre moda ou outra frivolidade deram conta.”

E se o SBT tivesse comprado o BBB?

O psicólogo Silvio Flório é direto: “O modelo está desgastado. Houve uma adaptação do modelo que eles não souberam lidar de maneira adequada e justa. O caso, por exemplo, do rapaz (Daniel) que teve uma suposta relação sexual com outra participante (Monique). Primeiro, tiveram uma atitude de expulsar o participante por causa da pressão da polícia, e depois, obviamente, colocaram panos quentes e não noticiaram como deveriam noticiar. Não fizeram uma investigação a fundo. Isso tudo acaba desgastando porque as pessoas não são idiotas, a coisa tem que ser tratada de uma maneira transparente, e não é isso que ocorre”, emendou.

Como muitos sabem, o Big Brother poderia estar no SBT. No ano 2000, Silvio Santos e sua equipe tiveram várias reuniões com a produtora holandesa Endemol, dona dos direitos do programa, e só não fecharam contrato porque a emissora teria que desembolsar US$ 8 milhões, além de ter que importar know-how – material tecnológico deles –, e Silvio achou caro.

O negócio melou, porém os representantes do SBT assinaram um acordo com a Endemol que, mesmo que não tivessem aceito a atração, não usariam as informações que tiveram sobre o programa. Algum tempo depois, o dono do SBT lançou a Casa dos Artistas na surdina, enfurecendo os holandeses e a TV Globo, que travaram uma longa batalha judicial. E se a história fosse diferente? E se Silvio Santos tivesse comprado o Big Brother Brasil? Como estaria o programa hoje? Silvio Flório acredita que se ele fosse lançado primeiramente pelo SBT, poderia estar na TV até hoje porque a emissora trataria determinadas questões mais como show do que como situações conflitantes. “O Silvio Santos teria uma sensibilidade de lidar com isso de uma maneira diferente”, completou. Wlaumir Souza, no entanto, discorda e acha que se o BBB estivesse no SBT, já não estaria mais no ar: “Se o Big Brother fosse no SBT, teria acabado mais cedo porque ele não teria capital para investir por tanto tempo num produto que ficasse limitado.”

“Apatia evidente”

O jornalista e agora showman Pedro Bial é formado em Jornalismo pela PUC-RJ e tem um vasto currículo na Rede Globo. Hoje, se dedica quase inteiramente ao Big Brother e sua imagem já é associada ao programa automaticamente. De janeiro a março, Bial respira o programa. Como ele é visto hoje como jornalista e apresentador?

Para Silvio Flório, Pedro Bial caiu, como caiu o Big Brother. Segundo o psicólogo, ele tenta fazer coisas inteligentes mas acaba caindo na breguice. “Ele é um cara inteligente, de boa formação, mas acabou se vendendo ao modelo. Não acho que ele gostaria de estar ali”, exclamou. Silvio afirma que ele não gosta do que está fazendo e faz apenas pelo dinheiro e pelo contrato que foi assinado, mas acha que Bial se arrepende de ter entrado nessa. “Hoje, ele é associado ao Big Brother, e não ao jornalismo. Ele não é um jornalista respeitado, e sim, ligado a um modelo de programa e não vai sair disso nunca mais. Com certeza, ele não gostaria que a imagem dele fosse atrelada a isso”, afirmou.

Wlaumir Souza partilha de uma opinião semelhante e acredita que Pedro Bial se perdeu ao passar do tempo. “Ele mesmo foi desacreditando no programa. A apatia dele no vídeo é evidente, ele segue cumprindo apenas a tabela da programação. É visível que ele está deprimido no ar.”

O outro lado

A Globo renovou os direitos do programa com a Endemol até 2020. Pelo andar da carruagem, será que o reality se sustenta por tanto tempo? Na opinião de Silvio Flório, não. “Tem que mudar muito o formato. Talvez, eles possam passar para uma convivência em grupos, e não mais pessoas isoladas, e talvez até em outro ambiente, como numa determinada região, num determinado clima, fazer as pessoas trabalharem, por exemplo. Isso poderia revelar outras coisas”, opinou. Já para Wlaumir Souza, enquanto houver número de ligações significativas e o lucro falar mais alto, o programa continuará existindo.

A estudante Lara Delatore acompanha o programa esporadicamente por falta de opção, segundo ela. Questionada por que ainda existem pessoas que assistem o Big Brother mesmo depois de 10 anos, disse: “O brasileiro é curioso, pelo menos a grande massa, e a televisão brasileira está caindo devido a uma deficiência de conteúdo”, reclama a estudante.

O universitário Evandro de Souza é fã declarado de Big Brother e assiste desde a primeira edição, assinando, inclusive, o pay-per-view. “O povo é curioso, eu sou apenas mais um. Não é porque não conheço as pessoas que lá estão que não posso querer saber o que elas estão fazendo. É divertido. Esse programa é uma grande brincadeira da vida real”, falou.

Tanto Lara como Evandro concordam que a queda gradativa de audiência ao longo desses 10 anos, se deve a um desgaste natural do formato. Evandro, porém, ressalta que ainda gosta do programa e tem muita lenha para queimar: “O que está passando nos outros canais? Não tem absolutamente nada passando de interessante, a TV brasileira está ruim”, esbravejou Evandro. Já Lara acredita também que o programa virou uma baboseira, gerando um grande desinteresse do público. Para a estudante, dificilmente o reality show chegará a vigésima edição.

Sobre o que o BBB poderia ter sido no SBT, Lara pensa que Silvio Santos teria melhores planos para manter a audiência da atração. Evandro discorda e dá o exemplo de como Silvio tratou a Casa dos Artistas: “Ele fez uma edição atrás da outra até que a fórmula se esgotou. Imagine o que ele não faria com o BBB? Já teria terminado há muito tempo.”

O desempenho de Pedro Bial no vídeo não agrada Lara, que o classifica como “robô”. Contudo, reconhece que como jornalista ele é bom, mas não acontece o mesmo como apresentador. Para Evandro, a presença de Bial é irrelevante: “O que está em jogo ali é o formato do programa, o apresentador é o de menos. Tanto faz ser ele, Glória Maria ou André Marques, o que determina o sucesso do BBB são os participantes”, disparou.

Vem aí: Big Brother Brasil 13

Ao término do Big Brother Brasil 12, Pedro Bial chamou a atenção dos telespectadores e disse que as vagas para o BBB 13 serão limitadas a 10 pessoas. As vagas estão abertas desde o último dia 30. A quem interessar, o reality show volta no verão de 2013.

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[Thiago Forato é jornalista, Ribeirão Preto, SP]