Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Parabéns para você, telespectador?

“A televisão se converteu em lugar de visualidade que ritualiza formas de interpretar o mundo…” (Rincón, 2006)

A Rede Globo completou 47 anos. A “senhora” mais assistida, comentada, bombardeada, copiada, amada e odiada do Brasil dá parabéns aos telespectadores, com uma vinheta de aniversário que dialoga diretamente com o público desenhando os contornos da relação de amor que fez da emissora a “n° 1 do Brasil”. A apresentação da vinheta comemorativa é a seguinte: “Hoje, nos queremos agradecer sua companhia em todos esses anos. Tempo cheio de diversão, informação e, principalmente, muita emoção. Vamos comemorar juntos? Preparamos um presente especial para você!” Somado a essa apresentação existe um texto quase poético, imagens que mostram a presença da emissora no cotidiano dos brasileiros e a mão de uma linda menininha que ao tocar na tela da televisão gera o famoso “plim-plim” que representa a marca sonora registrada da emissora por gerações. Esses são alguns dos recursos utilizados, para reafirmar a presença da televisão como um aparelho doméstico que faz parte de tudo e todos os momentos da vida de seus telespectadores.

Atualmente, nota-se um investimento crescente das emissoras brasileiras nesse produto rápido que é apresentado ao público em quase todos os intervalos da programação, mostrando que através da televisão a sociedade reconstrói as perspectivas do ser, estar e viver no mundo. Não é a primeira vez que as vinhetas da Rede Globo chamam o telespectador para mergulhar em um universo paralelo onde a TV e o público sempre têm “tudo a ver”. Quem não se lembra das inúmeras vinhetas de final do ano que, com a inesquecível melodia “hoje é um novo dia de um novo tempo que começou”, mostravam que a distância entre artistas e público estava em um simples clique ou “plim-plim”? Quem não viu em algum momento que entre todas as emissoras do nosso país existia uma que realmente “si liga em você” ou é verdadeiramente “apaixonada pelo Brasil”?

Controle remoto ou o bom senso

O uso de vinhetas como recurso midiático é uma prática utilizada na televisão brasileira como artilharia pesada na guerra por espaços e audiência dia-a-dia. O telespectador é o alvo buscado diariamente e como oferta as emissoras buscam diminuir distâncias, ressignificar paradigmas e converter o entretenimento em um caminho alternativo diante de tantas vozes que ditam os caminhos de nossa sociedade; e nós muitas vezes como fumantes passivos somos tragados pelos múltiplos contextos levantados diariamente, combinados de diversas maneiras que no fundo são apenas “mais do mesmo” e atuam como mecanismos que ritualizam todos os processos que nos levam a ligar a televisão e muitas vezes a partir dela, renovar posicionamentos e maneiras de interpretar o mundo.

Parabéns para você, telespectador, pois mesmo com o uso de tantos recursos na busca por consumidores cada vez mais assíduos e fiéis, sua resposta continua diretamente ligada a um simples clique: no controle remoto ou no seu bom senso.

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[Tacila Aparecida de Sousa é letróloga e graduanda do 1º semestre em Comunicação Social – Rádio e TV na Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC]