Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Excesso de temas e curta duração não deixam programa sair do raso

Discussão que remonta à década de 80 do século passado, a “ditadura do politicamente correto” foi o tema da estreia de Na Moral, programa de auditório noturno comandado por Pedro Bial na Globo. Tão decepcionante quanto a escolha de um tema muito batido foi a falta de tempo dedicada a discuti-lo. Foram apenas 30 minutos, período em que se discutiu também, além do assunto principal, assédio sexual e assédio moral.

Bial recebeu quatro convidados e ainda chamou ao palco outras quatro pessoas para darem seus testemunhos sobre estes três assuntos, o que não deixou o programa sair do raso. Lógico que ninguém conseguiu defender dignamente qualquer ideia. Apenas Bial deixou claro seu repúdio ao politicamente correto, mas não era necessário fazer um programa para isso. As letras “politicamente corretas” de “Atirei o Pau no Gato” e “Boi da Cara Preta”, criticadas e ironizadas há pelo menos 15 anos, foram motivo de chacota no programa. Além disso, Bial precisou recorrer a uma polêmica de 2004, a cartilha “Politicamente Correto & Direitos Humanos”, para defender o seu ponto de vista. De quebra, foi um pouco deselegante com o autor, Antonio Carlos Queiroz, criticado por parecer estar “no palanque”.

A atriz Maria Paula, outra convidada, falou coisas do naipe: “Você pode ser racista chamando uma pessoa de ‘querida’, dependendo da entonação.” E Luiz Felipe Pondé, normalmente polêmico, teve uma participação discreta, talvez porque Bial tenha defendido posições semelhantes às do filósofo. “Ditadura do politicamente correto”, mais assédio sexual, mais assédio moral. Bial deve ter seus motivos para convidar o público a discutir estes três assuntos por 30 minutos numa noite de quinta-feira. Não conseguiu, porém, deixar claro quais são.

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[Mauricio Stycer é jornalista, repórter e crítico do UOL; seu blog]