Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Seria mais um sucesso esporádico do SBT?

Quase dois meses depois da estreia de Carrossel, nem os mais otimistas poderiam imaginar que a novela alcançaria índices de audiência tão altos. Logo no segundo capítulo, o folhetim cravou 15 pontos de média, com 18 de pico. Falou-se muito que seria devido à curiosidade do público, tamanha publicidade nos seus programas e inserts na programação. A oscilação não tem sido flagrante – na última segunda-feira (16/7), a novela marcou 14 pontos, um número tão expressivo que muitos dentro da própria emissora se esquecem qual último produto dramatúrgico deu tanto –, com produção própria e nesse horário, contra o Jornal Nacional.

Mas, e depois? Um planejamento já tem que estar em andamento para que não haja uma queda maior que a escalada. O SBT sempre teve seus sucessos esporádicos que outrora assustaram a Globo, como o Show do Milhão (quando diário, a imprensa dizia que somente o Casseta & Planeta era capaz de batê-lo) e a Casa dos Artistas – na primeira edição, o reality foi líder durante os sete domingos em que concorreu com o até então imbatível Fantástico. Mais recentemente, a dobradinha de game-shows Family Feud, da produtora Fremantle (a mesma de Ídolos) e Roda a Roda (2005) chegava a alcançar mais de 20 pontos no Ibope no horário de 20h às 21h. Em todos os casos citados acima, o SBT se lambuzou com o mel como o personagem Ursinho Pooh. O Show do Milhão, projetado para ter 22 edições diárias quatro vezes ao ano, ganhou espaço fixo na grade três vezes por semana. E o reality Casa dos Artistas se desgastou com edições coladas umas nas outras. A Globo, vendo esse sucesso e lançando seu Big Brother, também contribuiu para esse desgaste.

Não há como reverter o fracasso

Os games Roda a Roda e Family Feud rodaram toda a grade noturna, desde às 18h até 22h. Em 2005, a estreia do SBT Brasil fez todo o Ibope da emissora desmoronar. De lá para cá, a emissora nunca mais foi a mesma, virando e remexendo na programação, justamente quando a Record começou a investir pra valer.

A última grande cartada foi Pantanal (2008), material adquirido da extinta TV Manchete, e exibida no horário das 10 da noite. Os resultados foram muito bons, por se tratar de um produto de quase 20 anos. Com isso, o SBT pôde respirar, embora sempre com a Record não dando mais descanso. Pantanal terminou e as demais novelas não corresponderam, tirando o SBT novamente da briga pela vice-liderança, tão disputada desde 2006.

Claro que Carrossel terá ainda muito tempo no ar, e pelo andar da carruagem, pouco deve oscilar. A Fazenda, que está fazendo a Record dar um suspiro, termina em agosto e é ela quem deve ficar preocupada primeiramente, porque a diferença nos números do Ibope na média-dia vai aumentar.

O comodismo é que não pode acontecer. Tanto o SBT, buscando um novo produto (ou novos), como a Record tentando tirar essa estaca cravada no peito que Máscaras lançou. A emissora dos bispos ainda não tem condições de reverter um fracasso e se desesperou ao mexer na programação em demasia. Erros que ajudaram a levar o próprio SBT ao terceiro lugar.

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[Thiago Forato é jornalista, Ribeirão Preto, SP]