Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A entrevista de Malafaia e a defesa das liberdades públicas

A atuação de Marília Gabriela no De frente com Gabi que contou com a participação do pastor evangélico Silas Malafaia abre oportunidade para a discussão do papel do jornalista e da imprensa diante da reação de grupos contrários às transformações recentes na sociedade brasileira, como a luta pela igualdade de direitos dos homossexuais.

Temos visto por parte dos órgãos de imprensa no Brasil um posicionamento editorial favorável às recentes conquistas dos homossexuais, como a legalização da união estável, e crítico com relação aos casos de intolerância e agressão. Ao mesmo tempo, vozes não apenas contrárias, mas intolerantes em relação aos direitos dos gays, têm aparecido com frequência no espaço midiático e se valido dele, sob o legítimo direito à livre de expressão, para transformar o que deveria ser um debate numa provocação feita com afirmações cuja veemência não tem lastro com a realidade.

O que deveria ser um debate feito por duas pessoas sentadas à mesa torna-se o equivalente virtual a uma briga na calçada em frente ao boteco. A discussão sobre as liberdades públicas e a igualdade de direitos – valores sobre os quais se ampara a questão dos homossexuais – é transformada em uma histeria compartilhada na qual os dois lados, munidos com seus 140 caracteres, se diferenciam no que defendem e se assemelham na forma com que argumentam. Acabam, do mesmo modo, por anular o debate e deslegitimar a questão. Populistas e vigaristas, à direita e à esquerda, de quebra, aproveitam para se promoverem.

Liberdade e pluralismo

Nisso reside a grandeza do posicionamento de Marília Gabriela na entrevista com Malafaia. Sem cercear o direito à expressão do convidado, a entrevistadora, ao colocar-se em defesa do respeito às diferenças e das liberdades individuais, deu consistência ao que poderia se tornar mais uma discussão sem valor agregado. Permitiu ao outro lado ter seu direito de resposta, mesmo ali ausente. Deu aos gays o direito de serem tratados como parte da questão e não apenas como um instrumento para promoção de quem não os tolera e para repercussão inconsistente e imediata de quem, pobre, precisa dela.

Gabi fez lembrar o papel do jornalista como o de responsável por zelar por valores democráticos. Em sua atuação, Gabi defendeu a liberdade em seu estado pleno e o pluralismo da jovem sociedade democrática brasileira.

Espera-se que a entrevista seja lembrada antes pelo exemplo da jornalista do que pelas declarações do pastor.

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[Danilo Thomaz é repórter da revista Capital Aberto, São Paulo, SP]