Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um em cada 10 assinantes da TV paga faz pirataria de canal premium

Ao menos 10% dos cerca de 17 milhões de assinantes da TV paga no Brasil em todas as modalidades usa um aparelho “decoder” pirata com o objetivo de ter acesso a mais canais do que paga em seu pacote com a operadora.

A constatação é da ABTA (Associação Brasileira de TVs por Assinatura). A “pirataria” se faz por meio de equipamentos que são instalados na casa dos assinantes, em conexões legalizadas.

Em outras palavras: o assinante paga, por exemplo, o pacote mais básico de qualquer operadora. Em seguida, compra na rua ou na internet um aparelho “decoder” que consegue romper a proteção e o sinal que ele recebe em sua casa. Instalado o aparelho por um “técnico” enviado pelo vendedor e “voilá”!

Como mágica, o assinante passa a ter acesso a todo o cardápio da operadora, por mais premium que seja: dos caros canais esportivos Premiere ao pacote HBO; dos mais fechados canais pornôs até os que exibem lutas de UFC mediante pagamento. E tudo isso pelo valor da assinatura básica.

“Nós calculamos que operadoras e canais tenham hoje no Brasil por volta de R$ 100 milhões em prejuízo com essa prática, diz Antonio Salles Neto, 60, vice-coordenador de antipirataria da ABTA.

“Estamos muito atentos e preocupados com a curva de assinantes que adquirem esses aparelhos. Ela está crescendo de forma veloz.”

Pirataria asiática

A compra e a venda das caixas “decoder” são proibidas no Brasil desde 2012. Muitas são projetadas na Coreia do Sul e montadas na China.

Elas foram importadas durante muito tempo sob a chancela de serem “decoders” para antenas parabólicas. Mas os técnicos da ABTA descobriram um desvio de finalidade para os aparelhos.

Apesar da proibição, vários estabelecimentos e comerciantes que ficam na rua Santa Ifigênia, região central de São Paulo, vendem o equipamento sem muitas perguntas e ainda indicam um técnico para fazer a instalação.

Salles calcula que haja entre 1,6 milhão e 2 milhões de caixas em operação no país.

“Se a curva da pirataria continuar no ritmo atual, em cinco anos metade das assinaturas já fará uso dela.”

O custo desses aparelhos “piratas” caem vertiginosamente. Uma caixa AZbox “topo de linha”, vendida por até R$ 899 há um ano e meio, hoje é comercializada por R$ 299.

Para Salles, a pirataria não é estimulada pelos altos preços dos serviços e pelo atendimento ao cliente. “A indústria passou, sim, por um mau momento, mas ela agora está em um nível ascendente, e os preços também estão melhores”, afirma.

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Ricardo Feltrin, colaboração para a Folha de S.Paulo