Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Como gravar e transmitir manifestações

Os protestos de rua no Brasil continuam. Estão cada vez mais frequentes e violentos. Mas se você, assim como eu, não está satisfeito com a cobertura televisiva, aquela que preferiu subir no telhado e se afastou dos fatos e do público, os seus problemas acabaram: já existe um manual para produzir e divulgar vídeos de manifestações populares disponível na internet: ver aqui.

O manual no formato de vídeo online foi produzido pelo movimento Occupy Wall Street. Eles foram os pioneiros nas recentes mobilizações nos Estados Unidos. Sabem fazer grandes protestos e conhecem tudo de mídia.

O manual é muito bom, útil e didático. Pode evitar muitos problemas para os guerrilheiros televisivos, aqueles jovens que, em vez de atirar paus e pedras, tomaram seus celulares para enfrentar a polícia durante manifestações e transmitir tudo ao vivo pela internet.

A grande crítica às coberturas guerrilheiras na internet é a qualidade técnica da imagem, som e transmissão.

As questões referentes ao “jornalismo” ou a falta dele, são inerentes à própria inexperiência dos guerrilheiros ou jovens jornalistas. Nada que o tempo, a vida e algum aprendizado não resolvam. Nem sempre fomos tão “geniais” quanto gostamos de demonstrar.

Integridade física

Assim como todo jornalista já foi “foca”, quem começa a produzir televisão digital ao vivo pela internet deve ser antes de tudo corajoso e “guerrilheiro”. Deve lutar com as armas disponíveis. Elas são poderosas e estão disponíveis para todos.

Para isso, o manual revela algumas questões fundamentais para produzir um bom vídeo sobre os protestos de rua.

Primeiro, há dois tipos de manifestações ou protestos a serem cobertos pela mídia alternativa: os pacíficos e os violentos. Enquanto for pacífico, não há maiores problemas. Faça do jeito que achar melhor. Mantenha a câmera firme, atenção com o áudio, utilize um fone de ouvido, não faça muitos movimentos e mantenha o olhar na câmera e no entorno. Procure gravar planos gerais, mas são os detalhes que contam uma história. Jamais grave de forma vertical. Não serve para edição.

Antes de produzir sua “obra prima”, procure postar o vídeo bruto sem edição e em baixa resolução o mais rápido possível. Com comentários breves e inteligentes, isto é jornalismo, a primeira versão da História.

Mas logo a violência tomará conta das manifestações. Você, então, deve gravar de forma segura e estratégica. Mantenha distância dos riscos e procure se proteger. Não seja herói ou mais uma vítima dos eventos da História. O melhor jornalista ou guerrilheiro digital é aquele que sobrevive aos fatos. Viver para contar é o segredo.

Utilize a estratégia da matilha de lobos. Eles sempre atacam em conjunto para vencer e sobreviver. Não seja solitário – alvo fácil para a violência da polícia e dos próprios manifestantes.

Muitas câmeras trabalhando em conjunto com estratégia única de cobertura televisiva garantem melhores imagens e a integridade física dos jornalistas digitais. Antes da cobertura televisiva, temos que pensar na segurança dos companheiros.

Ao vivo

A câmera é a sua arma. Ela garante os seus direitos e o contato com o público é a sua sobrevivência. Boas imagens que não tremem com áudio claro mostram tudo ao vivo e a cores. Busque audiência, mas não menospreze a sua integridade física.

Para fazer TV de guerrilha ao vivo e de qualidade é preciso antes de tudo se manter… vivo.

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Ninjas presos no Rio

>> No YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=k1wQHxFTEZM

>> Informações do Estadão.com (22/7/2013):

Dois jornalistas do grupo Mídia Ninja que acompanhavam os protestos em frente ao Palácio Guanabara foram detidos. Um deles estava em frente à 9ª DP (Catete), apurando por que motivo o colega foi detido, quando foi abordado pelo tenente Puga. Ele disse que o jornalista era suspeito de incitar as manifestações e queria levá-lo para averiguações. 

Uma advogada interveio e o tenente chegou a dizer que o repórter não estava detido e que poderia sair da delegacia se quisesse. Logo em seguida, o policial recebeu uma ligação e anunciou a prisão do repórter. "O major Nunes mandou levar ele", afirmou. A detenção foi transmitida ao vivo. O telefone usado na transmissão foi apreendido. Em seguida, o policial anunciou: "Quem passar mensagem pelo celular será preso".

>> Informações de O Globo (23/7/2013):

Filipe Peçanha, repórter da Mídia Ninja, foi detido pelos policiais da PM para averiguação. "Perguntei averiguação de que, mas eles não responderam. Me colocaram à força na viatura. Eu estava filmando tudo com dois celulares, que foram arrancados de mim dentro do carro", diz Filipe Peçanha, que não teve de pagar fiança para ser liberado.

Houve protestos na frente da delegacia com centenas de pessoas.

Os dois integrantes da Mídia Ninja assinaram um Termo Circunstanciado por incitação à violência. Eles terão de comparecer ao 3º Juizado Especial Criminal (Jecrim).

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Antonio Brasil é jornalista, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, pesquisador do Grupo Interinstitucional de Pesquisas em Telejornalismo (GIPTELE) e autor do livro Telejornalismo Imaginário (Editora Insular).