Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Nos EUA, gênero começa a trocar conversa por esquetes

Duas décadas atrás, a referência de Jô Soares ao lançar o “Onze e Meia” foi sobretudo Silveira Sampaio, com quem ele havia trabalhado no começo dos anos 1960.

Foi “o embrião do stand-up, o primeiro one man show’ do Brasil”, segundo o comediante Marcelo Mansfield. Na TV Rio e depois na Record, apresentou o primeiro “talk show” brasileiro, “SS Show”, e outro programa, “Bate-papo com Silveira Sampaio”, em que criticava Carlos Lacerda com bordão que ficou famoso, “Carlos, meu filho, não faça isso”.

Talvez Rafinha Bastos e Danilo Gentili tenham ouvido falar de Sampaio, mas suas referências são outras, americanas, de David Letterman ao recém-aposentado Jay Leno. E agora Jimmy Fallon e Seth Meyers, que estrearam nas últimas semanas.

Fallon é quem comanda o “Tonight Show”, programa mais antigo do gênero, 60 anos em setembro. Foi apresentado ao longo de três décadas por Johnny Carson, que virou lenda da TV americana. Mas o próprio “talk show” pode estar nos seus estertores –e Fallon seria o algoz.

Em sua semana de estreia, de 17 a 21, o “Tonight” alcançou a maior audiência em duas décadas. E o fez com pouca entrevista, conversa, “talk”. Com esquetes e brincadeiras, o programa está mais para o gênero “variety show”, de variedades.

Quem fez as contas foi um professor de mídia, Stephen Winzenburg: 33% de “talk” com Fallon, 51% com Leno. “O êxito da primeira semana pode indicar o fim do formato tradicional de talk show’”, conclui o levantamento.

Para ser um “Saturday Night Live” com pouca entrevista, como descreve Winzenburg, o “Tonight” contou com os roteiristas que elevaram a TV americana aos padrões atuais de qualidade. Não se espera, portanto, que o movimento chegue tão cedo à TV brasileira.

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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo