Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

‘A imprensa não é o quarto poder que se aprende nas universidades’

Foi um namoro antigo, garante Domingos Meirelles sobre sua ida para a Record. Até então na Globo, local onde ficou conhecido por seu trabalho em oito anos de apresentação do Linha Direta, o jornalista revela que quando percebeu que o canal de Edir Macedo estava “indo no caminho certo”, teve a certeza de que seu lugar era na emissora.

Meirelles, que comandará o Repórter Record Investigação – ainda sem formato completamente definido –, conversou com o Comunique-se na manhã desta terça-feira (18/03) durante coletiva de imprensa que aconteceu em São Paulo, na sede da emissora. Para ele, a imprensa não é o quarto poder que se aprende nas universidades e jornalista precisa ter lado. “Essa é uma profissão que precisa saber se o seu lado é o da vítima ou do algoz.”

“A Record se coloca no lugar de quem sofre”

Como foi a sua ida para a Record?

Domingos Meirelles – Foi um namoro antigo, uma conversa que começou quando eu conheci o Douglas Tavolaro (vice-presidente de jornalismo), no Prêmio Esso. Eu tinha acabado de renovar com a TV Globo, mas a coisa não prosperou e depois, no final do ano passado, tive a possibilidade de conversar, também, com o Marcelo Silva (vice-presidente artístico). Eu poderia continuar com a Globo num acordo financeiramente interessante, mas ficaria na geladeira. Quando vi oportunidade na Record, pensei que seria positivo mudar. Não sei explicar o que acontece, mas sempre soube a hora de trocar. Foi assim na revista Quatro Rodas e tem sido assim ao longo da vida. Estive no SBT e quando as coisas mudaram por lá voltei para a Globo. Não me pergunte se é intuição, mas neste aspecto eu sempre fiz boas escolhas. O meu contrato aqui tem duração de três anos.

Quais são as suas expectativas?

D.M. – Pretendo fazer bom trabalho e colocar a serviço da emissora toda a minha experiência, que não é pequena. Trabalhei em jornal, revista, TV e tive a sorte de ser testemunha de todas as grandes mudanças da própria mídia.

Como será o seu programa? Os casos do Linha Diretaserão revisitados?

D.M. – Vamos falar de casos não resolvidos ou que não foram suficientemente bem resolvidos. A nossa ideia não é abordar só casos do Linha Direta, mas sim, qualquer outro caso. O programa não é policial, ele vai dissecar histórias de todas as naturezas, com delicadeza de sentimentos, se colocando no lugar do outro, que é o grande segredo da Record. Este canal cresceu e caiu no gosto popular porque soube se colocar no lugar de quem sofre, ao contrário de outras emissoras, que têm outras metas. Acho que a Record está no caminho certo e quando percebi isso decidi que não poderia deixar de estar aqui.

“É preciso saber o lado da vítima e do algoz”

Como será o formato do Repórter Record Investigação?

D.M. – Ainda estamos discutindo, terá alguns ajustes e falta finalizar o cenário. É um programa que vai surpreender, bem diferente do que as pessoas já viram até hoje.

O que vai ter de jornalismo?

D.M. – É um programa jornalístico por natureza e vai abordar questões de política, economia ou qualquer assunto que envolva jornalismo investigativo. O país vai mal, perdeu a sua irreverência. O pior que pode acontecer a um povo é quando ele perde o norte, quando seus dirigentes perdem o rumo. O Brasil vive um dos momentos mais complicados. Digo isso com certa segurança porque sou pesquisador, trabalho com história. O curioso é como a história se repete. São ciclos e muitas coisas que você viu nos anos 1930 e você vê se repetirem hoje. Isso é muito ruim. Mas o país não vai acabar se acomodando e vai encontrar o melhor caminho.

Como você vê o trabalho da imprensa?

D.M. – A imprensa tem papel muito importante, mas não é esse quarto poder que se aprende nas universidades. Ela faz parte do poder e gravita em torno. Cabe ao jornalismo e ao jornalista ter um lado. A Record tem o seu, que é dos desafortunados. Essa é uma profissão que precisa saber se o seu lado é o da vítima ou do algoz. Ter isso bem definido desde cedo me permitiu sair de uma redação e ir para outra com sucesso. São escolhas muito bem acertadas.

“Essas histórias estou contando em um livro”

O que mais te marcou durante a carreira?

D.M. – Tive muitos momentos. Mas trabalho muito com texto subliminar, conhecido como subtexto. Aprendi a técnica lidando com a censura. Eu trabalhava no Rio de Janeiro e não conhecia a cara do censor em São Paulo. Tinha que escrever a narrativa de modo que o censor lesse e não percebesse. Algumas dessas matérias, inclusive, estão em livros. Não meus, mas de outros autores, que falaram sobre essa técnica.

Quais são seus planos para os próximos meses?

D.M. – Essas histórias, como a que falei sobre a censura, estou contando em um livro. Ainda não fechei a editora (são duas interessadas). O nome não está definido, mas o lançamento deve acontecer ainda neste ano.

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Nathália Carvalho, do Comunique-se