Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Apresentador tece elogios à ditadura militar

Final da manhã desta quinta-feira, 15 de maio. Toda a família sintonizada no programa Aqui na Clube (TV Clube), comandado por Joslei Cardinot. O comunicador, conhecido em todo o estado por apresentar o mundo cão, estava “virado”. Estamos no segundo dia com a Polícia Militar de Pernambuco em greve. Saques, arrastões, notícias de assassinados e muitos boatos deixam todo mundo apreensivo e com medo.

Assistindo ao noticiário exibido pela TV Clube, meu medo só aumentou e eu nem quis mais sair de casa. Também, pudera, com manchetes como “Camburão do IML está lotado de cadáveres e teve que descarregar para pegar mais corpos”, “tiroteio em Abreu e Lima”, “lojas saqueadas”, parecia mesmo que eu estava no apocalipse.

Mesmo assim, é o que se espera de um programa como esse. Mas eis que Cardinot inventa de dar seu parecer sobre a situação em que vivemos. Esquecendo todo um contexto que motivou a greve da PM (condições salariais e de trabalho da categoria), faz alusão a algo que já deveria estar morto e enterrado: o fantasma da ditadura militar, que condenou o Brasil há mais de 20 anos.

Atitude perigosa

Eis o comentário infeliz: “Eu vivi minha juventude na época da revolução(sic) e confesso que nunca vivi momentos de caos como esse. Naquela época, o Exército garantia a segurança.” Disse isso, assim mesmo. Com essas mesmíssimas palavras. Disse isso ao mesmo tempo em que mostrava as lojas saqueadas e imagens de seguranças de um caixa forte atirando para o alto em Abreu e Lima. Não acreditei no que estava ouvindo. Não gravei a peripécia de seu Cardinot porque estava muito ocupada, boquiaberta.

Da mesma forma com que meus pais aqui em casa concordavam com o jornalista da TV, tenho certeza que muitos devem ter pensado o mesmo. Você está com medo em casa, e vem uma “testemunha da revolução” dizer que os tempos eram melhores… Ora, o que pensar? Caro Joslei Cardinot, tempos democráticos são complicados e difíceis, mas nada legitima a ditadura. E sua atitude é irresponsável e perigosa.

Medo. Medo de essas ideias encontrarem cada vez mais espaço na mídia pernambucana e na cabeça das pessoas.

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Thais Queiroz é jornalista, Paulista, PE