Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Uma grande novela

Não é necessária nenhuma pesquisa para revelar que o ser humano, adaptável como é, tem repulsa a toda e qualquer novidade. A atual novela das seis inova, mas têm os dois pés fincados naquilo que o telespectador conhece muito bem: a boa e velha historinha bem contada.

O roteiro de Meu Pedacinho de Chão é dos anos 1970, e o autor, Benedito Ruy Barbosa, faz questão de dizer que é um dos seus preferidos. Um acompanhante analítico dos trabalhos do autor sabe que não há grandes mudanças em suas histórias, que possuem coronéis, padres e mocinhas indefesas em um cenário do interior. Assim, Benedito tinha como desafio trazer algo que saísse do costume e que fizesse o telespectador do horário das dezoito voltasse ao hábito de estar na frente da TV (telespectador esse em fuga desde a novela Cordel Encantado, exibida em 2011).

O desafio proposto a Benedito Ruy Barbosa foi comprado por quem conhece seu texto muito bem. O diretor Luiz Fernando Carvalho “comprou” a ideia e fez da trama simples interiorana um intenso conto colorido que temos a impressão de folhear a cada dia. Luiz Fernando, arquiteto de formação, é detalhista e perfeccionista. Amante das artes, dedicou-se nos últimos anos a obras ricas em cenários e diálogos, sendo elogiado pela audácia a cada novo projeto apresentado. Atualmente, quem vê novela espera identificar-se com a trama e procura pequenos erros para não ver, o que dá uma dor de cabeça maior para quem realiza. Benedito e Luiz Fernando fazem bem o dever de casa.

Uma boa história

Meu Pedacinho de Chão é uma novela principalmente de Luiz Fernando Carvalho. A confiança de Benedito Ruy Barbosa no diretor que trabalhou com ele em clássicos como O Rei do Gado (1996) e Terra Nostra (1999) foi importante para o resultado da nossa televisão. Linda, a história de Pituca (Geytsa Garcia) e Serelepe (Tomás Sampaio) é apaixonante, assim como os atores que interpretam os personagens. Envolvidos completamente no mundo mágico da trama, os atores Irandhir Santos (Zelão) e Paula Barbosa (Gina) são os grandes destaques. É necessário elogiar também Juliana Paes (Catarina), Osmar Prado (Coronel Epaminondas) e Antônio Fagundes (Giácomo), este último por várias vezes irreconhecível, mostrando como é um poderoso ator.

A surpresa mesmo fica com Bruna Linzmeyer. A atriz encantou em 2013 com uma personagem difícil e de imenso estudo, a Linda, da novela Amor À Vida. Bruna assistia às reuniões de Meu Pedacinho quando ainda estava no ar com a novela passada. Além da missão de desvincular sua imagem da autista e fazer com que o público amasse a professora Juliana, já vivida pela ótima atriz Reneé de Vielmond, de rosto tão angelical quanto, Bruna mudou seu visual e postura adquiridas para Linda e está dando um show. Tem um grande potencial.

São grandes profissionais, entre diretores, atores e autor, que nos surpreendem com uma boa história e de desenvolvimento delicioso. Parabéns ao Benedito Ruy Barbosa, ao Luiz Fernando Carvalho e à Rede Globo que, mesmo sabendo da possível difícil aceitação de quem assiste, aprovou a execução da novela e hoje vê os elogios lançados. Tenho o prazer de sentar em frente à televisão e dizer que assisto a um produto de qualidade. Meu Pedacinho de Chão é uma grande novela.

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Patryck Deimon Rêgo Reis é estudante de Jornalismo, São Luís, MA