Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Aumenta disputa pela TV paga na AL

Os recentes movimentos de operadores de pequeno e grande porte no mercado global de TV por assinatura mostram como esse serviço ainda tem espaço para crescer em vários países. Na América Latina atuam cerca de 150 operadoras consideradas relevantes, 50 das quais só no Brasil. Mas a penetração do serviço ainda é baixa, principalmente nos lares brasileiros e peruanos, onde atinge menos de 30 de cada 100 residências. O potencial de expansão está atraindo ainda mais provedores.

Embora o elevado número de empresas sinalize que o mercado latino-americano é pulverizado, o volume de receita e número de assinantes de cada provedor indicam outra realidade. Grande parte das empresas atua em apenas uma cidade, o que revela uma forte concentração entre grandes grupos.

Da receita total de US$ 20,43 bilhões do setor gerada no ano passado, 68% ficaram com apenas quatro operadoras, segundo Carolina Teixeira, consultora sênior de TV da Frost & Sullivan. São as operadoras DirecTV (controladora da Sky no Brasil e recentemente adquirida pela AT&T), América Móvil (dona da Net / Embratel e Claro), Televisa, do México, e Telefónica, que atua com as marcas Movistar e Vivo (essa última adotada só no Brasil). Estudo da consultoria para o período 2013-2019 mostra que a receita vai atingir US$ 30,91 bilhões – uma alta de 51%.

A briga pelo mercado promete esquentar não só com mais competidores, mas na supremacia tecnológica. Até agora, o serviço por cabo é dominante na América Latina, com 28,4 milhões de assinantes ante 26,7 milhões na tecnologia por satélite, conhecida como Direct to Home (DTH). Mas o estudo prevê que o DTH vai conquistar a liderança em 2015 e ampliar sua vantagem, atingindo 45 milhões de clientes em 2019, deixando o cabo para trás, com 36,8 milhões.

Em receita, a taxa anual de crescimento será liderada pela tecnologia de sinal de TV por banda larga (IPTV), com 41,6% até 2019. O satélite ficará bem atrás, com 8,5% no período, e cabo, 3,6%. Segundo Carolina, quando a IPTV ficar mais madura, a taxa diminuirá. Mas em números absolutos, IPTV passará de US$ 200 milhões em 2013 para 1,62 bilhão em 2019, enquanto nesse período o satélite saltará de US$ 10,86 bilhões para US$ 17,73 bilhões, e o cabo de US$ 9,33 bilhões para US$ 11,56 bilhões.

Por cabo, as empresas podem oferecer interatividade e vídeo sob demanda, mas por satélite essa opção ainda passa por testes. Hoje, o satélite envia sinal para a TV, mas não pode recebê-lo do aparelho, o que inviabiliza pedidos de filmes pelos clientes, por exemplo. Para que haja interatividade por DTH, o custo da banda larga por satélite precisa cair. Empresas como a GVT oferecem um serviço híbrido: a programação segue por DTH e a interatividade por banda larga.

Cenário semelhante

Nova na disputa regional, a AT&T encontrará uma situação relativamente confortável na vizinhança: a DirecTV é líder em número de assinantes e receita, com 13,3 milhões de clientes e US$ 7,25 bilhões. A marca DirecTV é usada em toda a região, exceto no Brasil e México, onde adota Sky.

A Televisa opera só no México. É sócia majoritária da Sky México, com mais de 50%, enquanto a DirecTV detém 49%. A Telefónica é forte em toda a América Latina, embora detenha a menor receita entre as quatro gigantes: US$ 2,8 bilhões. Já a América Móvil usa a marca Claro na região, enquanto no Brasil opera com Claro e Net.

Para seus estudos, a Frost & Sullivan considera apenas os sete países da América Latina onde mantém escritórios: Argentina, Colômbia, Chile, Brasil, México, Venezuela e Peru. Nesse bloco, o mercado que mais contrata TV por assinatura é o argentino, onde o serviço chega a 75 de cada 100 domicílios.

No Brasil é o oposto, com 70% dos lares sem TV paga. Em abril foram registrados 18,6 milhões de assinantes, o equivalente a 28,46 acessos por cada cem domicílios, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

A expansão do serviço ficou estagnada por anos no país, mas com as mudanças nas regras a partir de 2011, as empresas retomaram os investimentos. Foram eliminadas barreiras para a entrada de grupos estrangeiros e para o avanço de operadoras de telecomunicações nesse mercado. De 2010 a abril de 2014 o número de 9,7 milhões de assinantes cresceu mais de 90%.

Com um amplo território ainda a ser explorado, o potencial de negócios despertou a cobiça de gigantes globais. É o caso da americana EchoStar, que planeja investir em TV via satélite no Brasil. A empresa tentou criar uma joint venture com a GVT, mas não deu certo e agora cada uma se estrutura para lançar sua própria operação.

A GVT, que atua com fibra óptica e satélite, só atende clientes onde tem infraestrutura porque o conteúdo de TV é entregue em pacotes com voz fixa e banda larga. Isso limita seu avanço. Daí o plano de lançar “DTH stand alone”, serviço de TV independente de pacotes.

A Vivo enfrenta situação semelhante no Brasil. Embora tecnologicamente possa oferecer DTH em todo o país, a empresa se concentrou no Estado de São Paulo, sua área de concessão. Para a expansão geográfica teria de investir em estrutura comercial, instalação e manutenção, informou a tele, que também oferece TV por fibra.

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Ivone Santana, do Valor Econômico