Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A crítica pela crítica

A qualidade da programação da televisão aberta brasileira é sofrível, na opinião de boa parte da sociedade. É uma estrutura que rebaixa o nível cultural do país, ponderam outros. São atrações que não agregam valor nenhum à formação das pessoas, reclamam muitos.

Tudo isso é verdade. É questão fechada. Porém, há um complicador nesse ponto de vista. Na maioria das vezes, os telespectadores/cidadãos que criticam são os mesmos que não cobram, que não participam, que não exercem seu papel de cidadão ativo.

Existe um movimento chamado ‘Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania’, projeto da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e organizações da sociedade civil, que discute questões relacionadas à ética na TV.

Transferindo a outros

Recentemente, o debate chegou e, infelizmente, passou por Ribeirão Preto (SP). Evento pouco divulgado na grande mídia, pois autocrítica não faz parte da pauta, encontro sem discussão fora de seu próprio ambiente e com, apenas, 30 participantes.

Os pensadores frankfurtianos Horkheimer e Adorno detectam o defeito de uma sociedade cujos indivíduos encontram-se dessensibilizados frente à repetição da barbárie. Isto é, a sociedade não se indigna mais diante da gritante decadência. Atualmente, mais do que em todas as épocas, há um ambiente na mídia favorável à estetização da violência. A massificação da mensagem tem correspondência direta com a facilitação do conteúdo.

É uma sociedade cínica, egocêntrica e descompromissada. Dentro desse contexto, o telespectador/cidadão não é rei, mas objeto das emissoras de televisão.

A sociedade ocidental é dominada pela mídia, pelo entretenimento e o consumismo, na qual o ser humano está acrítico e, pior que acrítico, perigoso. Pois seu papel consciente é transferir a outros, Estado, por exemplo. É a crítica pela crítica.

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Jornalista, mestre em Comunicação Social e professor universitário