Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

A decolagem da indústria chinesa de rádio e TV

Os chineses estão se preparando para, aos poucos e pacientemente, com o jeito oriental de ser, ‘mostrar a China ao mundo e o mundo à China’. Não adianta pressa: o país ainda luta pelo progresso e tem uma estratégia de desenvolvimento que ao mesmo tempo em que parece iminente em certas áreas, em outras promete ser extremamente cautelosa, de olho nas poderosas economias que possuem redes maduras de distribuição.


O grifo na palavra ‘madura’ foi enfatizado, em português, por um professor chinês durante o Colóquio de Comunicação Social da China e dos Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Ministério do Comércio da China e realizado pela Universidade de Comunicação da China entre os dias 4 e 17 de julho últimos, em Pequim. Sobre ‘mostrar a China ao mundo e o mundo à China’, este era o lema dos chineses durante todas as palestras do colóquio.


Receita de publicidade


Quando o assunto é audiovisual, não se deve esperar a abertura do mercado interno chinês sem uma política interna rigorosa de proteção à produção nacional e à diversidade cultural. Para os chineses, audiovisual é assunto muito sério e tem a ver com soberania e estratégias de desenvolvimento.


O país vem redefinindo paulatinamente seu sistema de comunicação, cuja propriedade era estatal, com a função de divulgar ações do Partido Comunista e do governo. Trata-se de uma superestrutura que já ganha empreendimentos e mecanismos de gerenciamento empresarial, inclusive com o lançamento de ações no mercado de fundos do governo. Parte desse sistema começou a ser franqueado ao capital privado, mas a abertura ao capital estrangeiro ainda é proibida e restrita.


A China tem cerca de 580 mil trabalhadores na chamada indústria de rádio e televisão do país. Durante o Colóquio de Comunicação Social da China e dos Países de Língua Portuguesa, os palestrantes, todos professores da Universidade Comunicação em Pequim, garantiram que esse sistema depende principalmente da administração e da criação de lucro, e de fundos do mercado de ações. Nas zonas mais desenvolvidas, segundo eles, as instituições de rádio e televisão dependem essencialmente de lucros próprios.


De acordo com os dados apresentados no colóquio, atualmente a China possui cerca de 1.500 companhias que criam e fornecem programas televisivos. A taxa populacional com cobertura de emissoras de rádio atingiu 94,05%, e a de televisão, 95,29%.


São mais de 1, 2 bilhão de receptores de rádio e televisão no país. Nas zonas urbanas, existem 133,4 aparelhos de TV para cada grupo de 100 famílias; nas áreas rurais, 113 aparelhos por grupos de 100 famílias. Os receptores das cidades e das vilas podem assistir a mais de 30 canais de programas de televisão.


Toda essa estrutura se mantém com rendimentos de publicidade e ações no mercado de capitais. Em 2004, o faturamento do sistema de rádio e televisão chinês atingiu 491,51 bilhões de dólares. A receita de publicidade representou 66,9% desse total. Os fundos de ações, com uma taxa de 10,7% de crescimento líquido, atingiram 48,89 bilhões de dólares.


Boa oportunidade


O governo chinês pretende adaptar essa indústria à crescente influência do sistema econômico de mercado, mas dá indícios de que não fará nada de forma acelerada. O país começa uma nova etapa histórica e o Partido Comunista e o governo, responsáveis pela direção desse desenvolvimento, não querem retroceder ao passado de domínio cultural do início do século passado. Monopólios privados estrangeiros, para os chineses, significam invasão econômica e agressão cultural.


O país importa por ano cerca de 50 filmes, bem menos do que fazem as televisões e companhias de audiovisual, que são estimuladas a importar centenas de filmes. A maior parte dos filmes estrangeiros exibida nos cinemas é dublada.


A dublagem de filmes é um ramo próspero da indústria cinematográfica, com empresas que se dedicam somente a essa modalidade de trabalho – como a Fábrica de Dublagem de Filmes de Shanghai, Fábrica de Filmes de Changchun, e Fábrica de Filmes Bayi. Além delas, as estações de TV e companhias de audiovisual também têm capacidade de dublar.


Há profissionais especialistas em dublagem formados pela Universidade de Comunicação da China. Trata-se, segundo os professores, de um mercado promissor que tende a aumentar de acordo com intercâmbios crescentes entre os setores internacionais. Além disso, a dublagem para a tecnologia de DVD apresenta-se como um desafio para os intercâmbios internacionais futuros, que tendem a intensificar-se.


‘O rádio e a televisão são fonte indispensável da cultura espiritual chinesa e da distribuição de informações à população’, ouviu-se no colóquio, durante o qual conheci estudantes do Departamento de Português, que me deixaram impressionada com a formação acadêmica e com a fluência do idioma.


Os chineses agora querem colher os resultados desses investimentos em formação e educação superior. Querem que seus produtos sejam vistos no mundo. E querem, sobretudo, um mercado interno rico em diversidade cultural. Trata-se, com certeza, de uma grande oportunidade para países em desenvolvimento como o Brasil exportarem e intercambiarem suas produções.

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Servidora pública formada em Comunicação e pós-graduada em políticas
públicas pela Universidade de Brasília (UnB)