Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A televisão ficou velha?

Cuidado com a resposta! Pense bem antes de sentenciar… Não vá pelo que ouviu dizer, pelos modismos…

A televisão chegou ao Brasil em 18 de setembro de 1950 com a PRF-3 TV Tupi de São Paulo. Um ato pioneiro de Assis Chateaubriand e seus Diários Associados. Antes do Brasil, apenas seis países. Uma conquista a ser desbravada! Suas primeiras imagens eram em filme, como no cinema. Seus textos, escritos como os dos jornais. Sua narração pomposa, como nas rádios. E os primeiros artistas tinham a expressão do teatro. Vieram as inovações tecnológicas, como o videoteipe, a transmissão em cores, o uso de satélite e a rede nacional de microondas. E as não tecnológicas, como as mudanças na linguagem e no jeito de apresentar, além de novos formatos de edição e cenários. O humor do rádio ganhou a imagem, as telenovelas se consagraram e o Brasil conheceu o jornalismo em rede nacional.

A televisão virou a rainha do lar e ganhou destaque na sala de visita. Mudou hábitos. O jantar passou a ser servido antes ou após a novela. Tornou-se a principal fonte de informação e o mais desejado entretenimento. Uma mídia também cercada de polêmicas: a televisão iria acabar com o rádio, o teatro, o cinema? Ela reduziu o diálogo na família e o tempo da leitura? O regime de concessão pública compromete a independência das emissoras?

No fim do século 20 chega a internet. A plataforma midiática cai no gosto dos jovens e ganha a admiração dos mais velhos. E vem a nova sentença: agora é a rede mundial de computadores que irá acabar com o jornal, o rádio e também com a TV. E as mídias tradicionais passam a temer pelas audiências e verbas publicitárias.

‘As pessoas migram, a atenção se divide’

Ao completar 60 anos, a televisão se vê diante do mais incerto cenário de sua história. Sua espinha dorsal – programação com horários fixos e determinados pela emissora – é questionada. A internet oferece a possibilidade de se buscar o que se deseja, na hora em que se quiser, no lugar que se preferir e no dispositivo que escolher. E agora? Eis que a televisão também nasceu para inovar e quebrar paradigmas. Foi o que voltou a acontecer neste início de século com a chegada da TV digital. Agora ela também vai para a rua, pode ser assistida em diferentes equipamentos, se prepara para uma relação interativa com o telespectador e anuncia novas possibilidades para os anunciantes.

A televisão vai virar computador? Há a experiência da broadband TV, uma modalidade simbiótica de televisão com acesso à internet. Mas será esta sua vocação? No livro Inovação no Telejornalismo, de 2008, faço uma provocação ao leitor: ‘O modo `velho, preguiçoso e passivo´ de se ver TV pode vir a ser, num futuro, o sonho de consumo de quem se cansou de interagir, tomar decisões e operar equipamentos (…)?’ Em recente editorial, André Mermelstein, editor da especializada revista Tela Viva, diz que parte da audiência poderá preferir receber uma sugestão em lugar de escolher um programa e continuar vendo televisão ao mesmo tempo em que as outras pessoas, e não em horários individualizados.

Para Mermelstein, já há indicativos de que os modelos serão híbridos. Compartilhando da mesma sensação está a gerente de comunicação da Avon para a América Latina, Cíntia Santos, responsável por escolher as mídias que recebem as verbas publicitárias da empresa: ‘A minha opinião é de que a televisão não vai deixar de ser televisão porque tem internet. O que acontece é que as pessoas migram, a atenção se divide. Você vê um pouco de cada coisa.’

E então, você acha que a televisão ficou velha ou é hora de desejar muitos anos de vida?

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Editor de séries especiais e chefe de reportagem, TV Gazeta, ES