Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A epidemia do século 21

O mundo real e o abstrato sempre podem ser confundidos quando se fala de mídia. Na onda eterna dos reality shows, ‘novos’ surgem e velhos ressurgem. No que depender de Daniela Beyruti, filha de Silvio Santos e diretora-geral do SBT, a exitosa Casa dos Artistas, uma das maiores audiências da história da emissora, volta à programação. De acordo com a coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, Beyruti quer muito que a atração tenha novamente um horário na TV. A filha do ‘dono do baú’, que também planeja colocar o pai no comando dos confinados, argumenta que, apesar do alto custo de produção, o programa tem retorno publicitário garantido. Ela tem encontrado resistência por parte dos diretores mais antigos do SBT.

Em paralelo, outro insurgente filho pródigo por outro sinal também esboça voltar da tumba. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diretor do Big Brother Brasil, está procurando a locação onde acontecerá o reality. Roberto Naar, diretor do programa Mais Você, deixou a atração para dedicar-se ao novo projeto. Qual seria o inovador projeto? Segundo o jornal, há três opções, mas tudo leva a crer que será feito algo envolvendo aventura, pasmem, como o No Limite. A intenção é barrar o possível êxito do projeto que vem sendo cogitado como estréia cercana.

E a tríade se faz completa com a ascendente emissora da Barra Funda. Confirmado! Na próxima quarta-feira, dia 27, estréia o reality show A fazenda. Formato exitoso em muitos países, que em Portugal, chamado de Quinta dos Artistas, teve como ganhador o polêmico Alexandre Frota, que desta vez se faz consultor da Record para o programa. Na próxima quarta-feira, dia 27, estréia. O programa será apresentado por Brito Júnior, que já fora afastado do matinal Hoje e Dia. E aos domingos terá suas eliminações no horário do Fantástico.

O que será do amanhã?

Seria uma gigante caldeira de ‘realismo’ pós-moderno nos domingos de nossa famigerada televisão aberta brasileira. Isto me preocupa no sentido de que podemos realmente ter um grande furor de êxito dos três produtos. Um inédito no país e outros dois re-emergidos de um passado não muito distante. Bem que o inédito é uma mescla dos outros dois com a versão feita pela Record do Simple Life. Mas a pergunta é: será que o país das novelas (cada vez mais em baixa de índices) estaria preparado para uma overdose de realidade?

Se a máxima de que na TV nada se cria, tudo se copia, será matiz válida, é bem capaz que devido ao retrasado lançamento de A Fazenda tenha motivado a pretensão de ressurreição de alguns falecidos midiáticos. O mais triste de qualquer ‘show de realidade’ são as pseudo-novas estrelas que estes mesmos constroem. Já diria o nefasto Pedro Bial com seu insustentável jargão: ‘Vamos ver como anda a vida dos nossos heróis!’ Pergunto eu, heróis de quem, cara pálida?

Me assusta quando pessoas no trabalho, no ônibus, na rua, na chuva e agora literalmente na fazenda, falam de personagens desses programas como se fossem alguém importante em suas vidas.

Longe de ter uma visão apocalíptica dos fatos, vejo um prenúncio de fim do mundo. Ao confundirmos o que é real e o que é fantasia. Pois ganhando R$ 30.000,00 por mês para se confinar em uma fazenda, parece-me algo um pouco surreal. Os cachês são um clichê de todos os realities, embora seja ignorado este fato por muitos. Enfim, o mundo está tão surreal, decrépito de valores e insensível, que parece que precisamos de shows de realidade para voltarmos a nos ver como seres humanos. O que será do amanhã responda quem puder…

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Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista