Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Agressividade de Alckmin
no debate surpreende Lula


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 9 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Carlos Marchi


Lula e Alckmin apostam em troca de acusações no primeiro debate


‘Troca de acusações, guerra de números e provocações que, em alguns momentos, quase terminaram em bate-boca marcaram ontem o primeiro debate do segundo turno da eleição presidencial, na TV Bandeirantes. Luiz Inácio Lula da Silva (PT)optou por ler as perguntas. Geraldo Alckmin (PSDB) tinha números na ponta da língua e adotou um tom incisivo até então inédito na campanha. O confronto quase desandou. ‘É bom ir devagar com isso’, disse o presidente. ‘Respeito, candidato’, afirmou o ex-governador, quando Lula tentou interrompê-lo.


O momento mais duro foi quando o tucano perguntou se Lula abriria o sigilo dos cartões corporativos que fazem as compras para o gabinete presidencial. Lula respondeu, repetindo várias vezes, com o cenho carregado: ‘Não seja leviano!’ Alckmin afirmou que não joga ‘nas costas de amigos os problemas do governo’ e bradou: ‘Eu assumo os problemas!’ Lula devolveu: ‘Meu adversário decora chavões para participar de debates. Os tucanos já governaram muitos Estados e só sabem cortar gastos nos salários do povo. Fizemos o País crescer como nunca nos últimos 20 anos.’


Alckmin perguntou: ‘Candidato Lula, de onde veio o dinheiro sujo, R$ 1,75 milhão para comprar um dossiê falso?’ Lula reagiu: ‘Eu quero saber quem arquitetou esse plano maquiavélico. Quero saber quem fez essa negociata, porque o único ganhador nesse trambique todo foi o meu adversário.’ Ao final, garantiu que a Polícia Federal ‘vai descobrir’. O tucano ironizou: ‘Não sabe também. Não teve nem a curiosidade de perguntar pro seu churrasqueiro, para o seu diretor do Banco do Brasil, para o seu secretário do Trabalho do ministério, para o presidente do seu partido.’


Na defensiva, Lula rebateu: ‘Respondo com muita clareza. Eu não sou policial. Existem regras para investigar. O que é pertinente nós fizemos, afastamos todos os envolvidos. Não tenho medo de debater a verdade.’


O presidente acusou Alckmin de agir como se pretendesse arrancar informações sob tortura, ‘como acontecia na ditadura’. Alckmin respondeu: ‘Não precisa torturar para saber de onde veio o dinheiro, é só perguntar aos membros do PT. É só chamar os seus amigos de 30 anos e perguntar.’


Lula partiu para o ataque. Disse que o esquema dos sanguessugas começou no governo Fernando Henrique e falou de Barjas Negri, ex-ministro tucano citado no escândalo que depois foi secretário de Habitação do governo Alckmin. O ex-governador reagiu: ‘Não meça as pessoas pela sua régua. Não tenho em meu governo ministros e assessores condenados’, disse. ‘O escândalo dos sanguessugas é do seu governo. Se começou antes, deveria ter punido.’


Alckmin foi cobrado pelos 69 pedidos de CPIs recusados pela Assembléia paulista, durante sua gestão. ‘Não movi um dedo para parar nenhuma CPI’, acrescentou Lula. Alckmin deu resposta irônica: ‘Quanta mentira, como Lula mudou! As CPIs (federais) só saíram porque (o então deputado) Roberto Jefferson contou a verdade para o Brasil. Houve crise no PT porque alguns deputados tinham assinado a CPI. AS CPIs saíram porque o governo foi derrotado.’


O tucano fez propostas de apelo popular. Depois de condenar a compra de um avião para a Presidência, citou países cujos governos não têm avião e prometeu: ‘Vou vender esse Aerolula e fazer cinco hospitais com o dinheiro.’ Ele disse que é diferente de Lula: ‘Nós somos diferentes. São Paulo tinha dois aviões, eu vendi os dois. Tinha dois helicópteros, eu doei os dois para a Polícia Militar. É preciso criar um clima de respeito com o dinheiro público.’’


Ricardo Brandt, Ana Paula Scinocca, Silvia Amorim e Rodrigo Pereira


Marqueteiros travam duelo à parte


‘Por trás das câmeras, Gonzales e Santana dão munição aos candidatos


Enquanto Lula e Geraldo Alckmin se enfrentavam, por trás das câmeras os marqueteiros Luiz Gonzales, do lado do tucano, e João Santana – do petista – protagonizaram um duelo silencioso. A cada intervalo, os dois municiavam os candidatos com informações passadas em bilhetes por aliados na platéia.


Santana e o coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia, eram abastecidos por recados passados pelos ministros, entre eles Tarso Genro, Dilma Rousseff e Márcio Thomaz Bastos. Gonzales recebia recados do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, e do deputado Carlos Sampaio, da CPI dos Sanguessugas. O senador Tasso Jereissati, presidente do PSDB, e o coordenador da campanha, Sérgio Guerra, também transmitiam dados para Alckmin.


Fora do prédio, petistas empunhavam bandeiras . O palanque na porta da Band teve a ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Eduardo Suplicy. Dois telões faziam a transmissão do debate. Cerca de 500 cabos eleitorais vieram em ônibus e Kombis fretados pelo PT ou bancado pelos próprios militantes.


A uma quadra dali, 30 militantes do PSDB protestavam. ‘Nós viemos por conta própria e ouvimos que o pessoal do PT foi pago’, contou a bióloga Eliana Maria de Oliveira Pereira e Almeida. Os tucanos reclamaram da falta de telão para eles. Meia hora antes do início do debate, já deixavam o local. ‘Com eles (os petistas) não dá para assistir. Passamos em frente e fomos hostilizados, xingados. Aí a polícia nos mandou pra cá’, disse o professor Felício Naia.’


Cristina Padiglione


Audiência deu picos de 20 pontos


‘A Bandeirantes somou, com o debate entre Lula e Alckmin, 14 pontos de média de audiência, patamar que a emissora só alcança em final de campeonato de futebol. O pico foi de 20 pontos.


Esses índices correspondem à medição da pesquisa instantânea que o Ibope realiza apenas na região da Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a 54,4 mil residências. Assim, é possível dizer que 761,6 mil domicílios, em média, assistiram ao embate e mais de 1 milhão de televisores pararam no canal por pelo menos um minuto.


A Band mal oscila entre 2 e 4 pontos nas noites de domingo em São Paulo. No debate do primeiro turno, sem a presença de Lula, a emissora obteve modestos 4 pontos.’


Dora Kramer


Presidente fica nas cordas


‘O candidato Geraldo Alckmin pegou todo mundo de surpresa. Surpreendeu, principalmente, o adversário. O presidente Luiz Inácio da Silva ficou pelo menos dois dos cinco blocos – que seriam mais bem definidos se chamados de ‘rounds’ – completamente na defensiva, nas cordas.


Depois, recuperou-se um pouco e usou do recurso da ironia para manter certo equilíbrio numa situação que se avizinhava totalmente desequilibrada. Alckmin abriu o debate já fazendo referência à ausência de Lula nos outros debates e, na primeira pergunta, atacou forte, falando do dinheiro do dossiê contra os tucanos.


O presidente Lula, é claro, esperava questionamento sobre os escândalos, mas evidentemente não fazia idéia de que o tom de Alckmin fosse incisivo como foi. Aliás, pela reação dos correligionários do tucano presentes ao estúdio da TV Bandeirantes, nem o PSDB nem o PFL tinham noção de que o candidato teria desempenho tão veemente.


Tanto que o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati, a certa altura brincou que o senador Arthur Virgílio – o mais agressivo dos líderes de oposição no Congresso – estava pedindo ‘moderação’ a Alckmin.


Troca de acusações, guerra de números e provocações que, em alguns momentos, quase terminaram em bate-boca marcaram ontem o primeiro debate do segundo turno da eleição presidencial, na TV Bandeirantes. Luiz Inácio Lula da Silva (PT)optou por ler as perguntas. Geraldo Alckmin (PSDB) tinha números na ponta da língua e adotou um tom incisivo até então inédito na campanha. O confronto quase desandou. ‘É bom ir devagar com isso’, disse o presidente. ‘Respeito, candidato’, afirmou o ex-governador, quando Lula tentou interrompê-lo.


O momento mais duro foi quando o tucano perguntou se Lula abriria o sigilo dos cartões corporativos que fazem as compras para o gabinete presidencial. Lula respondeu, repetindo várias vezes, com o cenho carregado: ‘Não seja leviano!’ Alckmin afirmou que não joga ‘nas costas de amigos os problemas do governo’ e bradou: ‘Eu assumo os problemas!’ Lula devolveu: ‘Meu adversário decora chavões para participar de debates. Os tucanos já governaram muitos Estados e só sabem cortar gastos nos salários do povo. Fizemos o País crescer como nunca nos últimos 20 anos.’


Alckmin perguntou: ‘Candidato Lula, de onde veio o dinheiro sujo, R$ 1,75 milhão para comprar um dossiê falso?’ Lula reagiu: ‘Eu quero saber quem arquitetou esse plano maquiavélico. Quero saber quem fez essa negociata, porque o único ganhador nesse trambique todo foi o meu adversário.’ Ao final, garantiu que a Polícia Federal ‘vai descobrir’. O tucano ironizou: ‘Não sabe também. Não teve nem a curiosidade de perguntar pro seu churrasqueiro, para o seu diretor do Banco do Brasil, para o seu secretário do Trabalho do ministério, para o presidente do seu partido.’


Na defensiva, Lula rebateu: ‘Respondo com muita clareza. Eu não sou policial. Existem regras para investigar. O que é pertinente nós fizemos, afastamos todos os envolvidos. Não tenho medo de debater a verdade.’


O presidente acusou Alckmin de agir como se pretendesse arrancar informações sob tortura, ‘como acontecia na ditadura’. Alckmin respondeu: ‘Não precisa torturar para saber de onde veio o dinheiro, é só perguntar aos membros do PT. É só chamar os seus amigos de 30 anos e perguntar.’


Lula partiu para o ataque. Disse que o esquema dos sanguessugas começou no governo Fernando Henrique e falou de Barjas Negri, ex-ministro tucano citado no escândalo que depois foi secretário de Habitação do governo Alckmin. O ex-governador reagiu: ‘Não meça as pessoas pela sua régua. Não tenho em meu governo ministros e assessores condenados’, disse. ‘O escândalo dos sanguessugas é do seu governo. Se começou antes, deveria ter punido.’


Alckmin foi cobrado pelos 69 pedidos de CPIs recusados pela Assembléia paulista, durante sua gestão. ‘Não movi um dedo para parar nenhuma CPI’, acrescentou Lula. Alckmin deu resposta irônica: ‘Quanta mentira, como Lula mudou! As CPIs (federais) só saíram porque (o então deputado) Roberto Jefferson contou a verdade para o Brasil. Houve crise no PT porque alguns deputados tinham assinado a CPI. AS CPIs saíram porque o governo foi derrotado.’


O tucano fez propostas de apelo popular. Depois de condenar a compra de um avião para a Presidência, citou países cujos governos não têm avião e prometeu: ‘Vou vender esse Aerolula e fazer cinco hospitais com o dinheiro.’ Ele disse que é diferente de Lula: ‘Nós somos diferentes. São Paulo tinha dois aviões, eu vendi os dois. Tinha dois helicópteros, eu doei os dois para a Polícia Militar. É preciso criar um clima de respeito com o dinheiro público.’’


Pedro Doria


Urna eletrônica – parte 2


‘Na última segunda-feira, cá esta coluna questionou a segurança da urna eletrônica. Nunca na história deste espaço – se sua Excelência o presidente permite o plágio -, houve tanto e-mail de resposta, além dos comentários no site do Link. A coluna apanhou tanto quanto foi aplaudida. Vale retornar ao assunto.


No site, um leitor classificou o texto de ofensivo aos profissionais de informática do país. Perdoe, mas não é o caso. Algumas das questões que circularam por aqui foram repassadas, diretamente, por pessoas talentosas que estiveram efetivamente envolvidas no projeto inicial da eleição digital e que, portanto, conhecem por dentro as fragilidades do sistema.


Outra das críticas afirma que a urna é segura, sim, porque não passa de uma calculadora – e não há, no mundo, calculadora à qual dados dois e dois some cinco.


A questão não é tão simples. Para que aconteça fraude eleitoral, é preciso que gente envolvida no processo aja de má fé. Gente atua com má fé, nestes casos, ou porque recebeu por isto, ou porque ideologicamente quer mudar o resultado. Se houver um único corrupto envolvido no carregamento de dados da urna, alguns votos podem ser adicionados; o software pode ser modificado para subtrair um percentual determinado de votos de um candidato para creditá-los a outro.


A maneira mais simples e eficaz de fraudar, no entanto, não é na urna e sim nas centrais dos TREs, onde os votos vão sendo computados. Juízes eleitorais têm senhas que os permitem expurgar votos quando há algum tipo de erro de leitura dos discos. É normal. Mas há casos testemunhados por fiscais de partidos, em eleições passadas, nos quais estas senhas aparecem coladas em post-its nos monitores das máquinas nas mãos de vários operadores. É que às vezes os juízes têm medo de computador. Na confusão, não é impossível que apenas uma destas pessoas insira os dados que quiser.


Mas no fim não passa de uma questão de princípio. Eleição é coisa séria demais para que dependamos apenas de confiar no que dizem as autoridades. O sistema da urna é fechado e secreto. Assim, ninguém independente pode conferir o software para dizer que ele está livre de erros ou bugs. O argumento do TSE é de que conhecer o programa na intimidade facilitaria o trabalho de hackers. Talvez. O que a experiência do software livre diz, no entanto, é que quanto mais gente tem acesso ao código, mas eficaz fica o programa.


Há uma solução simples para tudo isto. Ela tem a ver com o princípio mais básico de uma democracia, que é o da recontagem. Na dúvida a respeito do resultado de uma eleição, reconta-se. Foi esta recontagem que Al Gore não conseguiu, nos EUA, em 2000. A recontagem elimina qualquer fraude.


Para que uma recontagem seja possível, na eleição digital, é preciso que toda urna eletrônica imprima um boleto com o voto do eleitor. Ele lê, confere, deposita numa urna comum. Se houve dúvida quanto ao resultado da eleição naquela zona eleitoral, conta-se de novo. Se ninguém tiver dúvida, ótimo.


Alguns podem argumentar que perde a graça – a eficiência, afinal, está na rapidez do resultado. Recontagens infinitas atrasariam o resultado de uma eleição. Só que é o raciocínio errado: recontagens só são necessárias quando o resultado é apertado e, ainda assim, apenas em locais específicos. E eficiência, em democracia, não se mede pela rapidez. Mede-se pela certeza de que cada voto foi contado corretamente.


Um último problema: no voto eletrônico, o título do eleitor é digitado antes de ele teclar. O TSE dá sua palavra de que nenhum banco de dados é construído ligando voto a eleitor e, portanto, quebrando o sigilo. Pois já aconteceu no Senado. E tornamos ao princípio: democracia não é confiança. Ninguém tem que confiar no que diz um Tribunal só porque há a palavra de um juiz.


Democracia é transparência. Cada cidadão que queira tem que ter o acesso a todo o sistema empregado na eleição para ter certeza de que nada ilícito seja ou possa ser feito. Fiscais especializados, de cada partido, têm que ter acesso às entranhas do sistema. A eleição não pode se dar numa caixa preta..’


SP SEM PROPAGANDA
A cidade sem outdoors


Jorge Wilheim


‘Cumpre iniciar este comentário acerca da lei que altera a publicidade exterior em São Paulo cumprimentando o prefeito Gilberto Kassab pelo surpreendente êxito político de ver seu projeto de lei, com toda a sua radicalidade, aprovado em curto prazo e praticamente pela unanimidade da Câmara Municipal. Acresce o fato de ter tomado a iniciativa de uma lei que traz desconforto a setores (comércio e empresas de publicidade exterior) em que o seu partido (PFL) tem consideráveis apoios. Repito a frase de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) tantas vezes enunciada por ocasião do debate do Plano Diretor: ‘O interesse público não é o mesmo que o interesse de todos.’ A iniciativa de proteger e melhorar o ambiente e a paisagem urbana, hoje representada pela lei dos não-outdoors, foi anteriormente representada pelas ações que a ex-prefeita informalmente chamava de Projeto Belezura. E se espera que melhorias prossigam, a serem realizadas pelas gestões futuras, pois a melhoria do ambiente deve constituir uma política urbanística permanente, suprapartidária, exigida pelos cidadãos e pela mídia.


Isto posto, teço alguns comentários sobre a questão do ‘emporcalhamento’ e da preservação e melhoria da paisagem urbana. Uma oportuna exposição no saguão da sede da Prefeitura mostra paisagens construídas da cidade com a retirada, por truque de computador, de toda a publicidade exterior. Em alguns casos se evidencia o benefício de retirar a publicidade que esconde ou diminui a visibilidade de sinais de trânsito. Mas em grande parte dos casos ilustrados, ao se retirarem os outdoors e as faixas, torna-se integralmente visível uma paisagem de indescritível mediocridade e feiúra, um monótono e monocrômico paredão de edificações. A inexistência de anúncios torna mais explícita a má qualidade da paisagem, resultante de projetos medíocres e da ausência de regras no passado.


Em qualquer cidade do mundo as belas obras de arquitetura são raras e a média tende a ser medíocre. Em algumas cidades, contudo, o crescimento urbano lento e algumas regras quanto a gabaritos, ou mesmo normas para o desenho de fachadas, resultaram em homogeneidade e ambiente urbano acolhedor. É o caso de muitas ruas de Paris, da Regent Street, em Londres, ou do centro de Chicago. O projeto do Bairro Novo, na Barra Funda, se um dia for implantado, teria esta virtude.


Mas não é apenas de arquiteturas que se compõem a paisagem e o ambiente urbano. O espaço não construído, a linha de horizonte, as áreas verdes, os veículos e as pessoas em movimento, o mobiliário e a sinalização, as árvores com a cor e o perfume de suas flores, para não falar de sua sombra, também são elementos que compõem a paisagem e o ambiente. Igualmente fazem deles parte elementos de identificação ambiental: uma banca de jornal, um relógio, um monumento, uma esquina, um outdoor, um banco no jardim. Trata-se de referências urbanas pelas quais a rotina cotidiana de cada pessoa se insere no palco de sua cidade.


Há 20 anos, quando dirigia a Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla), na gestão do prefeito Mário Covas, chegamos a fazer um levantamento regional das referências urbanas, com a finalidade de preservá-las num plano de bairro, que não prosperou. Recentemente tive a oportunidade de cuidar da preservação de casarios e paisagens urbanas significativas por meio dos planos diretores de Volta Redonda, Nova Lima e Jaú. Embora as referências mudem no tempo, convém prestar atenção a este aspecto mais antropológico do planejamento urbano.


Neste contexto, qual o significado da publicidade exterior em São Paulo? A ilegalidade de alguns, o abuso permissível da lei ora revogada, o caos visual, que acabava até derrotando a eficácia publicitária, exigiam uma medida corretiva, ora tomada. Porém discordo da opinião de alguns colegas de que com a retirada da publicidade exterior atual a cidade se tornará fatalmente mais bonita. Há outdoors criativos e bem compostos que conferem a determinadas paisagens urbanas uma vivacidade e alegria que cessa ao serem substituídos por paredes de um edifício mal projetado e malconservado. E, embora a publicidade use o erotismo como armadilha para o consumo, é inegável a beleza das modelos a perigosamente distrair o motorista.


A inserção da publicidade exterior dentro dos limites do mobiliário urbano tem sido a solução comercial aceita em muitas cidades que prezam sua paisagem. Esta era a tese que defendíamos na gestão anterior ao preparar e debater o edital de licitação para o mobiliário urbano. Ela só foi adiada em razão do empecilho de um contrato vigente que terminaria em 2006. Acreditávamos que a diminuição da escala da publicidade reduziria a demanda e o interesse pela mídia dos outdoors. Já a eliminação radical deixa em aberto a questão acima apontada. Poder-se-ia afirmar, mas ignoro se esta é a posição ideológica do prefeito, que a diminuição de escala visa a diminuir a imersão dos cidadãos no mundo do consumo, uma vez que este exerce uma verdadeira ‘tirania da coisa oferecida’. Embora esta tirania acabe encontrando outras mídias para operar, há, sim, um aspecto simbólico de combate ao consumo conspícuo ao se retirarem outdoors da paisagem urbana.


A regulamentação da lei aprovada não poderá alterá-la no conteúdo e nos princípios. Convém, por isso, apressar a licitação e a implantação de mobiliário urbano. E, após alguns anos de vivência da nova lei, talvez se chegue a permitir que a publicidade exterior, dentro de normas, volte a alegrar este ou aquele setor da cidade, como em Paris, Nova York e Buenos Aires. Por ora resta saudar a revogação da lei anterior, cuja permissividade resultou no uso abusivamente voraz da publicidade exterior.


Jorge Wilheim é arquiteto e urbanista’


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Nova safra de agências publicitárias


‘Uma nova safra de agências de publicidade está chegando ao mercado. Desde o início do ano, foram abertas seis com um perfil parecido. Em comum, elas têm a marca de serem fundadas por profissionais conhecidos no meio publicitário, apostarem em uma estrutura enxuta, com plano de ser menos hierarquizadas e mais ágeis que os grupos tradicionais.


Os novos empreendimentos buscam uma nova fórmula no relacionamento entre agências e anunciantes e tentam fugir do que tem sido chamado de ‘mesmice’ do mercado criativo. Ao contrário do que ocorria no passado, desta vez o movimento não ocorre para acomodar vaidades. Agora, a prioridade é construir empresas rentáveis.


‘Acho que os egos estão mais controlados, depois de tantas críticas e da crua concorrência’, diz o diretor de criação Hermes Zambini. Junto com Ricardo Lacerda, Bob Romagnolli e Marcos Reis, todos com longas passagens pela F/Nazca onde se conheceram, Zambini inaugurou a agência Volume 4.


SEM ATENDIMENTO


As novas agências têm um modelo parecido: elas tentam adotar o modelo que se convencionou chamar de ‘boutique criativa’ e são amparadas por uma conta âncora, que lhes dá alguma segurança financeira, ou por algum sócio-investidor, disposto a bancar o negócio por um tempo. Ou então, os dois.


‘Aqui não há os vícios do gigantismo dos grupos multinacionais’, diz Átila Francucci que abriu, junto com Fernando Nobre (ambos da JWT), e com o economista Francisco Petros, a agência Famiglia, em fevereiro. De saída, a Famiglia já contava com a conta da Schincariol. ‘Temos apenas 30 pessoas. E todas participam do processo para viabilizar as campanhas’, completa Francucci.


A idéia romântica de pôr o nome na porta à espera de clientes não combina com o atual ritmo de mercado, marcado pela intensa competitividade e pela busca constante de redução de custos. ‘A tendência do futuro é ter estruturas enxutas e desenvolvimento de trabalho conjunto, sem hierarquias’, diz Ulisses Zamboni, que, junto com Fernando Campos e Fernando Sales, todos saídos da Giovanni, FCB, acabam de abrir a Santa Clara. A agência tem as contas do Submarino e da Intelig.


Outro traço em comum é a aposta na remuneração por resultado, idéia rejeitada por agências tradicionais. ‘Não temos atendimento e temos muita independência para trabalhar as idéias e correr riscos com o cliente’, diz Alan Ordonhez, que investiu, com João Fernando Camargo e Billy Lopes, na JF/Law, com pequena participação do publicitário britânico Andy Law.


Atrás de melhores resultados e relações mais diretas com os clientes está também a MatosGrey, surgida há poucos meses, após a saída do publicitário Sílvio Matos, do Grupo Newcomm. Embora seja uma agência parecida com a dos padrões convencionais, até por ter como sócio a multinacional WPP, a Matos Grey, também busca estruturas mais enxutas e ações rápidas junto ao cliente. ‘Há uma indiscutível exigência de retorno financeiro que não existia há 20 anos’, diz Matos. ‘As agências estão cada vez mais profissionalizadas’. Outro exemplo é a agência Fala, especializada em varejo, criada recentemente por profissionais saídos da Casas Bahia.’


INTERNET
Gustavo Miller


Política feita com muito bom humor


‘Pouca gente talvez saiba quem é o figura aí ao lado, mordendo esse notebook e fazendo cara de mau. Mas muitos devem conhecer o seu trabalho: charges animadas que já invadem as telinhas de computadores e televisores brasileiros há seis anos.


Maurício Ricardo é o homem por trás do Charges (www.charges.com.br), site de humor brasileiro muito famoso por colocar no ar, todo santo dia, uma animação em flash quentinha.


Ninguém escapa da ponta de sua caneta digital. A lista de ‘homenageados’ vai de ex-participantes de reality shows a grandes figuras da política brasileira e internacional. ‘Eu procuro falar daquilo que vai ser assunto no ponto de ônibus e no ambiente de trabalho’, diz o cartunista de Uberlândia (MG).


Aliás, a época de eleições é um prato cheio para Maurício soltar a sua criatividade. Para a deste ano, além das habituais caricaturas animadas, ele criou o Branco Nulo, um candidato fictício a deputado federal.


De óculos e bigode postiço, Maurício diz aos seus ‘eleitores’, em um vídeo que satiriza e copia ao mesmo tempo o layout do YouTube, aquele discurso típico das promessas de eleição.


A gravação é um sarro. Assim que Branco vai dizer alguma besteira, o vídeo dá uma travada, como se estivesse carregando (igualzinho o You Tube!). Quando a imagem volta, na verdade ele fala outra coisa.


Exemplo: ‘Nessas eleições o povo está cagan (trava três segundos e volta) … com gana de justiça após o mensalão.’


Outra atração são os vídeos Mandato 2: a missão, série que mostra a saga do presidente Luiz Inácio Lula da Silva atrás da reeleição. Detalhe: as cenas são tiradas do filme Delta Force, estrelado por ninguém menos que Chuck Norris. As falas são dubladas, e Lula é vivido pelo criador do round house kick.


Fugir um pouco das charges foi uma maneira que Maurício criou para esquentar a sua página durante as eleições. Ele diz ter ficado muito feliz com a confirmação da disputa de 2º turno para a presidência do Brasil.


‘Ganhei mais um mês de trabalho e espero que agora os candidatos aprofundem mais o debate. O povo precisa disso.’


DE UBERLÂNDIA PARA O BBB


O Charges foi um dos primeiros sites a fazer a transição da internet para a TV. Com seis meses de vida, ele já tinha um quadro semanal no programa Domingão do Faustão.


Pouco tempo depois, Maurício assinava as animações de quadros do reality show Big Brother Brasil. Durante a crise do mensalão ele também tinha um espaço no Programa do Jô.


Uma charge leva, em média, sete horas para ficar pronta. Suas idéias surgem em suas caminhadas matinais – roteiro, fala e músicas são gravados em um celular que ele usa durante o exercício.


Ao chegar no escritório, grava as vozes das charges e faz os esboços. Sua equipe de duas pessoas finaliza o desenho, coloca as cores e sincroniza as imagens com o som.


Ele diz receber cerca de 500 e-mails por dia, e faz questão de responder todos. Os visitantes são parte fundamental do processo criativo. Graças a eles, ele sabe o que está na boca do povo.


Uma curiosidade é que o arquivo do site só traz charges dos últimos dois anos . Ele explica esse fato citando fenômenos instantâneos da web, como a nutricionista Ruth Lemos e sua gagueira. ‘A internet, por ser muito ágil, não faz você sobreviver nela por muito tempo. Um esforço que eu tenho no Charges é nunca ser refém do passado’, finaliza.


42 anos, cartunista e criador do Charges.com.br


Isto é Charges.com


CHARGE – PAULO MALUF E CLODOVIL INDO PARA BRASÍLIA


Maurício tira sarro de Paulo Maluf e Clodovil, recém-eleitos deputados federais de São Paulo. Maluf é um personagem importante na carreira do chargista. O político moveu um processo contra uma charge desenhada no site em 2000.


‘Foi o meu maior momento de glória, e só aí eu me dei conta do poder da internet. Eu era um cartunista do interior que só enchia o saco do prefeito’, ri. Veja a charge animada em http://charges.uol.com.br/2006/10/04/cotidiano-exotico/


CHARGE – SERRA E FHC TORCEM POR ALCKMIN


Essa charge foi divulgada antes da votação de primeiro turno, durante a Copa do Mundo.


Os tucanos José Serra e Fernando Henrique Cardoso torcem pela subida do candidato à presidência Geraldo Alckmin nas pesquisas (um picolé de chuchu derretido).


‘A minha forma de cobrir política é tentar mastigar a informação e passá-la da melhor maneira para o jovem’, diz Maurício.


Para se divertir, acesse o link: http://charges.uol.com.br/2006/06/13/cotidiano-derretendo/


CHARGE – CRAZY FROG BARBUDO


Aqui o presidente Lula aparece como o Crazy Frog Barbudo (referência aquele sapinho virtual, cuja música foi um sucesso no mundo inteiro). Maurício faz uma piada ao fato de Lula só falar o que ele quer. Para fugir da imprensa, Lula viaja no Aerolula.


Fernando Henrique Cardoso e Lula estão entre os personagens mais desenhados no site, só perdendo para o presidente norte-americano George W. Bush e Bin Laden. Veja: http://charges.uol.com.br/2005/11/11/cotidiano-crazy-frog-barbudo/’


TELEVISÃO
Cena tapa-buraco


Cristina Padiglione


‘Alô, staff da TV paga, ânimo: o horário eleitoral, item que dobrou a audiência dos canais por assinatura durante o primeiro turno, está previsto para voltar à cena nesta quarta-feira, dia 11, e fica no ar até o dia 27, sexta-feira que antecede a votação. No País todo, em razão do segundo turno presidencial, a propaganda política ocupará as faixas das 13h às 13h20 e das 20h30 às 20h50. Nos dez Estados onde a eleição para governador se estendeu a dois turnos, a pausa na programação de rede valerá por mais 20 minutos à tarde (das 13h20 às 13h40) e 20 minutos à noite (das 20h50 às 21h10).


Na Globo, a compensação nos 17 Estados que já definiram seus novos governadores, São Paulo incluso, será solucionada com um bloco a mais de Jornal Nacional. Aos domingos, o Fantástico terá um bloco a mais nessas praças, começando 20 minutos mais cedo. Nos demais canais, a regra também é espichar noticiários ou programas de variedades.


Os debates a governo de Estado também quebram a programação de rede (hoje, na Band e dia 26, na Globo). Logo mais à noite, São Paulo assistirá na Band ao Canal Livre Eleições, enquanto outras praças vão a debate.


entre-linhas


A Record trocou a data do debate com os presidenciáveis. Do dia 16 foi para 23 de outubro. Os candidatos também aceitaram participar de entrevistas individuais ao Jornal da Record nos dias 16 e 17. Falta decidir se as entrevistas serão em Brasília ou em São Paulo.


Por falar na Record, a emissora adiou para novembro a produção da versão nacional de The Simple Life. O reality show estréia somente após o fim de outro produto do gênero, o Troca de Família, em dezembro.


A sexta temporada de 24 Horas nos Estados Unidos tem estréia agendada para 14 de janeiro, com capítulo especial de duas horas.


Pássaros Feridos, série que o SBT insiste em reprisar, realmente faz jus à categoria Chaves, o curinga do canal de Silvio Santos. Registrou média de 9 pontos na semana, faturando o segundo lugar no horário.


Arthur Dapieve e Marcelo Madureira comentam a versão estrangeira de Supernanny, no Sem Controle, do GNT, às 23h45.


Paris é o destino que parte do elenco de Pé na Jaca, próxima novela das 7 da Globo, cumpre esta semana, sem maiores sacrifícios. A Torre Eiffel e a Sacre Coeur estão no roteiro de gravações de Fernanda Lima, Marcos Pasquim, Betty Lago, Ricardo Pereira e Drica Moraes.


Estrela na Record, Bianca Rinaldi está ‘reservada’ pelo autor Tiago Santiago para sua próxima novela na casa, em 2007.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 9 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Clóvis Rossi


Alckmin ataca e Lula reage em debate inflamado na TV


‘Geraldo Alckmin abandonou seus modos mansos no debate realizado ontem à noite pela Rede Bandeirantes entre os presidenciáveis para fazer uma seqüência de duríssimas críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em torno de questões éticas, particularmente a falta de explicações para o R$ 1,7 milhão apreendido com petistas para comprar um dossiê.


A pressão de Alckmin foi intensa e Lula, visivelmente nervoso no início do debate, acabou admitindo indiretamente que houve mensalão, ao menos no sentido de compra de voto de deputados, ao contrário da versão até agora defendida pelo PT, de que tudo não passou de ‘dinheiro não-contabilizado’ para gastos de campanha.


O presidente disse, em dado momento, depois que Alckmin mencionara o dossiê e o mensalão, que queria saber ‘onde é que começou a compra de votos’. Era uma referência ao fato de que, no governo FHC, a Folha mostrou que houve compra de deputados para votarem a favor da emenda da reeleição.


O tom da primeira parte do debate foi dado por Alckmin já na primeira pergunta a Lula. Quis saber ‘de onde veio o dinheiro sujo’ para a compra de um ‘dossiê fajuto’, pergunta que o tucano tem feito reiteradamente em entrevistas e que sabe ser o ponto débil de Lula.


O petista saiu pela tangente, ao dizer que ele é quem tinha interesse em esclarecer o ‘trambique todo’ e saber quem estaria por trás do que seria um ‘plano maquiavélico’, porque ‘o único ganhador [com o episódio do dossiê] foi a candidatura do meu adversário’.


‘Não respondeu’, replicou o tucano, na primeira de uma seqüência de vezes em que caracterizou Lula como omisso.


‘Não teve nem a curiosidade de perguntar para seu churrasqueiro’, disse Alckmin, em alusão a Jorge Lorenzetti, que foi expulso do PT na última sexta.


O tucano ainda insistiu: ‘Olhe nos olhos do telespectador e responda’, cobrou.


Lula devolveu: ‘Não sou policial, sou presidente da República’. Estocou Alckmin ao dizer que ele parecia estar ‘com saudades do tempo da tortura’.


Alckmin não seu deu por aludido. Disse que não era preciso recorrer à tortura, mas apenas perguntar ‘ao PT’ e ‘aos amigos de 30 anos’ de Lula.


O presidente em nenhum momento defendeu os petistas envolvidos nos diferentes escândalos citados por Alckmin (além do mensalão e do dossiê, também os episódios dos sanguessugas e dos vampiros e a violação do sigilo bancário do caseiro Francelino Pereira, atribuído ao então ministro da Fazenda Antonio Palocci).


Lula dizia sempre que afastara os envolvidos. ‘Esses ministros cometeram erros’, afirmou o presidente, para acrescentar que, na hora em que tomou conhecimento dos fatos, cortou ‘na carne’, afastando companheiros.


Contra-atacou citando o fato de que o governo Alckmin impediu a instalação de 69 CPIs, ao contrário do que ele próprio fez, liberando investigações. Disse também que o governo anterior varria a sujeira para baixo do tapete e que sanguessugas, vampiros e valerioduto começaram na gestão FHC.


‘Quanta mentira’ replicou o tucano. Acrescentou: As CPIs só saíram porque o Roberto Jefferson contou a verdade para o Brasil’, em alusão à entrevista em que o então presidente do PTB deu à Folha, denunciando o mensalão e dando início à crise política que, a rigor, estende-se até agora.


Além de ‘mentira’, surgiram ao longo do debate palavras fortes, praticamente ausentes dos debates anteriores em campanhas presidenciais. Lula acusou Alckmin, por exemplo, de ‘leviandade’. Alckmin negou ao presidente ‘autoridade moral’ para falar de ética.


Lula contra-atacou dizendo que sua autoridade moral decorreria do fato de que ‘61% dos casos’ desvendados pela Polícia Federal nasceram antes de 2003 (quando ele assumiu).


O calor da discussão invadiu até o território da política externa. Alckmin puxou o tema para acusar a diplomacia de Lula de ter sido um ‘fracasso’. Lula acabou atacando seu colega norte-americano George W. Bush, com o qual, aliás, mantém as melhores relações.


‘Se o Bush tivesse o bom senso que eu tenho não teria havido a guerra do Iraque. Bush pensou como você [Alckmin] e fez na barbárie dessas’, disparou o presidente. O ‘bom senso’ seria o fato de Lula não ter reagido duramente contra a Bolívia, pela desapropriação das instalações da Petrobras, o que levara o tucano a acusar o presidente de ‘frouxo’.


Entrou na roda até o avião presidencial, o ‘Aerolula’, cuja compra Alckmin considerou um luxo desnecessário, na medida em que a Presidência já disporia de quatro aviões. Prometeu vendê-lo.


Lula rebateu dizendo que Alckmin pensava ‘pequeno’.


O presidente começou a recuperar a calma apenas nos momentos em que o debate enveredou para os demais temas, como educação, saúde, saneamento, energia etc.


O eixo dessa fase ficou centrado no crescimento econômico. Alckmin atacou o fato de que o Brasil tem o mais baixo crescimento entre os emergentes, ao passo que Lula gabou-se de que fizera ‘o país crescer como em nenhum outro momento dos últimos 20 anos’.’


Rodrigo Rötzsch


Questões polêmicas ficam sem resposta


‘‘O candidato não respondeu a pergunta.’ Dita por Geraldo Alckmin em relação a Luiz Inácio Lula da Silva ou vice-versa, a frase foi repetida várias vezes durante o debate de ontem, a maior parte delas com razão.


A estrutura do debate, na qual os candidatos faziam perguntas sobre o tema que quisessem ao adversário, acabou sendo repetida na hora das respostas, que não necessariamente tratavam do tema abordado na questão.


‘O governador é um bom falador de causas estranhas às perguntas’, disse Lula após ouvir a resposta de Alckmin sobre o problema da Febem.


Na resposta, Alckmin retomou pergunta que fizera a Lula sobre os gastos com cartões corporativos do governo. O tucano comparou o dinheiro usado pelo governo para viagens e diárias -R$ 700 milhões- com o gasto com as Forças Armadas -R$ 700 mil. Desafiou Lula a quebrar o sigilo dos cartões.


O petista, primeiro presidente da República no cargo a participar de um debate na história do país, não respondeu se tomaria tal atitude. Preferiu ironizar a ausência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no debate. ‘A única coisa boa que o FHC criou no governo dele foi exatamente esse cartão corporativo. Aliás, vocês não trouxeram ele aqui por quê, por vergonha?’


Lula também acusou Alckmin de dizer ‘tudo menos porque não permitiu as CPIs’ sobre seu governo em São Paulo. Na gestão Alckmin, 69 pedidos de CPI foram barrados no plenário da Assembléia.


Comentarista


Em meio a trocas de acusações, Alckmin chegou a chamar Lula de ‘um bom comentarista’ por perguntar sobre problemas de seu governo em São Paulo como se não fosse ele o presidente do país.


O petista disse que o tucano fazia bravatas. ‘Na frente desta câmera aqui tem gente inteligente assistindo, e essa bravata sua não vai convencer ninguém’, afirmou.


Nervoso, o petista cometeu uma gafe -na primeira participação, não deu boa noite aos telespectadores e foi direto para o ataque contra Alckmin, a quem acusou de usar ‘chavões’.


Alckmin acusou Lula de mentir ao dizer que ele privatizaria a Petrobras caso eleito e que acabaria com o Bolsa Família. ‘A mentira política é essa boataria de que eu vou acabar com o Bolsa Família’, disse.


Lula replicou dizendo que o PSDB só sabe ‘privatizar, privatizar, privatizar’, enquanto seu governo tem como prioridade ‘investir no social, investir no social, investir no social’.’


Marcelo Coelho


Candidatos pareciam casal em crise


‘‘Viver a dois é uma arte’, dizia o anúncio de uma fábrica de colchões que participava do eclético ‘pool’ de patrocinadores do debate de ontem na Bandeirantes. Alckmin e Lula entraram em cena como um casal em crise, finalmente disposto a dizer ‘verdades’ um para o outro. Do ponto de vista argumentativo, o resultado, como é comum nessas ocasiões, termina sendo um empate, em que nenhum dos dois parece estar com a razão.


Do ponto de vista político, Alckmin conseguiu o que queria: abandonar a imagem de ‘picolé de chuchu’ e comportar-se com agressividade a ponto, mesmo, de prosseguir falando com os microfones desligados. Lula tinha números e mais números para mostrar a seu favor, mas seu rosto, nos dois primeiros blocos do debate, era o de alguém que não estava gostando do jogo.


‘Quanta mentira!’, dizia Alckmin ao telespectador, quando Lula afirmou nada ter feito para impedir a CPI dos Correios -que apurou as denúncias sobre o mensalão.


Imitando a fraseologia oposicionista, Lula perguntou se Alckmin ‘sabia ou não sabia’ das irregularidades de Barjas Negri quando o convidou para participar de seu próprio governo.


O lençol imaculado da ética parecia curto para cobrir qualquer um dos candidatos. Alckmin marcou, entretanto, mais pontos nessa parte. Lula incorporou o termo ‘quadrilha’ em seu discurso para dizer que sua origem remonta a Belo Horizonte, onde o PSDB tem culpa no cartório; quanto ao mensalão, Lula preferiu não negá-lo, para em troca lembrar da compra dos votos para a reeleição de Fernando Henrique.


Lençol curto


O lençol ainda era mais curto quando se tratava de falar das realizações e omissões de cada um. Em qualquer área administrativa, governo do Estado e federal têm mazelas facilmente exploráveis pelo discurso eleitoral. Se Lula apontava o dedo para a Febem, Alckmin falava na falta de hidrelétricas; se Lula lembrava do apagão, Alckmin atacava o Aerolula.


O efeito do debate é que nenhuma questão parecia ser efetivamente respondida, de tal modo se encavalavam os ataques e contra-ataques. É que o problema de base não tinha como ser discutido abertamente. Em todas as áreas, da segurança pública à construção de hidrovias, o Estado precisaria gastar mais; e não pode.


Tanto Lula como Alckmin sabem disso, e tornava-se um tanto frágil a insistência do tucano em ‘gastar melhor’, ‘sem desperdício’, quando a única proposta econômica no horizonte dos dois candidatos é controlar, com ainda mais rigor, o déficit público.


Seja como for, raras vezes se viu um debate tão intenso, com tantos números e problemas concretos em discussão. Soluções? Nenhuma foi sequer aventada pelos dois candidatos; a ordem era atacar. Alckmin, nesse ponto, fez mais do que se esperava dele, e isso é uma vitória para sua campanha junto aos indecisos; mas Lula, com uma extensa lista de comparações entre seu governo e o anterior, sem dúvida consolidou sua posição entre os que já pretendiam apoiá-lo.’


Fábio Zanini, Malu Delgado, Catia Seabra, Fabiane Leite


Assunto antes do debate, Garotinho é esquecido na TV


‘Os polêmicos apoios recebidos por Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin -especialmente o dado pelo ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) ao tucano- dominaram as conversas antes do debate de ontem. Na hora do confronto, no entanto, o assunto não foi mencionado pelos candidatos.


Preocupado com a repercussão negativa, o comando da candidatura de Alckmin procurou minimizar a declaração de voto de Garotinho.


‘Ele [Garotinho] nunca foi do nosso grupo, nunca foi nosso aliado, pertence a um partido que nem sei qual é’, disse o senador Sergio Guerra (PSDB-PE), coordenador da campanha tucana. ‘Garotinho não tem nada a ver conosco. Diferente dos apoiadores do Lula como [o ex-governador] Newton Cardoso e [o deputado] Jader Barbalho, que sempre fizeram parte do grupo do presidente.’


O petista, em reuniões ontem à tarde com seu marqueteiro, João Santana, foi orientado a bater duro na tecla da ética, mencionando com destaque o apoio dado por Garotinho a seu adversário. Antes de iniciado o debate, o governador eleito da Bahia, Jacques Wagner, disse que a expectativa da campanha é crescer no Rio em razão do ‘efeito Garotinho’.


‘É preciso medir direito as conseqüências das alianças. O movimento do candidato Alckmin no Rio não foi nada positiva para ele’, disse Wagner, estrela da eleição após conseguir uma vitória surpreendente sobre o governador Paulo Souto (PFL).


A campanha petista calcula que, além do Rio, ainda poderá crescer na região Nordeste para compensar o crescimento de Alckmin no Sul e no Sudeste. ‘No meu Estado, partidos como PP e PL, que estavam no palanque do meu adversário no primeiro turno, tinham um constrangimento para apoiar Lula. Isso agora acabou’, declarou Wagner. A meta é elevar o percentual de votos obtido por Lula dos 67% obtidos no primeiro turno para algo próximo de 80%.’


***


Primeiro Debate Entre Lula E Alckmin Dá 14 Pontos De Ibope À Band


‘O debate realizado ontem pela Band, reunindo pela primeira vez nesta eleição os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, rendeu, segundo prévia, 14,2 pontos de média no Ibope, atingindo pico de 20. O resultado, bem acima do que a emissora tem nesse horário, deixou a Band vários minutos em segundo lugar. Cada ponto no Ibope equivale a 55 mil domicílios na Grande São Paulo.’


MEMÓRIA / FERNANDO GASPARIAN
Folha de S. Paulo


Editor Fernando Gasparian morre em SP


‘O corpo do editor e ex-deputado federal constituinte Fernando Gasparian, 76, foi cremado ontem no crematório da Vila Alpina, em São Paulo, após o velório na Assembléia Legislativa paulista.


Empresário e político de convicções nacionalistas, Gasparian fundou nos anos 70 o jornal semanário ‘Opinião’ e a revista ‘Argumento’, considerados focos de resistência à ditadura militar, presidiu a Editora Paz e Terra e criou a livraria Argumento, no Rio.


Gasparian estava internado desde a última quinta-feira no hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, para tratamento de problemas renais que levaram a uma infecção generalizada seguida de parada cardíaca. Ele morreu na manhã do último sábado.


Estiveram ontem no velório o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy, o ex-ministro da Justiça José Gregori, entre outros políticos e autoridades.


‘Meu pai tinha duas paixões na vida, minha mãe [Dalva] e o Brasil’, disse ontem um dos filhos do editor, Eduardo.


Para Ruth Cardoso, o editor foi peça fundamental na ‘resistência cultural’ à ditadura.


‘Nós perdemos um grande amigo de mais ou menos cinco décadas, desde a adolescência. E o Brasil perdeu um empresário que lutou muito por suas idéias. ‘Opinião’ e ‘Argumento’ foram a base da luta contra a ditadura’, disse Ruth.


‘Concordando ou discordando de idéias, nunca deixamos de ser amigos’, declarou.


Nacionalista


No início dos anos 60, Gasparian era um dos principais empresários da indústria têxtil no país, dono da América Fabril, sediada no Rio, que chegou a ter mais de 5.000 funcionários.


Após o golpe militar de 64, passou a ser perseguido pela ditadura. ‘Meu pai teve de parar com a indústria porque o governo cortou o crédito do Banco do Brasil, que era o principal financiador’, disse o filho Eduardo.


Em 1970, ao saber que poderia ser preso por motivos políticos, Gasparian foi para o exílio na Inglaterra. Retornou ao Brasil logo depois, quando fundou o jornal ‘Opinião’.


Foi editor do jornal entre 1971 e 1975. Durante sete anos, o jornal firmou-se como veículo alternativo de críticas ao regime militar, abrigando autores como Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Dias Gomes, Alceu Amoroso Lima e Érico Verissimo.


Editora


Em 1973, o grupo do ‘Opinião’ liderado por Gasparian assumiu a editora ‘Paz e Terra’, fundada em 1965 pelo seu amigo e editor Ênio Silveira, também fundador da Civilização Brasileira.


A Paz e Terra deu espaço a autores que eram adversários do regime, como o educador Paulo Freire (1921-1997), autor de ‘Pedagogia do Oprimido’.


A editora deu prioridade às áreas de filosofia, sociologia e ciência política, tornando-se referência no meio acadêmico.


A revista Argumento tratava com inventividade temas da política, da economia, dos esportes e das artes. O então diretor-responsável, Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000), chegou a suspender a circulação da revista após o quarto número, em resposta a uma tentativa de tutela da linha editorial pelos censores do governo.


Em 1977, Gasparian criou a Livraria Argumento em São Paulo. No ano seguinte, transferiu-a para o Rio de Janeiro. Hoje, a livraria conta com três lojas na capital fluminense: no Leblon, na Barra da Tijuca e em Copacabana.


Parlamentar


O editor retornou a São Paulo em 1984. Dois anos depois, se elegeu deputado federal pelo PMDB. Na Constituinte, sua contribuição mais citada foi a criação do teto dos juros reais em 12% ao ano, que não chegou a ser regulamentada pelo Congresso Nacional.


Gasparian também tentou, como deputado, impor uma quarentena (não poderiam ocupar cargos na iniciativa privada) aos ex-dirigentes do Banco Central.


Durante o governo de seu amigo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), opôs-se à privatização da companhia mineradora Vale do Rio Doce e defendeu a adoção do limite de 12% aos juros reais -assim como dizia a Constituinte-, nunca colocada em prática.


Gasparian deixou viúva, Dalva, e quatro filhos, a diplomata Helena e os três livreiros, Laura, Eduardo e Marcus, que dirigem as livrarias Argumento.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Conflito, afinal


‘Para uma breve avaliação do debate, registre-se que foi agressivo como nunca, com os dois lados chegando a extremos nas acusações e críticas -e abriu o jogo para um segundo turno de contraste, de conflito claro, como só era possível assistir nas campanhas dos EUA.


Até de Previdência se falou, ainda superficialmente.


Sobre Geraldo Alckmin, se havia temor de que ele não se mostrasse ‘incisivo’, como declarou FHC à BBC, na primeira pergunta ele já derrubou. Foi ao ataque, ofensivo como não se conhecia, e assim se manteve nos blocos seguintes, só caindo nos finais. Chegou a beirar a arrogância, porém, nos adjetivos empostados com desprezo teatral, o que até buscou mitigar, chamando Lula de arrogante. Por outro lado, falou demais de SP -e pouco de Nordeste e do resto.


Lula, de sua parte, agüentou o tranco. Foi tenso nos primeiros blocos, voltados inteiramente ao dossiê e aos casos de corrupção, mas respondeu e até deixou mensagens de troco. Só foi sair das cordas, porém, quando entrou em questões de programa, quando não parou de falar de FHC. Ainda assim, a questão ética voltou o tempo todo a assombrá-lo. Por outro lado, mal se dirigiu ao espectador, sabidamente seu forte.


Registre-se que desta vez as perguntas feitas pelos jornalistas da Band não deram trégua a Lula. E que nos vários sites, em ‘live blogging’ ou não , a avaliação geral foi de que o tucano levou este primeiro debate, ao menos por lançar um Alckmin que não se conhecia.


FHC LÁ


FHC fala ao mundo, após esgotar entrevistas no Brasil. Ao correspondente da BBC, opinou que Lula corria risco no debate de ontem ‘porque confunde dados [por] ficar muito excitado com a própria glória’. Ao ‘El País’, em longa entrevista, disse que progressistas espanhóis só têm boa imagem de Lula ‘porque sabem menos do que nós’, brasileiros. E que o Brasil perdeu a liderança regional. Ao ‘La Nación’, disse que ‘Lula é um caudilho peronista mais do que chavista’.


GERALDO LÁ


O correspondente do ‘Financial Times’ se pergunta, no site, se ‘Geraldo vai se mostrar à altura do desafio?’ e sublinha que para vencer ele precisa do ‘apoio sólido’, ‘de todo o coração’, dos tucanos.


Já Andres Oppenheimer, no ‘Miami Herald’, destaca que a ‘vitória de Alckmin não está mais fora das cartas’ e ‘teria impacto na América Latina, região que tende a trocar de ideologias em uníssono’.


LULA LÁ


Alvaro Vargas Llosa, no ‘Wall Street Journal’, diz que o segundo turno foi forçado pela corrupção, ‘um problema institucional’. E arrisca que Lula ‘é ainda o favorito’.


ERA PENTECOSTAL


Sexta, o ‘NYT’ deu que pesquisa Pew em dez países mostrou como os cristãos pentecostais/carismáticos crescem ‘e são mais engajados politicamente do que se pensava’.


No Brasil, com a pesquisa restrita a centros urbanos, a proporção já seria de 49%.


SOB PRESSÃO


E seguem as reportagens de biocombustíveis. Em longo texto no ‘NYT’ e caderno no ‘Le Monde’, a admissão de que ‘os políticos’ abraçam a idéia reagindo à pressão de lobbies rurais, mais o registro de que a vanguarda é do Brasil -onde Lula quer o biodiesel para viabilizar, sob pressão, a chamada agricultura familiar.


‘POPULISTA’


Joe Sharkey, do ‘NYT’, que estava no Legacy que se chocou na Amazônia, voltou a soltar o verbo, à BBC:


– Lamento pelos pilotos, porque tive a sensação de que a história não iria acabar bem. Senti hostilidade nas perguntas… Não sei se os pilotos tiveram culpa. Talvez seja do controle de tráfego aéreo deficiente…


Criticou a cobertura ‘populista’ que, diz ele, estaria tratando o acidente como provocado por ‘capitalistas vadiando pelo espaço aéreo e matando 155 pessoas’.’


RÚSSIA
Folha de S. Paulo


UE pressiona Rússia sobre morte de repórter


‘A União Européia exortou ontem a Rússia a esclarecer o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, cujo corpo foi achado no sábado com marcas de tiros. Centenas de pessoas participaram em Moscou de um protesto contra o crime, que atingiu uma das principais repórteres investigativas do país, conhecida por suas reportagens sobre a violações de direitos humanos.


Além da UE, que descreveu o assassinato como ‘um crime horroroso’, organizações como a Anistia Internacional e a Federação Internacional de Ligas dos Direitos Humanos também exigiram a solução do crime. O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, disse que ‘é importante que as autoridade esclareçam o que aconteceu’ e afirmou estar ‘profundamente emocionado com o assassinato de uma mulher notável e grande jornalista’.


A praça Pushkin foi palco da maior manifestação, com cerca de 500 pessoas. Os participantes carregavam fotos da jornalista e placas com dizeres como ‘O assassinato de Politkovskaya e a perseguição de minorias étnicas é fascismo’ e ‘O Kremlin matou a liberdade de expressão’.


Investigação


A promotoria russa anunciou que irá investigar se Politkovskaya foi morta por causa de seu trabalho -a jornalista era uma das principais críticas do presidente Vladimir Putin.


A morte de Politkovskaya aumentou o temor sobre a repressão à liberdade de imprensa no país. Colegas da jornalista anunciaram uma investigação própria sobre o caso. ‘O assassinato de Anna Politkovskaya é um novo ataque à democracia e à liberdade de expressão na Rússia’, declarou a União dos Jornalistas de Moscou.


Editores do jornal em que Politkovskaya trabalhava, o ‘Novaya Gazeta’, disseram que ela estava prestes a publicar um artigo sobre torturas e seqüestros na Tchetchênia. A rádio ‘Eco de Moscou’ anunciou que o ‘Novaya Gazeta’ estaria oferecendo uma recompensa de cerca de US$ 1 milhão em troca de informações.


Com agências internacionais’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ibope leva ‘guerra da audiência’ para o Rio


‘O monopólio de São Paulo na medição de audiência de televisão em tempo real acaba neste ano. O Ibope já está com 750 aparelhos medidores de audiência instalados e funcionando em 450 domicílios da Grande Rio. Até o final de novembro, passará a vender audiência em tempo real para as emissoras.


Assim, o Ibope levará a ‘guerra da audiência’ para o Rio de Janeiro. Há mais de dez anos em São Paulo, a medição em tempo real é uma poderosa ferramenta nas mãos das emissoras. Com um software que informa a pontuação de cada rede minuto a minuto, diretores de programas ao vivo podem prolongar ou diminuir a duração de determinada atração, conforme seu desempenho.


‘Acredito que o impacto [da audiência em tempo real no Rio] será bastante positivo, pois permitirá às áreas artística e de programação tomarem decisões rápidas em programas ao vivo, avaliando o comportamento de audiência de dois mercados’, afirma Dora Câmara, diretora do Ibope Mídia.


Há variações entre São Paulo e Rio. Às 12h20 de quinta-feira, a Globo era líder no Rio e o SBT, em São Paulo. A Globo tinha 18 pontos no Rio, contra 10 em São Paulo. A Record tinha em São Paulo 4,5 pontos, mais do que o dobro do que registrava no Rio. Já a Band tinha 2,5 pontos no Rio, três vezes mais que em SP. Cada ponto no Rio representa 35 mil domicílios. Em São Paulo, são 55 mil.


CARGA PESADA 1A produção de ‘Big Brother Brasil’ já contou o recebimento de 35 mil fitas VHS, outras 10.000 mini-VHS e 5.000 DVDs de interessados em participar da sétima edição do ‘reality show’ da Globo, no ar a partir de janeiro. Esse número (50 mil inscrições) ainda não é o final. E a produção do programa não garante que irá ver todas as fitas. Só tem compromisso assumido para as fitas VHS.


CARGA PESADA 2Só na última terça-feira, os Correios despejaram na Globo dois caminhões cheios de fitas (cerca de 25 mil) de candidatos a celebridade.


EMBATE ELEITORAL A Record confirma a realização de um debate entre Lula e Geraldo Alckmin. Será no próximo dia 23 à noite.


INTRIGA DA OPOSIÇÃO 1Executivos da Record têm insinuado que a Globo passou a oferecer vantagens extra-salariais para manter atores assediados por eles. A principal seria a intermediação de contratos publicitários.


INTRIGA DA OPOSIÇÃO 2As ‘evidências’ disso seriam Christine Fernandes e Gisele Itiê, que estão no ar em anúncios. Ambas eram da Record, mas não renovaram e voltaram à Globo. Mariana Ximenes e Taís Araújo, fortemente assediadas, também fecharam contratos publicitários.


INTRIGA DA OPOSIÇÃO 3A Globo diz que não possui profissionais para cuidar de publicidade para artistas. Nos bastidores, comenta-se que atores rejeitam a Record porque temem a Igreja Universal.’


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