Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Déjà vu sobre as maravilhas da nova tecnologia

De tudo o que se lê sobre a implantação da TV digital no Brasil, de forma alguma o princípio básico do jornalismo hard news pode ser questionado. Sempre são ouvidos os dois lados, e apresentados os prós – com possibilidades infindáveis da nova tecnologia na vida dos cidadãos – e os contras – que, sem dúvida, significa altos custos de implantação e comercialização.

Anyway, como diria o típico americano, é no mínimo intrigante não perceber em toda essa discussão uma mínima comparação com o que foi a implantação da televisão por assinatura no Brasil. Estaria eu vendo bugalhos no lugar de alhos?

Vamos aos fatos: quando da aprovação da louvável Lei nº 8.977, de 6 de janeiro de 1995, a chamada Lei do Cabo, que regulamentava os primeiros passos da TV paga brasileira através do sistema de distribuição via cabos, muitas empresas disputavam a portas principalmente fechadas o controle do que seria uma verdadeira revolução no modo de ver TV. As possibilidades eram ainda maiores do que a diversidade de canais que estavam por surgir.

Muito antes disso, no entanto, a maravilha distribuída fosse por cabo ou canal em freqüência UHF funcionava na ilegalidade. Cabe lembrar que, por falta de know-how nacional, quem tirou proveito do novo sistema em princípio foram as empresas estrangeiras, sobretudo corporações argentinas.

Enfim regulamentada a novidade, por lei, portarias e decretos, as previsões eram as melhores possíveis e as possibilidades, inesgotáveis. Mas, devido à constante crise econômica verde-amarela, ao sempre baixo poder aquisitivo da população e ao inevitável alto custo da nova engenhoca, o sistema não prosperou, e as previsões de pelo menos 5 milhões de assinantes no ano 2000 ficaram no passado ressentido, que no presente contabiliza um número real, sem grande crescimento, de 3,5 milhões de assinantes. De qualquer forma, somos brasileiros, não desistimos nunca, e os números hão de melhorar!

O futuro virá

O que cresceu, no entanto, foi o número de trabalhos científicos sobre o tema. Enquanto a economia lamenta, a academia agradece! Pesquisando todos os trabalhos da área de comunicação que tratam do tema, foi verificada a primeira publicação no ano de 1982, por Berta Maria Sichel. O número de estudos foi crescendo conforme aqueciam-se as discussões, tendo seu ápice em 1998, com 33 publicações científicas, entre artigos, capítulos de livros, livros, monografias, dissertações, teses, trabalhos publicados em eventos e sites. Ao todo, foram encontradas 187 publicações, pesquisadas até o ano de 2003 em bancos de dados online e nas bibliotecas das principais instituições de ensino superior de comunicação do país. O número pode não ser dos melhores, mas sem dúvida é muito bom comparado à lógica que permeia o dito advento da televisão paga.

Então, enquanto continuam as discussões sobre o padrão a ser implantado, a regulamentação e a viabilidade da inserção da novidade na frágil economia canarinho, segue a dica que guiou os estudos científicos da TV paga brasileira. Arrisco dizer que assim como na implantação da maravilha de outrora, os pesquisadores enxergaram mais rápido do que o mercado as possibilidades de explorar essa tecnologia.

O futuro virá. Espera-se que, além da academia, a economia também agradeça desta vez.

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Jornalista