Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Programa “polêmico” de Bial fica no “oba-oba”

Existe ou não a “ditadura” do politicamente correto? É realmente ofensivo chamar um homossexual de viado? O tema, um dos mais falados nos últimos tempos, desde que humoristas insistiram em continuar a chamar negros de macacos (e eles reclamaram, olha só!) e outros foram processados por falar, por exemplo, que estuprador merecia abraço, inaugurou ontem [quinta, 5/7] Na Moral, o programa solo de Pedro Bial.

O tema é bom? É. Dá para aprofundar alguma coisa sobre isso em um programa de meia hora com quadros, musiquinhas e uns dez minutos de discussão? Não. Foi o que aconteceu ontem, quando convidados como o filósofo Pondé, “defensor” da incorreção politica (sim, isso existe), o autor Antonio Carlos Queirós e a humorista Maria Paula “debateram” o tema, entremeado por opiniões de Bial.

Ponto importante. Dá para discutir se ser chamado de viado ofende um homossexual sem um presente? Não, claro. Assim como é muito fácil uma mulher magra falar que ser chamada de baleia não machuca nada, imagina, é só uma bobagem. Mas o programa deixou de lado os ofendidos. A minoria foi representada por Alexandre Pires, processado por associar em um videoclipe negro a macaco. A presença de Pires é uma boa sacada. Mas faltou ali alguém que se ofendeu. Na falta, virou uma discussão oba-oba.

Vamos ver quem vai ter paciência

Dá para julgar um programa pela sua estreia? Não. Mas dá para pensar em algumas coisas. Aviso. Quem odeia Pedro Bial vai continuar odiando. Quem gosta vai continuar gostando. O apresentador é absolutamente ele mesmo no programa (e não se esperava outra coisa, claro). Ele faz, sim, suas “poesias”, aquelas que ficaram famosas em eliminações do Big Brother e são difíceis de entender. Ao mesmo tempo, seu jeito esperto e ágil também está ali intacto.

Os temas, segundo ele, sempre serão polêmicos. Espera-se que das próximas vezes eles sejam tratados com mais profundidade. Quanto ao formato, ele é bem sacado, sim. Mas por outro lado o cenário, a plateia e as piadas fazem parecer que Na Moral é um mix do programa da Fátima Bernardes com um toque de Esquenta, a atração elogiada de Regina Casé.

Fato curioso. No mesmo mês, dois grandes nomes da TV Globo estrearam programas solo. Fátima Bernardes ganha as manhãs para debater assuntos como “depilação feminina” e adoção. Bial vai direto na polêmica. Para pensar. “Mulher gosta de assunto de mulherzinha, assunto sério é coisa de homem.” Talvez esse possa ser um bom tema para um dos programas de Pedro Bial. Ou de Fátima. Por que não?

PS. A discussão continuou, com Pedro Bial presente, no desesperado programa de Fátima Bernardes, na manhã seguinte. Será que a Globo percebeu que mulher também gosta de falar de assuntos sérios? Ou será que era mesmo para promover o programa de Bial e ao mesmo tempo tentar aumentar a audiência para o tal programa de Fátima, o “causo” de ibope baixo da emissora? Não dá para ter certeza. Vamos ver quem vai ter paciência para acompanhar e esperar.

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[Nina Lemos é repórter especial da revista TPM e autora de cinco livros, entre eles o romance A Ditadura da Moda]