Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fora dos padrões do telejornalismo convencional

Como já escrevi em artigo anterior publicado neste mesmo site sobre a modalidade de jornalismo literário (ver “Para compreender o jornalismo literário”), que considero relevante, retorno para escrever do programa semanal Globo Rural. O programa está há mais de trinta anos no ar e é transmitido no domingo de manhã, pela Rede Globo, com reportagens bem produzidas e longas que interessam principalmente ao homem do campo. Um pouco fora dos padrões do telejornalismo convencional, o Globo Rural caracteriza-se por reportagens extensas e profundas e de diálogo com o homem do campo.

O que considero pertinente e bom no programa é a possibilidade de narrativas com um estilo carregado principalmente nas imagens, onde o movimento é mais longo com cenas que aguçam a imaginação do telespectador, isso a partir da palavra, do cheiro e da emoção que a reportagem transmite.

No texto do programa Globo Ruralacredito que existe uma aproximação com o seu público, que é a intencionalidade narrativa. Ou seja, o repórter escreve para se aproximar do universo cognitivo do público, onde os entrevistados tem chance de se expressar e não são mais algumas fontes para elucidar a matéria, e isso poucos repórteres conseguem fazer. Um exemplo é o trabalho do jornalista José Hamilton Ribeiro que está desde o início do programa e produz reportagens que conseguem responder às perguntas dos telespectadores, faz uma aproximação com o fato que está explicando e não deixa dúvidas.

Não são apenas notícias do campo

Como telespectadora assídua, que assiste ao programa desde pequena, penso no Globo Rural como um programa que transmite o que pretende. Já que a reportagem invade as fronteiras da arte, acredito que não é somente no texto que esse tipo de jornalismo se faz presente, agrego as imagens um fator importante para delimitar o programa. E esse é um ponto central que destaco. O programa não merece apenas o destaque para a equipe de jornalistas que o integram, como José Hamilton Ribeiro, Vico Iasi, Helen Martins, Nelson Araújo, Priscila Brandão entre outros, e sim, para os cinegrafistas que conseguem captar imagens e através delas se constrói uma reportagem mais completa. Na edição há suspiros, risadas, sonhos que fazem parte da informação que o jornalista quer transmitir.

Não são apenas as notícias do campo, ou release, são explicações com reportagens de histórias mais aprofundadas do campo e que elevam o interesse e conhecimento para o homem do campo e da cidade. Por isso é preciso mergulhar numa linguagem cênica e amarrar aos procedimentos do jornalismo literário e decifrar essa linguagem transmitida pelo programa. Vale elogios e reconhecimento para um programa que já está há mais de trinta anos no ar e que consegue prender o telespectador com reportagens longas de quinze, trinta minutos, podendo chegar a quarenta e cinco minutos.

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Angélica Fabiane Weise é jornalista