Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Em tudo, conspiração, imperialismo e manobra

Não queria comentar o assunto ‘Bonner x Homer’, que começou na revista Carta Capital e ganhou espaço dentro e fora do meio jornalístico. Desde o primeiro momento em que li o artigo de Carta Capital assinado pelo professor Laurindo Lalo Leal filho (‘De Bonner para Homer‘) e depois a resposta de William Bonner ‘Sobre a necessidade de ser claro‘, tomei posição a favor do editor-chefe do Jornal Nacional.

Não queria comentar o assunto por isso mesmo. Há um grupo numeroso de pessoas que acredita realmente que a televisão fabrica bobões, alienados e preguiçosos. Vivem defendendo isso, e sempre que podem atiram nessa direção. Me posiciono contrário a essa inteligência que vê conspiração, imperialismo e manobra em tudo. E nos telespectadores, uns eternos idiotas. Me manifesto agora após ler no Observatório da Imprensa texto do sociólogo Sérgio Domingues (‘Por que o Jornal Nacional adora Homer Simpson‘, 27/12/05). Após uma análise de notícias publicadas no JN, em que cita siglas como BNDES e PIB (que no seu entendimento ‘são explicadas, mas continuam escondendo seu real significado’), Domingues defende que o Jornal Nacional utiliza ‘uma inteligência maligna’ e que faz ‘novos Homers Simpsons em escala industrial’.

Pilar da profissão

Movo-me contra essa argumentação esquisita, que tira a inteligência da audiência e o poder de crítica (sim senhor, e nem precisa ser doutor para ser capaz de fazer juízo próprio sobre fatos relatados pelo JN ou pelo vizinho). Fico pensando numa coisa curiosa: onde está a verdade sobre os fatos? Onde mora a verdadeira informação, sem viés, sem subjetividade, sem contaminação, sem leitura e sem filtro?

O que entendo correto para quem informa é uma coisa chamada ‘honestidade’, que os meus melhores professores sempre citam como imprescindível para a atividade de noticiar. O Jornal Nacional apresenta um fragmento, uma fatia, um recorte, uma versão da realidade.

O entendimento do todo vem de muitos lugares, do noticiário do jornal, da conversa com o estranho na fila de banco, do jornal impresso, do programa sensacionalista, da fonte ‘oficial’, do comentário que o amigo ou o filho faz do que acontece, do colega de trabalho, da conhecida boazuda, do rádio de pilha no horário do jornal ou no intervalo do futebol, da novela, do entregador de pizza, da empregada, do outdoor. Sem falar em música, teatro, cinema, revistas, catálogos, internet, bulas de remédio e quadrinhos.

Quando Bonner defende sua comparação do pai de família com Homer Simpson, dizendo que é fundamental ser claro e objetivo, está só reafirmando um pilar da profissão, que é o comunicador falar (escrever) e o espectador (leitor, ouvinte, internauta…) entender. Simples assim.

Mínimo básico

Acho que está dito o essencial quando Bonner argumenta que ‘o compromisso é mostrar os fatos mais importantes do dia no Brasil e no mundo de forma compreensível. Precisamos ser claros para quem tem a formação acadêmica mais refinada e para quem não pôde ter educação nenhuma – sem que o didatismo irrite o primeiro, nem que a sofisticação excessiva afaste o segundo’. É o que a gente ouve na faculdade, nos manuais de redação, e da boca dos melhores profissionais. E é o que todos nós (falo dos honestos) tentamos fazer a cada matéria, a cada reportagem.

Se um jornal se movimenta por esses ou aqueles interesses, não acho que entra nesta discussão, é outra história. Por quê? Porque não há veículo de mídia desprovido de interesses – o que é um dado da realidade. Assim como nós todos também temos os nossos interesses e os professamos sempre que possível e com a ênfase que achamos devida.

Por outro lado, ser honesto com a sua audiência é o mínimo básico. É o tijolo que vai permitir edificar aquilo sem o que nenhum veículo se mantém de pé: credibilidade. É a credibilidade maior ou menor que diferencia profissionais e empresas de comunicação, e que diz quem vai permanecer vivo e quem vai ser soterrado pela história.

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Jornalista