Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Folha de S. Paulo

MÍDIA & POLÍTICA
Sergio Torres

Lula elogia polícia e culpa TV por violência

‘A programação das emissoras de televisão contribui para que o Brasil seja um país violento, disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em discurso na sede administrativa do governo do Estado do Rio, o Palácio Guanabara.

De acordo com o presidente, o ´seio da família brasileira` passa por ´um processo de degradação da estrutura social´. Entre os motivos, citou ´programas de televisão que não trazem nada que seja instrutivo para as pessoas´.

´Se nós analisarmos o que aconteceu no Brasil nos últimos 30 anos, vamos chegar ao diagnóstico correto do por que temos tanta violência no Brasil. Digo sempre que, muito mais grave que a situação econômica, e possivelmente decorrente da situação econômica, é um processo de degradação da estrutura social a partir do seio da família brasileira´, afirmou ele.

´Se as pessoas moram apinhadas em três metros quadrados onde comem, defecam e dormem; se as pessoas repartem os metros quadrados de sua área individual com baratas, com ratos; se as pessoas não têm rua sequer para passear, não têm área de lazer, não têm escola, não têm nem onde praticar um esporte; eu me pergunto: o que fez o Estado brasileiro nesses últimos 30 anos?`

O presidente falava para uma platéia de policiais civis e militares e políticos, como o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e os ministros Tarso Genro (Justiça) e Márcio Fortes (Cidades). Ele disse que hoje a juventude está ´desesperançada´, responsabilizou os governantes nas três últimas décadas e se eximiu de culpa.

´Quando a gente vê imagens das pessoas presas, o que a gente percebe? A grande maioria são jovens entre 17 e 24 anos. A carreira de bandido está mais ou menos como jogador de futebol, ou seja, aos 33 anos já tem que sair porque não tem fôlego para agüentar a marimba. (…) Nunca perguntamos quem são os responsáveis por essa juventude estar tão desesperançada. Quem é que cuidou da economia desse país, quem gerou esses milhões de desesperados morando em situações degradantes? Certamente que não fui eu e não foram vocês.`

Lula atacou ainda os políticos e exaltou os policiais. ´Muitas vezes a miséria é utilizada como cabide para levar gente a ter mandato nesse país. E depois todos nós ficamos cobrando da polícia. Como se o policial fosse um ser mágico, um Homem Aranha, que tivesse um poder superior ao poder dos outros. No Brasil, com raríssimas exceções, os policiais são seres humanos, pobres, moram mal, ganham pouco e não têm a formação correta para exercer um atividade tão precisa.`

Aos policiais presentes, Lula falou que a corrupção não é uma característica só da categoria. Segundo ele, há corruptos ´em todos os segmentos da sociedade´.

O presidente lançou o programa Bolsa Formação, do Pronasci (Programa Nacional de Segurança com Cidadania), cuja proposta é qualificar profissionais da área de segurança pública por meio de uma remuneração extra-salarial de cursos de especialização.

No final da manhã, Lula e o presidente português, Aníbal Cavaco Silva, receberam medalhas comemorativas dos 170 anos da instituição. Cavaco Silva concedeu a Lula um diploma de gratidão. Em discurso, Lula citou o padre Antonio Vieira (nascido em Lisboa em 1608 e que morreu na Bahia em 1697) ´como o mais brasileiro dos portugueses, e o mais português dos brasileiros´.

Colaborou LUIZ FERNANDO VIANNA , da Sucursal do Rio’

 

Folha de S. Paulo

Paradoxo das ONGs

‘MUITA COISA irregular pode ser investigada pela CPI das ONGs, e o noticiário recente tem sido pródigo em identificar potenciais focos de escândalo. Nos ministérios do Trabalho e dos Esportes, encabeçados respectivamente por um pedetista e um pecedobista, realizaram-se acordos com entidades cujos diretores são militantes do PDT e do PC do B.

Há ainda o caso, também revelado por esta Folha, de quatro ONGs que mantêm laços próximos com políticos do PT e do PMDB. Ao que tudo indica, um sistema articulando verbas públicas, projetos sociais e feudos partidários tende a configurar-se como prática política generalizada no país. Haveria já material, sem dúvida, para mais de uma única CPI.

Uma reflexão mais ampla, entretanto, desde já se impõe. Em tese, seria de esperar que entidades da sociedade civil pudessem sobreviver com recursos próprios. Na prática, cria-se uma espécie de organismo híbrido, ao mesmo tempo não-governamental e dependendo, para sobreviver, de verbas estatais.

Assim, de um lado o poder público se mostra incapaz de atender as carências sociais da população, abrindo espaço para as ONGs; de outro, revela-se onipresente, desvirtuando a autonomia que estas idealmente deveriam possuir.

Os próprios partidos, tantas vezes marcados pela falta de enraizamento social, parecem encontrar nas ONGs uma forma peculiar de relacionamento com a população, funcionando como intermediários do assistencialismo estatal. Cria-se, deste modo, um paradoxo, talvez tipicamente brasileiro: a esfera do não-governamental se confunde com a do paraestatal, acentuando, ainda e sempre, as incapacidades da sociedade brasileira de desvencilhar-se do sistema governamental que a sufoca.’

 

Janio de Freitas

Cenas brasileiras

‘A CPI DOS CARTÕES , que não sai e quando sair não precisa de muito mais do que verificar registros contábeis, e a CPI das ONGs, que nem parece ter saído, recebem as atenções do noticiário, mas o importante começa a acontecer é na esquecida CPI dos Grampos.

A informação das empresas telefônicas de que fizeram, só em 2007, quase 410 mil escutas pedidas pela polícia e autorizadas por juízes é digna dos governos americanos e inglês, maníacos de terrorismo. A CPI vai fazer a confrontação daquele total com informações do Judiciário e das polícias sobre escutas. Daí tanto pode vir a descoberta de escutas com autorização indevida, falsa ou inexistente, revelando-se esquemas clandestinos muito perigosos, como a confirmação aproximada das informações oficiais. Seja isso ou aquilo, as evidências são de que algo muito grave ocorre no país.

Mas, para não faltar com as características mais tradicionais da nacionalidade, há também as gaiatices. Em breve a CPI poderá divulgar, por exemplo, o teor original obtido por um dos grampos legais. É o de grampeado que providencia a contratação de um grampo clandestino, por suspeitar de infidelidade da mulher. Foi a inovação tecnológica à brasileira: o grampo do grampo.

As ´visitas´

A encenação da visita de Lula a favelas do Rio foi, pior do que deplorável, vergonhosa. O dispositivo policial-militar para a chegada de Lula às bordas das três favelas e para os comícios que ali fez, com trincheiras de sacos de areia, ninhos de metralhadoras, multidão de soldados e policiais acoitados por toda parte, eram cenas de guerra, cenas de um país à espera de uma invasão. E tudo isso apesar do noticiado acordo com os comandos das tropas de elite das favelas.

Que contribuição esse desatino pode trazer, se o propósito verdadeiro for a melhoria das condições perversas de moradia, e não os comícios com claques selecionadas e equipadas de faixas e cartazes pelos organizadores da encenação? O tempo, o número irrevelado de funcionários, policiais e militares ocupados por semanas para os comícios (até o general-chefe da Abin trabalhou em organização e inspeções locais) não tem só alto custo desviado dos cofres públicos para a propaganda política. Em nome da segurança de uns quantos privilegiados que podem desfrutar de dispositivos policiais-militares, os milhares de favelados decentes foram humilhados pelo espetáculo da insegurança de suas vidas em todos os sentidos. E o próprio Rio não ficou melhor, na encenação, do que os seus favelados.

Em tempo

A imprensa esteve muito prestigiada na recente sessão do Supremo Tribunal Federal, com numerosas referências a textos jornalísticos. Já a abertura da nervosa exposição do tributarista Ives Gandra Martins, dirigente de uma sociedade católica conservadora, foi dedicada à veemente contestação a quem, na imprensa, referiu-se à contraposição histórica de ciência e religião. O oposto de contraposição por parte da Igreja Católica, argumentou o líder da corrente contrária à pesquisa e tratamentos com células-tronco embrionárias, demonstra-se até em 29 prêmios Nobel que a Academia de Ciências do Vaticano tem.

Talvez em razão das tensões do momento, faltou um acréscimo de possível utilidade. A Academia do Vaticano não é ´do` Vaticano em sentido literal, não sendo composta pelo clero. Integram-na cientistas e professores de diferentes ramos e países, cuja premissa para ser incluído na Academia de Ciências é o seu catolicismo.

Traço também comum e essencial, entrar e permanecer na Academia implica não admitir atividades e idéias, ainda que em nome da ciência e do saber, divergentes da doutrina do Vaticano. Preliminares que não impedem a presença de cientistas importantes, uma vez que nem toda prática científica conflita-se com a doutrina, sujeita a variações segundo as épocas, do Vaticano.’

 

TREINAMENTO
Folha de S. Paulo

45ª turma de treinamento em jornalismo tem início amanhã

‘Começa amanhã a 45ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha. Criado em 1988, o curso visa selecionar bons profissionais e ensiná-los a trabalhar em jornal diário.

Entre as atividades, os trainees vão participar do 3º Congresso Internacional da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em maio. A turma terá patrocínio de Philip Morris Brasil, Odebrecht e Pfizer.

Como resultado do que aprendem durante três meses, os trainees produzem cadernos especiais, que são publicados pela Folha e têm uma versão expandida na internet (www.folha.com.br/063141).

Para se inscrever é preciso preencher uma ficha pela internet (www.folha.com.br/treinamento). O site tem informações detalhadas sobre o programa e o processo de seleção.

Estão abertas até 15 de julho as inscrições para a 47ª turma, prevista para 2009. Está em curso a seleção para o 46º treinamento, que deve ocorrer no próximo semestre. O programa já formou 368 jornalistas, dos quais 90% passaram a trabalhar nas Redações do grupo.’

 

Começa amanhã 7º ciclo de palestras sobre jornalismo

‘Tem início amanhã às 20h o sétimo ciclo de palestras da Cátedra de Jornalismo Octavio Frias de Oliveira, criada em 2002 pelo Centro Universitário Alcântara Machado (UniFiam-Faam) em homenagem ao publisher da Folha, morto em 2007, aos 94 anos.

A primeira aula, sobre o trabalho de um correspondente internacional, será dada pelo repórter Fernando Canzian, ex-correspondente da Folha em Nova York e Washington.

O programa deste primeiro semestre vai abordar diferentes aspectos da cobertura internacional. No segundo semestre, serão tratados os temas: jornalismo de revista, jornalismo on-line e jornalismo popular.

As palestras da cátedra ocorrem no auditório Ulysses Guimarães (r. Taguá, 150, Liberdade, em São Paulo). Interessados em participar devem enviar e-mail à Coordenação de Jornalismo (jornalismo@fiamfaam.br) com nome, telefone e faculdade/empresa/instituição a que pertencem.’

 

TECNOLOGIA
Clóvis Rossi e Julio Wiziack

Telefónica quer iPhone para o Dia das Mães

‘A Vivo está mais perto de lançar o iPhone no Brasil. As conversas entre a Telefónica, uma das controladoras da operadora brasileira, e a Apple, a fabricante do celular, atingiram a fase final de negociação.

A Folha apurou que a operadora espanhola quer colocar o aparelho à venda na América Latina dentro de dois meses. No Brasil, a Vivo já teria os aparelhos para o Dia das Mães.

Vários fatores favorecem a Telefónica na queda-de-braço com a Apple. O primeiro deles é a venda não-oficial de iPhones fora dos EUA e da Europa.

Estima-se que cerca de 1,4 milhão de iPhones estejam em atividade no momento no mercado paralelo, já que apenas 2,3 milhões de aparelhos dos 3,7 milhões vendidos estão registrados nas operadoras com quem a Apple mantém acordo de exclusividade. Em média, um iPhone, que custa US$ 400 nos EUA, é vendido por US$ 600 em países como a China.

Os analistas calculam que, se Steve Jobs, da Apple, não fizer nada para conter o mercado paralelo, perderá US$ 1 bilhão nos próximos três anos. Nessa conta não está incluída a receita gerada por serviços como o download de músicas e vídeos pela loja virtual da Apple, o iTunes. Só nisso, são mais US$ 120 anuais por cliente.

No Brasil, não há números precisos sobre a quantidade de iPhones desbloqueados em atividade. Mas uma pesquisa feita pela consultoria Predicta mostra que o iPhone já responde por quase metade dos acessos à internet via celular.

Em setembro de 2007 (três meses após o lançamento nos EUA), ele representava 10,8% dos acessos no Brasil. Em fevereiro, saltou para 49,7%.

A Predicta é uma empresa brasileira que desenvolve softwares que monitoram a navegação de cerca de 25 sites brasileiros -incluindo portais e empresas. Juntos, eles respondem por mais de 90% dos acessos à web no país. ´Conseguimos saber até que tipo de equipamento o internauta está utilizando quando chega a um desses sites´, diz Cláudia Woods, diretora do departamento de inteligência da empresa.

Toda vez que alguém se conecta à internet, seja pelo computador, celular, palmtop ou iPhone, recebe do servidor acessado uma informação chamada ´cook´. Ela fica salva na memória desses equipamentos, que, por sua vez, devolvem outro ´cook` ao servidor contendo todas as informações da máquina, incluindo o sistema operacional. Como o sistema da Apple é único no mundo, é possível saber exatamente quantos acessos foram feitos no Brasil via iPhone, porque ele fica registrado no ´cook´.

Pé no freio

É difícil avaliar se o acordo entre a Apple e a Telefónica será fechado. Na China, as negociações com a China Mobile, a maior operadora do planeta, com mais de 350 milhões de assinantes, não vingaram.

Com a Telefónica, o que emperra a negociação é uma questão comercial. A Apple quer uma participação na receita da Vivo, a exemplo do que fez com a AT&T, nos EUA, a O2, no Reino Unido, e a Deutsche Telecom, na Alemanha. Além disso, ela quer que a Telefónica subsidie os aparelhos para que sejam vendidos a preços baixos, incentivando sua massificação.

O problema é que esse modelo de negócio não faz mais sentido. Afinal, desde que o iPhone foi lançado, não pára de crescer a quantidade de desenvolvedores de programas que desbloqueiam o aparelho para que ele funcione em qualquer rede de telefonia móvel.

É essa realidade que está pressionando a Apple a rever suas exigências. Por isso, é possível que, caso ela feche o contrato com a Telefónica, o aparelho seja vendido mais caro, porque não terá o subsídio normalmente concedido pelas operadoras de celular.’

 

TELES
Humberto Medina

Diretor da Anatel apóia união BrT-Oi e prevê 3 grandes teles

‘Na avaliação do engenheiro Pedro Jaime Ziller, 62, diretor da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), as mudanças na legislação que poderão permitir a compra da Brasil Telecom pela Oi (ex-Telemar) deverão ficar prontas, para análise do Ministério das Comunicações e da Presidência da República, entre junho e agosto. Para Ziller, que já foi diretor da Fittel (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações, ligada à CUT), o movimento de consolidação das empresas é natural. Em entrevista exclusiva à Folha, ele disse que, no Brasil, deverão restar três grandes grupos oferecendo ao consumidor pacotes com vários serviços (telefonia fixa e móvel, internet e TV).

A pedido das empresas e do Ministério das Comunicações, a Anatel está analisando modificações no PGO (Plano Geral de Outorgas), documento que define as áreas de atuação de cada empresa e, na sua forma atual, impede que uma concessionária de telefonia fixa compre outra.

FOLHA – Como o senhor avalia as mudanças na regulamentação do setor de telefonia, pedidas pelo Ministério das Comunicações? Houve recomendação específica para suprimir dois artigos do PGO, além de outros pedidos mais genéricos. É o momento de fazer isso?

PEDRO JAIME ZILLER – Não concordo que veio coisa específica do ministério. A partir de uma carta da Abrafix [associação das teles], veio um documento que colocou algumas informações do que ele acha. E disse o tempo todo que era sob julgamento da Anatel, de acordo com aquilo que a Anatel entender. Houve sugestão do ministério para mexer em algumas coisas, mas não quer dizer que é para mexer. A Lei Geral de Telecomunicações diz que o PGO deve ser revisto periodicamente pela Anatel para que garanta competição e universalização. A gente vai analisar como é que deve ser feito.

FOLHA – Mas o governo pede especificamente supressão dos artigos 7 e 14 do PGO…

ZILLER – Em uma análise que ele [ministério] fez do PGO, imagina que por ali resolve uma série de problemas. Mas tem que ser analisado o contexto como um todo. A partir de um ofício do ministro, imediatamente a Anatel se mexe. Tem um grupo de trabalho em cima disso.

FOLHA – Como é a tramitação desse processo?

ZILLER – Um grupo estuda tecnicamente, com todas as implicações, e faz uma proposta, que passa por uma consulta interna na Anatel. Depois passa para a Procuradoria, para ver se não há ilegalidade. É sorteado um conselheiro, que vira relator da matéria. Ele faz as considerações dele, muda o que achar que tem que mudar. Depois, o conselho diretor aprova um documento para ir a consulta pública. É um documento proposto. Aí, a sociedade contribui.

FOLHA – Como são analisadas as contribuições?

ZILLER – A área técnica recebe o material todo e faz considerações. Ela é obrigada a responder a todas as contribuições. Informar se aceita ou não e os motivos. Uma nova proposta é feita, novamente passa pela Procuradoria e é colocada no conselho. O detalhe é que, depois da consulta pública, só pode ser mexido aquilo que foi objeto de contribuição.

FOLHA – E depois que o conselho aprova o texto final, o que acontece?

ZILLER – Passa pelo conselho consultivo, que dá um parecer, que é anexado ao que foi aprovado pela Anatel. Isso é encaminhado ao Ministério das Comunicações e daí para o presidente da República, que faz um decreto.

FOLHA – O que a Anatel faz, então, é uma sugestão de mudança, que pode ou não ser acatada pelo presidente da República?

ZILLER – Exatamente. O governo pode decidir que não quer a mudança sugerida pela Anatel. O decreto é expressão de vontade do presidente. Se o que a Anatel preparar estiver em desacordo com o que o presidente pensa, evidentemente ele pode não publicar o decreto. Agora, se for emitir um decreto, tem que passar por aqui.

FOLHA – Qual a fase atual do processo?

ZILLER – Estamos na fase de estudos. Isso tem dez dias.

FOLHA – Quanto tempo leva esse processo?

ZILLER – Normalmente, a gente procura fazer o mais rápido possível. Eu acho que de quatro a seis meses é um prazo razoável para concluir.

FOLHA – Para um processo complicado como mudar o PGO, não pode levar mais tempo?

ZILLER – Essas coisas, apesar de toda a complexidade, não têm novidade nenhuma. Nós estamos analisando há muito tempo. Você tem uma situação no mundo que estamos acompanhando.

FOLHA – Já existe um entendimento de que é preciso mudar a lei, porque as mudanças já aconteceram do ponto de vista prático, de consolidação de empresas?

ZILLER – Nos Estados Unidos, na década de 80, uma grande empresa foi dividida em sete menores, as ´baby bells´. E fizeram outras três empresas de longa distância. Passou o tempo e hoje nós temos três grandes empresas nos Estados Unidos: Sprint, Vodafone e AT&T.

O Brasil tem um PIB per capita menor, menos habitantes e menor capacidade de investimento. Por que nós vamos ter um monte de empresas? Com uma tecnologia que exige muito investimento, tem que ter bala na agulha para investir. Isso exige empresas poderosas. Você não consegue manter uma empresa em permanente evolução sem ter bala na agulha.

FOLHA – Qual seria o cenário razoável para o Brasil?

ZILLER – Hoje, você tem a TIM, a Embratel, a Telefônica/Vivo, a Oi e a Brasil Telecom. São cinco grandes grupos, mais a CTBC, que é um grupo razoável. Você tem seis grupos atuando no Brasil com áreas razoáveis. Eu não acredito que a gente passe de três.

FOLHA – Três grupos ofertando múltiplos serviços, fixo, móvel, internet e TV?

ZILLER – Sem dúvida nenhuma. TV em um futuro não muito próximo, porque tem uma lei [Lei do Cabo, que impede as teles de oferecerem TV por assinatura por cabo]. Mas as coisas estão configuradas, você olha o mercado. Se você tem a Net com a Telmex e a TVA com a Telefônica, é razoável que isso aconteça.

FOLHA – Dado o movimento de fusões no mercado e de evolução tecnológica, o PGO ficou ´anacrônico´, como o ministério definiu?

ZILLER – A carta da Abrafix e a carta do ministério catalisaram uma coisa que a Anatel tinha que estar fazendo. E estava fazendo, observando. De repente, veio uma carta que acelerou o processo de rever o PGO. Ou pode ser que a minha visão esteja errada e não seja para rever.

FOLHA – Mas por trás da carta há uma conjuntura político-econômica, que é a possibilidade da compra da Brasil Telecom pela Oi, e aí o governo se colocou como interessado na possibilidade de haver empresa de capital nacional…

ZILLER – Isso aí, esse interesse do mercado de fazer isso, agilizou o processo.’

 

TELEVISÃO
Daniel Castro

História de ´Duas Caras` é idêntica à de série americana

‘A história de Célia Mara, personagem de Renata Sorrah em ´Duas Caras´, é parecidíssima com uma das tramas de ´Brothers & Sisters´, seriado americano que está bombando no Universal Channel -já foi visto por 4,5 milhões de pessoas diferentes, segundo o canal.

Na série, Nora Walker (Sally Field) descobre que seu marido, que acabara de morrer, teve um caso durante mais de 20 anos com Holly Harper (Patricia Wettig). Na novela da Globo, Branca (Suzana Vieira) descobre no noticiário policial que seu marido morrera nos braços de Célia Mara, que fora amante dele durante duas décadas.

No seriado, Nora tem outra surpresa ao saber que o marido teve uma filha com a amante. Na novela, Branca fica sabendo em ato público que seu marido é o pai de Clarissa (Bárbara Borges), filha de Célia Mara. Em ambas, os maridos morrem sem saber que tiveram filhas com suas amantes. E as filhas não sabiam que suas mães foram amantes de seus pais.

Holly vira sócia de Tommy (Balthazar Getty), filho de Nora, e as duas vivem às turras. Branca e Célia Mara se estapeiam na Universidade Pessoa de Moraes, da qual são sócias.

Procurado por e-mail, Aguinaldo Silva, autor de ´Duas Caras´, não comentou. A Globo informou que a trama de Célia Mara foi inspirada em um caso real ocorrido em 1996.

Para quem ainda não viu ´Brothers & Sisters´, o Universal Channel reprisará a primeira temporada a partir do dia 23. A série estreou no Brasil em outubro de 2007, mesmo mês de ´Duas Caras´. Está no ar nos EUA desde setembro de 2006.

ECOLINDA

Para se preparar para interpretar Carolina, protagonista da próxima novela da Record, ´Chamas da Vida´, a atriz Juliana Silveira (foto), 27, acaba de comprar uma bicicleta. ´Minha personagem é uma menina rica, independente, idealista, que tem opiniões fortes. É uma ecochata, e vai ao trabalho de bicicleta´, conta, agora exibindo um visual moderno. Silveira admite que só vai ao trabalho de carro. ´Mas eu faço coleta seletiva, não deixo a torneira aberta quando escovo os dentes nem demoro no banho´, afirma. Na novela, ela pedalará uma magrela que imita uma Chanel -a Record não teve coragem de pagar quase 10 mil por uma autêntica.

FILOSOFIA POPULAR

Ex-apresentadora da MTV e do ´Video Show` (Globo), a atriz Chris Couto (foto), 47, voltará à função em abril, desta vez na Cultura. Ela assumirá o ´Café Filosófico´, que entra em nova fase. Caberá a Couto ouvir as pessoas nas ruas sobre o que elas pensam sobre amor, sexo, drogas, educação, morte, trabalho, entre outros temas contemporâneos. ´Estamos tentando aproximar mais a filosofia do dia-a-dia das pessoas. A idéia é traduzir conceitos para o público´, diz Couto, que continua atriz -nesta semana, entra em cartaz no teatro do Sesc Vila Mariana.

CASAL SEDUTOR

Recém-egressos de ´Sete Pecados´, Gabriela Duarte e Juan Alba gravam nesta semana participação em ´Dicas de Um Sedutor´. Ela será uma mulher inteligente e ele, um professor. Ela quer ser beijada por ele no cinema. Ele só quer comentar aspectos técnicos do filme.

DICAS SEDUTORAS

Uma das novidades da grade da Globo em abril, o seriado ´Dicas de Um Sedutor` responderá a dúvidas sentimentais de telespectadores. Ao fim de cada episódio, o protagonista Santiago (Luiz Fernando Guimarães) comentará um ou dois e-mails enviados pelo público.

TURISMO

A Globo grava desde a semana passada ´Ciranda de Pedra´, próxima novela das seis. Amanhã, terça e quarta-feira, Cléo Pires, Bruno Gagliasso e Marcello Antony farão várias seqüências no centro de Santos (SP). Domingo que vem, Gagliasso gravará no parque da Luz.

VALE A PENA

Exibida em 2004, o remake de ´Cabocla` (original de 1979) voltará ao ar na Globo no início de abril. A novela de Benedito Ruy Barbosa, um clássico da faixa das 18h, foi escolhida na semana passada para substituir ´Coração de Estudante` na sessão ´Vale a Pena Ver de Novo´.’

 

Bruna Bittencourt

De Gabriela a Bebel, livro revê figurino das novelas

‘´Eu achava que estava fazendo um drama entre duas irmãs; na verdade, era a história de uma moça que usava uma meinha de lurex!` A frase de Gilberto Braga sobre ´Dancin` Days` (1978) dimensiona a importância do figurino na teledramaturgia da TV Globo e na moda brasileira.

E é sobre o assunto que se debruça ´Entre Tramas, Rendas e Fuxicos – O Figurino na Teledramaturgia da TV Globo´. Em quase 400 páginas, carregadas de fotos, o livro repassa mais de 40 anos da teledramaturgia global sob esse prisma, em uma iniciativa da Memória Globo (núcleo que pesquisa a história da emissora).

O livro destaca a importância do figurino na composição de uma personagem e na construção de uma narrativa. Os figurinistas são os grandes protagonistas do livro, recuperando seus trabalhos e suas histórias de bastidores. Entre elas, a de que Sinhozinho Malta, personagem de Lima Duarte em ´Roque Santeiro` (1985), foi inspirado no seriado americano ´Dallas´. E que para a cena em que Dona Redonda (Wilza Carla) explode em ´Saramandaia` (1976) foram feitos seis vestidos iguais pela dificuldade da seqüência.

Nos primeiros anos, os figurinistas tinham um único guarda-roupa geral, com três andares de roupas penduradas. Por falta de um local adequado para guardar as peças, muitas vezes elas eram doadas.

O figurinista Carlos Haraldo Sörensen, 80, conta no livro que havia dias em que a favela da Rocinha estava ´vestida de novela´.

´Toda atriz deve ter um vestido preto. Era a primeira coisa que eu fazia porque era só botar um colar, uma flor, um lenço, que servia para várias cenas, incluindo enterro e casamento´, conta Sörensen no livro sobre uma das técnicas que driblava a limitação de recursos de tempos passados.

Hoje a Globo conta com cerca de 80 funcionários em sua fábrica de costura, que produz uma média de 1.340 peças mensais, enquanto seu acervo conta com 200 mil itens.

´Muito da formação de moda que nós temos hoje vem do figurino feito para a televisão´, diz o estilista Ronaldo Fraga. ´Existem trabalhos primorosos. O figurino da Emilia Duncan em ´Amazônia` [minissérie de 2007] era infinitamente melhor do que o enredo´, afirma.

Moda

O livro dedica mais de 40 páginas para a influência da tramas globais no gosto das mulheres brasileiras. Ex-dona de uma boutique, a figurinista Marília Carneiro introduziu a moda na teledramaturgia global. É dela o figurino de ´Dancin` Days´, a grande referência entre tendências lançadas pelas novelas, com um trabalho que dialogava com a febre disco da época. Carneiro é categórica: ´A televisão é o veículo mais importante para se ditar moda no Brasil´.

´A novela é fundamental como informação de moda, mas hoje não acho que a influência seja tão grande quanto foi para a minha geração´, diz o estilista Marcelo Sommer. Assim como ele, a estilista Clô Orozco, da Huis Clos, critica a massificação que as novelas exercem na moda brasileira.

Modismos à parte, o grande desafio para os figurinistas hoje é alta definição, que acentua, por exemplo, o desgaste natural das roupas. Mas, depois do advento do videoteipe e da cor na TV, a alta definição parece apenas mais um capítulo para os figurinistas.

ENTRE TRAMAS, RENDAS E FUXICOS

Autor: Memória Globo

Editora: Globo

Quanto: R$ 58 (400 págs.)’

 

Cristina Fibe

Endinheirados se expõem em ´Os Ricaços´, que estréia hoje

‘Frases como ´o sucesso vicia` e ´quem diz que dinheiro não traz felicidade obviamente nunca teve dinheiro nenhum` são algumas das pérolas que sairão de ´Os Ricaços´, produção do Discovery Travel & Living que estréia hoje, às 21h.

O programa se propõe a mostrar, em oito episódios, a vida de 32 milionários/bilionários, selecionados entre as pessoas mais ricas do mundo. Iates, mansões, suítes presidenciais, ilhas, festas e jatos particulares estão aqui para demonstrar o poder dos nada discretos participantes.

Entre as personalidades que aceitaram expor suas contas bancárias (e o seu fluxo), a mais conhecida é o cantor espanhol Alejandro Sanz, 39, que dará as caras no quarto episódio, ao lado de um hoteleiro, um ´designer de espetáculos de luxo` e um ´magnata` dos celulares. Nenhum brasileiro entrou na lista da produção, que conta com apenas quatro mulheres dentre os 32 retratados.

O canadense Calvin Ayre, 47, ´avaliado` em US$ 2 bilhões (acumulados em seis anos, segundo ele), é um dos que impressionam pela falta de pudores ao posar para as câmeras.

O documentário acompanha a figura e seu casaco de couro fazendo compras, compras e mais compras -apesar de afirmar que a sua ´motivação na vida hoje são as garotas´.

Em uma loja de relógios, mostra o seu Cartier para pedir ao vendedor algo ´mais especial´. Alguns momentos para resolver a dúvida entre duas peças -masculinas- cravadas de diamantes, decide levar um Chopard de US$ 40 mil.

´Eu de fato tenho que pensar no que visto. Não posso colocar uma roupa que já usei antes.` Ah, tá.

OS RICAÇOS

Quando: estréia hoje, às 21h; reprise às quintas, às 20h

Onde: no Discovery Travel & Living’

 

Laura Mattos

´Cocoricó` vai virar peça de teatro

‘Júlio está animado com as novidades. O ´Cocoricó´, que protagoniza na Cultura, vai virar peça de teatro. Na TV, em novas temporadas, o garoto, que mora na fazenda com as amigas galinhas e outros bichos, visita o primo da cidade.

O programa de bonecos é um dos maiores fenômenos brasileiros entre o público infantil e tem vasta lista de produtos licenciados. Diante disso, não foram poucos os convites que Fernando Gomes, diretor e manipulador do Júlio, recebeu para levar ´Cocoricó` aos palcos.

Mas era preciso amadurecer o projeto, diz, para que as crianças não passassem pela mesma decepção que ele costumava sofrer na infância: ´Eu me lembro de ver personagens e perceber que não eram os ´de verdade´, mas pessoas fantasiadas´.

Por isso, não daria para simplesmente criar um boneco enorme para vestir uma pessoa. ´Iria ficar desproporcional, muito maior do que o Júlio parece na TV´. Gomes conta que a solução será que os manipuladores (os mesmos da TV) fiquem por trás dos bonecos, movimentando-se com eles pelo palco. Estarão vestidos de preto, com máscara, para serem confundidos com o cenário. A estréia é prevista para agosto, no teatro Frei Caneca.

Novas temporadas

O ´Cocoricó` terá neste ano duas novas temporadas, de 26 episódios cada uma. Na primeira, João, o primo de Júlio da cidade, irá visitá-lo na fazenda. Na segunda, é Júlio quem vai à a metrópole, acompanhado das galinhas e do cavalo Alípio -os bichos vão andar de elevador e se hospedar em apartamento.

Nesse contexto, a tecnologia será um dos temas abordados. João e Júlio irão se comunicar pela internet, com uma webcam. ´Nosso cuidado é mostrar os dois lados do campo e da cidade, para que não sejam vistos como ´rivais´, afirma Gomes.’

 

Cássio Starling Carlos

Telas pensantes

‘Ninguém hoje põe muito em questão que os seriados de TV, em particular os norte-americanos, alcançaram um patamar de qualidade superior. Pelo menos desde a série ´Twin Peaks´, sua dramaturgia se sofisticou e suas temáticas se tornaram ousadas.

Explicitamente apaixonado por essas formas narrativas, o professor de filosofia norte-americano Mark Rowlands se debruça sobre algumas delas no ensaio ´Tudo O Que Sei Aprendi com a TV – A Filosofia nos Seriados de TV` (Ediouro, trad. Elvira Serapicos, 224 págs., R$ 34,90).

Tal estratégia de aproximação entre o erudito e o pop não é novidade. Outros títulos disponíveis em português, como ´Os Sopranos e a Filosofia` e ´Os Simpsons e a Filosofia´, já se arriscaram nesse terreno minado com resultados para lá de insatisfatórios.

O trabalho de Rowlands, professor da Universidade de Miami, propõe um pouco mais de rigor analítico e se cerca de alguns cuidados conceituais, mas o problema de sua abordagem decorre da própria definição de filosofia.

O que é filosofia? A questão guarda tantas respostas quanto o número de filósofos e de obras por eles escritas que passaram pela face da Terra.

Em todas elas, porém, sobressai um esforço nítido de distinguir a reflexão filosófica da mera reflexão.

A saber, desde os primórdios e até hoje, a indagação acerca das causas primeiras, a ontologia, o questionamento dos fundamentos da ética e da moral e das condições de possibilidade dos saberes em sua construção da verdade sempre adotaram, como ponto de partida, o que se chama ´senso comum´, mas para ultrapassá-lo.

A essa sabedoria pragmática, útil no dia-a-dia, a filosofia contrapôs uma sabedoria especulativa, mais preocupada com o ser das coisas e das ações, com o que poderia e com o que deveria ser.

Sem certezas

Em sua tentativa de virar as costas às dificuldades especulativas na busca de um reconhecimento popular, as obras que se supõem divulgadoras da filosofia acabam se distanciando da indagação filosófica ao se aproximarem do terreno fácil e óbvio da auto-ajuda.

Ao contrário do que esta visa, o que distingue a filosofia é sua incapacidade de se ater a fórmulas, a certezas de uso imediato. E seu perigo, pelo menos desde Sócrates, é instaurar a dúvida como seu próprio motor, assumir o risco de pensar contra o estabelecido, ´intempestivamente´, como define a fórmula insubstituível de Nietzsche.

Para Rowlands, ao contrário, ´ser filósofo é fácil, e não temos muita escolha, de qualquer forma. Se você vive a vida e já pensou nela alguma vez, você é um filósofo´.

Ora, tal definição, ampla demais, é como uma rede de pesca de buracos tão grandes que até os peixões escapam dela.

É isso que leva o exame que o autor empreende das oito séries que escolhe a se converter em mero catálogo de temas e fórmulas prontas.

A sofisticação dessas produções, de fato, decorre em parte da habilidade dos roteiristas em incorporar, tornando contemporânea, toda uma tradição de temas, psicologias e habilidades narrativas num repertório acumulado há séculos em nossa cultura sob a forma das artes da representação.

Mas daí a afirmar que as séries produzem filosofia e ensinam filosofia equivale a crer que basta seguir as regras dos manuais de auto-ajuda para alcançar a felicidade.

Há quem acredite e caia recorrentemente nessa armadilha mercantil. Para esses, funcionará como promessa a frase cara-de-pau com que Rowlands encerra a obra: ´Obrigado por comprar este livro. Se eu pudesse retribuir com um desejo, seria o de que você encontrasse em sua vida algo tão importante que sem isso você não seria a mesma pessoa. Se tiver sorte, já encontrou´.’

 

Michael Hirschorn

A revolução será televisionada

‘Uma das coisas mais cansativas nos devotos das novas mídias é a sua convicção, em nada diferente daquela ostentada por pessoas que aderem a cultos religiosos: para eles, ou uma pessoa ´entende` o que é importante ou não entende. Ainda que seja um costume cansativo, isso não quer dizer que não estejam certos, pelo menos em certa medida.

Um exemplo clássico seria a maneira como Steve Jobs [principal executivo da Apple] transformou a indústria fonográfica em refém e praticamente a destruiu. As grandes gravadoras, ao concederem à Apple o direito de vender faixas individuais por US$ 0,99, solaparam o modelo de negócios que as sustentava -vender grupos de canções unidas em um produto chamado ´álbum´, por até US$ 20 a unidade.

O que elas não perceberam foi o fato de que as pessoas estavam prontas para começar a consumir música de maneira inteiramente nova. As gravadoras viam o iTunes como uma maneira de ganhar dinheiro sem despesas -como uma fonte ´subsidiária` de receita, no sentido legal do termo.

Jobs tomou essas canções baratas e as vendeu abaixo do preço, como forma de estimular a compra dos dispendiosos iPods fabricados por sua empresa, e o setor de música em sua forma tradicional agora está despedaçado.

Como trabalho no setor de TV convencional, não tinha percebido até agora que exatamente a mesma coisa está acontecendo no mercado de vídeo. Eu certamente acompanhei a ascensão de serviços de vídeo online como o YouTube.

O iTunes também começou a operar no mercado de vídeo, oferecendo uma combinação entre vídeos profissionais e podcasts em vídeo de amadores e quase amadores.

Como as gravadoras antes deles, as redes de TV e estúdios de cinema licenciaram parte de seu conteúdo para a Apple, permitindo que o iTunes vendesse programas e filmes com a mesma estratégia de preço único que ela havia adotado para a música (US$ 1,99 no caso dos programas de TV e US$ 9,99 para filmes).

O iPod Video, que concorre com os celulares capazes de exibir vídeos e outros aparelhos capazes de exibir essa forma de conteúdo, permitiu que o conteúdo visual chegasse ao mercado móvel, o que deu início a um período de vídeo acessível a qualquer hora, em todo lugar e de imediato.

Tudo isso parecia apenas ruído de fundo, resmungo digital, porque uma coisa era óbvia: as pessoas amam a televisão. Jamais deixarão de assistir à TV.

O YouTube pode ser popular mas não conta, porque não é TV de verdade. Seus vídeos são curtos, e muitos deles são esquisitos. A TV profissional apresenta mais brilho, narrativas mais agradáveis. E esses valores seriam eternos.

Mas uma recente visita a Houston me convenceu de que eu não estava entendendo a situação. Meu amigo Mike e sua mulher haviam dispensado completamente o televisor e, em lugar disso, utilizavam um iMac com tela de 20 polegadas como uma espécie de home theater improvisado, sem perdas dolorosas de qualidade.

O conteúdo vinha do iTunes, de outros serviços de mídia na web e de DVDs. Ao fazê-lo, dispensaram as polpudas contas da TV a cabo e afirmaram uma forma iconoclasta de controle sobre a mídia em suas vidas.

A experiência tradicional de assistir à TV não precisa necessariamente morrer, mas, para salvá-la, o complexo mídia-indústria terá que agir de modos não-tradicionais e desconfortáveis e terá, igualmente, que repensar ´o que é TV´.

No momento, isso significa assistir a um programa de vídeo produzido profissionalmente. O telespectador é um participante passivo e usa um televisor ligado a um decodificador que recebe conteúdo de um serviço de cabo ou transmissão digital.

No futuro, a TV será uma cacofonia de conteúdos profissional e amador, em forma longa ou curta, distribuídos por uma variedade de plataformas e recebido por uma variedade de aparelhos.

O conteúdo recebido será editado, comentado, parodiado e retransmitido pelo antigo ´telespectador` -agora chamado ´usuário´- para quem quer que ele deseje. Determinar quem pagará a quem para fornecer que serviço a quem mais representa a grande questão para esse novo modelo, em torno do qual todas as revoluções da mídia parecem girar.

E não há nada que indique que as pessoas que vêm sendo pagas agora continuarão a sê-lo dentro de alguns anos. O modelo surgido depois da Segunda Guerra, de conteúdo em vídeo dispendioso movimentando um setor de produção de conteúdo imensamente lucrativo (todos aqueles filmes com orçamentos de US$ 200 milhões) está sob certa ameaça.

A grande greve dos roteiristas encerrada recentemente nos EUA e uma possível greve dos atores na metade deste ano representam a grande batalha final pelo controle dos lucros do conteúdo em um momento que talvez seja o último em que disputar esse controle valha a pena -mais ou menos como as greves dos operários siderúrgicos nos anos 1980.

A história quanto ao vídeo difere da história que aconteceu no setor de música de maneira crucial. Ser um fã de música tradicionalmente envolvia ir à loja de discos, dedicando quantias consideráveis a um artefato do qual você conhecia apenas uma ou duas canções, e o processo todo, em geral, resultava em decepção com o produto recebido.

O modelo que o iTunes criou no setor de música e o modelo do download ilegal representaram um salto quântico em termos de satisfação dos consumidores, diante dos modelos anteriormente existentes: tornou-se possível pagar apenas pelas canções realmente desejadas (ou obtê-las sem pagar coisa nenhuma!).

Além disso, o método oferecia um sistema de armazenagem conveniente, que permitia dispensar todas aquelas caixas quebradas de CDs.

Já o modelo tradicional da TV é muito mais amistoso para com os usuários. Os programas são gratuitos ou, ao menos, seu custo fica soterrado em meio às faturas da TV a cabo.

Assistir a vídeos na web, ao contrário do que a tendência pareceria indicar, é uma experiência mais analógica do que assisti-los em um televisor. Na TV é possível selecionar entre centenas de ofertas instantaneamente ou escolher entre dezenas de programas que você tenha preservado em seu gravador digital de vídeo.

Na maioria dos sites de vídeo, no entanto, clicar de programa a programa envolve abrir e fechar software de mídia e assistir a intermináveis anúncios que surgem na tela antes do programa.

A qualidade continua abaixo da média, com definição baixa, programas de reprodução de mídia que oferecem telas reduzidas e problemas de sincronização de áudio e vídeo. A seleção disponível não é das mais amplas, e não existe um guia central que informe o que está disponível, onde e quando.

É fácil dizer que esses problemas terminarão resolvidos, mas restará sempre a suspeita de que a experiência propiciada é desagradável intencionalmente, para que as pessoas não abandonem os seus televisores rápido demais.

Como diz Mark Cuban, empresário de internet, proprietário do time de basquete Dallas Mavericks, a curva de inovação na web está estagnada, e a largura de banda disponível também está chegando ao limite.

Em outras palavras, há um limite para o volume de dados que pode ser distribuído pelos nódulos da internet, e essa limitação estrutural torna improvável que a web venha a propiciar uma experiência lisa de vídeo, pelo menos no futuro previsível.

É por isso que Cuban afirmou no ano passado, contrariando as opiniões dominantes, que a web ´é chata e está morta´. E é exatamente aí que estão o problema e a oportunidade que a TV tradicional precisa encarar.

O avesso da teimosia do setor de música é a mentalidade de rebanho -´precisamos acompanhar o que a garotada faz´. Essa mentalidade dispõe que, a menos que a empresa aposte todas as fichas na internet, ela não está ´sacando a coisa´.

Mas ´sacar a coisa` não significa necessariamente ceder ao coro dos digitais, especialmente se isso significa destruir seu negócio no processo. Nos dois últimos anos, as redes de TV colocaram programas na web de maneira desordenada. A lógica é que, caso não o façam, alguém mais o fará.

Mas, como o setor de música logo aprendeu (a exemplo do setor jornalístico anteriormente), esse modelo rapidamente faz de um negócio uma organização de caridade, o que solapa o valor de seu produto, ainda que exponha o conteúdo a uma audiência maior.

Isso ocorre porque anunciantes e redes abertas ainda não definiram um protocolo para a venda de publicidade que acompanhe a quase infinidade de conteúdo disponível, e os consumidores ainda não estão preparados para gastar muito dinheiro pagando por downloads.

Existe uma solução, e ela está bem debaixo dos narizes das redes de TV: transformar a televisão em algo mais parecido com a internet. Em diversos posts na web, Cuban vem promovendo imensas inovações que devem surgir com a TV de alta definição, entre as quais funções plenas de internet nos televisores e decodificadores de próxima geração.

A televisão com recursos de web provavelmente significaria uma profunda perda de controle para os programadores de TV, porque as prerrogativas tradicionalmente reservadas a quem controla datas e horários se tornariam irrelevantes. O mesmo se aplicaria ao conceito de ´rede` de TV, já que a maioria dos programas se tornaria igualmente acessíveis, não importa quem os exiba.

Na medida em que avançamos na direção de uma cultura em que as escolhas cabem mais e mais ao consumidor, a TV certamente precisa acompanhar isso, não importa o quanto pareça modismo.

Mas não há motivo para que a própria TV não concorra como versão futura da web, segundo a visão de Cuban, oferecendo escolhas ilimitadas (imensos estoques de filmes, temporadas inteiras de seriados), capacidades de edição e distribuição por usuário (ou seja, a possibilidade de enviar a um amigo um trecho do episódio de alguma série que você acabou de assistir), reprise, armazenagem, WiFi…

E, como todos os dados percorrerão a mesma ´tubulação´, mas sem a influência desestabilizadora da internet, a TV poderá oferecer resolução excelente, mesmo em um televisor de 60 polegadas.

E eis a última das inversões: à medida que TV e internet convergem como parte de algo genericamente conhecido como banda larga, as distinções entre as duas logo se tornarão irrelevantes, do ponto de vista dos consumidores. Mas será que o híbrido resultante se parecerá mais com a TV, acrescida de interatividade, ou com a internet, acrescida de TV?

A distinção valerá bilhões para quem chegar primeiro e organizar a bagunça de maneira satisfatória para o consumidor.

MICHAEL HIRSCHORN foi vice-presidente executivo da VH1, um dos canais da MTV. É colunista da revista ´Atlantic Monthly´, onde a íntegra deste texto foi publicada. Tradução de Paulo Migliacci .’

 

FERREZ
Jorge Coli

Fotografia em família

‘Júlio e Luciano eram filhos, Gilberto era neto do grande Marc Ferrez (1843-1923), fotógrafo do século 19 brasileiro. Esses três descendentes se dedicaram à mesma arte e seus clichês formam o objeto de exposição no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ).

Uma passagem do catálogo sintetiza assim: ´Gilberto é o viajante e o aventureiro; Luciano é o engenheiro e o urbanista; Júlio é o cronista familiar e o comentarista social´.

Esses temas preponderantes se interpenetram, porém, e as fotos, atravessando décadas, conservam um evidente ar… de família. São prodigiosas e muito mais do que documentos.

Seus autores dominam a luz como poucos, recusam as simplificações dos contrastes violentos, dosam matizes. As imagens se organizam sempre com equilíbrio e elegância.

Júlio capta cenas que combinam tom mundano e sensibilidade. Sabe sentir a dignidade apurada, a melancolia delicadamente existencial de seus retratados. Gilberto possui o talento de compor com segurança original paisagens vindas do Brasil todo e do mundo inteiro.

As colunas brancas e sólidas, desenhadas para a Carlton House Terrace pelo arquiteto John Nash (1752-1835), em Londres, foram apanhadas por sua lente em 1952: parecem dirigir-se para o infinito. Essa perspectiva é compartilhada por árvores enfileiradas e por pequenos personagens; o rigor é estrito, mas tudo vibra de sugestões indizíveis.

Luciano fascinava-se pelas transformações que o Rio de Janeiro sofria: o desmonte do morro do Castelo, as construções modernas. São presenças vivas de metamorfoses.

A objetiva busca também tipos populares e cenas urbanas pouco banais, como na formidável série da grande ressaca ocorrida em 1921.

É um assombro

Em poucas semanas encerra-se ´Sassaricando – E o Rio Inventou a Marchinha´, no Teatro Carlos Gomes, no Rio. É uma revista musical de Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral. Ficou um ano em cartaz, viajou para várias cidades. Um primor. Evoca o Carnaval que um dia, no passado, pôde ser leve e divertido.

Sem a menor vulgaridade, com um elenco perfeito, encabeçado por Eduardo Dussek e Soraya Ravenle, as marchinhas se sucedem. Brilham, têm letras espertas, às vezes críticas, às vezes poéticas. Foram tratadas musicalmente com talento e respeito por Luís Filipe de Lima. Quem não viu e puder ir, corra. Para quem não puder, há um DVD e um CD duplo do espetáculo (Biscoito Fino).

Fascínio

A arte feita no Brasil durante o século 19 continua sendo, de modo geral, pouco amada. Pairam sobre ela dois preconceitos: não seria moderna nem nacional. Mas, já há algum tempo, há sinais de mudança inteligente. Acabam de surgir alguns livros que tratam com amor e discernimento as artes no Brasil dos oitocentos.

Rafael Cardoso, num volume bonito, editado pela Record, agrupa ensaios estimulantes em ´A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930)´. Sonia Gomes Pereira escreveu, com fins didáticos, ´A Arte Brasileira do Século 19` (editora C/Arte). Expõe um belo panorama: para quem começa a se interessar pelo assunto, é a obra indicada. Maraliz Vieira Christo organizou um dossiê sobre a pintura de história para os Anais do Museu Histórico Nacional: são estudos aprofundados, trabalhos de especialistas que descobrem e desvendam.

Enfim, Ruth Levy interroga a arquitetura ´fin-de-siècle´, no seu ´Entre Palácios e Pavilhões – A Arquitetura Efêmera da Exposição Nacional de 1908` (EBA Publicações).’

 

INTERNET
Marco Aurélio Canônico

Personagem explica truques de vídeos da internet

‘A TV já apresentou Mr. M, que mostrava os truques dos mágicos, padre Quevedo, que desmascarava milagres, e os Mythbusters, que explicavam quase tudo que fosse científico.

Agora, é a vez da internet ter seu próprio ´desmascarador´, um herói para impedir que você faça papel de bobo achando que aquele pingüim realmente jogou o outro na água com um tapa, como mostra um dos vídeos mais populares da rede.

O personagem atende pelo nome de Captain Disillusion (capitão desilusão) e seus programas, em que explica detalhadamente os truques de diversos vídeos populares da web, podem ser encontrados em canais no YouTube e no BlipTV (basta procurar por seu nome) ou espalhados on-line.

O criador e intérprete do personagem é Alan Melikdjanian, 27, um cineasta nascido na Letônia, que imigrou para os EUA com sua família aos 12 anos.

Como Captain Disillusion (ou CD, para os íntimos), ele aparece com metade do rosto (mais o pescoço) pintado de prata, com uma jaqueta amarela e luvas pretas.

´O Captain Disillusion começou como um pequeno artigo sarcástico que eu coloquei no meu blog no MySpace´, afirmou o cineasta em entrevista à Folha, por e-mail.

´Escrevi sobre o ´Penguin Slap` [o tapa do pingüim] e meus amigos gostaram do tom, então eu decidi adaptar aquilo para o formato de vídeo.´

Especialista e piadista

Trabalhando há oito anos com edição de vídeo e efeitos visuais, Melikdjanian está em seu terreno ao lidar com os vídeos fantásticos postados na internet (sobre fantasmas, discos voadores, aviões).

Ele utiliza as ´armas dos inimigos´, por assim dizer -quase sempre algum truque de edição ou uso de efeitos criados em computador-, para mostrar detalhadamente como as partes ´fantásticas` são falsas.

Seus próprios vídeos são cheios de efeitos e de brincadeiras de edição (ele voa, por exemplo), mas o autor leva realmente a sério o que faz.

´Estabeleci como objetivo ser bastante preciso e honesto. Uso minha experiência e minhas habilidades de observação para desconstruir cada vídeo, mas, se não sei a resposta, não invento´, disse Melikdjanian.

O tom debochado é outra das qualidades do personagem. Ele não apenas explica detalhadamente os truques (em inglês), mas o faz debochando dos autores dos vídeos e, não raro, do público que acreditou e deixou comentários deslumbrados.

Com patrocínio

Para fazer seus vídeos (já são nove disponíveis on-line), Melikdjanian criou uma operação de baixo custo, usando o material profissional que já tinha em casa. Com o sucesso do personagem, conseguiu patrocínio.

´Quando comecei, não gastava quase nada, eu fazia todos os efeitos e a edição, com meu pai na câmera. Hoje, a produção se expandiu e já tenho uma pequena equipe, a série está sendo financiada por uma empresa privada, que está construindo um novo site de compartilhamento de vídeos.´’

 

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Site usa estrelas para ensinar suas músicas com aulas em vídeo

‘Ivideosongs tem lições para violão, guitarra, bateria e piano em vários gêneros

No princípio, eram as revistinhas com cifras de músicas, um clássico das bancas, sempre com os sucessos radiofônicos para os aprendizes do violão.

Mas, em plena era da internet, não dá mais para ficar restrito apenas às notações escritas como forma de aprendizado, e foi para atualizar as aulas de música que surgiu o site www.ivideosongs.com.

Sua proposta é vender lições de música on-line, em vídeo, tanto para os iniciantes quanto para quem já sabe tocar o básico, tendo como professores músicos profissionais de estúdio e, em alguns casos, os próprios autores das canções.

Assim, por exemplo, os alunos podem aprender o clássico ´Tom Sawyer´, do Rush, diretamente com o guitarrista Alex Lifeson (que também ensina ´Limelight` e ´The Spirit of Radio´); Graham Nash (do Cosby, Stills & Nash) ensina suas ´Our House` no piano e ´Teach Your Children` no violão, com direito a comentários sobre o processo de criação.

Para os fãs de Beatles, há vários clássicos do quarteto com aulas e comentários de Giles Martin, filho de George Martin (o ´quinto Beatle´) e produtor com o pai do álbum ´Love` para o espetáculo do Cirque du Soleil sobre a banda.

Gêneros e instrumentos

A outra vantagem do Ivideosongs, além de seu método em vídeo, é que ele não se restringe a guitarra/violão -há aulas de piano, bateria e banjo também.

Os gêneros musicais são variados (entre eles blues, rock e folk), mas, como o site está em versão inicial, ainda são poucas músicas por gênero.

Os preços das lições em vídeo (que os usuários baixam, para poder assistir indefinidamente) variam entre US$ 4,99 e US$ 9,99, de acordo com o professor e com a duração.

Quando as estrelas ensinam, os vídeos são mais caros, mas mais longos (podem ter até uma hora de duração). As compras são feitas on-line, com cartão de crédito.

Mas nem tudo no site é cobrado. Os iniciantes, em particular, podem se beneficiar de 25 tutoriais gratuitos (restritos a violão e guitarra, no entanto) que ensinam técnicas básicas e intermediárias dos instrumentos, como afinação, notas, acordes, escala pentatônica etc.

Os vídeos são bem detalhados, com closes, repetições, explicações passo-a-passo. O único porém é que é tudo em inglês, ou seja, para aproveitar as lições por completo (não só vendo, mas ouvindo o professor) é preciso um domínio razoável do idioma.’

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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