Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha Online

‘O escritor colombiano Gabriel García Márquez, Nobel de Literatura em 1982, afirmou que, com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, não se pode falar, já que ele não admite idéias diferentes das suas, segundo um artigo publicado hoje no jornal ‘El Universal’.

‘Com ele [Chávez], não se pode falar. Ele vive aceleradamente e de nada adianta fazer isso porque ele não admite idéias diferentes das suas’, afirmou García Márquez, em entrevista jornal de oposição, em San José de los Cabos (México), onde se realiza uma reunião semestral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).

A organização defensora dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) afirmou que existem ‘evidências inquestionáveis’ de violações aos direitos humanos na Venezuela, nos distúrbios opositores que deixaram nove mortos há duas semanas.

José Miguel Vivanco, diretor da HRW, acusou membros da Guarda Nacional como autores das mortes, torturas, maus-tratos e humilhações dos detidos.

Os distúrbios ocorreram quando a oposição protestou em defesa das assinaturas que recolheu para pedir um referendo revogatório do mandato de Chávez, as quais a autoridade eleitoral colocou em observação para verificar sua legitimidade.

Chávez, no entanto, nega que seu governo tenha violado os direitos humanos nos protestos e acusou seus detratores de serem os responsáveis pelas mortes.

‘Na Venezuela, existe uma democracia em perigo, em grave risco’, afirmou Vivanco, classificando de ‘gravíssimas’ as agressões cometidas contra jornalistas pelas forças de segurança e opositores durante os protestos.’



FRANÇA
O Globo

‘Jornalistas da França querem ação do governo’, O Globo, 14/03/04

‘Os jornalistas da França pediram uma ação do governo na última sexta-feira, devido ao anúncio de que o magnata da aviação Serge Dassault assumirá o controle da editora Socpresse, que publica, entre outros, o jornal ‘Le Figaro’ e a revista ‘L’Express’. Dassault vai subir sua participação na Socpresse de 30% para 80%, como pagamento de um empréstimo de 220 milhões de euros. A operação ainda será analisada pelas autoridades.

A central USJ-CFDT, que representa dois sindicatos de jornalistas, disse que isso é mais uma ameaça à independência da imprensa francesa. O órgão teme a concentração da mídia ‘nas mãos de grupos financeiros e industriais que poderiam ficar tentados a usar o noticiário para seus próprios fins’.

A Lagardère SCA, de aviação e sistemas de defesa, controla vários jornais, e os varejistas Bernard Arnault e François Pinault são donos, respectivamente, do jornal ‘La Tribune’ e da revista ‘Le Point’.’



EUA / JORNALISMO EM CRISE

Jacques Steinberg


"Pesquisa mostra novos interesses nos EUA", The New York Times / O Estado de S.Paulo, 16/03/04


"Um instituto de pesquisa associado à Escola de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade de Columbia estudou o panorama jornalístico nos Estados Unidos e concluiu, de modo semelhante a outros que investigaram o setor, que as perspectivas imediatas para os jornais e os noticiários televisivos são sombrias.


O relatório, divulgado ontem pelo Projeto para a Excelência no Jornalismo, reserva alguma esperança para o futuro do jornalismo – documentando, por exemplo, um aumento da popularidade dos jornais em língua espanhola, semanários alternativos e sites noticiosos.


Mas o estudo também questiona se a chamada nova mídia pode ter sucesso numa escala grande o suficiente para compensar as perdas que sofrem os meios mais tradicionais. ‘O jornalismo passa por um grande período de transição e deslocamento’, disse Tom Rosenstiel, ex-repórter do jornal Los Angeles Times e da revista Newsweek e diretor do projeto, sediado em Washington.


‘As potenciais oportunidades parecem bastante promissoras’, acrescentou ele.


‘A questão é econômica.’ Procurando criar um retrato do jornalismo como é praticado e consumido hoje, os autores do relatório O Estado da Mídia Noticiosa em 2004 reuniram uma série de estatísticas, a maioria previamente divulgada.


Os autores observam, por exemplo, que a circulação dos jornais de língua inglesa nos Estados Unidos diminuiu 11% desde 1990. Porém, ao longo do mesmo período, a circulação dos jornais de língua espanhola no país mais que triplicou, chegando a 1,7 trilhão de exemplares, segundo a Associação Nacional dos Editores Hispânicos.


O estudo mostra também que a circulação combinada de semanários alternativos mais que dobrou, chegando a 7,5 milhões em 2002, segundo a Associação dos Semanários Noticiosos Alternativos.


Mídia eletrônica – O relatório argumenta, por exemplo, que a audiência combinada dos três grandes canais a cabo noticiosos – Fox News Channel, CNN e MSNBC – não varia desde o fim de 2001 e que qualquer público adicional que elas tenham conquistado nos primeiros dias da Guerra no Iraque já foi perdido.


Pesquisadores da Fox News criticam a pesquisa e dizem que o período mais apropriado para medir a audiência são sete anos, durante os quais o total da audiência dos canais a cabo teria crescido.


Os pesquisadores da Fox também questionam a noção de que as redes a cabo perderam os ganhos obtidos durante a guerra, afirmando que, numa base de 24 horas, a audiência combinada dos três canais em dezembro de 2003 foi 17% mais alta que em janeiro de 2003, antes da guerra.


‘O que encontramos nesse relatório é uma angústia sem fundamento, apoiada pelo uso seletivo de dados’, afirmou Nicholas Schiavone, um ex-chefe de pesquisas da NBC que hoje é consultor da Fox News.


Peter Bhatia, presidente da Sociedade Americana dos Editores de Jornais, não questionou o declínio da circulação em seu setor. Mas Bhatia, que julgou várias grandes competições de jornalismo neste ano, disse que a reportagem e a redação de jornais como um todo – e o papel que eles desempenham na sociedade – são difíceis de capturar com um punhado de estatísticas. ‘Esses números não mostram é um indicador qualitativo’, disse ele. ‘Há algum jornalismo de fato bom sendo feito neste país.’ O estudo está disponível no site www.stateofthemedia.org."



PORTUGAL

Clara Teixeira


"Candidatos Admitem Televisão Digital Terrestre Gratuita para Aumentar a Adesão", Público (www.publico.pt), 12/03/04


"A Media Capital e a SGC de Pereira Coutinho, os dois grupos que assumiram o seu interesse na Televisão Digital Terrestre (TDT), admitem que o arranque das emissões poderá ser gratuito de forma a incentivar a adesão dos actuais consumidores de televisão analógica, os que mais dificilmente irão pagar para ter acesso à nova tecnologia. O grupo proprietário da TVI é o maior defensor das virtualidades de um modelo gratuito, em que os clientes só teriam de comprar a caixa descodificadora (‘set-top-box’), ao passo que a SGC se mostra disponível para estudar um modelo misto, defendendo um serviço pago para quem quiser aceder a mais canais e a serviços adicionais de telecomunicações (como voz e Internet).


Com efeito, não chega a meio milhão o número de lares que em Portugal deverá migrar espontaneamente para a TDT até 2007, a data acordada a nível europeu para acabar com as emissões analógicas de televisão (‘switch-off’). Um estudo de mercado da consultora AT Kearney, feito a pedido da Autoridade Nacional das Comunicações (Anacom), estima em 474 mil o número de lares que em Portugal irão aderir à TDT até essa data, o que representa uma fatia de 13,4 por cento de todas as residências com televisão, contabilizadas em cinco milhões. Acresce que 75 por cento desse número de lares será já cliente do serviço pago de cabo ou de satélite, na altura em que decidir migrar para a TDT, e que apenas 25 por cento será proveniente do serviço gratuito analógico.


Este estudo da AT Kearney, debatido quarta-feira à noite na terceira edição dos jantares-debate que a Anacom tem vindo a dedicar à TDT, não torna nada animadoras as perspectivas para a introdução da nova tecnologia em Portugal. A qualidade da imagem na TDT funcionará como um incentivo à mudança para apenas 27 por cento da população, ao passo que só dez por cento valorizariam como factor de adesão a oferta de mais do que nove canais (cinco novos mais os quatros existentes em sinal aberto). Por isso, no melhor dos cenários, a consultora prevê que metade dos lares com televisão analógica ‘não migrará espontaneamente’ antes de o ser obrigado a fazer em 2007, independentemente da oferta de novos canais que vier a ser feita e do preço da caixa descodificadora (‘set-top-box’).


Defendida combinação de serviços


‘Assumindo o cenário de oferta gratuita de mais cinco canais temáticos, além dos já existentes, com oferta da ‘set-top-box’, apenas cerca de 15 por cento das actuais residências com TV aberta analógica seria capturada de forma espontânea’, lê-se no documento elaborado pela AT Kearney, onde se conclui igualmente que só ‘a combinação de serviços gratuitos e pagos’ poderá contribuir para ‘o aumento da adesão espontânea à TDT, principalmente por parte dos utilizadores exclusivos da TV aberta’. Ou seja, a proposta da consultora é a de que seja feita ao mercado uma ‘oferta mista com canais gratuitos e pagos’ que, combinados com o acesso a ‘serviços de telecomunicações’, pode atrair ‘até 50 por cento das actuais residências com apenas TV aberta analógica’.


Face a estas conclusões, a Media Capital defendeu, no jantar-debate, o modelo gratuito no lançamento da nova tecnologia em Portugal, desde que os consumidores aceitassem pagar o descodificador. Só na fase de cruzeiro do projecto é que a Media Capital admite a introdução de uma modalidade de subscrição paga, através da oferta de novos canais e de serviços de telecomunicações. Pedro Morais Leitão, administrador com responsabilidades no ‘dossier’ da TDT, recordou que ‘os portugueses são consumidores intensivos de televisão gratuita’, dedicando cerca de 90 por cento do seu tempo a visionar os quatro canais gratuitos mesmo quando dispõem de TV por cabo. Por isso, ‘a TDT deve ter como alvo não os clientes do cabo mas sim os do analógico’, acrescentou.


João Pereira Coutinho, presidente do grupo SGC que ganhou o primeiro concurso de TDT em Portugal – e que acabou por desistir da licença devolvendo-a ao Estado -, disse, já à margem do jantar-debate, que defende a introdução de ‘um modelo misto’ logo no arranque da nova tecnologia, uma vez que ‘a oferta inicial pode ter mais do que os canais gratuitos’. ‘Os dados e a voz é que terão de subsidiar a oferta de televisão’, disse o empresário que, recentemente, adquiriu por dez milhões de euros o operador de telecomunicações Jazztel. Mas a sua preocupação prioritária, conforme frisou, é que as entidades europeias apressem a normalização dos descodificadores, de forma a evitar a compra de equipamentos que rapidamente podem cair em desuso.


Já o presidente da Anacom, Álvaro Dâmaso, declarou a sua preferência por ‘uma solução nacional, integrada e economicamente sustentável’, admitindo no entanto ‘a bondade do modelo gratuito de TDT, pelo menos no início’. Até Maio, a Anacom deverá estar em condições de apresentar um novo modelo de negócio que permita atribuir uma licença de TDT ao futuro operador da tecnologia em Portugal."




Frederico Cantante


"Moniz Diz Que Entrada em Bolsa da Media Capital Não Terá Impacto nos Conteúdos da TVI", Público (www.publico.pt), 12/03/04


"‘A entrada em bolsa da Media Capital [empresa que controla a TVI] não vai ter nenhum impacto na nossa forma de fazer televisão. Nós já temos de prestar contas aos nossos accionistas, e, aliás, temos-lhes dado muitas alegrias.’ A afirmação é de José Eduardo Moniz, director-geral da estação, que afasta a possibilidade de a linha editorial do canal poder ser condicionada pela admissão do grupo à cotação.


Moniz, que falava ontem na apresentação de novos programas televisivos para 2004, adiantou que a TVI vai ‘concentrar os seus investimentos no horário que vale a pena, isto é, no ‘prime-time’. ‘Não temos apoios de entidades exteriores, e por isso temos de nos governar com os recursos que geramos’, disse, aludindo aos bons resultados da estação no mais proveitoso horário televisivo.


As novidades de programação são, para já, O Inspector Max, uma espécie de Rex, o cão polícia, transmitido pela SIC, e a segunda série de Ana e os 7. A estação promete ainda investir em programas de humor, entretenimento, novelas portuguesas e na adaptação de uma obra literária nacional, mas não adiantou detalhes sobre esses projectos.


José Eduardo Moniz anunciou também que a partir de 3 de Abril vão começar a ser emitidos programas vocacionados para a cobertura do Euro 2004 – a TVI vai transmitir dez encontros do torneio -, mas não especificou o formato. Quanto aos jogos de futebol da Superliga e provas europeias, adiantou que estação ‘vai analisar os jogos que forem surgindo’. ‘Quando não há patrocínios, não podemos transmitir jogos de futebol’, explica.


O Inspector Max é uma série de ficção policial, que conta as investigações do inspector Jorge Mendes (Fernando Luís) e do cão que a contra-gosto adoptou – um pastor alemão chamado Max. Paralelamente são contadas as aventuras e desventuras da família Mendes, cuja união vem ser fortalecida pelo cão-polícia que encontraram abandonado.


A série, de 26 episódios, irá para o ar a partir do próximo domingo, em horário nobre, e semanalmente serão apresentadas novas histórias. ‘Cada episódio funciona como um pequeno filme de 50 minutos’, refere Virgílio Castelo, proprietário da Pipoca – empresa encarregue da produção – e co-autor da série juntamente com as Produções Fictícias.


A segunda série de Ana e os 7, produzida pela NBP (Nicolau Breyner Produções), estreia hoje o primeiro dos seus 52 episódios, não estando ainda definida a sua periodicidade."



RÚSSIA

Deborah Berlinck


"Imprensa sofre censura e ameaças", O Globo, 16/03/04


"Yelena Tregubova, jornalista russa independente, perdeu o acesso ao Kremlin por se recusar a reproduzir a versão oficial dos fatos. Ela então publicou um livro em outubro , ‘Tales of a Kremlin digger’ (Contos de um investigador do Kremlin), denunciando como o governo Putin reprime a imprensa.


A jornalista, desta vez, pagou caro: perdeu o emprego no jornal ‘Kommersant’. No mês passado, um explosivo destruiu a porta de seu apartamento. Escapou ilesa, mas o recado foi dado.


Reeleito no domingo por esmagadora maioria para mais quatro anos de mandato, Vladimir Putin, um ex-espião da KGB, não apenas conseguiu assegurar sua popularidade, como também alinha a imprensa do país a seu favor. Não há praticamente espaço para críticas. Como nos tempos da KGB, de repente, jornais de oposição se vêem com problemas na Justiça por causa de impostos ou irregularidades administrativas. O jornal ‘Novaya Gazeta’, crítico do governo e da guerra na Chechênia, recebeu uma multa sem precedentes: cerca de US$ 1,5 milhão. Um dos problemas é que a imprensa russa está nas mãos do governo ou de grupos da oposição.


– O principal problema hoje na Russia é a autocensura. As redes de televisão são muito obedientes e totalmente orientadas a favor do governo. O problema é que 80% da população obtêm informação por meio da televisão, e a maioria dos russos não tem dinheiro para comprar mais de um jornal – constata Alexiei Somonov, presidente da Fundação Defesa da Glasnost (abertura, em russo).


Em abril de 2002, o Kremlin se apoderou do último canal independente de televisão, a TV6. Foi um ano particularmente ruim para a imprensa russa. Inicialmente a rede foi banida por causa de suas ligações com Bóris Berezovski, magnata da imprensa, crítico de Putin, que hoje está no exílio na Inglaterra. Depois, segundo a Glasnost, a TV obteve novamente o direito de transmissão, mas só com a supervisão do Kremlin.


No mesmo mês, o editor-chefe de um jornal reconhecidamente anti-Kremlin, o ‘Netavissimaya Gazeta’, também parte do império de Berezovski, foi convocado por um promotor para ser interrogado. Pouco antes, em março, o corpo de Valeri Batovev, jornalista de 33 anos que trabalhava no ‘Moscovskie Novosti’, e que escrevia vários artigos críticos sobre a Chechênia, foi encontrado em Moscou. Ele foi espancado e estrangulado. Anna Politvskaia, da ‘Novaya Gazeta’, outra crítica da guerra da Chechênia, teve seu passaporte confiscado."



SOFTWARE LIVRE
Marineide Marques

‘O Pingüim Avança’, Carta Capital, 15/03/04

‘Quando o finlandês Linus Torvalds criou o Linux, há cerca de uma década, não faltaram profecias sobre a rápida revolução que o sistema operacional livre provocaria, levando ao ocaso os concorrentes até então disponíveis no mercado. Dados recentes indicam que as mudanças podem não ter vindo a galope, como previram vários analistas, mas começam a acontecer de maneira mais veloz.

No Brasil, pesquisa recente do Yankee Group com 200 das maiores companhias privadas brasileiras informa que 14% delas pretendem adotar o Linux neste ano. A sondagem reforça outro dado, este apurado pela consultoria IDC Brasil, especializada no setor: 17% dos servidores corporativos do País operam os chamados softwares livres ou sistemas abertos.

A lista inclui redes varejistas como o Carrefour e a Lojas Renner, bancos como o HSBC e o ABN Amro e a operadora de telefonia GVT. ‘Os principais motivos para as mudanças são custos, performance e segurança’, afirma Charles Schweitzer, analista da IDC Brasil.

Ao contrário dos chamados softwares proprietários, cujo uso está baseado no pagamento de licenças, os sistemas abertos, como o próprio nome diz, dão livre acesso ao código-fonte, conjunto de comandos que forma um determinado programa. Isso permite ao usuário conhecer exatamente o que tem dentro do software e modificá-lo se assim desejar. É sonho de todo nerd conhecer, por exemplo, o código-fonte do Windows, da Microsoft, um segredo tão cobiçado quanto a fórmula da Coca-Cola.

A possibilidade de adotar um sistema que pode ser adaptado ao seu negócio, ou customizado, na linguagem gerencial, aliada ao menor custo em relação aos sistemas proprietários, seduz um número cada vez maior de empresas.

O Carrefour testa o Linux há alguns meses em cem caixas registradoras. ‘Estamos estudando o sistema e analisando o desempenho das máquinas para desenvolver um plano de migração para toda a rede de supermercados’, explica o gerente de tecnologia da informação da cadeia varejista, André de Souza.

O Carrefour tem mais de 7 mil caixas em todo o Brasil e é uma adesão importante para os aliados do software aberto. Segundo Souza, só em custo de licença a economia está em 30%. Apesar de livre, o Linux não é de graça. Qualquer um pode baixar o programa pela internet e usá-lo, mas as empresas costumam adquirir o software nos distribuidores, num pacote que inclui suporte e manutenção. Outras vantagens percebidas pelo Carrefour são velocidade e estabilidade. ‘Um caixa rodando em Linux gasta 30 segundos para fazer uma operação que durava três minutos em outro sistema operacional’, diz Souza.

Ele destaca ainda o ganho, embora não mensurável, de independência de fornecedor, ou seja, não ficar preso a um único fabricante, uma vez que o Linux é desenvolvido por várias empresas. O gerente não cita nomes, mas quem conhece um pouco do universo de bits e bytes sabe que ele está falando da Microsoft, dona do Windows, a plataforma que domina 60% dos servidores das empresas brasileiras, segundo números da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Servidores são máquinas potentes que gerenciam os computadores que integram uma mesma rede.

O avanço do Linux no mercado corporativo não é desprezado pela Microsoft, mas a gigante fundada pelo milionário Bill Gates vê os sistemas abertos como aplicações de nicho. ‘Em dez anos, o Linux só conseguiu participação restrita em segmentos específicos, como varejo e web’, comenta o gerente de estratégia de mercado da Microsoft, Eduardo Campos de Oliveira.

Não é bem assim. Aos poucos, o Linux começa a conquistar o setor que mais investe em tecnologia da informação, os bancos (previsão de gastos de R$ 11,5 bilhões em 2004). É um território onde a Microsoft sempre nadou de braçada. O HSBC iniciou os testes com o Linux em duas áreas decisivas para os bancos: frente de caixa e terminais de auto-atendimento. A idéia é migrar parte das máquinas nos próximos três anos. Hoje, o Linux já controla todo o sistema de impressão da rede de agências e roda alguns controles internos do banco. Nas contas da instituição, o uso do Linux proporciona economia de até 50%, dependendo da área. ‘A plataforma aberta favorece questões estratégicas’, informa o diretor de operações de tecnologia da informação do HSBC, Leignes Andreatti.

O grande desafio dos sistemas abertos é provar que dão conta de todas as aplicações críticas de uma companhia, afinal o sistema ganhou espaço, mas faltam empresas que utilizem o programa em 100% das máquinas. Isso reflete mais a falta de experiência do que a incapacidade do software aberto para suportar tais aplicações.

A Lojas Renner é um exemplo de aposta em Linux: dos 80 servidores da companhia, 60 rodam em Linux. Os 20 restantes funcionam com o sistema operacional da Sun, mas serão substituídos pelo software livre à medida que envelhecerem. ‘A opção é pelo melhor, independentemente de custo’, informa o gerente-geral de tecnologia, Luiz Agnelo Franciosi.

Como prova de confiança nos sistemas abertos, a Renner será pioneira na implantação de um sistema de controle de compras e estoques baseado em Linux. ‘Seremos os primeiros do mundo a utilizar a versão porque acreditamos na plataforma’, justifica o executivo. O sucesso da experiência da rede brasileira com os softwares livres já foi alvo de estudos da matriz, a norte-americana JC Penney, mas a opção não se repetiu por lá.

À medida que cresce o número de empresas que utilizam softwares abertos, aumenta a oferta de fornecedores desses sistemas. Gigantes mundiais de hardware e software como HP e IBM perceberam que não dá para ignorar essa expansão e incorporaram a plataforma às suas máquinas. ‘Praticamente toda a linha da HP roda Linux. ‘Mesmo que o cliente não vá utilizar essa solução, ele prefere a máquina que dê essa possibilidade de diversificação no futuro’, comenta o gerente de marketing para servidores da companhia, Jaison Patrocínio.

A situação se repete na IBM, onde todas as máquinas saem de fábrica habilitadas a rodar Linux. ‘O modelo de desenvolvimento e distribuição do software livre é um fato irreversível, uma força que ninguém pode ignorar’, afirma o gerente de tecnologias Linux da divisão de softwares da IBM Brasil, Tarcísio Lopes.

‘É um modelo de negócios que não se sustenta’, desafia Oliveira, da Microsoft, que questiona a possibilidade de se ganhar dinheiro com Linux. A dúvida decorre do fato de que todo aperfeiçoamento feito no programa deve ser passado adiante para que outros usuários conheçam a versão melhorada. ‘Quem paga por essa inovação, se ela não pode ser apropriada?’, pergunta o gerente da Microsoft, destacando que a líder mundial em programas de computadores gasta US$ 7 bilhões por ano em pesquisa e desenvolvimento.

Criado em 1991 por Torvalds, na época estudante de Ciência da Computação da Universidade de Helsinque, e tendo como mascote um pingüim, o Linux fez a alegria dos nerds, graças à possibilidade de acesso ao código-fonte. Em pouco tempo, despertou a atenção das empresas. Para evitar que alguém se apropriasse das melhorias e fizesse uma versão fechada, Torvalds criou uma licença especial de uso que proíbe que o código original ou qualquer modificação feita com base nele seja fechada.

No Brasil, Linux é sinônimo de Conectiva, empresa paranaense que lidera a venda de sistemas e serviços baseados em software livre no Brasil, com mais de 70% da base instalada no País, segundo dados do IDC. Fundada em 1995, ela conquistou como investidores o fundo de venture Latin Tech e o banco ABN Amro. Nos últimos quatro anos, a empresa vendeu mais de 100 mil programas, a maioria para o poder público, e vem treinando uma média de 15 mil profissionais por ano, de acordo com o diretor Rodrigo Stulzer.

A forte dependência das compras do governo derrubou o faturamento da Conectiva no ano passado em 30%. ‘O governo só gastou 7% do orçamento de tecnologia por conta do corte nos gastos de 2003’, explica Stulzer. Mais do que provar que o modelo de negócios do Linux funciona, a Conectiva precisa agora assegurar sustentação mesmo com encolhimento das compras oficiais e acirramento da concorrência das multinacionais.

O maior interesse das companhias privadas não serve apenas aos interesses da Conectiva. Ele reforça a posição do governo federal, defensor e estimulador da adoção dos softwares livres. ‘O que está em disputa é o futuro, não o presente’, diz Sérgio Amadeu, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), órgão subordinado à Casa Civil que tem a função de disseminar o software livre entre ministérios, empresas públicas e autarquias.

Ex-funcionário da prefeitura petista de São Paulo, Amadeu decidiu comprar uma guerra com os maiores fabricantes de sistemas operacionais fechados, a Microsoft principalmente. Para o presidente do ITI, o modelo de software proprietário inviabiliza a informatização do País, dada a necessidade de pagamento de licenças a empresas estrangeiras. ‘Um país pouco informatizado como o Brasil pagou US$ 1,1 bilhão em licenças de software em 2002. O valor só tende a subir’, diz. os gigantes do software. ‘É uma guerra do ponto de vista tecnológico’, afirma, enumerando China e Índia como aliados do Brasil na batalha para ‘libertar a Esplanada dos Ministérios da reserva de mercado do software proprietário’.

Na defesa do software livre, Amadeu não poupa críticas à Microsoft, a quem acusa de ‘prática de traficante’ por oferecer o sistema operacional Windows a alguns governos e prefeituras para a instalação em programas de inclusão digital. ‘Isso é presente de grego, uma forma de assegurar massa crítica para continuar aprisionando o País.’

A declaração causou evidente desconforto na Microsoft. ‘Não se deve subestimar a capacidade de decisão do usuário como se ele não tivesse livre-arbítrio no futuro’, rebate Oliveira. Já Lorenzo Madrid, diretor da Microsoft para o setor público e educação, se diz preocupado com o componente ideológico da decisão de governo. ‘Defendemos a competição baseada em técnica e preço.’

O governo promete incluir nos futuros editais de compra para os órgãos públicos a obrigatoriedade de que os sistemas sejam baseados em softwares livres, o que excluiria a Microsoft de um negócio no qual ela faturou R$ 55 milhões em 2003, ou 6% das vendas totais no País. ‘Queremos ser tratados com absoluta neutralidade’, afirma Madrid.

O apelo da gigante americana não comove Amadeu, que promete colocar mais pimenta na discussão. Até junho, o governo federal pretende lançar uma campanha publicitária de apoio ao software livre. Até o fim de 2004, quatro ministérios devem ter migrado seus servidores para o software aberto: Ciência e Tecnologia, Minas e Energia, Cultura e Relações Exteriores. Para Amadeu, este ano será decisivo para vencer ‘a estratégia do medo, da incerteza e da dúvida’, como ele classifica o modelo de negócios da Microsoft. O sucesso do software livre só o tempo vai provar, mas a briga com a gigante de Bill Gates será travada no presente.’



INTERNET & TECNOLOGIA
Cidade Biz

‘Gastos globais com tecnologia em 2004 devem crescer 8%’, Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 11/03/04

‘Os gastos das empresas com produtos de tecnologia deve ser melhor do que o esperado em 2004. A análise é do IDC.

Segundo Stephen Minton, diretor da IDC nos Estados Unidos, a previsão otimista foi feita com base em uma pesquisa recente com mil companhias norte-americanas. ‘Agora estamos prevendo um crescimento de 8% para o mercado de TI. Em dezembro, as estimativas eram de 5% de crescimento.’

Minton disse que as vendas corporativas de PCs, especialmente notebooks e servidores, e de equipamentos para redes estão entre os principais fatores para a consultoria rever suas estimativas para cima.

‘As respostas superaram nossas expectativas’, disse. Segundo ele, a recuperação nos gastos com tecnologia será maior nos Estados Unidos e na China, enquanto a Europa e o Japão terão crescimento reduzido.

Os participantes da pesquisa disseram que a recuperação dos lucros é principal razão para gastos maiores com informática. De acordo com o estudo, o upgrade de computadores é o foco de 30% dos usuários corporativos. Outros 27% disseram que vão investir em novos aplicativos e serviços.

A lista dos equipamentos desejados pelas companhias inclui micros e equipamentos de rede, aplicações de CRM e produtos para instalação de redes sem-fio. Os micros de mão, telefones celulares e impressoras foram as categorias que despertaram menos interesse entre os pesquisados.’

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‘Pesquisa revela que usuários de internet assistem menos TV’, Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 9/03/04

‘A internet vem ganhando território sobre a televisão no cotidiano de milhões de brasileiros. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Datanexus, entre novembro e dezembro de 2003 com uma amostra de cerca de 860 pessoas da Grande São Paulo, a média de pessoas que com internet em casa assistindo TV entre 6h e 23h59 era de 9,4%, enquanto o porcentual daqueles sem a rede instalada era de 12%.

Embora a diferença na média do dia pareça pequena, na comparação minuto-a-minuto, os resultados são mais expressivos. A diferenciação entre o fato de ter ou não acesso à internet em casa começa a ser notada a partir das 13h30, segundo o Datanexus, e se acentua no período da noite.

No horário nobre, entre 20h e 22h30, 22% das pessoas que não possuem acesso à web estão assistindo TV, contra apenas 15% dos moradores de residências com a rede instalada.

A renda também interfere no porcentual de tempo destinado à TV, segundo a pesquisa. Também durante o horário nobre, o porcentual de pessoas de classes A e B que possuem internet e estão vendo TV é de cerca de 14%. Para as pessoas da mesma classe que não têm acesso à rede, o índice aumenta para algo em torno de 18%, superior até mesmo ao registrado sobre a população geral (classes C, D e E – 15%).

Para pesquisadores, a interatividade e a liberdade é o grande motivo que leva alguns a preferirem web à TV. ‘As pessoas que aproveitam as vantagens da rede mundial são socialmente muito mais ativas e reduzem fortemente o consumo de TV’, afirma o pesquisador Jo Groebel, diretor do Instituto Europeu de Mídias.

O especialista reforça o comportamento brasileiro, com estudo divulgado recentemente na Alemanha, que derrubou o mito de que a internet leva ao isolamento social de seus usuários.

A pesquisa, que analisou 30.000 pessoas em 14 países, durante 3 anos, sustenta que a web não aprofunda as diferenças sociais e que não representa os perigos que seus críticos temem.’

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‘Internautas podem ter de pagar por cada e-mail enviado’, Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 9/03/04

‘Os internautas terão que pagar por cada e-mail enviado se as iniciativas da Microsoft e de outras empresas do ramo que visam a frear a propagação do spam (lixo eletrônico) continuarem prosperando.

O dinheiro gasto atualmente para enviar milhões de e-mails com ofertas relativas a produtos que alongam o pênis, que garantem a satisfação sexual e que apresentam oportunidades de trabalho para se tornar milionário em poucos dias são muito baixos, motivo pelo qual a Microsoft e algumas outras empresas propõe suas soluções.

Para que as caixas de correio não estejam abarrotadas com publicidade não desejada e inútil, elas sugerem, por exemplo, a criação de um ‘selo’ digital, que precisaria ser comprado e enviado em todas as mensagens eletrônicas, reproduzindo o que acontece com as cartas tradicionais.

Para Bill Gates, fundador da Microsoft, esta é definitivamente uma solução contra o spam, que já responde por mais da metade de todos os e-mails que circulam pela rede. Recentemente, a Microsoft revelou mais detalhes sobre seu projeto chamado Penny Black em referência ao selo que foi introduzido na Grã-Bretanha no século XIX, o primeiro método a obrigar o remetente a pagar em vez do destinatário.

Em lugar de pagar este selo com dinheiro, o projeto sugere que o remetente pague a franquia com os segundos que empregaria para resolver uma singela equação matemática. Embora as moléstias para os internautas sejam mínimas, alegam os pesquisadores da Microsoft, a fórmula causaria um grande transtorno aos propagadores de correio lixo ou ‘spammers’, que teriam que utilizar equipamentos adicionais para resolver as equações.

Outros projetos, como a CAM-RAM, criado por um pesquisador de Massachusetts, partem da mesma idéia. A Goodmail Systems, por sua vez, também criou para o Yahoo e outros provedores de e-mail um método para frear o spam que obrigaria os spammers a pagar um preço por cada e-mail enviado. Nesse caso, indica a Goodmail Systems, os internautas individuais e as companhias sem ânimo de lucro disporiam de um número de correios que poderiam ser enviados gratuitamente.

No entanto, em um momento no qual o e-mail é utilizado a torto e a direito e que está ganhando terreno sobre o telefone e o correio tradicional, muitos críticos consideram essas propostas uma heresia contrária ao espírito da Internet. As dúvidas vão se amontoando. Não está claro sobre onde iria parar o dinheiro arrecadado pelos e-mails nem quem cuidaria dessas contas. Muito menos quem cobraria das empresas.

Além disso, estão os problemas relativos à censura, à conversão de moeda e aos transtornos derivados da possibilidade de alguma grande companhia decidir gastar US$ 1 mil, por assim dizer, para enviar milhões de ‘spams’. Gates, por sua vez, insiste na viabilidade da proposta e recentemente assinalou que em dois anos o problema do spam estará resolvido graças a métodos que obrigarão os spammers a pagar.

O apoio do presidente da Microsoft poderia ser crucial para acabar com esta praga, não só porque com sua fortuna poderia comprar boa parte das companhias que importunam o internauta, mas porque a Microsoft é a dona dos gigantescos serviços de e-mail MSN e Hotmail.

A Microsoft já formou uma aliança com a América Online, a Earthlink e o Yahoo para explorar e coordenar uma estratégia anti-spam, e conta com apoio de especialistas como o editor da news.com, Charles Cooper, que acha que esta é a opção ‘menos ruim’. Para outros, como o comentarista do Mercury News Mike Langberg, não há um remédio mágico capaz de acabar com esta epidemia. Landberg, por sua vez, aposta por uma combinação de medidas, como leis mais duras e melhores filtros informáticos.’