Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Lamentações de um telespectador

Não vou aqui tentar expor aqui meu ponto de vista sobre as drogas. A compreensão e a discussão do fato seriam demais para a produção do Superpop. O programa de quinta-feira, 29/06, se mostrou uma mistura de Márcia Goldsmith com Linha Direta e apelos de propaganda política de partido desesperado com depoimentos da igreja universal.

Estava rodando de canais quando vi uma legenda na RedeTV: ‘Seu filho corre risco de morte’. Pensei: ‘Hã?’ Ai ela mudou e começou a piscar em vermelho: ‘não mude canal’. O que? A RedeTV seqüestrou meu filho e o resgate é eu aturar a Luciana Gimenez? É tudo por Ibope?

Por fim, depois de alguns minutos entendi que se tratava de algo que estava sendo colocado como uma reportagem. Um rapaz retratava seu desespero contra as drogas. As imagens eram tão bem ensaiadas, os gestos tão ‘naturais’, os efeitos tão dramáticos, que me remeteram rapidamente as histórias do lendário Fala Que Eu te Escuto.

A mãe dava depoimentos sobre o que tinha passado nos últimos anos para tentar ajudar o filho. O cenário era igual ao do Linha Direta. Por sinal acho que foi o Marcelo Rezende que dirigiu tudo. Lamentável. Uma senhora que parecia ser tão respeitável, íntegra, como topa uma coisa dessas? A situação esta tão ruim assim? Afinal, os cachês do Superpop não são nada tentadores.

Três artistas, famosos ou sei lá o que, duas mulheres e um homem, absolutamente desqualificados para falar sobre o assunto davam alguns pitacos vez ou outra, lembrando entrevistas ‘espontâneas’ de programas políticos. Todos puros e castos, afinal o mundo artístico e fashion é tão limpo quanto banheiro de rodoviária. Não me preocupei em saber o nome deles.

Por fim a apresentadora posava de Márcia Goldsmith no centro do palco, como uma juíza intocável. Espantoso o quanto ela se esforçava para tratar o assunto com seriedade. Impressionou-me também a repórter do programa, que fez caras, poses e bocas para tentar fazer tudo parecer uma reportagem jornalística. Ela até usava o mesmo penteado da Fátima Bernardes. Tão bonitinha, como se presta a este papel?

Queria deixar aqui registrado minha indignação com a RedeTV! e estendê-la a todas as outras emissoras abertas, que não tem competência para fazer uma programação que não me obrigue a perder cinco minutos da minha nobre vida vendo cenas tão lamentáveis como aquelas. Vou me culpar até o fim dos meus dias por não estar lendo um livro ou escutando musica naquele momento. Ter ido ao banheiro teria sido mais proveitoso.

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Jornalista