Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mostrar os maus sem esquecer os bons

O noticiário sobre violência, em especial na televisão, tem extrapolado os patamares do aceitável. Os espaços para registrar a violência encenam e repetem por intermináveis minutos tragédias individuais, catástrofes, agressões, mortes e mais mortes; violência, terremotos, enchentes, acidentes de trânsito e corrupção policial; desmandos e corrupção política… mais violência e mais desmandos.

Todo este volume de informação negativa é apresentado com detalhes e proximidade irreais. Por mais que tenhamos de reconhecer a onda de violência e desmandos, há de se entender também que a repercussão dos mesmos tem suplantado o que se poderia chamar de um jornalismo responsável. A espetacularização deste tipo de notícia, esta sim, é invenção de repórteres e produtores “espertos” que trabalham a venda do sensacionalismo. Um efeito colateral da busca da audiência, que deveria ser tratada com mais responsabilidade.

Repórteres e apresentadores se destacam muito mais pela presença em cena do que pela informação que transmitem ou relatam. Apresentam-se em visível encenação, onde a notícia é apenas o trilho que percorrem dentro de um contexto muito bem estudado, elaborado e produzido com o objetivo de cativar o ouvinte.

Buscam audiência sem preocupação com a informação em si e o seu entendimento. Assim, destilam preconceitos e arrogância, assustando o telespectador, relatando o perigo a rondar sua porta, mesmo com “exemplos” ocorridos a centenas de quilômetros de sua casa, ou mesmo de outras civilizações muito distantes.

Futuras gerações

De imediato, apresentam também a fácil e rápida solução: mais violência – “bandido bom é bandido morto”. Uma pobreza de raciocínio, atropelada por nova desgraça, que deixa o telespectador sem possibilidade de refletir, raciocinar e elaborar a sua própria opinião. Sem contar que… logo a seguir, vem mais uma estonteante novela com cenas inéditas de traição ou um “agradável” programa de auditório com histórias mirabolantes, seguido dos momentos mais íntimos do “real show da vida dos engaiolados em busca do sucesso”. Tudo pronto, mastigado, degustado.

O mais importante e mais completo meio de comunicação da atualidade, a televisão, cria modismos e altera comportamentos, mas não educa. E não é por falta de capacidade ou qualidade, mas sim pela ganância que prioriza o sensacionalismo irracional e comercial, tornando ainda mais louváveis as heroicas e raras ações positivas.

Precisamos mostrar a parte sombria da sociedade, sim, mas não podemos esquecer de nossas responsabilidades para com as futuras gerações: buscar, juntos, uma sociedade mais equilibrada e justa. E, em especial, uma sociedade mais racional e humana com olhos voltados para o futuro da humanidade.

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[Humberto Schvabe é jornalista, Curitiba, PR]