Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O extremo é um mito e ambiguidade é a regra

Hoje, numa tentativa de voltar ao mundo real do Brasil pós-carnaval, acabei lendo um texto muito interessante chamado ‘Bial não é imparcial’, reclamam dentro e fora da casa. E daí?

Sim, trata-se de um texto sobre o Big Brother Brasil, escrito pelo jornalista Mauricio Stycer. Pode parecer estranho comentar o assunto já que não assisto ao programa, porém 95% da minha timeline do Twitter o faz. Diante disso, é impossível ficar de fora. E o tema proposto por Stycer é muito interessante, especialmente levando isso um pouco mais à frente, sob a ótica do jornalismo.

É um fenômeno curioso. Bial construiu uma carreira como jornalista – primeiro, repórter dos noticiários da TV Globo, depois apresentador do Fantástico. Desde 2002 à frente do BBB, empresta ao programa a credibilidade que acumulou como jornalista, mas atua como profissional da área do entretenimento. Isso parece confundir o público e os candidatos, quando avaliam Bial sob a métrica utilizada para julgar jornalistas. Ele foi objetivo? Isento? Imparcial? Justo? (continue lendo)

Imparcialidade é subjetivo, especialmente quando falamos em mídia, comunicação. Subjetivo e impossível. Imparcialidade é mito: ela está em xeque a cada palavra escrita, imagem ou argumento escolhido no ato de repassar a informação. Para os adeptos da filosofia, é oito ou oitenta, ser imparcial é pura utopia: existe parcialidade, sim, a cada etapa.

Os brandos e os descarados

A eterna busca pela verdade, ou imparcialidade, descobre-se um mito. Podem-se ouvir os dois lados ou descobrir todas as facetas, mas a cobertura sempre será tendenciosa. O velho mito norte-americano vira pó quando se está editando uma matéria e escrevendo um texto. Cada escolha de palavra e cada vírgula pode ser usada de forma a atribuir sentidos diferentes… Ou seja, puxar sardinha mesmo. Não é preciso estar no mercado para descobrir isso. Basta a primeira aula na faculdade. (continue lendo).

É impossível não fazê-lo. É do ser humano, e não estratagema demoníaco de uma profissão. Ninguém é imparcial e estamos sempre tentando passar um ponto de vista e convencer o outro a acreditar nisso. Cada um tem a sua opinião, ainda que não a demonstre.

Juízes podem ter a simpatia por um réu ou uma causa antes do julgamento, mas não o demonstram, justamente esperando por algo que mude o processo ou o confirme. E não necessariamente a expõem em seu veredicto.

O assunto é mais sério quando falamos em mídia, em comunicação massiva. Em prol de um ângulo de um determinado assunto a ser abordado, há a redação de um texto, escolha de imagens e várias outras coisas… tudo para dar ao público maior compreensão do fato. Há os mais brandos e aqueles descarados.

Dúbio e subjetivo são difíceis de entender

Organizações de mídia, como jornais e emissoras de TV têm posições editoriais distintas – explícitas ou não – e podem refletir isso no repasse da informação, embora isso seja visível na maior parte do tempo sem que necessariamente prejudique a veracidade.

Confunde-se imparcialidade com verdade. O público age como se fossem sinônimos e qualquer espécie de argumento ao contrário seja coisa do demo: uma métrica cruel.

Extremismo por extremismo, se estamos falando em utopia, isso significa que é fantasia: irreal, inexistente. É apenas um conceito de uma imagem glamourosa vinda do jornalismo norte-americano, de onde, aliás, vem muito das modas que surgem por aqui, porém isso é assunto para depois. Outro post, quem sabe?

Dizer que ser imparcial é mito não é o mesmo que afirmar a mídia como manipuladora descarada e sem compromisso com a verdade (embora muitas possam ter esse mérito). O jornalismo precisa da verdade e de fatos que a comprovem, pois essa é a essência. Ouvir e expor os dois lados é obrigação porque a responsabilidade é enorme: o público precisa refletir sobre as informações e notícias que consome, inclusive desconfiar: até mesmo de fofoca de celebridades. É preciso critério.

Coisinha complicada, não? É, mas não é… Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Trocinho difícil.

Infelizmente, o dúbio e o subjetivo não são algo que todos possam entender.

******

Jornalista, São José do Barreiro, SP