Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os porta-vozes da mediocridade

Após sucessivas semanas de um longo e extenuante processo do mega-julgamento composto por um júri popular que impressiona, 26 milhões de telespectadores encerraram a 7ª edição do Big Brother Brasil, na terça-feira (3/4), com o veredicto final (de quem?) favorável a Diego, o ‘Alemão’.

Entre o êxtase e a loucura, o fato é que milhões de pessoas suspiraram com o fim de sua ansiedade e aflição, como que libertados de um cativeiro, pela vitória do escolhido. Os porta-vozes da mediocridade nos passaram a idéia de que vão sobreviver no pós-confinamento psicoemocional como (também) vencedores para, finalmente, se sentirem aliviados com o encerramento de um período que, virtualmente, os aprisionava.

Se há um argumento para a exaltação da mediocridade, isto é, para o enaltecimento da vulgaridade e da irrelevância de uma história artificialmente preparada, é que o significativo batalhão de votantes assim desejou se envolver e participar para ter parte na vitória, um mérito para qualificá-lo, a fim de igualar-se ao vencedor, afinal ninguém nesta vida quereria perder ou dar demonstrações de fracasso.

Esteiras do entorpecimento

Nesses tempos de Big Brother, em que milhões de pessoas são obrigadas a engolir uma programação qualquer, mesmo tendo à mão o controle remoto, já que a grande mídia não deixa de dar o recado sobre o assunto, a sociedade se vê a incorporar os sentimentos dos confinados, sentindo-se até um deles, e na obrigação de comentar e debater sobre quem deveria eliminar e quem deveria continuar na casa.

O canal do BBB tupiniquim faz novamente um arrastão e torna bem visível a mediocrização das pessoas, aprisionando-as em seus labirintos e alienando-as ainda mais na tentativa de fazer prevalecer suas iniciativas.

Não podemos descartar, no entanto, a validade do produto para sociólogos, psicólogos ou filósofos (e a quem possa interessar), que poderão fazer um estudo de caso ou uma releitura de processos como esse para o incremento da ciência. Todavia, as tolices e as paspalhices estão a raiar nos quintais do non sense.

Anestesiados, prostramos-nos diante de um ‘olho mágico’ a insinuar o que devemos ser, ter e fazer para, assim, conduzir-nos nas esteiras do entorpecimento.

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Jornalista, Cruzeiro, SP