Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Os prós e os contras da programação infantil

Assis Chateaubriand se encantou com a televisão Numa viagem que fez aos Estados Unidos. Resolveu trazê-la para o Brasil. A idéia não empolgou boa parte da sociedade que via com desconfiança o mais novo meio de comunicação. Mesmo sendo tachado de louco pela imprensa, ele trouxe a TV para o Brasil e no dia 18 de abril de 1950 a TV Tupi foi inaugurada em São Paulo.

Feita artesanalmente e com muito sacrifício no início, a TV, cujo aparelho era caro e por isso era um privilégio, tirou o ‘reinado’ do rádio, que durou duas décadas, e conquistou seu espaço devido ao uso da imagem, uma novidade e tanto.

Desde então virou alvo de debates intermináveis sobre sua influência na vida das pessoas, principalmente no desenvolvimento das crianças.

Programação prejudicial

Pobres e ricos possuem uma ‘caixa mágica’ em casa; esse meio de comunicação de massa influente alcança milhões de pessoas, não importando a classe social. É um lazer e pode tornar-se, muitas vezes, um vício. Com ela podemos viajar pelo mundo sem sair de casa, assistir a filmes sem pagar ingressos e nos mantermos informados de tudo que acontece ao nosso redor em uma fração de segundos. Vê-se nela uma fonte de informações fáceis que podem ser usadas como um forte instrumento para conscientizar e educar as pessoas.

Alguns pedagogos defendem a tese de que uma TV em sala de aula desperta o interesse de uma criança em aprender. Pode até ser. Aliás, deveria ser esse o papel da TV aberta, mas na prática isso não acontece. Programas de cunho educativo são exibidos pelos grandes canais em horários inacessíveis (muito cedo ou de madrugada) para a maioria da população e essas emissoras se limitam a exibir em horário nobre uma programação, muitas vezes, prejudicial à criança.

Brincadeiras de briga

A TV é usada, por alguns pais e babás, para entreter as crianças, para que estas os deixem em paz por algum tempo. Elas ficam encantadas com a imagem e chegam a ficar horas assistindo e admirando o universo mágico que a televisão oferece; chega a surtir mais efeito do que uma chupeta ou um brinquedo, por exemplo. Sem o policiamento dos pais, a TV passa a educar a criança, pois ela tem a necessidade de espelhar-se em alguém, espelho que normalmente seriam os pais, os quais, devido ao corre-corre do dia ou por desleixo, tornam-se ausentes; então ela toma como exemplo as atitudes e o comportamento de algum personagem fictício, seja ele de desenho animado ou novela, e passa a imitá-lo – normal, na infância.

Programas com o objetivo de educar. Assim deveria ser o modelo de programas voltados para o público infanto-juvenil. Infelizmente, esse modelo não é utilizado pelas principais emissoras, que exibem em qualquer horário, inclusive nas manhãs – quando geralmente mostram programas infantis –, cenas de violência, principalmente nos desenhos japoneses. Você acha que cenas violentas em desenhos animados não influenciam negativamente a garotada? Basta observar quando brincam com outras crianças e provavelmente você testemunhará brincadeiras de briga, por exemplo. Passando a imitar seus ídolos nos golpes, comportamento e até na fala.

TV é bom, com moderação

Se nas manhãs é assim, provavelmente os programas, filmes, seriados e novelas vespertinos e noturnos bombardeiam os telespectadores com cenas impróprias para crianças. Se os proprietários parecem não se importar com o controle das cenas, pois visam o lucro, acima de tudo, os únicos que poderiam evitar essa exposição infantil às cenas inadequadas seriam os pais, que muitas vezes não o fazem. Além da má influência no desenvolvimento das crianças, a televisão, quando utilizada sem controle, a deixa preguiçosa e a impede de desenvolver a criatividade, pois ela se acostuma a apenas receber tudo ‘mastigado’. Não cria, nem argumenta, pois passa a ver o produto pronto na sua frente. Não coopera para que a criança tome gosto pela leitura de livros, e futuramente de jornais, visto que ela se acostumará com a informação fácil, impedindo-a, inclusive, de desenvolver o hábito de fazer pesquisas bibliográficas. Até a comunicação com os pais é prejudicada – porque os próprios pais não se auto-controlam –, pois na hora livre preferem a televisão a conversar com os filhos.

Apesar desses pontos negativos que a TV nos mostra, existem aquelas emissoras (abertas ou fechadas) que dedicam a sua grade a programas de conteúdo educativo. A TV Cultura, por exemplo, é o ‘beija-flor que ajuda a apagar o incêndio da floresta’. Faz sua parte e, mesmo com índices de audiência baixos, é um canal que faz a diferença entre as grandes emissoras brasileiras. Seus programas infantis – premiados e elogiados por muitos pais e especialistas – são recomendáveis a qualquer criança, pois são educativos.

Enquanto as emissoras não se conscientizarem em estabelecer um horário para exibir certas cenas (obedecendo-o rigorosamente), os pais são quem pode impedir o contato de seus filhos com programas incompatíveis para o público infanto-juvenil. Conversar com eles sobre o assunto é muito importante. Agora não precisa necessariamente tomar uma decisão radical e tirar a TV da sua casa. Devem-se impor, apenas, limites na sua utilização, seja escolhendo um horário específico ou selecionando programas; dessa forma, você ensinará seu filho a se controlar desde cedo e também ele aprenderá que assistir televisão é bom, se for utilizada com moderação.

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Estudante de Jornalismo do Centro Universitário do Norte (Uninorte) Manaus, AM