Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Papel da imprensa não é fiscalizar o poder, diz Lula


Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 22 de outubro de 2009


 


LULA E A MÍDIA


Kennedy Alencar


‘Papel da imprensa não é fiscalizar o poder, é informar’


‘O presidente Lula disse que o papel da imprensa é ‘informar’, e não ‘fiscalizar’ o poder. ‘Para ser fiscal, tem o TCU, um monte de coisas.’ Ele falou de política externa e da violência no Rio.


FOLHA – Quando o Rio foi escolhido para sediar a Olimpíada de 2016, o sr. disse que simbolizava a entrada do Brasil no Primeiro Mundo. A derrubada de um helicóptero não mostra que seu discurso é irrealista?


LULA – Disse que o Brasil tinha conquistado sua cidadania internacional. E reafirmo. Foi um momento glorioso ter a maior votação na história das Olimpíadas. Não foram escondidos os problemas sociais do Rio.


FOLHA – O sr. assistiu ao filme ‘Lula, o Filho do Brasil’?


LULA – Não. Quero sentar com a minha família e ver.


FOLHA – Com financiamento de grandes empresários e ajuda das centrais sindicais na distribuição, não vira propaganda personalista?


LULA – Se prevalecer, não sei o que fazer. Vou entrar numa redoma de vidro, mandar cobrir e não apareço mais em lugar nenhum. Tem um livro público sobre a minha vida. O cidadão resolve fazer um filme. A única condição que impus foi não ter dinheiro público, e eu não quero que fale do governo. Do governo, só quando acabar.


FOLHA – Nos quase sete anos de governo, a segurança não melhorou. O secretário da Segurança do Rio diz que ‘o Rio precisa que o governo federal assuma a responsabilidade legal pelo combate à droga’.


LULA – O secretário é figura muito respeitada da Polícia Federal. Em momentos de medo, de insegurança, as pessoas falam qualquer coisa. Converse com o governador [Sérgio Cabral Filho] para ver a parceria que estamos construindo.


FOLHA – O sr. não teme a repercussão negativa entre os judeus do encontro com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?


LULA – Não estou preocupado com judeus nem com árabes. Estou preocupado com a relação do Estado brasileiro com o Estado iraniano. A gente não vai trazer o Irã para boas causas se a gente ficar encurralando ele na parede.


FOLHA – Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, completou um mês na embaixada brasileira fazendo política. Foi longe demais?


LULA – Só tem um exagero em Honduras. É o golpista.


FOLHA – O sr. diz que a imprensa internacional elogia o Brasil e a nacional puxa para baixo. Nos EUA, Obama apanha da imprensa, e é elogiado na imprensa internacional. Isso não acontece porque a imprensa nacional conhece o país melhor?


LULA – [Risos] Quisera Deus que fosse verdade. A nacional conhece melhor o país, até porque tem obrigação. Mas, às vezes, vejo comportamento de um setor da imprensa muito ideologizado. Sou amante da democracia e da liberdade de imprensa. A maior alegria que tenho é que leitores, ouvintes e telespectadores são os únicos censuradores que admito nos meios de comunicação. Cada um paga pelo que faz.


FOLHA – A imprensa fiscaliza o poder. O sr. não está incomodado com a imprensa cumprindo o seu papel?


LULA – Não incomoda.


FOLHA – O sr. disse que tem azia quando lê jornais.


LULA – Como presidente, nunca fico incomodado. Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar.


FOLHA – A imprensa não tem de ser fiscal do poder?


LULA – Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública. Essa informação pode ser de elogios, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos. A única coisa que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas nos editoriais.’


 


 


PROPAGANDA


Felipe Bächtold e Gustavo Hennemann


Verba indenizatória é usada para publicidade


‘A ‘divulgação de mandato’ é o item da verba indenizatória com o qual os congressistas mais gastam recursos. Dos mais de R$ 8 milhões de verba indenizatória usados em setembro por deputados federais e senadores, R$ 1,8 milhão foi destinado a esse tipo de pagamento -o equivalente a 23%.


Na Câmara, o segundo item com mais gastos no mês foi combustível (R$ 1,1 milhão), seguido de telefonia (R$ 1,08 milhão). A despesa com passagens aéreas, que gerou uma crise na Casa no início do ano, ficou em R$ 566 mil entre deputados.


Na lista, há ainda gastos com ‘alimentação do parlamentar’, ‘serviços postais’, ‘locação de carro’, ‘combustível’ e ‘assinatura de publicações’. Os dados, levantados pela Folha, são publicados nos sites da Câmara dos Deputados e do Senado.


A parte da verba destinada à ‘divulgação’ do mandato é usada pelos parlamentares para promover e divulgar o trabalho no Congresso. Na prática, o dinheiro é usado para produção de material em gráficas e para compra de espaço publicitário em rádios, jornais e até em sites nos Estados.


De acordo com norma publicada na Câmara neste ano, é vetado o uso ‘eleitoral’ da verba e proíbe-se qualquer gasto em divulgação nos seis meses que antecedem as eleições.


Nos mês passado, um site do Distrito Federal recebeu ao menos dez repasses de deputados federais, dentro da verba indenizatória. Os pagamentos variaram de R$ 200 a R$ 900.


A exemplo do programa de rádio ‘Voz do Brasil’, o site divulga declarações dos parlamentares sobre projetos no Congresso, mas em vídeo.


O site cobra pelo serviço. O responsável, Urbano Villela, diz que quem pretende ser candidato em 2010 já começou uma ‘propaganda indireta’. ‘Não tem como um político hoje pensar em se candidatar sem divulgar suas atividades’, diz.


‘Gasto atípico’


Em setembro, quem mais gastou a verba indenizatória com divulgação foi a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA). Foram R$ 39.900, pagos em única parcela a uma empresa descrita como gráfica e editora. Entre as despesas publicadas até agora pelo Senado, o maior gasto é do senador Efraim Morais (DEM-PB), com R$ 18 mil.


Elcione falou, por meio de sua assessoria, que usou a quantia para um informativo -mais de 100 mil exemplares- que divulga suas ‘ações’ no Congresso. Foi a única vez no ano que ela elaborou o material, segundo o gabinete.


O deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), que gastou R$ 34.950 em setembro, foi o segundo com mais gastos e diz que houve uma ‘excepcionalidade’ por causa da produção de uma revista, de 13 mil exemplares. A publicação divulga projetos de lei e obras no Paraná feitas com recursos de emendas apresentadas pelo deputado.


Efraim, por meio de sua assessoria, disse que a despesa de setembro foi ‘atípica’ devido à impressão de material para divulgação de suas atividades.’


 


 


IMPRENSA NA JUSTIÇA


TJ-DF rejeita novo recurso de jornal paulista


‘A 5ª Turma Cível do TJ-DF (Tribunal de Justiça do Distrito Federal) negou ontem o último recurso do jornal ‘O Estado de S. Paulo’ naquela corte, mantendo a proibição de divulgar notícias relativas à Operação Boi Barrica (rebatizada de Faktor), que envolve Fernando Sarney, filho do senador José Sarney.


Em julgamento a portas fechadas, o TJ manteve a decisão de setembro, que havia concluído que a competência para julgar o caso é da Justiça Federal do Maranhão, onde corre o processo sobre a operação da Polícia Federal.


O jornal pedia que o TJ reconsiderasse a posição inicial, mas os desembargadores reafirmaram sua decisão, mantendo a proibição e o envio dos autos à Justiça maranhense. O jornal ainda poderá recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Good choice’


‘Em editorial, o ‘Financial Times’ faz longa defesa da taxação em 2% da entrada de capital no Brasil. Começa dizendo que, ‘diferentemente da garota de Ipanema, o rebolado do real tem sido tudo menos gentil’, resultado de uma ‘paixão cega dos investidores estrangeiros -até que o governo disse basta’.


‘Apesar dos investidores ofendidos’, escreve o ‘FT’, ‘foi uma boa escolha’.


Afirma que ela se justifica, não para conter a valorização do real, e sim diante da ‘causa profunda’ que é a entrada de capital em crescente intensidade. Falando em ‘atração fatal’, diz que ‘este amor pelo samba pode ser coisa boa demais: tem os ingredientes de uma bolha emergente clássica’.


Avalia que ‘o governo é sábio em se preocupar antes que seja tarde’. Que ‘implantou sua política com sensibilidade, a taxa é modesta e trata os investidores com honestidade, cobrando na entrada e não quando eles quiserem o dinheiro de volta’.


Em suma, ‘o Brasil bem-sucedido terá de viver com um real forte’, o que a taxação não muda, ‘mas ajuda a manter a tarefa administrável’.


JUROS ALTOS ATRAEM


No Brasil Econômico, 18h40, ‘Copom mantém juros inalterados em 8,75%’. Pouco antes, na Bloomberg, ‘Real sobe com aposta de que juros altos vão atrair investidores’, apesar da taxação de 2%.


Na TV Bloomberg original, ‘os investidores olham a alta taxa de juros e você realmente pode ver a diferença, 8,75%, Europa 1%, EUA 0%. É outra razão por que os investidores são atraídos ao real’.


FRUSTRANTE, MAS


A CNBC debateu a taxação e se ‘outros países vão seguir o Brasil’. De Tim Seymour, da Seygem Asset Management: ‘Para ‘hedge funds’ como o nosso, foi frustrante’. Mas com Jogos, Copa ‘e sobretudo sua economia’ o país é ‘fantástico’. Sugeriu comprar, ‘mas não pule na Petrobras amanhã’, espere ‘alguns dias’.


A BOLHA


O ‘Wall Street Journal’ destacou as ‘palavras de medo de uma nova bolha’ ouvidas num evento do Fed de San Francisco, sobre os emergentes. ‘Graças aos baixos juros nas economias desenvolvidas’, basta ‘emprestar dólares, usá-los para comprar, digamos, no Brasil, e você faz dinheiro (bem, você podia, até o Brasil pôr controles limitando a entrada de capitais)’.


Em outro texto, noticiou a ‘reação global ao declínio do dólar’, com o alerta de que ‘o Brasil não está sozinho’. Canadá e França ameaçam intervenção.


JARDIM PAULISTA


No ‘WSJ’, ‘o Citigroup cancelou reforma em sua sede brasileira que incluía um terraço chamado pelos funcionários de jardim suspenso’, ressaltando ‘sua situação delicada desde que obteve US$ 45 bi do governo americano’


RIO LÁ E CÁ


E o ‘JN’, de novo, destacou que o ‘NYT’ noticiou que a violência no Rio ‘agita o Brasil’.


Já o tabloide inglês ‘Daily Mirror’ deu longa coluna de Oliver Holt, que veio ao Brasil, com o título ‘A violência que eu vi não mudou minha visão de que os Jogos no Rio são uma das maiores ideias do COI’.’


 


 


CORRESPONDENTE


Folha passa a ter repórter em Jerusalém


‘A Folha passa a contar, a partir da edição de hoje, com a presença de um correspondente fixo em Jerusalém para cobrir as notícias referentes ao Oriente Médio.


O jornalista Marcelo Ninio está na Folha desde 2005, onde já foi repórter de Mundo. De 2007 a 2009, foi correspondente do jornal em Genebra. Mestre em relações internacionais, cobre o tema desde 1995.


O posto em Jerusalém vem se somar à rede de correspondentes do jornal, que conta com jornalistas em Pequim, Genebra, Washington, Nova York, Buenos Aires e Caracas, além de colaboradores em outras cidades do mundo.’


 


 


TELEVISÃO


Rodrigo Russo


TVs defendem legalidade do questionado sistema digital


‘Em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Federal, anteontem, continuou clara a divisão desigual de setores sobre o decreto de 2006 que cria o sistema brasileiro de TV digital.


Para o setor liderado pela Abert (associação de emissoras de rádio e TV, comandada, na prática, pela Globo) e pelo Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital, com maior apoio dos deputados, os canais analógicos não precisam de nova concessão para as suas operações digitais.


Já movimentos sociais, minoritários, reclamam que as emissoras querem garantir o mesmo status que têm com a TV aberta analógica.


A questão foi levada pelo partido PSOL ao Supremo Tribunal Federal, que decidirá se o decreto é inconstitucional. A Procuradoria-Geral da República defendeu a necessidade de nova concessão para a transmissão em sinal digital e disse que o modelo proposto reforça o oligopólio atual. O presidente do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital, Frederico Nogueira,diz que o decreto é constitucional, pois atrela o serviço de TV digital, considerado uma mudança técnica, à concessão já existente para a TV analógica.


Bráulio Ribeiro, da ONG Intervozes, defende que a TV digital é, ‘na melhor das hipóteses’, um novo conjunto de serviços somados ao antigo sistema de TV aberta.


A deputada Luiza Erundina (PSB/SP) entende que o ‘Parlamento tem sido omisso e conivente’ na discussão, por conta do número de parlamentares concessionários de rádio e TV.


RIBEIRÃO DO TEMPO


A nova novela de Marcílio Moraes, que deve estrearem fevereiro de 2010naRecord, já tem cenário definido. ‘Ribeirão do Tempo’,nome da novela,é também uma cidade fictícia criada pelo autor com arquitetura colonial, próxima de uma área verde e de um rio onde haverá prática de esportes radicais, com destaque para rafting e paraquedismo.


GRAVANDO


Maria Padilha começou nesta semana a gravar sua participação em’ Cinquentinha’, série da Globo escrita por Aguinaldo Silva. O ator Cássio Reis, que contracenará em algumas cenas com sua mulher, Danielle Winits, também começa a participar das gravações.


GRANDES BRASILEIROS


A TV Cultura estreia neste domingo a série ‘Grandes Personagens Brasileiros’. Com 15 programetes de dois minutos de duração cada, a série homenageia personalidades que marcaram a história cultural do país em diversas áreas, como Cartola, Clarice Lispector, Eva Wilmae Tomie Ohtake.


DESLIZE


No depoimento final do capítulo de segunda-feira de ‘Viver a Vida’, novela da Globo, os letreiros ao fundo destacaram ‘mantenho meu peso a dois anos’, em vez de ‘há’. No ‘Portal da Superação’, site que hospeda os depoimentos em versão estendida, não é possível assistir à versão que foi ao ar-o que pode ser feito nos demais.’


 


 


Mônica Bergamo


Nota zero


‘José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que foi vice-presidente da Globo até 1997 e ajudou a criar o ‘padrão Globo de qualidade’, fez críticas à emissora -e também às concorrentes – em sua aula na Casa do Saber do Rio, há alguns dias. ‘O conteúdo da Globo está exaurido. Quando eu e Walter Clark começamos lá, tínhamos 30 anos e experimentamos formatos, coisas novas. Não vejo mais isso. Nem SBT, nem Record, nem Globo inovam.’ Uma aluna perguntou se ele trabalharia na Record ou no SBT. ‘Tem gente que pendura as chuteiras. Eu vendi as minhas.’ Atualmente, Boni é sócio da TV Vanguarda, afiliada da Globo.’


 


 


Thiago Ney


‘High School Musical’ inspira série cômica


‘Bola dentro do canal Disney, o filme ‘High School Musical’ inspira uma série cômica da Fox que se tornou uma boa surpresa da TV americana. ‘Glee’ passeia entre o musical e a comédia com alguns toques dramáticos. A trama foca o coral de uma escola de Ohio, nos EUA, formado basicamente por ‘losers’ -basicamente, estudantes não estão entre os mais populares do colégio.


Não à toa, o piloto foi ao ar logo após um episódio de ‘American Idol’ (o programa de calouros que é campeão de audiência nos EUA), em 19 de maio. Mas ‘Glee’ só começou a ser exibido regularmente a partir de 9 de setembro. A Fox afirma que o seriado estreia no Brasil em 4 de novembro.


Repetindo a fórmula usada com sucesso em ‘High School Musical’, que alavanca produtos diversos (discos, espetáculo musical), os produtores de ‘Glee’ vendem a série em outros formatos: as canções apresentadas no programa são comercializadas no iTunes e já está programado o lançamento de um disco.


Em ‘Glee’, Matthew Morrison interpreta Will Schuester, professor que abre inscrições para o coral da escola. Entre os que se inscrevem, estão alunos como Mercedes Jones, que se comporta como uma diva e dá pitis quando é escalada para fazer vocais de apoio; Tina, que adora cortar cabelo de bonecas; e Rachel, cujos pais são gays e que vive sendo ‘presenteada’ pelas colegas com brincadeiras como levar copos de refrigerante na cara.


Perto de séries como ‘Lost’, ‘FlashForward’, ‘24’, ‘CSI’, ‘Heroes’ e tantas outras, o argumento de ‘Glee’ parece ingênuo demais -e, para alguns, é o que alimenta o apelo popular do programa.


‘Você olha na televisão e vê apenas séries de ficção científica, policiais, médicas. ‘Glee’ é diferente, é escapismo puro’, disse Ryan Murphy, um dos criadores ao lado de Ian Brennan e Brad Falchuk. Exibido às quartas-feiras, com uma hora de duração, ‘Glee’ vem conseguindo audiência média na TV americana. É assistida por cerca de 7,6 milhões de pessoas nos EUA -o programa mais popular daquele país, ‘American Idol’, chega a ser visto por 31 milhões.


GLEE


Quando: a partir de 4/11


Onde: na Fox


Classificação: não informada’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 22 de outubro de 2009


 


TWITTER


Silvia Amorim


Microdesabafo na rede


‘O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), recorreu ao seu microblog na rede social Twitter para fazer um desabafo sobre seu futuro político. ‘Estou cansado de NÃO responder à pergunta sobre a Presidência’, escreveu, na madrugada de ontem. O tucano deixou no ar a possibilidade de fazer um anúncio de candidatura pela internet.


Serra disputa com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, a vaga de presidenciável tucano. Nos últimos dias tem crescido a pressão dentro e fora do PSDB para que ele antecipe a definição se será ou não candidato à Presidência da República.


‘Governador, uma pergunta que o senhor deve estar cansado de responder: é ou não é candidato à Presidência pelo PSDB?’, perguntou ontem, pelo Twitter, Rafael Costa Rocha. Depois do desabafo, Serra disse ao internauta que ainda ‘é cedo’ para tomar decisão. ‘Talvez responda primeiro no Twitter. Quem sabe…’’


 


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


‘Estado’ vai ao STJ para derrubar censura


‘Os advogados de O Estado de S.Paulo vão recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a censura imposta pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que há 83 dias impede a publicação de reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).


Ontem, ao julgar mais um recurso do jornal, os desembargadores que integram a 5ª Turma do TJ-DF confirmaram a decisão tomada por eles no dia 30 de setembro, quando, além de manter a censura, determinaram a transferência do processo para a Justiça Federal do Maranhão – terra da família Sarney. O julgamento foi sigiloso. Apenas os advogados do Estado puderam assisti-lo.


Esgotadas as possibilidades de recorrer no TJ, a defesa do Estado deverá protocolar um recurso a ser julgado pelo STJ, que será encaminhado após a publicação da decisão tomada ontem pelos desembargadores.


Em 30 de setembro, a 5ª Turma havia concluído que o tribunal não era mais competente para julgar o caso, já que as primeiras decisões foram tomadas por um juiz da Justiça Federal do Maranhão. Apesar disso, a 5ª Turma manteve a liminar que impôs a censura.


A mordaça foi determinada no final de julho pelo desembargador do TJ-DF, Dácio Vieira. Reportagem publicada em O Estado de S.Paulo no mesmo mês mostrou que Vieira era do convívio social da família Sarney e do ex-diretor-geral do Senado, Agaciel Maia.


Em setembro, a pedido dos advogados do Estado, Vieira foi afastado do processo pelo Conselho Especial do tribunal, composto por 17 desembargadores. Na ocasião, eles concluíram que Vieira não era mais isento para continuar a relatar o caso.


ISENÇÃO


A perda de isenção ocorreu, segundo o conselho, no momento em que Vieira atribuiu ao jornal e à mídia ‘ação orquestrada mediante acirrada campanha com o nítido propósito de intimidação’.


O pedido de censura ao Estado foi feito pelo empresário Fernando Sarney, responsável pela direção dos negócios da família, que estão sob investigação da PF há quase três anos.


A Operação Boi Barrica, depois desdobrada em cinco inquéritos, mapeou transações financeiras suspeitas das empresas do grupo da família, detectadas às vésperas da eleição de 2006.


Em julho, ao final de quase seis horas de depoimento na Superintendência da PF do Maranhão, em São Luís, Fernando Sarney foi indiciado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica.’


 


 


TECNOLOGIA


Brad Stone, The New York Times


E-book muda mercado de livros nos EUA


‘As editoras têm vivido ultimamente um período tempestuoso. As vendas estão em baixa este ano, apesar de grandes lançamentos como os livros de Dan Brown e Edward M. Kennedy. Walmart e Amazon estão numa acirrada briga pela liderança no varejo online, criando novas preocupações entre editores e autores em relação aos lucros minguantes.


Mas já há quem aponte um aumento na leitura habitual das pessoas, em decorrência dos livros eletrônicos, ou e-books. A Amazon, por exemplo, diz que os proprietários do Kindle, e-book da empresa, compram agora 3 vezes mais livros do que antes de adquirirem o dispositivo. ‘Veremos proporções de crescimento da indústria muito diferentes como resultado da conveniência desse tipo de leitura’, disse Jeff Bezos, diretor executivo da Amazon.


A Sony, fabricante da família de dispositivos Reader, diz que seus consumidores de e-books fazem o download de uma média de 8 livros mensais a partir da biblioteca online da empresa. É um número consideravelmente maior do que os aproximadamente 6,7 livros comprados pelo americano médio durante todo o ano de 2008, segundo pesquisas.


O mercado de dispositivos eletrônicos de leitura tem, além disso, um novo concorrente: o Nook, apresentado na terça feira pela livraria Barnes & Noble. O dispositivo será vendido por US$ 259.


Por si mesmos, os números da venda de livros eletrônicos registrados por Amazon e Sony podem não indicar um interesse renovado na leitura. Proprietários do Kindle podem ter simplesmente transferido todas as suas compras de livros para a Amazon. Donos de dispositivos leitores de e-books costumam estar entre os maiores consumidores de livros, e, portanto, seu comportamento pode não ser indicativo do mercado mais amplo.


Ainda assim, fãs dos aparelhos dizem que a conveniência de usar os e-books, ao oferecem a sensação de controle e personalização que os consumidores passaram a esperar de todos os seus dispositivos eletrônicos, criou um maior interesse nos livros.


Outros consumidores elogiam os muitos benefícios dos aparelhos. Com suas telas cinzas e brancas e o tamanho ajustável de suas letras, o Kindle, da Amazon, e o Reader, da Sony, oferecem uma experiência bastante satisfatória com pouca distração decorrente de outras tecnologias.


Mas algumas editoras não parecem muito dispostas a aceitar a ideia de que o mercado dos livros possa viver uma grande retomada. ‘Levando em consideração o fato de que as pessoas têm à disposição a internet, jogos de futebol transmitidos quase 24 horas por dia, incontáveis programas de TV e filmes, será mesmo que as pessoas vão ler mais simplesmente porque o texto estará numa tela?’, disse John Sargeant, diretor da editora Macmillan. ‘Duvido que isto aconteça.’’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Primo do Saia Justa


‘Imagine um debate entre Lucimara Parisi, ex-diretora do Faustão, Lily Ribeiro (sra. Lair Ribeiro), Daniela Franco (sra. Moacyr Franco), a socialite Beth Szafir e Clica Voight, apresentadora de um programa chamado Clube do Champagne. Trata-se do Clube da TPM, produção independente que deve entrar na rádio Metropolitana esta semana e promete estrear na TV ainda este mês.


Primo de terceiro grau do Saia Justa, do GNT, mais divertido e menos pretensioso, Clube da TPM traz as moçoilas em questão, que são amigas na vida real, em debates sobre temas nada inéditos: sexo no primeiro encontro, garotos de programa, violência contra mulher, inveja, etc. O ineditismo fica por conta dos comentários. Há também reportagens feitas em eventos e em viagens.


Produção do grupo Panamby, Clube da TPM já tem cerca de 40 programas gravados e é esse material que logo chega à Rádio Metropolitana. Na TV, o contrato por compra de horário, segundo o Grupo Panamby, seria fechado com a Bandeirantes na tarde de ontem.


Procurada, a emissora, por sua vez, negou interesse no projeto.’


 


 


 


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Estado de Minas


Quinta-feira, 22 de outubro de 2009


 


LIVRO


José Aloise Bahia


Lowcura Criativa


‘Partiu o jornalista, ficcionista e o poeta. Permanece a sua obra. Uma lowcura criativa em versos, prosas, colunas, mensagens, visualidades, entrevistas e coparticipações diversas em sites, blogs e a excepcional novela fragmentada e vertiginosa Todos os Cachorros São Azuis (Rio de Janeiro, RJ, 7Letras, 2008, 80 Páginas, R$ 25,00), um dos 50 finalistas do Prêmio Portugal Telecom. Rodrigo de Souza Leão, 43 anos, falecido em dois de julho de 2009, de ataque cardíaco, na sua cidade natal, Rio de Janeiro, deixa-nos um verdadeiro tratado pessoal sobre a esquizofrenia. Realiza saltos inimagináveis na linguagem. Tal qual um saci, restaura na página em branco o deslimite do silêncio no grito onírico e realista, os opostos, pulando fronteiras da imaginação. Legitimou seu rastro. Muito além, como bem observa, de maneira inteligente, Sérgio Medeiros: ‘Decerto é um diário e um libelo contra a doença mental, aparentado com o consagrado romance Hospício é Deus, de Maura Lopes Cançado, porém é também um relato policial desconcertante, como o Molloy, de Samuel Beckett’.


Para o autor não existiam barreiras. Na novela, observamos a quebra de várias, através do humor fino, aforismos desatinados e delírios cromáticos. A poesia e a prosa movem-se nas entrelinhas e cortes do tempo. São flashbacks e trailers cinematográficos em edição constante. Na degradação dos intervalos, rumina hibridismos, tensão do pensamento; no gesto intruso, entre remédios, a língua multicolorida. Uma película fantasmagórica. E na sua consequência, em meio à inconsequência, o autorretrato radical lembra Paul Celan: ‘Fala a verdade quem fala sombras’. A sombra é o hospício. A verdade, a literatura. Novamente, Sérgio Medeiros vai ao ponto, reluz o lugar e o percurso de toda uma época: ‘Ali, entre numerosas citações literárias, cenas de filmes e telenovelas, clichês, grosserias e delicadezas, deparamos, num dos pontos altos do livro, com uma alegoria carnavalesca carioca: o hospício é a modernidade ‘louca’. A América Latina de hoje. Baudelaire, um dos personagens mais sombrios deste texto, assiste, mas ‘não deixa seu olhar fundar a modernidade’ — já estamos na pós-modernidade terceiro-mundista’.


Macunaíma de passagem… Aliás, Macunaíma cibernético, fruto de duas gerações de escritores em diálogo contínuo com outras, em detrimento daqueles que acham que a prosa poética dos Cachorros não progride na forma e conteúdo. É justamente nesses quesitos que ocorrem a reencarnação gramatical e sintática, sublimação e transcendência possíveis, de autor e obra. Fusão das personas confessionais. Pedaços daquilo que foi e é. A estrutura narrativa, com apurado senso estilístico, é a própria condição mental do autor. Caldeirão louvável de fábulas, ficções científicas, depoimentos sustentados na representação degenerativa da realidade. Nas palavras do escritor em entrevista concedida à Juliana Krapp, meses antes do seu falecimento: ‘O meu processo foi o de tentar aproximar a prosa da esquizofrenia. Para isso, resolvi achegar a prosa à poesia. A linguagem natural de um louco é, digamos, um pouco poética. Quando um poeta diz, por exemplo ‘Guardei o Sol em sete partes’, usa uma linguagem específica. O Sol não tem partes e nem pode ser guardado. Só num poema isso é possível. Por isso, o livro pode ser poético. Foi isso que busquei. Fiquei possuído por esse espírito e acho que não errei de todo. Queria também ser ágil e um pouco diferente, sem ser chato. Já existem muitos escritores herméticos e chatos, não queria ser mais um em que o hermetismo fosse o principal da narrativa. Mas nunca facilitei o texto. Usei também muito a repetição. Repetia que tinha engolido um chip, que engolira um grilo e outras coisas mais. Só não havia engolido espadas. Aliás, nem gosto muito de ver mágica e magia’.


REAL E FICÇÃO


Num mundo em que as fronteiras do real e ficção tornam-se cada vez mais tênues, pela revolução tecnológica, alarga-se o pensamento e o conhecimento de novas linguagens, rompendo limites, a tentativa, firmamento e a aceitação das alteridades — principalmente, as virtuais. De maneira semelhante, tentar por aproximação, restabelecer uma relação construtiva com os diferentes, no caso do livro, a prosa e a poesia como o habitat atonal da loucura (mesmo com a repetição de frases ao longo da narração), sua simbologia intrínseca e o cubículo, a imagem iluminada do verbo, explode em neologismos. ‘Todog são várias forças numa só. (…) Todog é a linguagem que todos os animais falam’. Reveladoras de uma liberdade do eu, sempre esbarrando em alguém para ser livre, transitando do conhecido para o desconhecido. Cumplicidade ao extremo com a falta, a busca desenfreada de correlações, num espaço cada vez menos delicado.


Como no trecho: ‘Tudo ficou dourado. O céu dourado. O Cristo dourado. A ambulância dourada. As enfermeiras douradas tocando-me com suas mãos douradas. Tudo ficou azul: o bem-te-vi azul, a rosa azul, a caneta bic azul, os trogloditas dos enfermeiros. Tudo ficou amarelo. Foi quando vi Rimbaud tentando se enforcar com a gravata de Maiakovski e não deixei. Pra que isso, Rimbaud? Deixa que detestem a gente. Deixa que joguem a gente num pulgueiro. Deixa que a vida entre agora pelos poros. Não se mate, irmão. Se você morrer, não sei o que será de mim. Penso em você pensando em mim. Rimbaud, tudo vai ficar da cor que quiser. Aqui não dá pra ver o mar. Mas você vai sair daqui. Tudo ficou verde da cor dos olhos do meu irmão e da cor-do-mar. Do mar. Rimbaud ficou feliz e resolveu não se matar. Tudo ficou Van Gogh. A luz das coisas foi modificada. Enfim, me deram uns óculos. Mas com os óculos eu só via as pessoas por dentro’.


Desde a publicação dos seus primeiros versos, no começo da década de 1990, Rodrigo de Souza Leão sempre manteve uma grande ligação com o universo literário do Brasil. A partir do seu convívio virtual com autores dos mais distintos segmentos, de Norte a Sul, desenvolveu como poucos um intenso trabalho de aglutinar pessoas e ideias em suas pesquisas. Aceitou o desafio de expor a sua condição humana, de se lançar no mundo da literatura. De construir uma passagem memorável. Sua produção compulsiva e visceral merece ser reunida, catalogada e publicada na forma de uma antologia. Um reflexo cristalino no espelho da contemporaneidade.


* José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista, escritor, pesquisador, ensaísta e colecionador de artes plásticas. Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de Pavios Curtos (Belo Horizonte: MG, Anomelivros, 2004). Participa da antologia O Achamento de Portugal (Lisboa: Portugal, Fundação Camões e Belo Horizonte: MG, Anomelivros, 2005), dos livros Pequenos Milagres e Outras Histórias (Belo Horizonte: MG, Grupo Galpão, Editoras Autêntica e PUC-Minas, 2007) e Folhas Verdes (Belo Horizonte: MG, Edições A Tela e o Texto, FALE/UFMG, 2008). josealoise@terra.com.br’


 


 


 


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