Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Portanova teve medo de
morrer como Tim Lopes


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 16 de agosto de 2006


JORNALISTA SEQÜESTRADO
Vinicius Abbate


Repórter temeu morrer como Tim Lopes


‘O repórter da TV Globo Guilherme Portanova, que passou cerca de 41 horas seqüestrado pelo PCC em São Paulo, disse ontem que teve medo de ser torturado como o jornalista Tim Lopes -morto por traficantes no Rio, em 2002.


Lopes, também funcionário da Globo, fazia uma reportagem sobre um baile funk onde haveria consumo de drogas e sexo explícito.


Capturado, ele foi ‘julgado’ e condenado à morte pelos traficantes. Passou por uma sessão de tortura e foi queimado ainda vivo dentro de pneus.


Portanova, que foi libertado no início da madrugada de segunda, concedeu entrevista à Folha, por celular, de um restaurante em Porto Alegre, onde estava com amigos.


FOLHA – Em que momento os sequestradores se identificaram como sendo do PCC?


GUILHERME PORTANOVA – Quando entrei no carro eles se identificaram como integrantes do PCC e disseram que eu faria um favor, não iriam me machucar.


FOLHA – Não fizeram nenhum tipo de ameaça pessoal?


PORTANOVA – Não, sempre tranqüilos, sempre dizendo que não iam me agredir, mas que as exigências deveriam ser cumpridas. Uma vez não cumpridas, aí minha vida estaria em risco. A pressão estava na situação em si: na história do capuz, no fato de eu estar amarrado, de estar numa favela, num lugar desconhecido. Isso é de intimidar qualquer um.


FOLHA – Eles pareciam preparados para a situação?


PORTANOVA – Sim. Se eu desse um grito, se eu desmaiasse, eles não iriam se apavorar.


FOLHA – Qual foi o momento mais difícil do cativeiro?


PORTANOVA – Fiquei preocupado em três momentos: quando começaram a sugerir a história do Tim Lopes, no primeiro cativeiro [ele passou por três]. Depois eu tive medo que pudesse ser torturado, sofrer algum tipo de morte violenta, como ser queimado ou enterrado vivo. O terceiro momento foi de pânico puro, total. Eu pedi para ser executado, se essa fosse a vontade deles.


FOLHA – Você fez esse pedido?


PORTANOVA – E não foi por uma questão de coragem, de bravura. Eu negociei a execução porque eu estava em pânico puro, medo total de que fosse uma morte lenta. Eu ficava muito tempo em silêncio e muito pouco tempo conversando com eles. No silêncio eu pensava em como minimizar a possibilidade de uma morte dolorosa.


FOLHA – O que você pediu?


PORTANOVA – Eu chamei um deles e disse que queria um acordo: você é homem, está defendendo uma idéia, eu também sou homem, faço meu trabalho, queria que você fizesse o seguinte, que se comprometesse em me dar uma morte honrada. Eu disse: quero que minha morte seja feita com capuz na cabeça e uma bala só. Não foi por heroísmo, foi por pânico com a imagem do Tim Lopes, pela sugestão que vinha à minha cabeça. E por questão de preservação da saúde mental: eu precisava de alguma garantia de que não fosse sofrer.’


André Caramante


Polícia procura cativeiros de jornalista na região em torno do zoológico de SP


‘O repórter da Rede Globo Guilherme de Azevedo Portanova, 30, deu uma pista aos policiais da DAS (Divisão Anti-Seqüestro) que tentam prender os homens que o mantiveram em três cativeiros diferentes, entre a manhã de sábado e a noite de domingo: em um dos locais, os criminosos foram assustados por um macaco.


Segundo Portanova, enquanto era mantido amarrado em uma árvore, os criminosos, ao ouvirem barulhos vindos da mata, entraram em pânico, achando que era a polícia. Depois, descobriram tratar-se de um macaco. Pelo tempo gasto para chegar ao cativeiro e pelo último sinal emitido pelo rádio usado por Portanova, recebido por uma antena na divisa entre São Paulo e Diadema (ABC), a polícia tenta localizar um dos cativeiros perto do zoológico da cidade e também do parque do Estado.’


Elio Gaspari


Quantos seqüestros compram este espaço?


‘HOJE O GOVERNO dos Estados Unidos não negocia com bandidos. Ponto. Em 1969, quando uma dúzia de jovens brasileiros seqüestraram o embaixador americano Charles Burke Elbrick, o presidente Richard Nixon estava noutra. Solicitou ao governo brasileiro que tomasse ‘todas as medidas, repito, todas as medidas’ para salvar a vida do diplomata. A ditadura permitiu a transmissão de um manifesto e libertou 15 presos políticos. Entre a posição de 1969 e a de hoje passou-se não só o tempo, mas acumulou-se experiência.


Diante do seqüestro do repórter Guilherme Portanova e do técnico Alexandre Calado pela bandidagem paulista, sem a pressão do acontecimento inesperado, as empresas de comunicação brasileiras estão diante de um problema institucional. Com calma, trata-se de responder à seguinte pergunta: ocorrendo o seqüestro de jornalista deve-se dar voz aos bandidos?


No limite, uma quadrilha poderia seqüestrar o signatário numa terça-feira para obter a publicação de um manifesto neste espaço, na quarta? Exagerando: quantos jornalistas em cativeiro seriam necessários para garantir a uma quadrilha o espaço de uma coluna diária?


A melhor resposta é o regime de tolerância zero. A bandidagem saberá, antecipadamente, que as empresas, seguindo uma norma geral, não transformarão seu espaço em numerário de resgate. Uma política de concessões pode custar mais caro em vidas, pois não há como especular onde fica o limite da exigência dos bandidos.


No caso de seqüestro de diplomatas e aviões, as negociações dos anos 70 tornaram-se um estímulo, enquanto a tolerância zero dos 80 mostrou-se solução eficaz. Há precedentes que contrariam alguns aspectos dessa argumentação. Em 1995, o ‘New York Times’ e o ‘Washington Post’, aconselhados pelo FBI, cederam a uma ameaça e publicaram um imenso e delirante manifesto do terrorista Unabomber. Não havia uma ameaça direta e se buscava também ampliar a investigação. A iniciativa influiu para a captura do bandido, um ano depois.


Num regime de tolerância zero, perdem os jornalistas, pois correm o risco de serem mortos por conta de uma extorsão contra as empresas onde trabalham. Algo como seqüestrar o padeiro para extorquir uma distribuição de bisnagas ao dono da padaria.


Havendo esse novo risco, as empresas de comunicação deveriam anunciar que assinarão contratos de seguro de vida para todos os empregados, do porteiro ao diretor. Cada funcionário teria uma cobertura relacionada com o tamanho do perigo a que é exposto pela empresa.


Os grandes jornais americanos mandam repórteres para áreas de risco com seguro proporcional ao tamanho da encrenca. Se uma especialização profissional traz mais perigos que outra, a cobertura desse risco deve ser contratada entre os jornalistas e as empresas para as quais trabalham. Fica entendido que acompanhar regularmente o trabalho de repressão ao tráfico e ao crime organizado não é um serviço semelhante ao da cobertura da chegada do papa a Aparecida. Pode-se concluir que a profissão de jornalista ficou mais perigosa. Verdade. Melhor lidar com essa situação do que fingir que ela não aconteceu.


Os jornalistas pareciam blindados diante da crise da segurança pública. O seqüestro de Portanova e Calado mostrou que a bandidagem cortou mais uma fatia do salame. Isso aumenta o tamanho do problema mas também ajuda na busca da solução. Quanto mais gente se der conta de que ou há segurança para todos ou não há para ninguém, melhor.’


Marcelo Coelho


Nasce um partido político


‘AINDA BEM que, no vídeo do PCC exibido pela Globo, o rapaz encapuzado acabou confundindo as sílabas do texto e falou em ‘ilusionismo’ quando deveria ter lido ‘iluminismo’.


Não fosse essa ‘falha de locução’, o absurdo de toda a cena estaria consumado. Teríamos, finalmente, um paradoxo revelador: os princípios dos direitos humanos, da tolerância, da liberdade, sendo defendidos por uma organização de bandidos. Escrevo e já vou me corrigindo.


Será que isso é novidade? Quando se pensa no que Ceausescu e Stálin já teceram de louvores à paz, à justiça e ao progresso, para nada dizer de Médici e Pinochet defendendo a democracia e a liberdade, a divulgação do manifesto do PCC reduz um bocado o seu poder de escândalo.


Não deixa de ser terrível admitir que, ao pé da letra, muito do que os seqüestradores de Guilherme Portanova disseram é correto e verdadeiro. Presos tratados como animais; condições praticamente inexistentes de ressocialização; espancamentos e insegurança generalizada dentro dos presídios: ninguém ignora que o quadro é esse mesmo, colocando o Brasil, nesse aspecto, fora de qualquer coisa que mereça minimamente o nome de civilização.


Os regimes totalitários do século 20 ensinaram, sem dúvida, que tão importante quanto ‘o que se diz’ é saber ‘quem diz’. Idéias absolutamente razoáveis e corretas se tornam sinistras, dependendo de quem as enuncia.


O modelo, entretanto, era o de uma progressiva degradação da utopia para um Estado de mera fachada cínica, na qual ninguém mais acredita, a encobrir regimes entregues à pura criminalidade de Estado. O caminho, no caso do PCC, é inverso. A organização começa criminosa e se ‘politiza’ depois, revestindo suas atividades com declarações de princípio e manifestos de cunho pretensamente universal.


O ‘mercado das idéias’ se acha disponível para quem quiser; um criminoso pode hoje em dia citar Beccaria e Michel Foucault do mesmo modo que compra um tênis de grife. O apartheid social persiste e tem na criminalidade assustadora um de seus mais clássicos efeitos.


Mas o apartheid cultural, se podemos dizer assim, diminui a olhos vistos, pelo menos no que diz respeito à elite do tráfico que é também uma elite administrativa e econômica.


Verdade que o rapaz do vídeo não parecia estar entendendo nada do que lia. Mas quem escreveu tinha uma estratégia determinada. Vai-se configurando um futuro em que PCC será sigla de partido político, e é significativo o fato de que o seqüestro de Portanova tenha ocorrido depois de que a Globo vinha se recusando a declinar o nome do grupo: atribui os atentados, e o próprio seqüestro, a ‘organizações criminosas’, sem dar publicidade à sigla.


Idéias, programas, princípios prontos para usar, adquiridos e formulados rapidamente por especialistas no ramo. Uma sigla, uma marca, de fácil memorização. Um horário conseguido gratuitamente na TV. Um líder carismático. Uma burocracia estável de colaboradores e advogados. Uma militância disciplinada: os criminosos se politizam.


Enquanto isso, os políticos se criminalizam. O escândalo dos sanguessugas mostra com clareza que, mais do que se entregar a um grande programa de conquista de poder, ou de manutenção de determinado sistema social, parcela importante dos políticos se dedica a um varejo de ilegalidades, bicando verbas de uma ambulância ali, de uma empresa de ônibus acolá, sem recorrer a nenhum discurso nobilitador como o agora adotado pelo PCC.


Mas então é o fim do mundo, reagirá o leitor. Acho que não. Com a divulgação do vídeo, a situação atinge um novo patamar. Ataques a agências bancárias, incêndios de ônibus na periferia, bombas em prédios públicos e -é duro dizer, mas é verdade- o assassinato de policiais não foram suficientes para que os donos do poder se sentissem realmente atingidos pela situação.


Agora, a coisa muda. Atingir a Globo e ameaçar, virtualmente, o próprio sistema político são atitudes mais amplas do que uma seqüência de ataques isolados, afinal incorporados à rotina da população. A questão exige medidas de grande impacto. Quais? Não é preciso ser do PCC para saber que o fim de um sistema carcerário ‘falido e desumano’, como diz o manifesto deles, é prioridade absoluta.


PS: No artigo da semana passada, comentei um anúncio do shopping Iguatemi, pensando que, ao lado do pai, na foto, havia um menino; era menina.’


ELEIÇÕES 2006
Editorial


Nova fase


‘COM a exibição do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, tem início nesta semana uma nova etapa no calendário político deste ano. Até o momento, os candidatos à Presidência da República limitaram-se a apresentar seus currículos, a envergar o figurino de pessoas simples e acessíveis e, quando muito, a estabelecer uma genérica carta de intenções.


A cautela é praxe em início de campanha. Os formatos estão sendo testados. As estratégias devem tornar-se nítidas à medida que estejam claros os apelos mais influentes sobre o eleitor. A permanecerem estáveis as pesquisas de intenção de voto, que dão vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno, o cenário mais provável é, de um lado, o endurecimento das invectivas do candidato Geraldo Alckmin sobre a administração petista e, de outro, a súbita insistência do presidente no subterfúgio da reforma política e do caráter ‘sistêmico’ da corrupção.


Espera-se que os formuladores dos programas dos partidos atenuem a tendência à espetacularização verificada nos últimos anos e afinem seus dotes publicitários em razão do debate informativo e responsável. O contraste vigoroso de propostas, a exposição sistemática dos flancos considerados frágeis do adversário, o questionamento incisivo no campo da ética, a avaliação de legados administrativos, todos esses elementos fazem parte de uma campanha desejável para o aprimoramento da democracia.


A vida íntima de adversários deve ficar de lado, sem esquecer, porém, que a esfera de privacidade de um homem público é mais restrita do que a de um cidadão que não pleiteia posto eletivo.


O melhor é que o lado propositivo se sobressaia. Mas é importante, também, que os candidatos levem em conta os limites cada vez mais restritos dos orçamentos públicos. Para aplicar recursos em um projeto ‘novo’, é sempre necessário tirá-los de um programa ‘velho’. Do contrário, o sacado será o contribuinte. Após fura-filas e outras marquetagens do gênero, ficou muito mais difícil iludir o eleitor, escaldado, com conversa fiada embalada em truques de imagem.’


Sergio Costa


O dia da marmota


‘RIO DE JANEIRO – Senhoras e senhores, bem-vindos à versão tupiniquim do dia da marmota. Com o início do horário eleitoral gratuito, estamos todos presos por um feitiço do tempo que, tal a sessão da tarde estrelada por Bill Murray e Andie MacDowell, fará com que um mesmo dia se repita indefinidamente -ao menos na tela da TV.


Pode ser implicância, vá lá, mas alguém poderia explicar qual a razão do horário obrigatório? Aqui mesmo na Folha, ontem, marqueteiros afirmavam que a TV não interfere na disputa e que grandes mudanças de votos costumam acontecer mais em função de notícias do que de programas eleitorais. Eles apenas ganham alguma utilidade ao repicar acontecidos.


Sem fatos novos, só quem aposta na chatice eletrônica para virar o jogo é o tucano. Ele acredita em seu poder de sedução, no marketing, nos ataques a Lula e em Papai Noel para conquistar uns 30 milhões de votos em seis semanas. O agora Geraldo insistirá em tentar falar ao coração das massas, franzindo a testa e escandindo as sílabas para vender ‘com-pe-tên-cia’. Desde que longe do PCC.


Heloísa Helena terá 1min11s no almoço e no jantar, dia sim, dia não, com os candidatos do PSOL, na tentativa de se transformar de radical em mãezona para o público. Vai disputar a atenção das famílias com o ‘passa a batata’ à mesa e comentários sobre a malévola Marta da novela. Quem piscar, dança.


E Lula? A tirar pelo primeiro dia, aí vem de novo a história de vida do migrante nordestino que chegou lá, como se sua trajetória lhe assegurasse o direito de continuar no timão da política econômica de resultados, iniciada por seus antecessores. Haja superávit!


De aspirantes a deputados, seus sambinhas e jingles, melhor se abster. Até a marmota é mais eloqüente ao anunciar o fim do inverno.’


Michele Oliveira


Lula e Alckmin estréiam na TV com fórmulas parecidas


‘No primeiro dia de propaganda eleitoral na TV, os dois principais candidatos à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), apresentaram ontem à noite programas muito semelhantes na forma, no tom e nos conteúdos veiculados.


Os dois presidenciáveis privilegiaram mostrar suas biografias e realizações na estréia na TV. Em seguida, vieram os discursos em estúdio e o final com um jingle de ritmo nordestino.


As duas falas promoveram o Bolsa-Família, programa de transferência de renda do governo federal, e prometeram governar para os pobres.


Enquanto o petista repetiu a propaganda que tinha exibido na hora do almoço, o tucano preferiu mudar e mostrou um programa mais parecido com o de Lula. Incluiu um jingle, forma como o presidente encerrou, e fez um discurso em estúdio diferente. Seu marqueteiro é o jornalista Luiz Gonzalez.


Alckmin, que apareceu antes de Lula, destacou seus ‘30 anos de vida pública, uma história limpa’. Falou da ‘família simples’, da carreira política, do trabalho ao lado do governador Mario Covas, morto em 2001. Mostrou suas realizações no Estado de São Paulo.


À noite, as críticas ao mensalão e à corrupção foram substituídas por um discurso contra os juros altos. Também incluiu sua proposta para segurança -a de integrar as polícias.


O programa de Lula, por último, teve a mesma estrutura. Começou com imagens de obras para depois contar sua biografia. Tanto à tarde como à noite, destacou sua viagem ‘em cima do pau-de-arara’. O marqueteiro João Santana é o responsável pela TV.


Quando falou, citou indicadores econômicos, prometeu educação de qualidade e disse que pretende ‘cuidar ainda mais dos pobres’, tom adotado seguido por Alckmin à noite.


Entre os que têm menos tempo, Heloísa Helena, do PSOL, falou de mensalão e contou sua biografia. Cristovam Buarque (PDT) começou homenageando Leonel Brizola (1922-2004) e falou do seu único assunto: educação.


Já Luciano Bivar (PSL) usou todo o seu tempo para atacar a imprensa. José Maria Eymael (PSDC) exibiu, à tarde, em suas legendas dois erros de português: ‘empobresse’ e ‘obcessão’. À noite, somente a primeira palavra foi corrigida.’


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Alckmin critica mensalão; Lula culpa sistema


‘No programa da tarde, Geraldo Alckmin e Luiz Inácio Lula da Silva comentaram, cada um com a sua visão, os escândalos de corrupção.


Enquanto Alckmin prometeu combater a corrupção e o mensalão, Lula tentou generalizar, pondo a culpa em todo o sistema político.


‘O Brasil tem pressa. Não dá mais para o nosso país perder tempo com tanta denúncia de corrupção, com mensalão, com discurso, com erros e mais erros’, disse Alckmin à tarde.


Logo depois, foi a vez de Lula mencionar a crise política e dizer que irá promover uma reforma política. ‘Não se engane: a crise ética que se abateu sobre o país é a crise de todo o sistema político e não apenas de alguns partidos ou de determinadas pessoas. Os que cometeram erros precisam ser punidos.’ Dizendo estar com a ‘consciência tranqüila’, Lula pediu votos.


Sem atacar no horário eleitoral, o tucano adotou tática diferente nas inserções ao longo da programação. Em uma delas, o governo é chamado de ‘decepção’ e ‘papelão’, e um jingle traz a letra: ‘Para essa gente, meu voto, eu não dou, não’.’


Marcela Campos


Petistas evitam mencionar o mensalão no horário político


‘O candidato a deputado federal Valdemar Costa Neto (PL-SP), que renunciou ao mandato no ano passado, após ser citado pelo deputado cassado Roberto Jefferson no mensalão, foi o único dos envolvidos no escândalo a fazer um mea-culpa em cadeia nacional, ontem, em sua primeira aparição no horário eleitoral gratuito na TV.


O ex-ministro da Fazenda e candidato a deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) e a deputada Angela Guadagnin (PT-SP) não mencionaram o tema.


Valdemar fez outra confissão sobre o recebimento de dinheiro: ‘Errei e só me restavam dois caminhos: abandonar a vida pública ou ficar, reconhecer o erro e começar tudo de novo’.


À época, ele admitiu ter sacado R$ 1,25 milhão de conta de empresa de Marcos Valério para saldar dívidas da coligação PT-PL em 2002. Antes de ser processado por quebra de decoro, renunciou para não sofrer cassação -que o impediria de se candidatar por oito anos.


Já Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Valério, aproveitou a exposição proporcionada pelo mensalão para se lançar candidata a deputada federal por SP pelo PMDB.


Palocci, envolvido em vários escândalos (propina mensal quando prefeito de Ribeirão Preto, caixa dois na campanha de 2002 de Lula), falou sobre economia e evitou o ‘caso do caseiro’, episódio da violação do sigilo bancário de Francenildo Costa que levou à sua queda.


‘Saúde sempre foi minha prioridade’, disse na TV Guadagnin, a ex-integrante do conselho que sempre pedia vista nos processos de cassação para atrasar o trâmite e beneficiar aliados. Ao comemorar a absolvição de João Magno (PT), ela dançou na Câmara e ficou conhecida como a deputada da ‘dança da pizza’.


Antes e depois


Com poucos segundos para dizer a que vieram, muitos candidatos tentam estabelecer identificação com o eleitor pelo ‘nome de guerra’, como Rodinei da Cohab e Rosa do INSS. Outros usam rimas como estratégia (‘Paulete, 2307’) e números simbólicos (‘Bispo Gê, 2512, lembre do Natal’).


Deputado mais votado da história com 1,57 milhão de votos em 2002, Enéas Carneiro (Prona-SP), candidato à reeleição, mostrou sua foto com barba e explicou: ‘Tive uma doença gravíssima (…). Perdi minha barba, mas, com ajuda de Deus, estou vivo’. De camisa listrada e gravata xadrez, o apresentador, ator e candidato a deputado federal Clodovil Hernandez (PTC-SP), prometeu com fala mansa e pausada: ‘Brasília nunca mais será a mesma’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Mais cedo


‘Fátima Bernardes avisava nos intervalos, sorrindo, que ‘o ‘JN’ a partir de hoje começa mais cedo’.


Era o horário eleitoral invadindo o cotidiano dos brasileiros. O primeiro dia, tarde e noite quase iguais, não ajudou em nada a diminuir a aversão do eleitor. Na descrição da Folha Online, ‘candidatos contam histórias de vida’. No iG, ‘reforçam humildade’.


O cientista político Rubens Figueiredo avaliou, no UOL, que neste início os programas ‘são mornos’ mesmo. Depois, com as pesquisas, vai saber.


Mas vale notar que, ao menos em SP, os comerciais dos candidatos tucanos a deputado estadual já foram fortes. A inserção abordou dinheiro na cueca etc. com aparente ‘inspiração’ nos ovos-e-tomates da MTV. Sem, claro, a passagem que iguala oposição e governo.


VEZ POR OUTRA


Uma indicação da aversão geral ao horário eleitoral foi o anúncio, por Ricardo Noblat, de que só vai opinar sobre os programas ‘vez por outra’. Nos três dias semanais de horário presidencial, a análise do blog será de colaboradora. E Fernando Rodrigues nem seguiu ao vivo. Depois postou:


– Como toda pessoa normal, estava almoçando. De volta ao mundo virtual, fui me informar. Incrível a lerdeza dessa turma. Os sites de Alckmin e Heloísa não oferecem download. Já o petista permite, mas é um catatau de 13Mb.


TEMA COADJUVANTE


Josias de Souza persistiu e postou sobre o programa, que achou ‘soft’, voltado a ‘afagar o eleitor nordestino’ -região cujos programas ele depois destacou. Corrupção foi ‘tema coadjuvante’ na estréia.


Também o Blog do Jefferson estreou ontem dando atenção ao horário eleitoral. Considerou Heloísa Helena, que diz ser sua candidata, ‘a única a atacar Lula’, e notou que ‘nenhum comentou a crise na segurança’. Registre-se que o blog está sendo assinado não por Roberto Jefferson, mas ‘por Equipe do Blog’.


ESPANTO


O blog de humor Kibe Loco! saudou ‘a hora do espanto’. E Tutty Vasques brincou que ‘líderes do PCC já falam em Horário Marginal Gratuito’


O GIGANTE PARALISADO


No dizer do ‘Bom Dia Brasil’, ‘pegou de surpresa’. A greve dos metroviários causou uma ‘terça-feira caótica’, segundo a Jovem Pan. Na manchete do ‘JN’, ‘O gigante paralisado: greve no metrô de SP entope ruas de carros’.


Para além dos blogs engajados, não se viu exploração eleitoral do fato. A exemplo do PCC, que sumiu da agenda.


BANHO DE REALIDADE


O ‘Guardian’ anunciou ontem com destaque o ‘caos na nacionalização boliviana depois que o dinheiro acabou’.


E reproduziu uma análise do ‘Valor’, intitulada ‘Banho de realidade’ -dizendo dos ‘sinais de que, passada a embriaguez da nacionalização, começou agora a ressaca’.


GUERRA DE PALAVRAS


‘Wall Street Journal’ e ‘Financial Times’ também deram os problemas no vizinho. O primeiro na linha do ‘Guardian’. O segundo avançando no dia, sob o título ‘Bolívia e Brasil aceleram a guerra de palavras’ -com a ameaça de um ministro boliviano, ontem, de levar o caso à Justiça, se não houver um acordo.


CANUDOS E BIODIESEL


O francês ‘Le Monde’, que nunca escondeu suas simpatias no Brasil, publicou longa reportagem intitulada, na tradução do UOL, ‘Febre do biodiesel toma conta do Brasil’:


– Depois da febre da cana-de-açúcar, do ouro, do algodão e do café, o Brasil vive agora a febre do biodiesel.


Lula falou, em tom de campanha, mas a atração é a declaração de uma moradora da ‘agro-aldeia de Canudos’:


– Temos o poço de petróleo que todo mundo sonha ter no seu jardim -e, além disso, é uma jazida inesgotável.


ESCLARECIMENTO


Circula na internet e-mail anti-semita que se apresenta como escrito por mim. Não é.’


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Coluna ‘Toda Mídia’ estréia hoje blog na Folha Online


‘Começa hoje no site Folha Online o blog ‘Toda Mídia Eleições’, que será dedicado especificamente à campanha política e à cobertura feita pela mídia. Escrita pelo jornalista Nelson de Sá, a nova página poderá ser acessada pelo endereço todamidia.folha.blog.uol.com.br.


Na internet, Sá, 45, vai fazer o que chama de ‘filtro’ do excesso de informação disponível nos diferentes meios: jornais, TV, rádio, internet.


O trabalho é similar ao que faz na coluna ‘Toda Mídia’, que assina há dois anos. Antes, escreveu por dez anos, com interrupções, a coluna ‘No Ar’, dedicada à cobertura de rádio e TV. Há 20 anos na Folha, Sá foi também editor da Ilustrada e crítico de teatro.


‘Toda Mídia’ foi criada com o objetivo, entre outros, de acompanhar os próprios blogs. Em sua página, o jornalista pretende explorar recursos on-line de áudio e vídeo. O blog dará espaço aos comentários dos internautas.


A coluna ‘Toda Mídia’ continua a ser publicada de segunda a sexta na Folha.’


INTERNET
Juliano Barreto


Ladrões da internet imitam estrutura da máfia siciliana


‘Invadir servidores e tirar sites do ar para ganhar fama no submundo digital é coisa do passado. A motivação dos invasores atuais é lucrar, e existe uma estrutura criminosa organizada para cada etapa dos roubos on-line. O poder dos bandidos que operam via internet é tamanho que provoca medo no mundo corporativo.


Indicadores do 11º relatório de cibercrime do FBI (www.gocsi.com) mostram que a ocorrência de todos os tipos de ataques caiu nos últimos doze meses. O número de denúncias, porém, aumentou apenas cerca de 5% em três anos.


‘As empresas têm medo de assumir publicamente que foram vítimas de ataques e gerar publicidade negativa com isso’, explica o agente especial do FBI Thomas Grasso.


Mesmo com essa dificuldade na apuração do relatório, cibercrimes com motivação financeira representam uma parte substancial dos ataques.


Somados, os ataques de acesso não-autorizado, com 32%, o roubo de informações e as fraudes financeiras, ambos com 9%, ficariam em segundo lugar na lista de problemas que causam mais prejuízos -perdendo apenas para os vírus.


Máfia


A combinação de várias técnicas de invasão dá sustentação para os carders, quadrilhas que usam números de cartões de crédito roubados para lucrar.


De acordo com o FBI, esses grupos geralmente têm sede em países do leste europeu e usam uma hierarquia semelhante à das máfias sicilianas, com um chefão, secretários, soldados e aspirantes.


Cada um tem uma habilidade especial e vende o fruto de seus crimes para um ‘superior’. As investigações deram conta de que os grupos usavam fóruns on-line, como o CarderPlanet e o CarderPortal, contratavam falsificadores para criar cartões reais com os números roubados e lavavam o dinheiro obtido em sites de aposta.


No mercado paralelo, os números de cartão de crédito são vendidos em lotes que custam entre US$ 40 e US$ 100.’


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Falta de leis dificulta punições


‘Prender quem comete delitos via internet não é tão difícil. O problema maior, pelo menos nos EUA, é julgar qual é a pena mais adequada para cada infração. Assim como acontece no Brasil, as leis atuais não prevêem punições específicas para os crimes modernos. É preciso enquadrar os casos de acordo com as leis atuais, o que nem sempre é o ideal.


‘Um dos maiores problemas para punir os golpistas é a falta de precedentes’, afirmou o major do Exército dos EUA Robert Clark, que trabalha no Information Operations Command, uma divisão que combate o cibercrime.


Clark, que é advogado, explicou que, por falta de uma classificação adequada, alguns criminosos recebem tratamento especial, como se fossem profissionais qualificados, como médicos ou engenheiros. ‘Preciso explicar muito bem as coisas. Geralmente, os advogados têm o conhecimento igual ao de uma criança na terceira série. Eles vão defender seus clientes perante a um juiz que tem o conhecimento de uma criança do maternal’, resume.


As limitações não impedem a lei de funcionar. Durante os últimos 12 meses, alguns casos resolvidos fizeram história.


Jeanson Ancheta, que controlava uma rede de PCs invadidos com mais de 40 mil máquinas, foi condenado a cinco anos de prisão e Scott Levine, que roubou dados de empresas, foi condenado a oito anos. Ambos são norte-americanos’


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Etiquetas de radiofreqüência usadas como RG digital podem ser clonadas


‘Nem as etiquetas de identificação por radiofreqüência (RFID) escaparam da inventividade dos hackers da Defcon. As pequenas peças, que podem ser usadas para rastrear produtos, pessoas e veículos, também são vulneráveis a códigos maliciosos e à falsificação.


No primeiro caso, o ataque não tem como alvo a própria etiqueta RFID. A meta é confundir os leitores e transmissores que lidam com as informações de cada produto. A pesquisadora Melaine Rieback (www.rfidvirus.org), da Vrije Universiteit, da Holanda, demonstrou como enganar os receptores com um aparelho criado nos laboratórios de sua universidade.


Emitindo sinais falsos, o transmissor RFID é capaz de criar ‘falsos positivos’, adicionando informações inexistentes ao controlador de produtos, e ‘falsos negativos’, apagando dados. Rieback e sua equipe desenvolvem um mecanismo de defesa, o RFID Guardian.


Clone


Além das intervenções no controle de produtos etiquetados com a tecnologia RFID, o problema da privacidade também foi discutido.


O especialista Lukas Grunwald, que trabalha para a empresa de consultoria de segurança alemã DN-Systems, mostrou que é possível clonar identidades digitais que usam as etiquetas com radiofreqüência.


Graças a brechas de segurança e ao soft RFDump, Grunwald conseguiu usar um chip sem dados para criar uma cópia perfeita de um documento de identificação RFID semelhante aos e-passports, que o governo dos EUA e de alguns países da Europa planejam distribuir como reforço para a segurança de aeroportos e de fronteiras.’


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Do cabelo verde ao crachá do FBI é a trajetória hacker


‘Imaginar que hacker é sinônimo de garoto adolescente vestido de preto e com óculos com lentes grossas é uma exercício de nostalgia. A visão de Hollywood do perito em computadores, com cabelos coloridos e óculos extravagantes, é ainda mais equivocada.


Na 14ª edição da Defcon, encontrar o estereótipo clássico do viciado em informática foi uma missão difícil.


A profunda mudança do perfil dos especialistas em segurança digital foi até tema de palestra, apresentada pelo PhD de justiça criminal da Universidade da Carolina do Norte, Thomas Holt. Os hackers amadureceram e, mesmo os mais jovens, têm empregos e nível educacional avançado. Cerca de 20% do público da Defcon trabalham para alguma agência governamental, 26% têm um curso superior e mais de 50% possuem uma certificação profissional. ‘Dizer que hacker é bandido é um grande erro’, analisa Holt. ‘Nenhum outro grupo é tão empenhado em melhorar as tecnologias que os cercam. Não vejo traficantes de crack discutindo melhorias em sua rede de distribuição’, conclui.


A agenda da Defcon acompanhou esse amadurecimento. Na primeira metade dos anos 90, grupos como o cDc (Cult of Dead Cow) e o L0pht lançavam programas do tipo cavalo-de-tróia e davam palestras sobre como invadir sistemas. Hoje, os grupos mais influentes, como o Church of WiFi e o Shmoo, falam sobre brechas de segurança e programas que provam conceitos teóricos.


Holt afirma que hoje o que existe é a terceira geração dos hackers, que acumula conhecimentos mais rapidamente que seus antecessores, os precursores ‘hackers de garagem’, dos anos 70 e 80, e os hackers que surgiram junto com a popularização da internet, nos anos 90.


A lenda


Graças a uma reportagem de uma agência internacional de notícias, em meados dos anos 90, os participantes da Defcon têm uma relação de indiferença e de raiva com a imprensa.


Ainda na onda de popularização do termo ‘hacker’, causado pelo filme ‘Hackers’ (1995) e pela prisão de Kevin Mitnick, um repórter deu mais destaque para os penteados dos participantes do que para as palestras e descobertas da conferência.


Nos corredores da Defcon, essa história ficou conhecida como a ‘reportagem do cabelo verde’ e é relembrada a cada vez que alguém fala em jornalistas ou em imprensa.’


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Golpe pode enganar vítima por telefone


‘Até quem não tem computador e não acessa a internet poderá ser vítima de hackers sem escrúpulos. Com a ajuda da tecnologia VoIP, que transmite voz por meio da estrutura da rede mundial, os golpistas podem armar esquemas automáticos para interagir com clientes de uma empresa, enganá-los e registrar os seus dados pessoais digitados no telefone.


Batizada de VoIP phishing, a técnica ainda habita o campo teórico e não tem registros reais de uso. Isso não deverá continuar por muito tempo. Todos os elementos para realizar o golpe já estão ao alcance dos estelionatários, começando pela matéria-prima principal -os números de telefones das vítimas- e passando pelos servidores para realizar e para encaminhar ligações.


Não são raros os casos de empresas que têm seu banco de dados roubados por invasores virtuais, e sobram opções de programas e de serviços de VoIP por preços acessíveis.


De acordo com a apresentação do consultor de telefonia Teli Brown, na Defcon, a operação criminosa pode ser acobertada por mecanismos de conexão indireta (servidores proxy) e, depois, redirecionada para a linha original de atendimento da empresa. Tão difícil de perceber para a empresa quanto para o cliente. Para demonstrar o VoIP phishing, Brown usou o telefone celular de um espectador para fazer uma ligação para um número controlado pelo programa Wamu phish.


Com mensagens gravadas por uma voz feminina, o soft pede ao usuário que disque sua senha do banco e do cartão de crédito e, no final da operação, reproduz uma mensagem de agradecimento.’


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Correio eletrônico indesejado é base para cibercrimes


‘Os especialistas ouvidos pela Folha durante a Defcon fizeram coro ao escolher o spam como o maior vilão da internet. De acordo com eles, as mensagens não solicitadas são as maiores responsáveis pela disseminação de vírus e de golpes, motivam a pilhagem on-line de empresas e ameaçam a segurança dos telefones celulares.


‘Parecia só um problema irritante, mas é muito grave’, avaliou o agente especial do FBI Thomas Grasso, que afirmou que o lixo eletrônico é a base de sustentação de duas das maiores causas de prejuízos na rede: os vírus e as invasões. Em enquete promovida pelo FBI, os 5.000 especialistas entrevistados relataram perdas de US$ 15 milhões com vírus e de US$ 10 milhões com invasões. No caso do VoIP phishing, o spam tem papel decisivo. ‘O bandido pode aplicar golpes menos arriscados espalhando um número falso via spam’, explica Teli Brown.


Soluções


Para combater o spam, grupos como The Spamhaus Project (www.spamhaus.org) e SpamCop.net pedem ajuda aos usuários, reunindo listas de mensagens indesejadas e filtros para servidores SMTP -que enviam os e-mails.’


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Mensagem multimídia abre celular para invasores e vírus


‘Celulares que podem acessar arquivos on-line também têm um recurso nada conveniente: receber vírus e invasores.


Essa é a conclusão dos especialistas em comunicação para portáteis, que afirmam que, por meio das mensagens multimídia (MMS), os golpistas podem deixar um aparelho fora do ar com torrentes de notificações inúteis ou com outros ataques.


O analista de segurança do Trifinite Group (trifinite.org) Collin Mulliner classificou como ‘estúpidos’ os atuais métodos de proteção dos smartphones. Para ele, modelos com o sistema Symbian OS, como o Nokia 6210 e o Siemens 3568i, podem ser facilmente explorados. Também é possível enviar vírus por meio de conexões Bluetooth e com a ajuda de sites com mecanismos nocivos.


Os ataques são eficientes devido à organização da memória dos portáteis, que usa espaços predeterminados, e à falta de segurança dos aparelhos.


‘As senhas travam os aparelhos, mas não evitam programas nocivos’, alerta Mulliner. ‘Não é preciso varrer a rede e buscar as vítimas. Basta enviar as mensagens para tirar vários aparelhos do ar’, completa.


A barreira que impede os ataques, por enquanto, é o alto custo do envio das mensagens e a estrutura exigida para a criação das pragas.’


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Defcon mostra primeiro programa para invadir aparelhos Blackberry


Coube ao pesquisador Jesse D’Aguanno a apresentação da Defcon que mostrou ao mundo o primeiro código malicioso para o BlackBerry, portátil que tem funções de celular e envia e-mails com rapidez. O BBProxy permite que um invasor se infiltre na rede de mensagens do portátil e apague informações.


Segundo D’Aguanno, o soft poderia ser distribuído dentro de um arquivo de jogo. ‘O Blackberry é como um computador com acesso ininterrupto à rede da empresa’, afirmou D’Aguanno, que trabalha como pesquisador da Praetorian Global (www.praetoriang.net). Ele anunciou que o BBProxy será colocado para download nas próximas semanas.


Nem aí


Em entrevista ao News.com, o diretor de segurança da fabricante do Blackberry, Scott Totzke, diminuiu a importância do BBProxy. Totzke afirmou que os usuários de Blackberry não receberão programas maliciosos via e-mail. Para ter seu aparelho infectado, seria preciso baixar o programa. ‘Não vejo esse lançamento como uma ameaça’ afirmou. Mesmo assim, o site da fabricante publicou dicas de segurança (www.blackberry.com/products/enterprisesolution/security).’


Rodolfo Lucena


Pirata aposta nas fraquezas humanas


‘As mensagens dos ciberpiratas poderiam ser tema de um doutorado de psicologia: cada cartinha que leva escondido um vírus ou uma armadilha para roubar dados pessoais vai certeira apertar um botão de nossas vaidades, desejos escondidos, medos e inseguranças. E faz das vítimas também cúmplices do crime e possíveis algozes de outros internautas.


Talvez o primeiro exemplo massivo dessa tática tenha sido o vírus ‘ILOVEYOU’, de triste memória. Em maio de 2000, milhares de pessoas nos Estados Unidos -e, rapidamente, no mundo- abriram alegremente mensagens cujo título declarava: ‘Eu te amo’.


Quem é que não quer ser amado ou ter a paixão confirmada, reafirmada sempre e tantas vezes quantas for possível?


Pois os internautas de então tiveram seus computadores invadidos, arquivos destruídos a mancheias e sua lista de endereços de e-mail vilipendiada, usada para retransmitir mais e mais mensagens de falso carinho.


As vítimas se contaram aos milhões, e o prejuízo estimado ultrapassaria US$ 1 bilhão, segundo os primeiros cálculos.


Hoje, o desastre pode ser ainda maior. As mensagens de destruição viraram armas de estelionato. O principal objetivo dos ciberpiratas é roubar seus dados ou aproveitar seu acesso à internet para alavancar práticas escusas.


A armadilha vem escondida em mensagens que podem soar deliciosas: declarações de amor ou confissões cúmplices, que, ao ler, você parece ouvir a voz doce e gostosa de uma garota apaixonada ou o tom meio sacana de um colega com quem você dividiu aventuras.


Outra vertente é voltada aos baladeiros, lembrando vexames que teriam sido dados em noitadas ensandecidas. Tudo agora devidamente registrado em fotos comprometedoras -golpe semelhante tem como tema uma suposta traição amorosa.


Até mesmo suas finanças podem estar comprometidas, a julgar pela ameaçadora voz do braço financeiro do governo, que vem lhe cobrar impostos ou advertir contra erros em sua declaração.


Você fica preocupado ou furioso com a acusação, clica no lugar indicado e vira mais uma vítima.


Enfim, contra os expedientes dos estelionatários digitais não basta que você proteja seu computador. É preciso também que você crie uma armadura para suas emoções.’


Folha de S. Paulo


Net fica sem internet em SP por várias horas


‘A queda de um ‘backbone’ (elemento de infra-estrutura) da operadora Net fez parte dos usuários no município de São Paulo ficarem sem o serviço Vírtua (internet banda larga) e o Net Fone (serviço de voz) por algumas horas ontem.


De acordo com a assessoria de imprensa da empresa, o sinal foi interrompido por volta das 11h e restabelecido em seguida, com o uso de backup.


A Net afirmou não saber o que causou o problema.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo ‘mata’ ator que boicotou ‘Páginas’


‘O ator Antonio Calloni, o Gustavo de ‘Páginas da Vida’, será afastado da novela das oito da Globo na semana que vem por ter se rebelado contra o atraso na entrega de textos, por parte do autor, Manoel Carlos.


Na semana passada, Calloni faltou a um dia de gravação porque só recebera as falas de seu personagem na véspera, sem tempo para se preparar. À direção da novela, argumentou que estava ‘esgotado’ e com a ‘agenda complicada demais’ para gravar em cima da hora. O ator estava insatisfeito com seu personagem, considerado por ele muito coadjuvante.


A conseqüência da rebeldia de Calloni, que continua contratado da Globo, será a morte de Gustavo, no capítulo de terça-feira, no meio da passagem de tempo da primeira fase, em 2001, para a segunda, em 2006.


A morte será gravada nesta quinta. Ao ver sua mulher, Márcia (Helena Ranaldi) conversando com um ex-namorado, ele faz cena de ciúme. No carro, os dois discutem e Gustavo perde o controle do veículo.


A saída precoce de Calloni de ‘Páginas da Vida’ expõe a forma atribulada como a novela vem sendo gravada, mas isso não preocupa a cúpula da Globo, porque isso é uma característica de Manoel Carlos. Isso dá mais temperatura à trama, mas exige dedicação dos atores.


Na semana passada, a Globo fez um mutirão para adiantar as gravações da novela. Foram cinco frentes de gravações.


RECORDE NEGATIVO 1 O debate de anteontem na Band deu média de quatro pontos no Ibope. Foi menos da metade do primeiro encontro entre presidenciáveis nas eleições de 2002 (4/8): nove pontos.


RECORDE NEGATIVO 2 Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Band, diz que as explicações para a audiência do debate vão além da ausência do presidente Lula. ‘Eleição no Brasil está mudando, deixando de ser novidade’, afirma.


PRÓXIMO ROUND A Band acertou anteontem com as assessorias de Lula, Geraldo Alckmin e Heloisa Helena a realização de um novo debate entre presidenciáveis, em 8 de outubro, caso haja segundo turno. ‘O presidente o PT garantiu que Lula desta vez vem’, acredita Fernando Mitre.


RATOEIRA Os cerca de 30 profissionais que trabalham no SBT com Carlos Massa, o Ratinho, estão apreensivos. Já sabem que, com a extinção do ‘Programa do Ratinho’ e a provável estréia de uma nova atração do apresentador, com a missão de dar lucro, a equipe será reduzida a quase a metade da atual.


A VOLTA DE BRAGA Será na próxima segunda o retorno de Sonia Braga às novelas, depois de 26 anos. Ela aparecerá fazendo tai-chi-chuan no Central Park, em Nova York, quando ouve a explosão de um avião se chocando contra o World Trade Center.


CINZAS DA MORTE Os atentados ao WTC desencadearão a passagem da primeira para a segunda fase de ‘Páginas da Vida’.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 16 de agosto de 2006


ELEIÇÕES 2006
Expedito Filho


Duda Mendonça vê programa do PT antes de ir para o ar


‘A fórmula do programa eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez lembrar a adotada pelo marqueteiro Duda Mendonça em 2002. As semelhanças desencadearam suspeitas de que Duda, banido das campanhas depois do escândalo do mensalão, esteja operando pela reeleição de Lula. O jornalista João Santana, marqueteiro responsável pela campanha à reeleição, em um desabafo indignado a um amigo, afirmou que desafia qualquer pessoa a provar que o ex-marqueteiro Duda Mendonça tenha participação ou influência na propaganda eleitoral que vem tocando.


O diretor de vídeo da campanha petista, Geovani Lima, sócio de Alexandre Mendonça, filho de Duda, na produtora Malagueta, disse que o ex-marqueteiro de vez em quando vê alguns trabalhos da produtora. Geovani negou que o pai de seu sócio tenha participação na atual campanha do PT. ‘A Malagueta é um negócio do Xande (Alexandre Mendonça). O fato de ele ser filho do Duda é coincidência. Ele (Duda) de vez em quando vê alguns trabalhos, mas não tem nenhum poder’, explicou.


Santana reage indignado à suspeita de participação de Duda. ‘Eu me submeto até a acareação diante de repórteres para ver quem está mentindo. É um desrespeito profundo. Quem me conhece o mínimo sabe que não vou ser laranja de ninguém. Tenho amor próprio’, desabafou. Procurado pelo Estado, Santana preferiu não falar, sob a justificativa de que marqueteiro ‘não é ator político’.


A suspeita da vinculação surgiu com a contratação de Geovani. Santana admite que tem uma relação quase paternal com o filho de Duda – seu estagiário em campanha anteriores -, mas disse que nesta Alexandre não tem qualquer participação.


Santana disse que descobriu Geovani Lima quando era sócio de Duda Mendonça e atuava como headhunter e diretor de recursos humanos das empresas dele.


Segundo Santana, a relação com Duda, embora tenha terminado de forma amigável, se exauriu. ‘Meu último contato com ele se deu por e-mail no episódio da rinha de galos (em 2004).’ Com o rompimento, iniciou a carreira-solo.


Para essa campanha, ele assegura que a estratégia é toda de sua autoria, do PT e da equipe do presidente e diz que não ouviu, nem consultou Duda Mendonça em nenhum momento. Mais revoltado ainda fica o marqueteiro quando dizem que a idéia de reduzir os símbolos do PT e o vermelho nos produtos e peças teria saído da cartola de Duda Mendonça. ‘Isso é uma mentira. Um bom entendedor vai perceber de quem é a campanha. Com o tempo, a verdade vai prevalecer.’


Geovani ressalta que não participa da campanha petista como sócio da Malagueta, mas na condição de pessoa física. Nessa divisão de trabalhos, o filho de Duda permaneceria na Bahia tocando os negócios da produtora. Geovani admite que esse arranjo deu eco às insinuações de que Duda estaria por trás de toda a campanha petista. ‘Parece que tem algum canal com o Duda, mas não tem. Não sou pessoa dele nem o João Santana sofre influência ou mostra qualquer coisa. Isso não existe.’’


O Estado de S. Paulo


Eymael, nanico também na língua portuguesa


‘Legendas de seu programa têm erros de ortografia; Pimenta e Bivar escorregam na fala


Junto com o horário eleitoral vem o costumeiro desfile de bizarrices que toma a televisão em nome da democracia. Lá está o indefectível Enéas Carneiro (Prona), que avisa que perdeu a barba, mas ainda está vivo. E também José Maria Eymael (PSDC), que volta a atormentar com aquela musiquinha que passa o resto do dia martelando na nossa cabeça, mas não tem o poder de render votos suficientes para eleger o candidato. A novidade é que agora os candidatos se fazem entender em legendas e na linguagem de sinais. E eis que ao pé do vídeo do democrata-cristão se deixam apanhar erros imperdoáveis de ortografia. No horário eleitoral da tarde estavam lá ‘empobresse’ e ‘obcessão’. No da noite, o ‘empobresse’ foi corrigido, mas o ‘obcessão’ ficou.


Na turma dos nanicos que maltratam a língua pátria, está também Luciano Bivar (PSL), que peca na concordância verbal- lançou um ‘acham que nós queremos se exibir’ -, sem falar no senso de oportunidade. Destemperado, o candidato apareceu sem aviso soltando todos os cachorros nos ‘pseudo-intelectuais da imprensa escrita’.


No campo das candidaturas exóticas, o costureiro Clodovil Hernandez se apresentou no horário do PTC com um olhar lânguido e uma fala que pode ser interpretada como ameaça. ‘Brasília não será a mesma’, garantiu.


Candidato usa TV para pedir ‘emprego’


A campanha publicitária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que coloca o eleitor como patrão dos políticos, apto a fazer uso do voto para contratar os futuros gestores, tem inspirado candidatos paraibanos. O primeiro a seguir essa linha de pensamento foi Hildebrando Marcos, candidato a deputado federal pelo PMN. Hildebrando aproveitou o guia eleitoral veiculado no rádio para avisar aos eleitores que está desempregado e, por isso, precisa de um vaga na Câmara dos Deputados. ‘Estou desempregado. Me contrate com o seu voto’, apela no horário eleitoral gratuito.’


Patrícia Villalba


A dança da pizza e o Big Brother


‘A situação confortável nas pesquisas de intenção de voto – que indicam a reeleição de Lula já no primeiro turno – parece que tirou do PT a capacidade de inovar no horário eleitoral, tanto na técnica quanto na maneira de apresentar as propostas. O programa que o partido levou ao ar ontem é muito bem feito, de identificação clara com a propaganda do governo federal, mas tem a emoção fake de um comercial de refrigerante que diz que a vida pode ser maravilhosa, essas coisas. Isso, do ponto de vista técnico.


Já do ponto de vista ético, o eleitor deve se sentir perdido ao ouvir o presidente dizer que todos os que cometeram erros devem ser punidos e, em seguida, ver a deputada Angela Guadagnin, aquela da ‘dança da pizza’, no espaço destinado aos candidatos a deputado federal do partido.


Definitivamente, a campanha eleitoral ainda não contagiou. E o horário eleitoral na TV talvez não tenha força suficiente para levá-la aos botequins. Percebemos que algo está fora da ordem quando Heloísa Helena troca o discurso ideológico pelo agradecimento a umas tais flores que recebeu. Alckmin, como sempre, tira a roupa de Geraldo do armário e aposta num programa praticamente igual ao de 2002. Fala da origem humilde para neutralizar a empatia que Lula desperta nos mais pobres. Origem humilde, aliás, é a chave. Lembra a estratégia dos participantes do Big Brother Brasil. Mas eles deveriam ser parâmetro?’


Dora Kramer


Fórmula falida


‘O contraste entre as cenas de debates antigos mostradas pela TV Bandeirantes antes do início do programa e o que se viu a seguir no primeiro embate entre candidatos à Presidência da República desta eleição, na noite de segunda-feira, diz quase tudo sobre a falência da fórmula atual de exibir ao eleitor o confronto de idéias entre os postulantes ao poder.


Primeiro de tudo porque, sem o candidato oficial e com o excesso de amarras na forma de apresentação, fica faltando exatamente o confronto. As imagens de ‘antigamente’ mostravam momentos de bom combate entre candidatos como Mário Covas, Paulo Maluf e Jânio Quadros em exposição livre das respectivas personalidades.


Em seguida, assistimos a José Maria Eymael informar que é autor do artigo 180 da Constituição, Luciano Bivar explicar o inovador conceito de ‘verdadeiras formigas humanas’ aplicado à situação da agricultura, Cristovam Buarque propor a internacionalização dos museus, Heloísa Helena assegurar a queda dos juros pela metade e Geraldo Alckmin discorrer sobre a eficácia da política de segurança pública de São Paulo.


Seja por ausência de raciocínios mais instigantes a serem desenvolvidos, seja pelas restrições impostas aos organizadores, os candidatos se apresentaram devidamente treinados (amestrados?) para resumir e concluir, ainda que não concluíssem coisa alguma de maneira atraente, inteligível ou original.


Nesta altura apontará o nobilíssimo e atento leitor para a impropriedade da comparação entre duas épocas, alegando diferença brutal na qualidade do elenco de outros tempos. De fato, o plantel de 2006 está especial: em matéria de sedução é quase um breve contra a luxúria.


Está bem, mas é o que temos e, de mais a mais, são candidatos a presidente e não a líderes carismáticos do sétimo dia nem a guias geniais dos povos. Agora, compostura, comedimento e civilidade não precisam necessariamente provocar enfado. Do contrário, acabaremos por interpretar como positivos atributos opostos que podem ser ótimos em palcos, mas em palanques em geral resultam em populismo.


O pecado original não está, pois, nos candidatos, mas nos meios e modos que vieram sendo consagrados nos últimos 24 anos, desde as primeiras experiências pós-redemocratização, com os debates da eleição para governador, em 1982.


De lá para cá se passou a aceitar como natural, por fruto de estratégia de comunicação, a ausência dos candidatos favoritos. Na disputa presidencial Fernando Henrique inaugurou a prática, Lula embarcou na canoa com entusiasmo e José Serra, em São Paulo, consolidou a tese para os embates locais.


E qual é a tese? A de que não vale a pena correr o risco de se expor a ataques e perder o favoritismo. Dentro dessa lógica, sai mais barato agüentar as críticas por não ir do que se submeter ao imponderável. O eleitor, como se vê, não entra nessa contabilidade e o favorito, que teoricamente está na frente por ser melhor, não vai ao teste.


Concorre com medo de errar, não com vontade de acertar e mostrar à maioria que deposita nele suas intenções de voto que está coberta de razão ao fazê-lo.


E, na ausência do representante da situação, esvazia-se de sentido a presença de todos os outros que são de oposição. Estabelece-se, então, o cenário de segunda à noite: uma troca de amabilidades entre desafiantes, que se vêem na insólita contingência de discutir com uma cadeira vazia, em última análise falando sozinhos, como se estivessem no horário eleitoral.


O excesso de regras e restrições impostas pelos partidos nas reuniões preliminares de organização do debate acabam por tirar toda a espontaneidade dos participantes e a liberdade de quem patrocina o embate e subtrai de quem assiste a oportunidade de um bom espetáculo político.


E por espetáculo entenda-se o real significado do termo, aquilo que chama e prende a atenção, não uma guerra de ofensas ou exibições de personalismos à deriva.


Os partidos têm responsabilidade nisso porque entendem que, quanto mais restritiva for a forma, mais protegidos de erros estão seus candidatos. E aqui prepondera a ilusão de que criando um emaranhado de regras se garante a manifestação igualitária de todos.


Ocorre o contrário: ficam todos tensos, reféns de um palavrório óbvio, e acabamos por incorrer no equívoco de imaginar que o vencedor foi o mais incisivo, ou o que ‘emocionou’ com uma tirada de efeito.


Por fim, o defeito da legislação e a obrigatoriedade de comparecerem todos os candidatos a pretexto de assegurar igualdade. Nada mais injusto que tratar diferentes como iguais e conferir importância artificial a quem não tem relevância real.


Como seria, então, um bom debate? O mais simples possível: com a presença dos principais oponentes, sem direito a recusa por força do respeito ao eleitor, sendo entrevistados livremente por uma bancada de jornalistas. E as regras? As da convivência normal entre seres civilizados, cujo aprendizado é adquirido ao berço.’


JORNALISTA SEQÜESTRADO
Paulo Baraldi


Veículos de comunicação pedem ação coordenada


‘O presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Nelson Sirotsky, deve se encontrar no início da tarde de hoje com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, disse ontem à noite que também está aberto caso as associações das empresas da categoria queiram encontrá-lo.


No ministério, os representantes e o ministro devem discutir sobre a criminalidade que atinge o Estado de São Paulo nos últimos meses, principalmente pelos ataques do Primeiro Comando da Capital.


Ontem, a ANJ, a Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner) e outras entidades representativas de emissoras de rádio e televisão (Abert, Abra e Abratel) divulgaram um comunicado intitulado Basta à Violência. O texto tem como objetivo ‘conclamar a sociedade a se unir contra a escalada de violência que atinge o país.’ O documento ressalta a ‘descoordenação’ entre os governos federal e estadual. O Estado entrou em contato com a assessoria de Bastos, mas ele não quis comentar a carta. Lembo acha que o comunicado é ‘um grande equívoco’. ‘Há um total relacionamento entre o governo federal e o governo do Estado. O que nós temos é um problema muito sério, o crime organizado.’


O governador não titubeou ao afirmar haver ‘empatia’ entre os políticos. ‘Estamos acima dos interesses político-partidários e dos interesses eventualmente político-eleitorais’, declarou Lembo.


O diretor-executivo da ANJ, Fernando Martins, informou via nota que ‘a intenção, ao assinar o documento, é demonstrar união, empenho e mobilização contra a ação do crime e exigir providências das autoridades e compromisso dos candidatos a cargos eletivos’.


O comunicado foi enviado a 131 empresas jornalísticas e publicado hoje na capa do Estado.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Ratinho X SBT


‘A relação entre o SBT e Ratinho nunca esteve tão confusa. A atração do apresentador vai sair do ar novamente a partir de sábado, com a desculpa de assumir um novo formato em setembro no canal. Essa é pelo menos a quinta intervenção de Silvio Santos no Programa do Ratinho de dois anos para cá. Em abril Ratinho chegou a sair do ar para voltar só em maio, em novo horário.


Desculpas à parte, o fato é que Ratinho tem contrato milionário até 2008 com o SBT e uma cláusula contratual que o obriga ficar no ar mediante a pagamento de multa caso isso não aconteça.


Para seu programa ser retirado da grade, a emissora precisa do consentimento do apresentador, que no ar já aparenta estar cansado de tantas mudanças.


Há tempos SS estaria prometendo ao apresentador um formato internacional, mas fontes do SBT garantem que Ratinho já até gravou um piloto de sua nova atração em julho, enquanto o patrão estava na Copa da Alemanha.


O piloto teria sido gravado em uma produtora fora do SBT, para evitar especulações, e SS teria aprovado esse novo projeto.


entre-linhas


Demorou, mas Luis Gasparetto conseguiu levar sua mãe, a supervendedora de livros espíritas Zibia Gasparetto, ao seu programa na RedeTV!. Será amanhã.


No ano passado, Record e Globo Internacional fizeram cada uma, uma festa do Brazilian Day nos EUA. Neste ano, a Record recuou. Não tem previsão de comemorar a data por lá. A Globo Internacional segue com a festa normalmente.


Apesar da boa sacada, o quadro Dança dos Famosos no gelo não aqueceu a audiência de Faustão no domingo. A atração registrou média de 23 pontos de ibope.


Se você já acha a personagem de Débora Evelyn (Ana) surtada em Páginas da Vida, ainda não viu nada. O marido dela, vivido por Angelo Antônio, terá um caso na trama, deixando a mulher mais louca.


Ainda sobre Páginas, Antonio Calloni deixa a novela com a desculpa estranha – dada pela Globo – de não conseguir conciliar sua agenda com as gravações da trama.


Na lista das mudanças constantes do SBT, o programa de Jorge Kajuru deixa a programação, sem muitas explicações.


O canal pago TNT anuncia a estréia da segunda temporada da série investigativa The Closer, protagonizada pela atriz Kyra Sedwick, para o dia 16 de setembro. Os episódios inéditos irão ao ar aos sábados, às 15 horas.


De mãos atadas


De olho na audiência em alta nas cenas de comédia, Cobras & Lagartos resolveu apostar forte no gênero. Em cena que vai ao ar amanhã, a família de Foguinho (Lázaro Ramos) resolve amordaçar e amarrar Ellen (Taís Araújo). E não é que Foguinho adora a idéia?!’


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